PAULO GUERRA "PG"
Chego soltando fogo pelas ventas. Odeio ter que sair pra fazer cobrança e menos ainda quando alguém me liga enchendo a minha paciência que já não existe. É uma porra mesmo ter que ser responsável e babá de uma irmã doida como a Patricia Guerra. Mas o que posso fazer se desde que saímos daquele orfanato eu tive que suprir a missão e o papel de homem da casa? Patricia sempre foi uma sequelada do caralho# e pra piorar me arranjou um filho ou melhor filha, de um mauricinho noiado dos infernos.Porra#!Se não fosse pela minha sobrinha, que tenho o maior apego, eu já tinha dado um fim nesse play dos infernos. Mas sei na pele o que é crescer sem saber quem é o nosso pai e te falo que a sensação é ruim pra caralho#.Me chamo Paulo Guerra, tenho vinte e sete anos, sou chefe do movimento no morro da Fé, uma das comunidades do Complexo da Penha que fica na Zona Norte do Rio de Janeiro. Nome estranho para uma favela, né!? Mas se parar pra pensar deram foi o nome certo, porque na real nós só sobrevive nessa vida se for pela fé. Entrei nesse corre louco e nesse caminho sem volta, desde os meus dezoito anos quando fui enxotado do orfanato. Na moral, não vou mentir, essa não era a vida que eu queria ter, tá ligado!? Tenho ensino médio completo e me amarro em mexer com mecânica e reformar carros deixando do jeito que eu gosto, potente. Mas a vida é dura pra caralho e as pessoas mais ainda. Tentei arrumar uns bico e até fiz umas correria de entregar currículo, fazer cadastro no Sine e essas porra# toda pra conseguir um bagulho responsa e na moral. Acredita que até promessa eu fiz pra conseguir um bagulho certo? Mas quem disse que eu consegui... Era só, não, bem redondo na minha cara. Me olhavam de cima a baixo e logo pediam qualificações. E de onde um órfão recém saído do orfanato vai ter recomendação? Só se for das freira dizendo quantos pai nosso eu rezei e quantas penitência paguei por tentar dar uns guenta nas garotas. Ai meu irmão, sabe como é né!? O capiroto conhece tuas fraqueza e sabe das tua necessidade. Não dei outra, e o "cramunhão" mandou logo o seu secretário no meu caminho chamado Draco. Me ofereceu um serviço aqui, outro ali e pouco a pouco fui me tornando seu braço direito. Morei na rua por muito tempo com a Patricia, já passamos muito aperto nessa vida. No asfalto tivemos que matar uma selva por dia pra sobreviver e sou grato pra caralho à Deus ou seja lá quem colocou o Draco no meu caminho. Ele deu casa, comida, me colocou no corre e assim até hoje consigo sustentar a minha irmã e agora a minha sobrinha Emilie.Nocaute é meu braço direito no Morro da Fé, já era cria de lá e assim que cheguei fizemos uma amizade forte pra caralho que dura até hoje. Ele sempre foi parado na da Patrícia, mas ela nem "tchun" pra ele. Não sei de onde essa sequelada tira tanta soberba. Parece que tudo o que passamos nessa vida não foi o suficiente pra essa doida acordar pra realidade e pelo visto isso tá longe de acontecer.Agora tô chegando na casa onde nós tá parado até eu resolver os assunto com aquele velho dos infernos, mas isso de hoje não passa e amanhã tô de volta à minha paz.Já chego na casa e vejo Patricia na parte de baixo nervosa andando se um lado pro outro. Quando percebe que tô por perto corre grudando no meu pescoço e chorando igual uma bezerra desmamada. Tiro o braço dela e a encaro puto da vida.— Qual foi da emergência Patricia? Eu tava ocupado resolvendo um... — não consigo terminar, o que já me deixa puto, odeio quando cortam a minha voz, mas quando penso em dar um tranco nela ouço uma parada que me deixa pior ainda— A Emilie... Ela... Aí meu Deus... Como vou dizer isso... — Patricia com as mãos na cabeça andava de um lado para o outro e parecia desesperada.Não perco tempo, a seguro pelos braços e chacoalhando com força grito:— O que aconteceu com a cachinhos? O QUE TU FEZ COM ELA? RESPONDE CARALHO#!Nocaute entra no meio e como sempre toma partido daquela louca.— Calma PG! Geral tá olhando pra cá mermão, isso não é bom pra nós porra#. Tranquiliza.— ESSA SEQUELADA ME DEIXA FORA DOS TRILHOS NESSE CARALHO#. CADÊ A EMILIE? FALA LOGO PORRA#! — grito segurando Patricia pelos braços e a chacoalhando com muito mais força— Ela bebeu a minha vodca pensando que era água e tá em estado grave no hospital. Eu não tive culpa... Eu só fui ao banheiro escovar os dentes e quando voltei ela tava na cama desmaiada.— Desgracada! M*****a# bêbada dos infernos! — grito dando um tapa na cara dela e Nocaute a segura impedindo de cair— Senhor! Por favor se acalme ou terei que chamar a polícia! — um dos vizinhos que passava na hora fala e erguo as mãos pro alto em rendição, dando a entender que iria me acalmar— Tudo bem. Vou me tranquilizar. — O coroa se afasta seguindo seu caminho e volto a encarar Patricia que estava chorando nos braços do Nocaute — Onde tá a menina? — falo entre dentes, mas louco pra esfolar aquela filha da puta— Foi levada para o Hospital Três Marias, que fica no centro da cidade. — Patricia fala soluçando e com cara de dor por eu outra vez está segurando com força no braço dela— Escuta bem sua SEQUELADA dos infernos, se acontecer alguma coisa grave com a cachinhos, eu juro... eu juro que hoje será teu último dia de liberdade. Entendeu?— Vira essa boca pra lá mermão, não vai acontecer nada com a pirralha. — Nocaute fala tentando apaziguar as paradas— Assim espero. Porque se acontecer, já sabe muito bem o que vou fazer contigo, sua filha da puta#. — falo puto e a encaro com sangue nos olhos— Vai me matar como faz com as pessoas que já não servem pra você? — Patrícia tenta me enfrentar, mas seguro com força no seu maxilar mostrando quem manda nessa porra— Isso eu faço com meus inimigos, com o meu sangue jogo num manicômio e você será dada como morta, mesmo ainda estando com vida.Falo soltando seu rosto, dando as costas e seguindo para o carro. Nocaute faz o mesmo e Patricia senta no banco de tras mais branca do que uma vela derretida. Arranco com o carro e sigo pro hospital, na esperança da cachinhos ainda estar com vida e eu não ser obrigado a cumprir com a minha palavra.Continua...☆☆☆☆☆☆☆☆☆☆AliceAs horas passaram rápido, a noite chegou e nada do meu pai voltar. Estou morrendo de fome, o único alimento que coloquei na boca foi um pão velho com água quente da torneira, que além de tá duro feito uma pedra ainda tinha um pouco de mofo em volta. E isso foi ontem, as quatro horas da madrugada, quando meu pai chegou caindo de bêbado e me chutando para eu acordar. Eu imaginava que nada poderia ser pior do que ele fazia comigo durante todo esse tempo, mas bastou ele abrir a boca para eu perceber que o pior ainda estava por vir.Algumas horas atrás...— Acorda! Acorda logo garota! — meu pai dá vários chutes nas minhas pernas, me fazendo acordar e gemer de dor — Ai! Ai! O que foi pai? — respondo já de pé e me afastando dele— O que foi pai? O que foi? — ele fala embolado, mas cheio de ironia — Eu lá sou pai de um bicho como você? Anda, levanta logo sua merda e vá colocar a minha comida. — ele grita e se afasta sentando em uma cadeira velha que tinha no canto da cozinha perto da p
AliceMe levanto com dificuldade, meu corpo doia muito e minha cabeça estava a ponto de explodir. Abro e fecho os olhos várias vezes na tentativa de enxergar. Lágrimas continuam brotando em meus olhos quando lembro de tudo o que me disse na noite passada. Ainda não conseguia acreditar em nada daquilo.Como assim, minha mãe o traiu? Como eu não posso ser filha dele?Afinal, quem é o meu verdadeiro pai?Dúvidas e perguntas não paravam de surgir na minha cabeça. Mas eu sabia que não teria respostas e o pior foi lembrar que esse velho monstruoso assassinou a minha própria mãe. Não é possível que eu tenha que passar por tudo isso em vão, Deus nunca me desamparou e sempre fez promessas em minha vida. Será que tudo não passava de coisa da minha cabeça?Continuo varrendo cada canto daquele lugar que agora se tornou o meu cativeiro, o meu cárcere e só hoje compreendo o motivo. Ele me odeia por eu ser fruto de uma traição e segundo ele, o senhor Filafelpio, esse mal deve ser cortado pela raiz
PGCheguei no hospital e fui ligeiro buscar informação da minha sobrinha. Tinha uma coroa toda nojenta atrás de um balcão e estava no telefone falando sei lá com quem. Com a educação que nunca existiu dentro de mim pergunto pela cachinhos, mas a porra# da coroa queria era dificultar as paradas e devia me achar com cara de relógio pra aguardar o tempo dela bater o ponto pra querer olhar pra nós. Outra vez tento contato, mas a porra# estava difícil pra caralho, até parecia fila do INSS. Apoiei as mãos no balcão, baixo à cabeça, conto até três e quando levanto dei um murro naquela merda de tábua branca que era mais encardida do que as parede do barraco da boca. A coroa se estremeceu inteira e até consigo afirmar que ela se mijou todinha com o susto, mas ficou ainda pior quando puxei o telefone da mão dela e falei com a sequelada do outro lado da linha, que depois eu descobri que era a vizinha da filha dela que queria receita de bolo e saber qual era a boa da novela das dez. Puta# que pa
PGJá no carro segui direto para o buraco onde aquele fodido se entocava. Nocaute em todo o caminho ficou calado e eu já estava puto da vida por ele ter se metido no bagulho entre Patricia e eu. Mas era meu parceiro, meu irmão de vida que já me fortaleceu muito e por isso deixei quieto. Depois de uma cota de tempo chegamos no tal barraco. O portão estava aberto, o que facilitou a nossa vida, mas também me deixou cabreiro com toda essa facilidade. Descemos do carro e Nocaute logo fala:— A porta tá aberta PG, o veiote tá aí. Assinto, pego minha pistola nas costas destravando no ato e sigo o percurso com ela em punho. Nocaute vinha logo em seguida e bastou nós dá alguns passos para ouvir gritos. Tinha alguém ali dentro passando por aperto e pela voz era uma mulher. Encaro Nocaute e faço gesto com a cabeça dizendo que era a hora de invadir. Ele assente e ligeiro entramos no barraco. E sinto o ódio mortal tomar conta das minhas veias e uma m*****a lembrança surge na minha cabeça com a ce
AliceNunca senti tanto medo como agora. Eu não sabia o que fazer, se gritava, chorava, corria ou ficava aguardando até aquele homem fazer o mesmo ou pior comigo. O desgraçado do Filadelfio era um verme maldito, mas não deixava de ser um ser humano e quem somos nós para ceifar a vida do nosso semelhante? Aquele homem com seu olhar frio e seu modo duro de agir me fez sentir como um grão de areia, um nada... Naquele momento tudo o que eu desejava era que um buraco fosse aberto debaixo de mim e me tragasse para sempre. Eu sequer conseguia gritar ou esboçar qualquer tipo de reação... Simplesmente paralisei.Aquela cena ficará gravada para sempre dentro da minha cabeça, o Filadelfio sendo castrado como um bicho e se debatendo enquanto o outro homem que mais parecia um justiceiro, sem esboçar nenhum tipo de remorso apertava cada vez mais o nó da corda que estava em torno do seu pescoço, deixando mínima a possibilidade daquele sujeito que a pouco tempo atrás eu chamava de pai escapar.E tud
PGDepois de finalizar aquela situação parti direto para o hospital, só queria pegar minha família e meter o pé desse inferno. Nocaute tentou desviar o caminho seguindo pra casa onde nós tava, mas não dei chance, minha ordem vai ser cumprida e a partir de agora vou ser pior do que antes. Essa porra# de afrouxar as rédeas só deu merda, me desloquei da minha paz e fui parar direto no inferno sem escala. Tudo porque dei oportunidade, confiei e olha a merda que deu... só me fodi. E isso não vai mais acontecer!Fiquei cabreiro de deixar aquela garota pra trás e ainda respirando depois de filmar a nossa cara. Mas sei lá o que me deu, aqueles olhos de anjo dela me deixou em transe por algum tempo e eu já estava tão neurótico com toda aquela merda que deixei ela pra trás. Só que algo me diz que isso não foi uma boa ideia e eu preciso resolver essa porra# antes que traga problema pra minha cabeça, que já tá a prêmio há muito tempo.Chego no hospital e vou logo ter notícia da Emilie. A coroa a
AliceSem olhar para trás comecei a caminhar sem rumo pela estradinha de terra que me levaria direto ao centro da cidade. Não sabia o que aconteceria comigo a partir daquele momento, mas no fundo, eu tinha a única certeza que deveria fugir, andar, correr e chegar o mais longe que eu conseguisse. Pois essa era a minha única oportunidade de recomeçar.Já era madrugada e a estrada estava deserta. Como sempre ali não passava sequer um filho de Deus que pudesse me ajudar. Mas, por outro lado, era melhor assim, pois depois de tudo o que passei eu não confiaria em ninguém, nem mesmo na minha própria sombra.O mal havia ficado para trás e junto à ele o corpo daquele demônio maldito. Eu deveria me sentir feliz, mas tudo acontecia exatamente o contrário, estava morrendo de medo do meu futuro e principalmente de esbarrar com aqueles sujeitos, pois com toda certeza ainda deveriam estar muito perto. Com esses pensamentos aperto o passo e ao longe avisto uma iluminação. Sigo em direção ao reflexo
PGDepois de todo aquele sufoco, enfim a situação tinha sido resolvida e as parada voltado as normalidade de sempre. Tratei de seguir pra casa, fiz toque de mão com Nocaute que ainda tinha umas ligação pra fazer para o morro e eu segui pro banheiro tomando um banho arrumado. Caralho#! Como eu estava precisando disso, sentia meu corpo pesadão e um banho demorado ajuda muito a aliviar a tensão e diminuir a adrenalina que eu estava sentindo. Fiquei uma cota de tempo debaixo daquele chuveiro, mas bastou eu fechar os olhos pra imagem daquela garota junto com o barraco incendiado surgir na minha cabeça. Que porra#! Por que eu ainda pensava naquilo?Essa não era a primeira vez que eu eliminava um desafeto ou um otário# que tentou me passar a perna. Bagulho estranho esse parceiro. Pelo jeito vou ter que ir fazer mesmo um descarrego e tomar um banho de ervas com sal grosso pra jogar essa urucubaca para bem longe. Não vejo a hora de voltar para o meu lugar e dar um guenta numa gostosa pra jo