Alice
As horas passaram rápido, a noite chegou e nada do meu pai voltar. Estou morrendo de fome, o único alimento que coloquei na boca foi um pão velho com água quente da torneira, que além de tá duro feito uma pedra ainda tinha um pouco de mofo em volta. E isso foi ontem, as quatro horas da madrugada, quando meu pai chegou caindo de bêbado e me chutando para eu acordar. Eu imaginava que nada poderia ser pior do que ele fazia comigo durante todo esse tempo, mas bastou ele abrir a boca para eu perceber que o pior ainda estava por vir.Algumas horas atrás...— Acorda! Acorda logo garota! — meu pai dá vários chutes nas minhas pernas, me fazendo acordar e gemer de dor— Ai! Ai! O que foi pai? — respondo já de pé e me afastando dele— O que foi pai? O que foi? — ele fala embolado, mas cheio de ironia — Eu lá sou pai de um bicho como você? Anda, levanta logo sua merda e vá colocar a minha comida. — ele grita e se afasta sentando em uma cadeira velha que tinha no canto da cozinha perto da porta— Mas pai, qual comida? Nessa casa não tem nada, os armários e geladeira estão vazios há mais de quinze dias. Eu tô morrendo de fome e... — tento falar, mas levo um tapa no rosto e sinto o sangue escorrer— Cala a boca vagabunda! Tua mãe sempre te deu muita ousadia, mas ela já tá há sete palmos dessa terra, sempre foi uma inútil e você puxou ela todinha. Vadia! — começo a chorar ao lembrar da minha mãe, ela sempre foi uma mulher maravilhosa, seu único erro foi ter amado o homem errado e por culpa dele agonizou até a morte naquele hospital público.Eu tenho tudo para odiar esse sujeito e desejar a sua morte, mas eu não consigo."Meu Deus! Por que tenho que passar por tudo isso? Por quê?"Enquanto fazia minhas suplicas à Deus, continuo ouvindo os insultos, daquele que tem o dever de me proteger, mas faz exatamente o contrário.— Para de chorar e vá logo fazer a minha comida. Toma aí, trouxe essas coisas que ganhei num jogo de bicho.Ele j**a a sacola em cima de mim, que estava impregnada com o cheiro de cigarro e cachaça. Enxugo as lágrimas, abro e quando olho tinha um pacote de arroz, meia dúzia de ovos, carne seca e um punhado de farinha."Meu Deus! O que vou fazer com isso? Se eu não fizer o que ele tá dizendo, vou apanhar outra vez."Fico olhando aquelas coisas em cima da pia e tento dar um jeito. Dessalgo a carne seca, enquanto faço um arroz lavado com a água salgada da carne, porque nem sal ou qualquer tempero tem nessa casa. Na verdade aqui não tinha nada além de sofrimento. Eu me chamo Alice, mas a minha vida está muito longe de ser o país das maravilhas.Minutos depois coloquei o arroz e a carne no prato. Entreguei na mão dele que colocou uma garfada na boca e logo cuspiu tudo na minha cara.— Vadia! Tu não presta pra nada mesmo. Isso mais parece lavagem pra porco. Quer me matar? — ele grita jogando o prato contra a parede e espalhando comida para todos os lados— Não! Eu quero que o senhor me mate logo de uma vez. Não suporto mais essa situação, não sei porque me trata assim e menos ainda porque me odeia tanto. Por que papai? Por que todo esse ódio contra mim? — grito desesperada e caio no chão depois de levar outro tapa no rosto, dessa vez mais forte, que faz o sangue escorrer do meu narizMeu pai se aproxima com um olhar furioso, até parecia o próprio demônio. Com uma das mãos segura o meu maxilar com tanta força que eu conseguia sentir o gosto de sangue dentro da minha boca se misturar com a saliva e com a outra mão segura todo meu cabelo formando um rabo de cavalo o puxando para trás, deixando meu queixo erguido diante dele. Ele me encara com fúria e se não bastasse ter me machucado fisicamente todo esse tempo, também me machuca e dilacera o meu emocional sem nenhuma piedade.— Sabe por que eu te odeio tanto? Hein, vadia? — ele fala enquanto puxa com mais força o meu cabelo— Papai... por favor... — choramingo e isso o deixava mais furioso— Eu não sou teu pai, porra! Você não passa de uma m*****a bastarda e um peso na minha vida. Tu és uma vagabunda e saíste idêntica a puta da tua mãe. E do mesmo jeito que eu dei um fim nela, naquela m*****a traidora, o mesmo farei como você.— Hã!? Como assim? Minha mãe teve um aneurisma... — falo confusa e ele logo trata de ďeixar as coisas bastante claras— Isso mesmo, mas só aconteceu depois que eu bati a cabeça dela várias vezes contra a parede assim que eu descobri que você não era minha filha. Não queria saber o por quê te odeio tanto? Agora já sabe vagabunda... E fica ciente de que você não vai durar muito e teu fim vai ser pior do que o da vadia da tua mãe. Entendeu!?Ele termina de falar e me solta empurrando a minha cabeça contra a parede com força me deixando inconsciente. Não sei por quanto tempo fiquei desacordada, mas quando abri os olhos a casa estava vazia, tinha comida espalhada por todo lado e sem falar no cheiro de pinga que impregnava todo o lugar.[...]☆☆☆☆☆☆☆☆☆☆☆AliceMe levanto com dificuldade, meu corpo doia muito e minha cabeça estava a ponto de explodir. Abro e fecho os olhos várias vezes na tentativa de enxergar. Lágrimas continuam brotando em meus olhos quando lembro de tudo o que me disse na noite passada. Ainda não conseguia acreditar em nada daquilo.Como assim, minha mãe o traiu? Como eu não posso ser filha dele?Afinal, quem é o meu verdadeiro pai?Dúvidas e perguntas não paravam de surgir na minha cabeça. Mas eu sabia que não teria respostas e o pior foi lembrar que esse velho monstruoso assassinou a minha própria mãe. Não é possível que eu tenha que passar por tudo isso em vão, Deus nunca me desamparou e sempre fez promessas em minha vida. Será que tudo não passava de coisa da minha cabeça?Continuo varrendo cada canto daquele lugar que agora se tornou o meu cativeiro, o meu cárcere e só hoje compreendo o motivo. Ele me odeia por eu ser fruto de uma traição e segundo ele, o senhor Filafelpio, esse mal deve ser cortado pela raiz
PGCheguei no hospital e fui ligeiro buscar informação da minha sobrinha. Tinha uma coroa toda nojenta atrás de um balcão e estava no telefone falando sei lá com quem. Com a educação que nunca existiu dentro de mim pergunto pela cachinhos, mas a porra# da coroa queria era dificultar as paradas e devia me achar com cara de relógio pra aguardar o tempo dela bater o ponto pra querer olhar pra nós. Outra vez tento contato, mas a porra# estava difícil pra caralho, até parecia fila do INSS. Apoiei as mãos no balcão, baixo à cabeça, conto até três e quando levanto dei um murro naquela merda de tábua branca que era mais encardida do que as parede do barraco da boca. A coroa se estremeceu inteira e até consigo afirmar que ela se mijou todinha com o susto, mas ficou ainda pior quando puxei o telefone da mão dela e falei com a sequelada do outro lado da linha, que depois eu descobri que era a vizinha da filha dela que queria receita de bolo e saber qual era a boa da novela das dez. Puta# que pa
PGJá no carro segui direto para o buraco onde aquele fodido se entocava. Nocaute em todo o caminho ficou calado e eu já estava puto da vida por ele ter se metido no bagulho entre Patricia e eu. Mas era meu parceiro, meu irmão de vida que já me fortaleceu muito e por isso deixei quieto. Depois de uma cota de tempo chegamos no tal barraco. O portão estava aberto, o que facilitou a nossa vida, mas também me deixou cabreiro com toda essa facilidade. Descemos do carro e Nocaute logo fala:— A porta tá aberta PG, o veiote tá aí. Assinto, pego minha pistola nas costas destravando no ato e sigo o percurso com ela em punho. Nocaute vinha logo em seguida e bastou nós dá alguns passos para ouvir gritos. Tinha alguém ali dentro passando por aperto e pela voz era uma mulher. Encaro Nocaute e faço gesto com a cabeça dizendo que era a hora de invadir. Ele assente e ligeiro entramos no barraco. E sinto o ódio mortal tomar conta das minhas veias e uma m*****a lembrança surge na minha cabeça com a ce
AliceNunca senti tanto medo como agora. Eu não sabia o que fazer, se gritava, chorava, corria ou ficava aguardando até aquele homem fazer o mesmo ou pior comigo. O desgraçado do Filadelfio era um verme maldito, mas não deixava de ser um ser humano e quem somos nós para ceifar a vida do nosso semelhante? Aquele homem com seu olhar frio e seu modo duro de agir me fez sentir como um grão de areia, um nada... Naquele momento tudo o que eu desejava era que um buraco fosse aberto debaixo de mim e me tragasse para sempre. Eu sequer conseguia gritar ou esboçar qualquer tipo de reação... Simplesmente paralisei.Aquela cena ficará gravada para sempre dentro da minha cabeça, o Filadelfio sendo castrado como um bicho e se debatendo enquanto o outro homem que mais parecia um justiceiro, sem esboçar nenhum tipo de remorso apertava cada vez mais o nó da corda que estava em torno do seu pescoço, deixando mínima a possibilidade daquele sujeito que a pouco tempo atrás eu chamava de pai escapar.E tud
PGDepois de finalizar aquela situação parti direto para o hospital, só queria pegar minha família e meter o pé desse inferno. Nocaute tentou desviar o caminho seguindo pra casa onde nós tava, mas não dei chance, minha ordem vai ser cumprida e a partir de agora vou ser pior do que antes. Essa porra# de afrouxar as rédeas só deu merda, me desloquei da minha paz e fui parar direto no inferno sem escala. Tudo porque dei oportunidade, confiei e olha a merda que deu... só me fodi. E isso não vai mais acontecer!Fiquei cabreiro de deixar aquela garota pra trás e ainda respirando depois de filmar a nossa cara. Mas sei lá o que me deu, aqueles olhos de anjo dela me deixou em transe por algum tempo e eu já estava tão neurótico com toda aquela merda que deixei ela pra trás. Só que algo me diz que isso não foi uma boa ideia e eu preciso resolver essa porra# antes que traga problema pra minha cabeça, que já tá a prêmio há muito tempo.Chego no hospital e vou logo ter notícia da Emilie. A coroa a
AliceSem olhar para trás comecei a caminhar sem rumo pela estradinha de terra que me levaria direto ao centro da cidade. Não sabia o que aconteceria comigo a partir daquele momento, mas no fundo, eu tinha a única certeza que deveria fugir, andar, correr e chegar o mais longe que eu conseguisse. Pois essa era a minha única oportunidade de recomeçar.Já era madrugada e a estrada estava deserta. Como sempre ali não passava sequer um filho de Deus que pudesse me ajudar. Mas, por outro lado, era melhor assim, pois depois de tudo o que passei eu não confiaria em ninguém, nem mesmo na minha própria sombra.O mal havia ficado para trás e junto à ele o corpo daquele demônio maldito. Eu deveria me sentir feliz, mas tudo acontecia exatamente o contrário, estava morrendo de medo do meu futuro e principalmente de esbarrar com aqueles sujeitos, pois com toda certeza ainda deveriam estar muito perto. Com esses pensamentos aperto o passo e ao longe avisto uma iluminação. Sigo em direção ao reflexo
PGDepois de todo aquele sufoco, enfim a situação tinha sido resolvida e as parada voltado as normalidade de sempre. Tratei de seguir pra casa, fiz toque de mão com Nocaute que ainda tinha umas ligação pra fazer para o morro e eu segui pro banheiro tomando um banho arrumado. Caralho#! Como eu estava precisando disso, sentia meu corpo pesadão e um banho demorado ajuda muito a aliviar a tensão e diminuir a adrenalina que eu estava sentindo. Fiquei uma cota de tempo debaixo daquele chuveiro, mas bastou eu fechar os olhos pra imagem daquela garota junto com o barraco incendiado surgir na minha cabeça. Que porra#! Por que eu ainda pensava naquilo?Essa não era a primeira vez que eu eliminava um desafeto ou um otário# que tentou me passar a perna. Bagulho estranho esse parceiro. Pelo jeito vou ter que ir fazer mesmo um descarrego e tomar um banho de ervas com sal grosso pra jogar essa urucubaca para bem longe. Não vejo a hora de voltar para o meu lugar e dar um guenta numa gostosa pra jo
PGHoras depois...No Hospital Três Marias— Valeu chefia, tu foi firmeza com minha sobrinha e sei valorizar quem me fortalece. Um dia nós se esbarra e se tu precisar PG vai está ali pra te ajudar. — já com a cachinhos no meu colo arregada no meu pescoço agradeço ao doutor que foi sujeito homem do início ao fim e como disse tava liberando minha sobrinha no horário combinado Patricia não me encarava de jeito nenhum e eu tava era me fodendo# pra aquilo. Tudo o que me importava já estava nos meus braços e isso era o suficiente pra mim. — "Quelo" "sovete"! — a cachinhos fala fazendo carinho no meu rosto— O tio vai comprar pirralha, nós já vamos voltar pra casa. — falo colando minha testa na dela— É muito bom saber que vocês se dão bem. Depois do que ela sofreu, o amor da família é muito importante. — o doutor fala e mais uma vez agradeço — A partir de agora todo cuidado e atenção é pra ela. Se depender de mim nunca mais ela vota pra um hospital. — falo encarando sério pra Patricia qu