Ana ouviu a porta do quarto fechar atrás dela. O sol do meio-dia entrava pela porta corrediça de vidro que dava acesso para uma varanda com um jogo de sofá de couro branco. Na suíte havia banheiro com banheira de hidromassagem, e no quarto, apenas uma enorme cama de casal forrada com lençol branco e dois travesseiros com fronhas da mesma cor. Reflexos do sol iluminavam todo o ambiente. Ana olhou para trás. Com um sorriso safado, Gabriel levou as mãos no nó da gravata.- Não diga que tem vergonha do seu corpo porque está acima do peso. Eu não ligo pra isso.- Mas eu ligo e não estou pronta para fazer isso. Eu não me sinto confortável.Mesmo não querendo que a primeira vez dela fosse com um estranho, e de uma forma precipitada, uma necessidade inexplicável, fez Ana arfar ao ser agarrada pela cintura, e ser puxada de encontro ao peitoral definido de Gabriel. Ela o tocou por cima da camisa social branca e franziu a testa negra.- Seu coração está disparado e você está gelado. Gabriel
De regata preta e shorts verde militar, o Policial Civil estava deitado na cama com um rasgo na coxa direita. Ele era maior e mais forte do que aparentava nas fotos. Com a prancheta em mãos, Gabriel olhou os dados da triagem.- Acidente de moto?Renan observou o médico jovem e de boa aparência. Ainda não havia nada que o ligasse ao comando do tráfico de drogas em Paraisópolis. Entretanto, Gabriel era filho de Pedro Paiva, um dos chefões do PCC que a Polícia Civil nunca conseguiu chegar perto. E com a morte do pai, ele começou a atender no posto de saúde de Paraisópolis. Coincidência ou não, Renan decidiu começar a investigação pelo herdeiro de Pedro. Ele teria trinta dias para achar indícios de que Gabriel estava ocupando o lugar do pai no comando de Paraisópolis. Se não conseguisse provas o suficiente para concluir a investigação e prende-lo, o inquérito policial seria encaminhado para o Ministério Público para ser arquivado.Mas isso não iria acontecer. Renan era um homem inteligen
Gabriel viu o medo estampado no rosto lindo da sua Bebezinha. Sua intenção desde que viu Ana pela primeira vez no restaurante, e ficou obcecado por ela, era tratá-la bem para que ela não tivesse medo dele quando começasse a descobrir os seus segredos. Ser pego em um momento humilhante de surto, o deixou sem ação. Ele saiu do elevador, mas não chegou perto de Ana. Ela mordia o lábio inferior sem saber o que fazer. Estava linda com uma camisola rosa bebê tipo camiseta, que ia até os seus joelhos. Os cabelos negros estavam úmidos e soltos, indicando que ela tinha tomado outro banho.Gabriel esperou Ana fazer ou dizer alguma coisa. Foi a espera mais longa da sua vida. Descalça, ela andou até ele com passos lentos e hesitantes. Ele engoliu em seco com a aproximação, e manteve os braços abaixados ao longo do corpo trêmulo e suado da academia.Ana fixou os olhos negros na altura do peito de Gabriel, e o tocou por cima da camiseta Slim fit preta. Ele prendeu a respiração e ela entreabriu os
Gabriel tinha o poder de decidir quem entrava e quem saia de Paraisópolis. Ele poderia ter dado a ordem para barrar a entrada de Renan, sem ter a sua identidade revelada. Entretanto, com um policial infiltrado, ele teria como saber em que pé estava a sua situação com a polícia. Foi um trabalho muito árduo hackear os dois celulares de Renan. Ele usava um celular para se comunicar com o Delegado da Polícia Civil, Caio Brandão, que comandava a investigação, e o outro para ligar para um asilo em Campinas, e perguntar pela mãe. Ele estava morando em uma casa alugada, e pedia comida japonesa todos os dias. Gabriel descobriu que não existiam provas contra ele, e sua liberdade ainda não estava ameaçada.O dono do morro seguiu a sua rotina diária de venda de drogas, cigarros e álcool. André, o Dezinho, entrou no lugar do Renato, e ficou responsável por fiscalizar os pontos de venda de drogas e recolher o dinheiro. Ele era experiente, frio e calculista. Renan era mantido sob vigilância 24hs,
Kelly não era do tipo que fugia de uma batalha ou que pensava antes de falar. Ela também não era o tipo de mulher que tomava a iniciativa, a menos que estivesse muito afim do boy. No caso do Renato, ele não era igual os caras que costumavam dar em cima dela com olhares lascivos, sorrisos safados e cantadas manjadas.Ele era diferente porque não olhava para ela com segundas intenções. Renato era do tipo calado, na dele, e sempre quando falava com ela, era de um jeito truculento e desinteressado. Aquilo excitava Kelly demais, o mistério.Entretanto, ela sentiu uma leve onda de medo quando ele se inclinou para ela, a pegou pela nuca e pela cintura e a beijou. Foi uma pegada forte.Kelly enlaçou Renato pelo pescoço e retribuiu o beijo, ciente do calor do corpo musculoso dele contra o dela. Ele tinha cheiro de Malbec e gosto de batata frita. Ela sentiu a mão enorme que deslizou para a sua coxa esquerda, e depois subiu até o seu seio, o agarrando com firmeza.Renato deslizou os lábios carn
A temperatura caiu enquanto a chuva continuava caindo, e não dava sinais de que iria parar tão cedo. Janeiro era um mês frio e chuvoso. Gabriel gostava daquele clima frio e cinzento, igual ao seu estado de espírito. Desde que se lembrava, ele sempre esteve em um mundo nublado e sem vida.Por volta dos seus cinco, seis anos de idade, ele percebeu que a mãe estava sempre ocupada, expandindo a sua rede de hotéis de luxo, e não ligava que ele ficasse mais tempo com o pai.Apesar de ter nascido em berço de ouro, Gabriel cresceu em Paraisópolis. Seu pai parecia muito orgulhoso de ter um herdeiro homem, e desde cedo o ensinou o beabá do crime organizado.Gabriel não sabia se era um dom ou uma maldição a facilidade que ele tinha para manusear armas, cometer pequenos e grandes delitos, e embalar drogas. Era algo muito natural para ele separar os bons dos maus, e decidir quem deveria viver, e quem deveria morrer pelo tribunal do tráfico.Ele tinha só treze anos quando matou pela primeira vez. U
Ana nunca soube como lidar com os seus sentimentos e emoções. Ela era gorda desde que se entendia por gente. Por causa de problemas respiratórios na infância, um médico receitou um xarope que a fez inchar antes dos cinco anos de idade. O bullying sofrido na escola era descontado na comida. Como aquilo a fazia se sentir menos pior, sua mãe deixava ela comer tudo o que queria. E desde então, Ana aprendeu a comer e chorar para tornar a vida um pouco mais suportável, mesmo sabendo que estava se maltratando por não ser uma pessoa forte e corajosa.Ela tinha vergonha do seu corpo e da cor da sua pele, já sabendo que muitas portas se fechariam na sua cara. Ana viu moças bonitas e sem experiência conseguirem vagas de emprego apenas pela aparência, sem ao menos saberem desempenhar a função para as quais foram contratadas. Aquilo era humilhante e degradante, uma pessoa ter mais importância do que outra apenas pela beleza. A vida a fodia na cara dura todos os dias. "Você nunca vai ser alguém
Ana foi arremessada no meio da cama sem nenhum cuidado. A porta fechou e Gabriel foi para cima dela com um sorriso diabólico.- Eu estava louco para chegar nessa parte.Ana o segurou pelos ombros com um olhar aflito.- Que parte?Ela ganhou um beijo nos lábios e um olhar penetrante.- Na parte que você vai entregar a sua alma para mim. - Minha alma?- Você é mulher de bandido, Bebezinha. Eu vou cuidar de você, mas eu não posso e nem vou ter uma mulher fraca ao meu lado.Ana começou a ficar preocupada com a forma agressiva de Gabriel.- Eu quero ser mulher de médico. Eles são amáveis. - Opção indisponível. Nós vai foder no modo hard. Você vai gostar e aprender a me satisfazer. Eu sou um homem de muita fome.Ana sentiu a adrenalina voltar a correr nas suas veias, e era exatamente aquilo que Gabriel queria. Ele estava fazendo dela uma mulher forte e ousada.- Você quer uma puta?- Eu quero tudo com você, meu amor.Ana foi despida, virada de costas e teve a boca tampada. Ela tentou mord