Ana levou um tempo para assimilar tudo o que tinha acontecido. Seu primeiro beijo não foi com seu médico bonito e gostoso, e sim, com o dono da favela de Paraisópolis. Era realmente inacreditável como Gabriel conseguia ser um profissional atencioso e prestativo, e um traficante frio e calculista. Eram dois extremos que somente uma mente brilhante, ou doentia, poderia colocar em prática.De qualquer forma, Ana decidiu que não iria mais cozinhar para Gabriel. Ela queria distância dele. Por isso, ela terminou de limpar a cozinha, fez um carinho em Max que dormia no sofá, deixou o dinheiro em cima da mesa da sala e voltou para casa. Como trabalhava à noite, cuidando de idosos acamados, Kelly dormia quando Ana chegou. Suada, ela pegou a toalha e foi tomar um banho gelado por causa do calor infernal, e das fortes emoções que a atormentavam. Ana fechou os olhos debaixo da ducha e se permitiu relaxar. Ela tinha dinheiro para fazer os exames, mas os levaria para outro médico. Nunca mais ela
Gabriel colocou Max na coleira e saiu de casa. De capuz branco, sem camisa, calça jeans preta e Adidas branco, o dono do morro foi para a casa usada para o setor financeiro, onde era feito os recebimentos e pagamentos. Com uma população de cem mil habitantes, Paraisópolis e região, dava uma renda semanal de três milhões de reais entre a venda de maconha, cocaína, crack, cigarro e álcool. Os dois últimos, de cargas roubadas. Havia pontos de venda de drogas no Morumbi, Cidade Dutra, Cidade Jardim, Vila Andrade e Itaim Bibi.Gabriel não era só o dono do morro de Paraisópolis, ele também tinha o controle armado dos pontos de venda de drogas, as chamadas bocas de fumo, como também dos territórios que cercavam a favela. Dono absoluto da comunidade, ele manda e desmanda na vida social dos moradores, se impõe como juiz dos desenrolos, interfere nas associações e escolhe candidatos para os quadros administrativos.O traficante iria seguir os passos do pai. Importar drogas e armas do exterior e
Ana colocou o despertador do iPhone para tocar às 06:00h. Após o banho, ela colocou camiseta branca, calça jeans claro, meias e um Nike branco. Como Gabriel tinha acertado o tamanho de tudo, inclusive das lingeries sensuais, era um mistério. Pelo menos, ele teve o bom senso de comprar também calcinhas e sutiãs para o dia a dia, que era o que ela estava usando para ir tirar sangue. Ana o encontrou na sala brincando com Max. Ele estava de camisa social branca, gravata preta, calça social preta e sapato social da mesma cor. Ana fingiu não sentir o baque ao vê-lo todo no estilo de filhinho de papai.- A Kelly ainda está dormindo. Isso é normal?- A Codeína tem um efeito sedativo. Enquanto estiver dormindo, ela não vai sentir dor.Ana dobrou o pedido dos exames e colocou no bolso da calça junto com os documentos. Os mil reais estavam entre as compras e ela estava levando para pagar os exames.- Eu tenho que voltar logo para ficar com a minha prima.Gabriel se aproximou com um sorriso. El
Gabriel parou a Hilux na entrada da favela e o Soldado Farias, vestido com o uniforme da PM, entrou no carro. O dono do morro pegou o envelope pardo, e abriu, tirando documentos e fotos. Ele franziu a testa com ceticismo.- Quem é esse tanque de guerra?- Renan Tavares. Ele é Policial Civil e lutador profissional de Muay Thai. Ele vai chegar em Paraisópolis como um ex-presidiário. Com a morte do seu pai, a missão dele será descobrir quem assumiu o comando do tráfico de drogas. O disfarce de médico é perfeito.- Eu acho que ele vai chegar fungando no meu cangote.- Se ele tentar uma aproximação, você já está na mira da Polícia Civil. Ele vai fazer uma varredura na favela para descobrir quais são os pontos fracos. Depois, se ele confirmar que você é o chefe do tráfico, ele vai montar uma operação de busca e apreensão, e na sequência, a sua prisão.Gabriel deu uma olhada no dossiê sobre Bruno Alcântara e nas fotos do Policial Federal. Farias coçou a nuca e disse com receio:- Se ele for
Ana ouviu a porta do quarto fechar atrás dela. O sol do meio-dia entrava pela porta corrediça de vidro que dava acesso para uma varanda com um jogo de sofá de couro branco. Na suíte havia banheiro com banheira de hidromassagem, e no quarto, apenas uma enorme cama de casal forrada com lençol branco e dois travesseiros com fronhas da mesma cor. Reflexos do sol iluminavam todo o ambiente. Ana olhou para trás. Com um sorriso safado, Gabriel levou as mãos no nó da gravata.- Não diga que tem vergonha do seu corpo porque está acima do peso. Eu não ligo pra isso.- Mas eu ligo e não estou pronta para fazer isso. Eu não me sinto confortável.Mesmo não querendo que a primeira vez dela fosse com um estranho, e de uma forma precipitada, uma necessidade inexplicável, fez Ana arfar ao ser agarrada pela cintura, e ser puxada de encontro ao peitoral definido de Gabriel. Ela o tocou por cima da camisa social branca e franziu a testa negra.- Seu coração está disparado e você está gelado. Gabriel
De regata preta e shorts verde militar, o Policial Civil estava deitado na cama com um rasgo na coxa direita. Ele era maior e mais forte do que aparentava nas fotos. Com a prancheta em mãos, Gabriel olhou os dados da triagem.- Acidente de moto?Renan observou o médico jovem e de boa aparência. Ainda não havia nada que o ligasse ao comando do tráfico de drogas em Paraisópolis. Entretanto, Gabriel era filho de Pedro Paiva, um dos chefões do PCC que a Polícia Civil nunca conseguiu chegar perto. E com a morte do pai, ele começou a atender no posto de saúde de Paraisópolis. Coincidência ou não, Renan decidiu começar a investigação pelo herdeiro de Pedro. Ele teria trinta dias para achar indícios de que Gabriel estava ocupando o lugar do pai no comando de Paraisópolis. Se não conseguisse provas o suficiente para concluir a investigação e prende-lo, o inquérito policial seria encaminhado para o Ministério Público para ser arquivado.Mas isso não iria acontecer. Renan era um homem inteligen
Gabriel viu o medo estampado no rosto lindo da sua Bebezinha. Sua intenção desde que viu Ana pela primeira vez no restaurante, e ficou obcecado por ela, era tratá-la bem para que ela não tivesse medo dele quando começasse a descobrir os seus segredos. Ser pego em um momento humilhante de surto, o deixou sem ação. Ele saiu do elevador, mas não chegou perto de Ana. Ela mordia o lábio inferior sem saber o que fazer. Estava linda com uma camisola rosa bebê tipo camiseta, que ia até os seus joelhos. Os cabelos negros estavam úmidos e soltos, indicando que ela tinha tomado outro banho.Gabriel esperou Ana fazer ou dizer alguma coisa. Foi a espera mais longa da sua vida. Descalça, ela andou até ele com passos lentos e hesitantes. Ele engoliu em seco com a aproximação, e manteve os braços abaixados ao longo do corpo trêmulo e suado da academia.Ana fixou os olhos negros na altura do peito de Gabriel, e o tocou por cima da camiseta Slim fit preta. Ele prendeu a respiração e ela entreabriu os
Gabriel tinha o poder de decidir quem entrava e quem saia de Paraisópolis. Ele poderia ter dado a ordem para barrar a entrada de Renan, sem ter a sua identidade revelada. Entretanto, com um policial infiltrado, ele teria como saber em que pé estava a sua situação com a polícia. Foi um trabalho muito árduo hackear os dois celulares de Renan. Ele usava um celular para se comunicar com o Delegado da Polícia Civil, Caio Brandão, que comandava a investigação, e o outro para ligar para um asilo em Campinas, e perguntar pela mãe. Ele estava morando em uma casa alugada, e pedia comida japonesa todos os dias. Gabriel descobriu que não existiam provas contra ele, e sua liberdade ainda não estava ameaçada.O dono do morro seguiu a sua rotina diária de venda de drogas, cigarros e álcool. André, o Dezinho, entrou no lugar do Renato, e ficou responsável por fiscalizar os pontos de venda de drogas e recolher o dinheiro. Ele era experiente, frio e calculista. Renan era mantido sob vigilância 24hs,