Alice
Me levanto com dificuldade, meu corpo doia muito e minha cabeça estava a ponto de explodir. Abro e fecho os olhos várias vezes na tentativa de enxergar. Lágrimas continuam brotando em meus olhos quando lembro de tudo o que me disse na noite passada. Ainda não conseguia acreditar em nada daquilo.Como assim, minha mãe o traiu?Como eu não posso ser filha dele?Afinal, quem é o meu verdadeiro pai?Dúvidas e perguntas não paravam de surgir na minha cabeça. Mas eu sabia que não teria respostas e o pior foi lembrar que esse velho monstruoso assassinou a minha própria mãe. Não é possível que eu tenha que passar por tudo isso em vão, Deus nunca me desamparou e sempre fez promessas em minha vida.Será que tudo não passava de coisa da minha cabeça?Continuo varrendo cada canto daquele lugar que agora se tornou o meu cativeiro, o meu cárcere e só hoje compreendo o motivo. Ele me odeia por eu ser fruto de uma traição e segundo ele, o senhor Filafelpio, esse mal deve ser cortado pela raiz. Talvez seja realmente melhor a morte, assim acaba de uma vez com esse tormento e essa situação miserável que venho passando há mais de um ano.Eu já não tinha esperança de absolutamente nada, mas ao ouvir uma palavra na rádio que por milagre esse sujeito esqueceu no quarto, consegui ter um pouco de esperança e paz dentro do meu coração.Deus dizia que estava comigo e que mesmo estando nessa escuridão não havia me desamparado.Meu coração se encheu de alegria e esperança por saber que meu socorro estava à caminho. Mas outra vez me encho de medo quando aqueles homens estranhos vieram até aqui e por pouco não me assassinaram.Será que esse seria o meu socorro?"Por Deus Alice, onde que Deus te resgataria usando o próprio demônio? Acorda! Fica esperta que esses sujeitos vão voltar e você pode não ter a mesma oportunidade de viver como da primeira vez." — me repreendo na horaEu preciso fugir daqui antes que eles voltem. Mas como vou fazer isso amarrada com essa corrente e toda machucada desse jeito?Coloco as mãos em cima da cabeça procurando uma solução, até que olho para o sabão em cima da pia.Será que?Não tenho muito tempo para pensar, já era noite e aqueles homens poderiam voltar a qualquer momento, vai ser isso mesmo e seja o que Deus quiser.Pego o sabão e começo a esfregar no meu tornozelo, tento puxar meu pé, mas tudo o que conseguia era deixa-lo mais inchado.Desaminada falo comigo mesma.— Não adianta, é impossível eu sair daqui.Baixo a cabeça e ali vejo a minha solução. Tinha um potinho com ácido embaixo da pia que o desgraçado do Filafelpio usava para desenferrujar as lâminas dos facões. Mas se esse troço caísse na minha perna seria meu fim. Mas era isso ou a morte.Pego o pote e abro com cuidado. Arranco um pedaço de madeira da cadeira velha, umedeço com o líquido e clamo a Deus para dar certo. Bastou algumas gotas em cima da corrente para elas se partirem ao meio e com um pouco de força consigo me livrar do cadeado que me prendia feito um animal selvagem.Eu não conseguia acreditar que estava livre... Abri um sorriso de felicidade que a muito tempo não via brotar em meu rosto.— Meu Deus... Não acredito! Não acredito! — falo batendo palmas de alegria e então percebo que estava lutando contra o tempo e precisava escapar o quanto antes — Eu preciso fugir daqui antes que... — mal começo a falar, e logo sou surpreendida com um puxão de cabelo e uma voz que eu reconheceria até no inferno, afinal era onde eu vivia desde que nasci— Onde pensa que vai vagabunda? Pensava mesmo que iria conseguir fugir de mim?Engulo seco e só consigo fechar os olhos implorar à Deus..."Senhor não me desempare, onde está o socorro que Tu me prometestes?"Bastou em fazer essa oração para ser jogada com força no chão e segundos depois sentir o peso do corpo daquele monstro em cima do meu. Suas mãos asquerosas com brutalidade arrancava a minha blusa, enquanto sua língua imunda passava em volta do meu pescoço.— NÃO! ME SOLTA! SOCORROOOOO... ME SOLTA MONSTRO... DESGRAÇADO! — grito em desespero mesmo sabendo que não tinha chance de alguém ouvir minha voz__ GRITA! PODE GRITAR O QUANTO QUISER QUE NINGUÉM VAI APARECER PARA TE SALVAR. — Filadelfio gargalhava enquanto eu só buscava uma maneira de escapar desse fim tão cruel e ser violentada por aquele que algum dia cheguei a chamar de pai— DEUS ESTÁ COMIGO E NÃO VAI PERMITIR QUE UM DEMÔNIO COMO VOCÊ VENÇA! O BEM SEMPRE VAI VENCER O MAL. SEMPREEEEEE... — grito e ouço outra gargalhada, mas dessa vez monstruosa— Uma filha de vagabunda que crê em Deus? — ele diz com ironia — Onde Ele estava, quando a vagabunda da tua mãe fodia na nossa cama com outro, enquanto eu me matava de trabalhar para dar uma vida de rainha pra ela? Hein? Não me faça rir vadia, pode implorar o quanto quiser, mas o teu Deus, se é que existe, não vai te salvar e você vai ser minha e é comigo que a filha daquele doutorzinho de merda vai perder o cabaço. Assim quando vocês se encontrarem, no inferno, vai poder dizer que foi fodida pelo cara que ele deu chapéu de touro.— NÃOOO... POR FAVOR... NÃOOOO... — volto a gritar e me debater dando um tapa na cara dele, mas em seguida recebo outro muito mais forte e tenho o restante das minhas roupas rasgadas.Fico apenas de calcinha e aquele monstro já com a barriguilha da calça aberta coloca pra fora aquele troço nojento que eu sequer consegui olhar. Fecho os olhos já esperando o pior, que eu seria marcada como um animal e nada poderia fazer para impedir. Eu sequer tinha lágrimas, parecia que elas haviam secado assim como minh'alma. Minhas pernas são abertas com força e sinto aquele monstro se encaixar entre elas.Não consigo sequer raciocinar e apenas murmuro comigo mesmo."Agora chegou o meu fim.""Senhor, por quê me abandonaste?"Ao murmurar essas palavras, eu já aguardava o pior, mas de repente a porta do barraco veio abaixo e só ouço um grito:— TE ENCONTREI FILHO DA PUTA DOS INFERNOS! SAI DE CIMA DA GAROTA OU ESTOURO TUA CABEÇA AGORA MESMO COVARDE DO CARALHO!Era a mesma voz que ouvi mais cedo, eu sabia que esses sujeitos voltariam e graças à Deus que serviram para me livrar desse animal.É... parece que o Senhor enviou o próprio demônio para me resgatar.E quem sou eu para ir contra os desígnios e vontades de Deus?Respiro aliviada ao sentir aquele velho repugnante saindo de cima de mim tremendo mais do que vara verde e na mesma hora me levanto correndo e fico escondida atrás da porta de tábua que tinha no banheiro. Pego uma toalha velha e enrolo meu corpo que tremia mais do que bambu verde e fico bem atrás tentando ver o que iria acontecer.Eu não sabia se sorria, chorava... ficava ou fugia...Afinal, eu consegui escapar das mãos do demônio do Filadelfio, mas e desse sujeito com um olhar sombrio, será que escapo?Continua...☆☆☆☆☆☆☆☆☆☆PGCheguei no hospital e fui ligeiro buscar informação da minha sobrinha. Tinha uma coroa toda nojenta atrás de um balcão e estava no telefone falando sei lá com quem. Com a educação que nunca existiu dentro de mim pergunto pela cachinhos, mas a porra# da coroa queria era dificultar as paradas e devia me achar com cara de relógio pra aguardar o tempo dela bater o ponto pra querer olhar pra nós. Outra vez tento contato, mas a porra# estava difícil pra caralho, até parecia fila do INSS. Apoiei as mãos no balcão, baixo à cabeça, conto até três e quando levanto dei um murro naquela merda de tábua branca que era mais encardida do que as parede do barraco da boca. A coroa se estremeceu inteira e até consigo afirmar que ela se mijou todinha com o susto, mas ficou ainda pior quando puxei o telefone da mão dela e falei com a sequelada do outro lado da linha, que depois eu descobri que era a vizinha da filha dela que queria receita de bolo e saber qual era a boa da novela das dez. Puta# que pa
PGJá no carro segui direto para o buraco onde aquele fodido se entocava. Nocaute em todo o caminho ficou calado e eu já estava puto da vida por ele ter se metido no bagulho entre Patricia e eu. Mas era meu parceiro, meu irmão de vida que já me fortaleceu muito e por isso deixei quieto. Depois de uma cota de tempo chegamos no tal barraco. O portão estava aberto, o que facilitou a nossa vida, mas também me deixou cabreiro com toda essa facilidade. Descemos do carro e Nocaute logo fala:— A porta tá aberta PG, o veiote tá aí. Assinto, pego minha pistola nas costas destravando no ato e sigo o percurso com ela em punho. Nocaute vinha logo em seguida e bastou nós dá alguns passos para ouvir gritos. Tinha alguém ali dentro passando por aperto e pela voz era uma mulher. Encaro Nocaute e faço gesto com a cabeça dizendo que era a hora de invadir. Ele assente e ligeiro entramos no barraco. E sinto o ódio mortal tomar conta das minhas veias e uma m*****a lembrança surge na minha cabeça com a ce
AliceNunca senti tanto medo como agora. Eu não sabia o que fazer, se gritava, chorava, corria ou ficava aguardando até aquele homem fazer o mesmo ou pior comigo. O desgraçado do Filadelfio era um verme maldito, mas não deixava de ser um ser humano e quem somos nós para ceifar a vida do nosso semelhante? Aquele homem com seu olhar frio e seu modo duro de agir me fez sentir como um grão de areia, um nada... Naquele momento tudo o que eu desejava era que um buraco fosse aberto debaixo de mim e me tragasse para sempre. Eu sequer conseguia gritar ou esboçar qualquer tipo de reação... Simplesmente paralisei.Aquela cena ficará gravada para sempre dentro da minha cabeça, o Filadelfio sendo castrado como um bicho e se debatendo enquanto o outro homem que mais parecia um justiceiro, sem esboçar nenhum tipo de remorso apertava cada vez mais o nó da corda que estava em torno do seu pescoço, deixando mínima a possibilidade daquele sujeito que a pouco tempo atrás eu chamava de pai escapar.E tud
PGDepois de finalizar aquela situação parti direto para o hospital, só queria pegar minha família e meter o pé desse inferno. Nocaute tentou desviar o caminho seguindo pra casa onde nós tava, mas não dei chance, minha ordem vai ser cumprida e a partir de agora vou ser pior do que antes. Essa porra# de afrouxar as rédeas só deu merda, me desloquei da minha paz e fui parar direto no inferno sem escala. Tudo porque dei oportunidade, confiei e olha a merda que deu... só me fodi. E isso não vai mais acontecer!Fiquei cabreiro de deixar aquela garota pra trás e ainda respirando depois de filmar a nossa cara. Mas sei lá o que me deu, aqueles olhos de anjo dela me deixou em transe por algum tempo e eu já estava tão neurótico com toda aquela merda que deixei ela pra trás. Só que algo me diz que isso não foi uma boa ideia e eu preciso resolver essa porra# antes que traga problema pra minha cabeça, que já tá a prêmio há muito tempo.Chego no hospital e vou logo ter notícia da Emilie. A coroa a
AliceSem olhar para trás comecei a caminhar sem rumo pela estradinha de terra que me levaria direto ao centro da cidade. Não sabia o que aconteceria comigo a partir daquele momento, mas no fundo, eu tinha a única certeza que deveria fugir, andar, correr e chegar o mais longe que eu conseguisse. Pois essa era a minha única oportunidade de recomeçar.Já era madrugada e a estrada estava deserta. Como sempre ali não passava sequer um filho de Deus que pudesse me ajudar. Mas, por outro lado, era melhor assim, pois depois de tudo o que passei eu não confiaria em ninguém, nem mesmo na minha própria sombra.O mal havia ficado para trás e junto à ele o corpo daquele demônio maldito. Eu deveria me sentir feliz, mas tudo acontecia exatamente o contrário, estava morrendo de medo do meu futuro e principalmente de esbarrar com aqueles sujeitos, pois com toda certeza ainda deveriam estar muito perto. Com esses pensamentos aperto o passo e ao longe avisto uma iluminação. Sigo em direção ao reflexo
PGDepois de todo aquele sufoco, enfim a situação tinha sido resolvida e as parada voltado as normalidade de sempre. Tratei de seguir pra casa, fiz toque de mão com Nocaute que ainda tinha umas ligação pra fazer para o morro e eu segui pro banheiro tomando um banho arrumado. Caralho#! Como eu estava precisando disso, sentia meu corpo pesadão e um banho demorado ajuda muito a aliviar a tensão e diminuir a adrenalina que eu estava sentindo. Fiquei uma cota de tempo debaixo daquele chuveiro, mas bastou eu fechar os olhos pra imagem daquela garota junto com o barraco incendiado surgir na minha cabeça. Que porra#! Por que eu ainda pensava naquilo?Essa não era a primeira vez que eu eliminava um desafeto ou um otário# que tentou me passar a perna. Bagulho estranho esse parceiro. Pelo jeito vou ter que ir fazer mesmo um descarrego e tomar um banho de ervas com sal grosso pra jogar essa urucubaca para bem longe. Não vejo a hora de voltar para o meu lugar e dar um guenta numa gostosa pra jo
PGHoras depois...No Hospital Três Marias— Valeu chefia, tu foi firmeza com minha sobrinha e sei valorizar quem me fortalece. Um dia nós se esbarra e se tu precisar PG vai está ali pra te ajudar. — já com a cachinhos no meu colo arregada no meu pescoço agradeço ao doutor que foi sujeito homem do início ao fim e como disse tava liberando minha sobrinha no horário combinado Patricia não me encarava de jeito nenhum e eu tava era me fodendo# pra aquilo. Tudo o que me importava já estava nos meus braços e isso era o suficiente pra mim. — "Quelo" "sovete"! — a cachinhos fala fazendo carinho no meu rosto— O tio vai comprar pirralha, nós já vamos voltar pra casa. — falo colando minha testa na dela— É muito bom saber que vocês se dão bem. Depois do que ela sofreu, o amor da família é muito importante. — o doutor fala e mais uma vez agradeço — A partir de agora todo cuidado e atenção é pra ela. Se depender de mim nunca mais ela vota pra um hospital. — falo encarando sério pra Patricia qu
AliceFiquei pensativa e confesso que meu medo só aumentou ainda mais depois que assisti aquela reportagem. Por mais que eu tentasse fugir parecia que tudo me levava direto para as mãos daqueles homens. Meu Deus, quando eu conseguirei respirar e ter paz? Uma paz que a cada momento fica mais distante.Solto um longo suspiro, e com a certeza de que me preocupar não era a melhor opção, então volto a comer o meu lanche, pois de agora em diante precisaria de muita energia e força para enfrentar todos os obstáculos que surgissem em meu caminho. Mas no fundo, bem lá no fundo, eu ainda tinha a sensação de que em algum momento minha vida se cruzaria com a do homem de olhos sombrios. Nao saberia explicar o motivo, mas algo me dizua que issi seria muito mais rápido do que imaginava.Porém, só agora eu aprendi que devemos viver um dia de cada vez, e ao invés de sofrer antes do tempo eu preciso aproveitar a oportunidade que Deus estava me oferecendo. Pois somente Ele para preparar todas as coisas