Gabriel parou a Hilux na entrada da favela e o Soldado Farias, vestido com o uniforme da PM, entrou no carro. O dono do morro pegou o envelope pardo, e abriu, tirando documentos e fotos. Ele franziu a testa com ceticismo.- Quem é esse tanque de guerra?- Renan Tavares. Ele é Policial Civil e lutador profissional de Muay Thai. Ele vai chegar em Paraisópolis como um ex-presidiário. Com a morte do seu pai, a missão dele será descobrir quem assumiu o comando do tráfico de drogas. O disfarce de médico é perfeito.- Eu acho que ele vai chegar fungando no meu cangote.- Se ele tentar uma aproximação, você já está na mira da Polícia Civil. Ele vai fazer uma varredura na favela para descobrir quais são os pontos fracos. Depois, se ele confirmar que você é o chefe do tráfico, ele vai montar uma operação de busca e apreensão, e na sequência, a sua prisão.Gabriel deu uma olhada no dossiê sobre Bruno Alcântara e nas fotos do Policial Federal. Farias coçou a nuca e disse com receio:- Se ele for
Ana ouviu a porta do quarto fechar atrás dela. O sol do meio-dia entrava pela porta corrediça de vidro que dava acesso para uma varanda com um jogo de sofá de couro branco. Na suíte havia banheiro com banheira de hidromassagem, e no quarto, apenas uma enorme cama de casal forrada com lençol branco e dois travesseiros com fronhas da mesma cor. Reflexos do sol iluminavam todo o ambiente. Ana olhou para trás. Com um sorriso safado, Gabriel levou as mãos no nó da gravata.- Não diga que tem vergonha do seu corpo porque está acima do peso. Eu não ligo pra isso.- Mas eu ligo e não estou pronta para fazer isso. Eu não me sinto confortável.Mesmo não querendo que a primeira vez dela fosse com um estranho, e de uma forma precipitada, uma necessidade inexplicável, fez Ana arfar ao ser agarrada pela cintura, e ser puxada de encontro ao peitoral definido de Gabriel. Ela o tocou por cima da camisa social branca e franziu a testa negra.- Seu coração está disparado e você está gelado. Gabriel
De regata preta e shorts verde militar, o Policial Civil estava deitado na cama com um rasgo na coxa direita. Ele era maior e mais forte do que aparentava nas fotos. Com a prancheta em mãos, Gabriel olhou os dados da triagem.- Acidente de moto?Renan observou o médico jovem e de boa aparência. Ainda não havia nada que o ligasse ao comando do tráfico de drogas em Paraisópolis. Entretanto, Gabriel era filho de Pedro Paiva, um dos chefões do PCC que a Polícia Civil nunca conseguiu chegar perto. E com a morte do pai, ele começou a atender no posto de saúde de Paraisópolis. Coincidência ou não, Renan decidiu começar a investigação pelo herdeiro de Pedro. Ele teria trinta dias para achar indícios de que Gabriel estava ocupando o lugar do pai no comando de Paraisópolis. Se não conseguisse provas o suficiente para concluir a investigação e prende-lo, o inquérito policial seria encaminhado para o Ministério Público para ser arquivado.Mas isso não iria acontecer. Renan era um homem inteligen
Gabriel viu o medo estampado no rosto lindo da sua Bebezinha. Sua intenção desde que viu Ana pela primeira vez no restaurante, e ficou obcecado por ela, era tratá-la bem para que ela não tivesse medo dele quando começasse a descobrir os seus segredos. Ser pego em um momento humilhante de surto, o deixou sem ação. Ele saiu do elevador, mas não chegou perto de Ana. Ela mordia o lábio inferior sem saber o que fazer. Estava linda com uma camisola rosa bebê tipo camiseta, que ia até os seus joelhos. Os cabelos negros estavam úmidos e soltos, indicando que ela tinha tomado outro banho.Gabriel esperou Ana fazer ou dizer alguma coisa. Foi a espera mais longa da sua vida. Descalça, ela andou até ele com passos lentos e hesitantes. Ele engoliu em seco com a aproximação, e manteve os braços abaixados ao longo do corpo trêmulo e suado da academia.Ana fixou os olhos negros na altura do peito de Gabriel, e o tocou por cima da camiseta Slim fit preta. Ele prendeu a respiração e ela entreabriu os
Gabriel tinha o poder de decidir quem entrava e quem saia de Paraisópolis. Ele poderia ter dado a ordem para barrar a entrada de Renan, sem ter a sua identidade revelada. Entretanto, com um policial infiltrado, ele teria como saber em que pé estava a sua situação com a polícia. Foi um trabalho muito árduo hackear os dois celulares de Renan. Ele usava um celular para se comunicar com o Delegado da Polícia Civil, Caio Brandão, que comandava a investigação, e o outro para ligar para um asilo em Campinas, e perguntar pela mãe. Ele estava morando em uma casa alugada, e pedia comida japonesa todos os dias. Gabriel descobriu que não existiam provas contra ele, e sua liberdade ainda não estava ameaçada.O dono do morro seguiu a sua rotina diária de venda de drogas, cigarros e álcool. André, o Dezinho, entrou no lugar do Renato, e ficou responsável por fiscalizar os pontos de venda de drogas e recolher o dinheiro. Ele era experiente, frio e calculista. Renan era mantido sob vigilância 24hs,
Kelly não era do tipo que fugia de uma batalha ou que pensava antes de falar. Ela também não era o tipo de mulher que tomava a iniciativa, a menos que estivesse muito afim do boy. No caso do Renato, ele não era igual os caras que costumavam dar em cima dela com olhares lascivos, sorrisos safados e cantadas manjadas.Ele era diferente porque não olhava para ela com segundas intenções. Renato era do tipo calado, na dele, e sempre quando falava com ela, era de um jeito truculento e desinteressado. Aquilo excitava Kelly demais, o mistério.Entretanto, ela sentiu uma leve onda de medo quando ele se inclinou para ela, a pegou pela nuca e pela cintura e a beijou. Foi uma pegada forte.Kelly enlaçou Renato pelo pescoço e retribuiu o beijo, ciente do calor do corpo musculoso dele contra o dela. Ele tinha cheiro de Malbec e gosto de batata frita. Ela sentiu a mão enorme que deslizou para a sua coxa esquerda, e depois subiu até o seu seio, o agarrando com firmeza.Renato deslizou os lábios carn
A temperatura caiu enquanto a chuva continuava caindo, e não dava sinais de que iria parar tão cedo. Janeiro era um mês frio e chuvoso. Gabriel gostava daquele clima frio e cinzento, igual ao seu estado de espírito. Desde que se lembrava, ele sempre esteve em um mundo nublado e sem vida.Por volta dos seus cinco, seis anos de idade, ele percebeu que a mãe estava sempre ocupada, expandindo a sua rede de hotéis de luxo, e não ligava que ele ficasse mais tempo com o pai.Apesar de ter nascido em berço de ouro, Gabriel cresceu em Paraisópolis. Seu pai parecia muito orgulhoso de ter um herdeiro homem, e desde cedo o ensinou o beabá do crime organizado.Gabriel não sabia se era um dom ou uma maldição a facilidade que ele tinha para manusear armas, cometer pequenos e grandes delitos, e embalar drogas. Era algo muito natural para ele separar os bons dos maus, e decidir quem deveria viver, e quem deveria morrer pelo tribunal do tráfico.Ele tinha só treze anos quando matou pela primeira vez. U
Ana nunca soube como lidar com os seus sentimentos e emoções. Ela era gorda desde que se entendia por gente. Por causa de problemas respiratórios na infância, um médico receitou um xarope que a fez inchar antes dos cinco anos de idade. O bullying sofrido na escola era descontado na comida. Como aquilo a fazia se sentir menos pior, sua mãe deixava ela comer tudo o que queria. E desde então, Ana aprendeu a comer e chorar para tornar a vida um pouco mais suportável, mesmo sabendo que estava se maltratando por não ser uma pessoa forte e corajosa.Ela tinha vergonha do seu corpo e da cor da sua pele, já sabendo que muitas portas se fechariam na sua cara. Ana viu moças bonitas e sem experiência conseguirem vagas de emprego apenas pela aparência, sem ao menos saberem desempenhar a função para as quais foram contratadas. Aquilo era humilhante e degradante, uma pessoa ter mais importância do que outra apenas pela beleza. A vida a fodia na cara dura todos os dias. "Você nunca vai ser alguém