Início / Romance / AMOR BLINDADO NO MORRO DA FÉ / 4. Resgatada pelo demônio
4. Resgatada pelo demônio

Alice

Me levanto com dificuldade, meu corpo doia muito e minha cabeça estava a ponto de explodir. Abro e fecho os olhos várias vezes na tentativa de enxergar. Lágrimas continuam brotando em meus olhos quando lembro de tudo o que me disse na noite passada. Ainda não conseguia acreditar em nada daquilo.

Como assim, minha mãe o traiu?

Como eu não posso ser filha dele?

Afinal, quem é o meu verdadeiro pai?

Dúvidas e perguntas não paravam de surgir na minha cabeça. Mas eu sabia que não teria respostas e o pior foi lembrar que esse velho monstruoso assassinou a minha própria mãe. Não é possível que eu tenha que passar por tudo isso em vão, Deus nunca me desamparou e sempre fez promessas em minha vida.

Será que tudo não passava de coisa da minha cabeça?

Continuo varrendo cada canto daquele lugar que agora se tornou o meu cativeiro, o meu cárcere e só hoje compreendo o motivo. Ele me odeia por eu ser fruto de uma traição e segundo ele, o senhor Filafelpio, esse mal deve ser cortado pela raiz. Talvez seja realmente melhor a morte, assim acaba de uma vez com esse tormento e essa situação miserável que venho passando há mais de um ano.

Eu já não tinha esperança de absolutamente nada, mas ao ouvir uma palavra na rádio que por milagre esse sujeito esqueceu no quarto, consegui ter um pouco de esperança e paz dentro do meu coração.

Deus dizia que estava comigo e que mesmo estando nessa escuridão não havia me desamparado.

Meu coração se encheu de alegria e esperança por saber que meu socorro estava à caminho. Mas outra vez me encho de medo quando aqueles homens estranhos vieram até aqui e por pouco não me assassinaram.

Será que esse seria o meu socorro?

"Por Deus Alice, onde que Deus te resgataria usando o próprio demônio? Acorda! Fica esperta que esses sujeitos vão voltar e você pode não ter a mesma oportunidade de viver como da primeira vez." — me repreendo na hora

Eu preciso fugir daqui antes que eles voltem. Mas como vou fazer isso amarrada com essa corrente e toda machucada desse jeito?

Coloco as mãos em cima da cabeça procurando uma solução, até que olho para o sabão em cima da pia.

Será que?

Não tenho muito tempo para pensar, já era noite e aqueles homens poderiam voltar a qualquer momento, vai ser isso mesmo e seja o que Deus quiser.

Pego o sabão e começo a esfregar no meu tornozelo, tento puxar meu pé, mas tudo o que conseguia era deixa-lo mais inchado.

Desaminada falo comigo mesma.

— Não adianta, é impossível eu sair daqui.

Baixo a cabeça e ali vejo a minha solução. Tinha um potinho com ácido embaixo da pia que o desgraçado do Filafelpio usava para desenferrujar as lâminas dos facões. Mas se esse troço caísse na minha perna seria meu fim. Mas era isso ou a morte.

Pego o pote e abro com cuidado. Arranco um pedaço de madeira da cadeira velha, umedeço com o líquido e clamo a Deus para dar certo. Bastou algumas gotas em cima da corrente para elas se partirem ao meio e com um pouco de força consigo me livrar do cadeado que me prendia feito um animal selvagem.

Eu não conseguia acreditar que estava livre... Abri um sorriso de felicidade que a muito tempo não via brotar em meu rosto.

— Meu Deus... Não acredito! Não acredito! — falo batendo palmas de alegria e então percebo que estava lutando contra o tempo e precisava escapar o quanto antes — Eu preciso fugir daqui antes que... — mal começo a falar, e logo sou surpreendida com um puxão de cabelo e uma voz que eu reconheceria até no inferno, afinal era onde eu vivia desde que nasci

— Onde pensa que vai vagabunda? Pensava mesmo que iria conseguir fugir de mim?

Engulo seco e só consigo fechar os olhos implorar à Deus...

"Senhor não me desempare, onde está o socorro que Tu me prometestes?"

Bastou em fazer essa oração para ser jogada com força no chão e segundos depois sentir o peso do corpo daquele monstro em cima do meu. Suas mãos asquerosas com brutalidade arrancava a minha blusa, enquanto sua língua imunda passava em volta do meu pescoço.

— NÃO! ME SOLTA! SOCORROOOOO... ME SOLTA MONSTRO... DESGRAÇADO! — grito em desespero mesmo sabendo que não tinha chance de alguém ouvir minha voz

__ GRITA! PODE GRITAR O QUANTO QUISER QUE NINGUÉM VAI APARECER PARA TE SALVAR. — Filadelfio gargalhava enquanto eu só buscava uma maneira de escapar desse fim tão cruel e ser violentada por aquele que algum dia cheguei a chamar de pai

— DEUS ESTÁ COMIGO E NÃO VAI PERMITIR QUE UM DEMÔNIO COMO VOCÊ VENÇA! O BEM SEMPRE VAI VENCER O MAL. SEMPREEEEEE... — grito e ouço outra gargalhada, mas dessa vez monstruosa

— Uma filha de vagabunda que crê em Deus? — ele diz com ironia — Onde Ele estava, quando a vagabunda da tua mãe fodia na nossa cama com outro, enquanto eu me matava de trabalhar para dar uma vida de rainha pra ela? Hein? Não me faça rir vadia, pode implorar o quanto quiser, mas o teu Deus, se é que existe, não vai te salvar e você vai ser minha e é comigo que a filha daquele doutorzinho de merda vai perder o cabaço. Assim quando vocês se encontrarem, no inferno, vai poder dizer que foi fodida pelo cara que ele deu chapéu de touro.

— NÃOOO... POR FAVOR... NÃOOOO... — volto a gritar e me debater dando um tapa na cara dele, mas em seguida recebo outro muito mais forte e tenho o restante das minhas roupas rasgadas.

Fico apenas de calcinha e aquele monstro já com a barriguilha da calça aberta coloca pra fora aquele troço nojento que eu sequer consegui olhar. Fecho os olhos já esperando o pior, que eu seria marcada como um animal e nada poderia fazer para impedir. Eu sequer tinha lágrimas, parecia que elas haviam secado assim como minh'alma. Minhas pernas são abertas com força e sinto aquele monstro se encaixar entre elas.

Não consigo sequer raciocinar e apenas murmuro comigo mesmo.

"Agora chegou o meu fim."

"Senhor, por quê me abandonaste?"

Ao murmurar essas palavras, eu já aguardava o pior, mas de repente a porta do barraco veio abaixo e só ouço um grito:

— TE ENCONTREI FILHO DA PUTA DOS INFERNOS! SAI DE CIMA DA GAROTA OU ESTOURO TUA CABEÇA AGORA MESMO COVARDE DO CARALHO!

Era a mesma voz que ouvi mais cedo, eu sabia que esses sujeitos voltariam e graças à Deus que serviram para me livrar desse animal.

É... parece que o Senhor enviou o próprio demônio para me resgatar.

E quem sou eu para ir contra os desígnios e vontades de Deus?

Respiro aliviada ao sentir aquele velho repugnante saindo de cima de mim tremendo mais do que vara verde e na mesma hora me levanto correndo e fico escondida atrás da porta de tábua que tinha no banheiro. Pego uma toalha velha e enrolo meu corpo que tremia mais do que bambu verde e fico bem atrás tentando ver o que iria acontecer.

Eu não sabia se sorria, chorava... ficava ou fugia...

Afinal, eu consegui escapar das mãos do demônio do Filadelfio, mas e desse sujeito com um olhar sombrio, será que escapo?

Continua...

☆☆☆☆☆☆☆☆☆☆

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo