Capítulo 1

Dois anos antes...

Por Choi Ha-na

Balanço a taça de vinho diante de mim, observando o líquido vermelho se mover no mesmo ritmo lento do meu humor. Um suspiro entediado escapa dos meus lábios enquanto lanço um olhar ao relógio. 20h15. Um atraso. E, se há algo que eu detesto, é perder tempo.

Dou um gole no vinho. O sabor suave não faz nada para melhorar meu humor. Coloco a taça de volta na mesa, cruzo os braços e permito que minha irritação transpareça.

Quando disse ao meu pai que faria qualquer coisa para conquistar a presidência do nosso conglomerado de shoppings, não estava me referindo a ficar sentada como uma idiota esperando um encontro às cegas aparecer.

"Você terá que se casar, Ha-na, para conseguir a confiança plena dos acionistas."

Um arrepio percorre minha espinha ao lembrar da frase. E logo outra a seguir, tão desagradável quanto:

"Embora você seja uma CEO respeitada, com sua própria marca de roupas e cosméticos, isso não basta para ser presidente do nosso império. E, principalmente, você terá que superar os Kim. Eles estão quatro passos à nossa frente."

Tudo o que importa para o meu pai é o nome da família e o shopping. Ah, claro, não posso esquecer a rivalidade de anos com a família Kim, dona de um shopping tão famoso quanto o nosso.

Preciso admitir, os Kim são excelentes. Número 1 em produtos de beleza. Número 1 em marcas de roupas. Número 1 em lotação. Por anos foi assim... até eu assumir a administração do nosso shopping. Logo que me tornei CEO, minhas marcas conquistaram o topo, revolucionando o mercado e tirando o troféu da família Kim. Não preciso nem dizer o quanto eles detestaram isso.

Mas, nos últimos meses, algo tem mudado. Sabotagens. Rombo financeiro. Tenho meus suspeitos — e motivos —, mas nenhuma prova concreta. E ele… ele está competindo pela presidência comigo. É isso que me dá forças para suportar essa palhaçada de encontro.

Olho ao redor do restaurante de luxo. Estamos no último andar, e a vista da cidade iluminada é de tirar o fôlego. Por um instante, distraio-me, até que exclamações animadas das mulheres presentes capturam minha atenção. Viro a cabeça na direção delas.

E então eu o vejo.

Kim Jin-Hoo.

Ele caminha em minha direção com uma elegância irritante, como se tivesse acabado de sair de uma capa de revista. Meu rosto inclina-se levemente para o lado, minha respiração vacila. Eu sabia que ele tinha voltado para a Coreia, mas não esperava encontrá-lo aqui. Não hoje. E definitivamente não neste restaurante, um ponto de encontro para famosos e figuras influentes.

Desde quando esse homem ficou tão... lindo?

Jin-Hoo veste um terno preto impecável que ressalta sua postura confiante. Uma gola alta sob o paletó adiciona um toque moderno e sofisticado ao look, enquanto o terno parece feito sob medida para seu corpo. Seu cabelo escuro, levemente estilizado, cai sobre a testa de maneira casual, dando-lhe um ar despretensioso, mas irresistivelmente atraente.

A presença dele é poderosa. Impossível ignorá-lo.

E é tarde demais para desviar o olhar. Seus olhos escuros encontram os meus, penetrantes e calculistas. Ele não sorri, mas faz um cumprimento breve com a cabeça. Mantenho minha expressão neutra e correspondo o gesto. Afinal, somos inimigos, mas ainda somos educados.

Por favor, passe direto. Imploro silenciosamente.

Mas ele não passa. Ele escolhe uma mesa duas antes da minha. O garçom rapidamente se apressa para atendê-lo. Eu desvio o olhar, irritada, mas alguns minutos depois, ao observar novamente o restaurante, meus olhos caem sobre ele.

E, claro, o desgraçado está olhando de volta. Desta vez com um sorrisinho de canto que parece zombar de mim. Qual é o problema dele? Parece que nunca viu uma mulher na vida.

Solto um suspiro exasperado, jogo o cabelo para o lado e volto minha atenção ao relógio. O idiota com quem devo me encontrar ainda não apareceu.

E então, um homem se aproxima da minha mesa.

— Senhorita Choi? — Ele para ao meu lado.

Levanto a cabeça com autoridade, exibindo minha postura altiva. Quando o observo, percebo que é um americano. Alto, magro, com um rosto juvenil que não combina com sua posição.

Ah, papai, isso só pode ser brincadeira.

— Olá, senhorita Choi. Sou Kyle Hilton. — Ele estende a mão.

— Senhor Hilton, você está atrasado. — Digo com frieza, cruzando os braços. — Sente-se. Não quero perder mais tempo.

Ele obedece rapidamente, mas suas mãos estão trêmulas, e há suor em sua testa. Seus olhos azuis me encaram com o nervosismo de um animal assustado.

— Quantos anos você tem? — Pergunto, direta.

— Vinte, senhorita.

Vinte? Isso só pode ser piada.

— Está na faculdade, imagino. — Comento, seca.

Ele balança a cabeça afirmativamente, com um sorriso nervoso.

— Sim, estou de férias. Curso administração.

Dou um gole no vinho, segurando o impulso de revirar os olhos. Estou presa em um encontro às cegas com um garoto que ainda cheira a leite.

— Mas não é isso que você quer, certo? — Digo, apontando diretamente para o cerne da questão.

Ele sorri timidamente.

— Na verdade, meu hobby é videogame. — Responde alegremente. — Inclusive, demorei porque estava esperando o lançamento de um novo jogo que…

Corto sua fala com um olhar gélido.

Nesse momento, lanço um olhar rápido à mesa de Jin-Hoo, e o filho da puta está... sorrindo. Um sorriso debochado que me faz apertar o garfo em minha mão com força. Ele está claramente se divertindo às minhas custas. Quando nossos olhares se encontram novamente, ele ergue a taça de vinho em um brinde zombeteiro.

Ah, que idiota.

— A senhorita deve estar com fome... — O garoto interrompe meu pensamento, olhando nervosamente para minha mão, que segurava o garfo como uma arma. — Eu comi um hambúrguer antes de vir pra cá e...

— Cala a boca! — Exclamo, fechando os olhos e tentando controlar meu gênio.

Como é possível que o sorriso daquele desgraçado me tirasse mais do controle do que esse garotinho à minha frente?

— Vá embora! — Ordeno, cortante.

— Mas...

— Vá embora! Vai jogar videogame ou o que quer que faça. Não me importo.

Hilton levanta-se rapidamente e desaparece do restaurante sem olhar para trás. Encosto-me na cadeira, sentindo o calor da raiva subir às bochechas.

Ah, papai. Ah, papai!

Então, antes que eu pudesse me virar para pedir a conta, o cheiro de um perfume delicioso — uma mistura amadeirada com almíscar — invadiu meu espaço, preenchendo o ar ao meu redor. Por incrível que pareça, o aroma atingiu o âmago do meu ser, provocando um excitamento indevido que me fez endireitar a postura na cadeira.

Antes que eu pudesse processar o que estava acontecendo, ele já havia tomado o lugar à minha frente, que antes era ocupado pelo menino. Agora, Kim Jin-Hoo estava ali, ocupando o espaço com a mesma arrogância que preenchia a sala inteira. Seu olhar era perverso, como o de um animal encurralado e à espera de atacar, mas seu rosto permanecia frio, digno de um rei impiedoso.

Por que minha pele formigava diante dele? Aquela não era a primeira vez que nos encontrávamos, mas, de alguma forma, ele parecia diferente. Mais perigoso. Mais irresistível. Um perigo sensual que eu não sabia como evitar.

— Quanto tempo, Ha-na. — Meu nome saiu de sua boca como um som, sensual e intimidador, que me faz arrepiar involuntariamente. Ele pegou a garrafa de vinho que estava na mesa e, sem pedir permissão, encheu minha taça com a mesma elegância que exalava de cada gesto. Seus olhos escuros nunca deixaram os meus enquanto ele continuava: — Achei que nunca mais teria o prazer de te ver tão… impaciente.

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