Duncan Sinclair

Depois do almoço, Melody e as outras garotas que não haviam sido solicitadas na noite anterior começaram a tarefa exaustiva de arrumar os quartos do bordel. Elas arrancavam as roupas de cama, enrolando-as em grandes trouxas para serem levadas à lavanderia improvisada nos fundos da casa.

— Juro que esses homens são piores do que crianças bagunceiras — reclamou Sarah, puxando um lençol manchado com expressão de nojo. — E ainda falam que nós somos sujas.

Melody não conseguiu evitar um sorriso diante da indignação da amiga.

— Eles falam demais, isso sim. Às vezes acho que sabem mais fofocas do que as próprias esposas — comentou Melody, retirando uma fronha e jogando-a sobre a pilha crescente.

Sarah riu, balançando a cabeça enquanto dobrava um edredom.

— Ah, sim. Dois copos de uísque e pronto, lá vem a caixa de Pandora aberta. Sabia que o xerife foi flagrado pela esposa ontem à noite, saindo escondido em direção ao bordel?

— Jura? — Melody arregalou os olhos, surpresa e divertida. — Como você soube disso?

— O próprio xerife contou pro Hank enquanto enchia a cara de bebida — respondeu Sarah com uma gargalhada. — Disse que dormiu no estábulo, como um cachorro sem dono.

As duas mulheres se entreolharam e riram baixinho, desfrutando daquele pequeno momento de descontração. As fofocas eram o único tipo de diversão acessível para elas, e não faltava assunto na pequena cidade de Encanto.

— Ouvi dizer também que o preço da farinha subiu de novo — comentou Melody, sacudindo uma manta para tirar a poeira. — Está mais fácil achar ouro do que comprar pão naquela mercearia.

Sarah suspirou, assentindo com um gesto cansado.

— Logo vamos precisar vender nossas roupas só pra garantir o jantar.

Ambas continuaram o trabalho em silêncio por alguns minutos, até que Sarah, com um olhar mais sério, aproximou-se de Melody, falando em tom mais baixo:

— Ah, quase esqueci. A menina dos More fugiu ontem à noite... o pai lhe batia como se fosse um animal de carga, ouvi dizer. Parece que pegou a diligência das seis e ninguém viu mais sinal dela.

Melody rezou mentalmente uma prece rápida pela moça que havia se atrevido a fugir, desejando que ela encontrasse uma tia bondosa para cuidar dela, embora desconfiasse que o destino da senhorita More fosse quase o dela, apenas em outra cidade.

— Espero que ela consiga coisa melhor, seja lá onde for.

Sarah concordou com um suspiro pesaroso.

— Tomara. Não faltam moças que saem daqui buscando liberdade e acabam em um lugar ainda pior. Mas quem sabe ela tenha mais sorte do que a maioria.

Melody mordeu o lábio inferior com apreensão. Sabia bem como eram pequenas as chances de fuga bem-sucedida. Ainda assim, cada história de coragem a fazia sonhar um pouco mais.

Sarah fez uma pausa dramática antes de continuar:

— E Duncan Sinclair voltou para a cidade.

Melody congelou no lugar, as mãos apertando com força um travesseiro. Seu coração deu um salto estranho dentro do peito ao ouvir aquele nome. Duncan Sinclair. Ela já o havia visto algumas vezes caminhando pela rua principal. Sempre com aquele olhar sério, sombrio, como se carregasse um peso impossível.

Sarah pareceu notar o desconforto da amiga.

— Ei, você está bem?

— Estou sim — respondeu Melody rapidamente, tentando parecer natural. — É só que ele… me dá arrepios. Não sei, ele parece tão… perigoso.

Sarah assentiu lentamente, com uma expressão compreensiva.

— Não é à toa. Toda cidade acredita que ele matou a esposa. Ninguém nunca conseguiu provar nada, mas também ninguém esqueceu o que aconteceu. Dois meses longe e agora ele volta como se nada tivesse acontecido.

Melody sentiu um frio na espinha e tentou afastar os pensamentos incômodos, voltando a dobrar as roupas de cama. Duncan Sinclair era perigoso, sim. Mas algo nele a atraía perigosamente também, algo que ela não ousava admitir, nem para si mesma.

— Ele até parece civilizado quando passa pela rua — comentou Melody, tentando aliviar a tensão que sentia.

Sarah deu uma risada curta e incrédula.

— Não se engane, Mel. Homens como Duncan Sinclair são lobos vestidos de cordeiro. Ninguém sabe o que realmente se esconde por trás daquela expressão impassível.

Melody sentiu outro arrepio percorrer-lhe a coluna e se apressou a mudar de assunto, retomando as tarefas do quarto com mais vigor. Mas, no fundo, não conseguia afastar a imagem sombria daquele homem enigmático que fazia seu coração bater de um jeito inexplicável.

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