Ida e Rose

Duncan passou a escova mais uma vez pelo flanco do animal, o braço trabalhando num ritmo mecânico, quase ritual. O cheiro de feno úmido, couro e suor ajudava a empurrar o mundo pra longe.

Mas o grito que a jovem soltou quando Ida recolocou o ombro no lugar ainda o perseguia.

Agudo. Cortante. Feminino.

Ele odiava gritos de dor femininos.

Mais do que os sons, odiava o que eles despertavam.

Aquele som trazia lembranças. Não nítidas, mas claras o suficiente. Vozes abafadas por madeira grossa.

Uma mão segurando Rose pela primeira vez, enquanto a mulher gritava do outro lado da parede.

O tempo passou, mas os sons ficavam.

Alguns se instalam no peito e cavam. Silenciosos. Pacientes.

Forçou a escova com mais brusquidão por um instante, depois parou. Respirou fundo.

O animal virou a cabeça, como se dissesse: chega.

Duncan assentiu para o cavalo em concordância, o velho Caleb não merecia ser maltratado porque ele estava inquieto. Guardou a escova, soltou a trava da baia com um estalo e deu dois
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