Um casamento no Cartório de Registro Civil demora cerca de trinta dias para ser realizado. Os noivos entram com um pedido de habilitação, o cartório verifica se estão aptos para casarem e solta uma nota na imprensa. Contudo, Gabriel de Paiva só conhecia as suas próprias leis. Sendo assim, ele comprou o par de alianças BVLGARI a caminho do cartório que estava fechado por ser domingo, mas seus homens já estavam cuidando daquele pequeno detalhe.Ana teve a venda retirada dos olhos e na sua frente, na sala do Cartório do Morumbi; um Juiz, um Escrevente, um Padre, e cinco bandidos perfilados com fuzis AK-47. A Bebezinha arfou.- Meu Deus, Gabriel. Você foi longe demais.O traficante pegou a sua mulher pela cintura com firmeza para ela não fugir. Ele já tinha bebido para comemorar o grande dia da sua vida.- Bora dizer o sim antes que o seu leite fique pedrado. Ana ficou mortificada ao ver todos os presentes ficarem chocados. Vanessa estava só o ódio ao lado da geladeira duplex que se cham
Renato ouviu o barulho do tiro. Um ruído quase imperceptível atravessou o vidro que não era blindado. Depois, ele ouviu o grito animalesco de Gabriel.- NÃO!Renato usou o cartão para entrar no quarto. Uma das razões pelas quais ele decidiu ser o segurança de Ana, foi porque ele sabia que Gabriel tinha esquizofrenia. Renato descobriu por acaso quando ele ainda era o vapor de Pedro. Gabriel tinha o estranho hábito de entrar em uma espécie de transe. Ele se desligava de tudo ao seu redor, e fixava o olhar perdido em algum ponto específico como se estivesse vendo alguma coisa. Aquilo não durava mais do que alguns minutos, e Gabriel voltava para a realidade como se nada tivesse acontecido. Entretanto, em um dos surtos psicóticos, ele descarregou a arma atirando contra a parede.Renato gelou ao ver a quantidade de sangue sobre a cama. Gabriel vestiu uma cueca boxer preta e pegou uma mala com as mãos trêmulas. Lágrimas do mais absoluto pavor, nublavam os seus olhos escuros.- Tem um snipe
Ana tomou banho enquanto a roupa de cama era trocada pela camareira. Ela se vestiu com a ajuda de Kelly, e os seguranças permaneceram no quarto, deixando claro que não iriam sair até Gabriel voltar. Eles tinham respeito pelo comandante de Paraisópolis, e medo também, de forma que as suas ordens eram cegamente obedecidas.Vanessa entrou no quarto seguida por Daniel. Há mais de vinte e cinco anos no ramo de hotelaria, a empresária bem sucedida e milionária já tinha visto homens bonitos, elegantes e ricos. A maioria deles eram egocêntricos, e não tinham nada a oferecer para uma mulher que tinha tudo o que o dinheiro podia comprar. Vanessa era solitária e orgulhosa. Por isso, ela ficou emocionada quando a geladeira duplex a acordou com um beijo no rosto. Sua carência era foda demais, ao ponto de gostar do inimaginável.A empresária ignorou o olhar raivoso de Kelly e sentou na cama. Ela olhou para o curativo no ombro de Ana.- Ainda bem que você está viva. Caso contrário, Gabriel teria co
EPÍLOGOCinco anos depois...Belíssima, elegante, magra, saudável e toda trabalhada no pretinho básico, a Advogada Criminalista Ana Luísa de Paiva, chegou no Fórum Criminal da Barra Funda para uma Audiência de Custódia.Sua cliente, Isabela Magalhães, estava presa sob a acusação de ter matado o marido quarenta anos mais velho para ficar com a herança milionária. Ela foi forçada a se casar aos dezesseis anos e passou por vários abusos físicos, sexuais e psicológicos. Entretanto, isso não constava nos autos do inquérito policial. A justiça pendia para o lado de um empresário renomado que foi assassinado pela sua ninfetinha. Para o Ministério Público, Isabela era uma vadia interesseira. Para Ana, sua cliente de vinte e um anos, era uma sobrevivente.De forma fria e calculista, com o salto alto preto fazendo barulho no piso de madeira, Ana se aproximou do banco das testemunhas. O médico da família seria o próximo a depor, e ele estava do lado da acusação.Com sua feição controlada e post
São Paulo, ParaisópolisGabriel está cursando o último ano de medicina, mora com a mãe em uma mansão no Morumbi, e ajuda o pai no tráfico de drogas em Paraisópolis. Seus pais pertencem a mundos diferentes, eles tiveram um lance de uma noite, e ele nasceu. Sua mãe é uma renomada empresária, dona de uma grande rede de hotéis de luxo em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.Gabriel não tinha planos de ir para a faculdade depois de concluir o ensino médio, mas sua mãe o obrigou, dizendo que não teria filho vagabundo. Como se um diploma, fosse garantia de alguma coisa. Por orientação do seu pai, Gabriel optou por medicina e ele até gostava do curso. Ele decidiu por fazer residência após a graduação, para descobrir em qual área da medicina iria se especializar. Provavelmente, seria cardiologia, e com o final do ano chegando, assim como a formatura, Gabriel já tinha planos para fazer a residência no posto de saúde de Paraisópolis. Sua mãe iria ter um surto. Ela não sabia ainda que ele t
Há seis meses, Ana Luísa se mudou do interior de Minas Gerais para morar em São Paulo com a prima Kelly. Ela morava em uma casa alugada na favela de Paraisópolis, e as duas dividiam o aluguel de quinhentos reais.Do manequim 38, Ana passou para o 54 ainda na adolescência quando sua mãe era viva e fazia marmitex para vender. Fornadas de pães de queijo, roscas, bolos e pudim de leite condensado, não faltavam na sua casa. Ela estudava e ajudava a mãe com as marmitas, comendo em excesso e não se preocupando com a saúde. Ana nunca conheceu o pai, e quando a mãe morreu vítima de um AVC fulminante, ela descobriu que tinha hipertensão. Losartana e furosemida passaram a fazer parte da sua rotina diária.Mesmo com sobrepeso, perto de pesar cento e vinte quilos, Ana não mudou a alimentação. Ao se mudar para São Paulo, ela conseguiu emprego em um restaurante em Alphaville através da prima Kelly. A dona do local deixava os funcionários comerem e levarem as sobras para casa.Ana também conheceu o
Ana não conseguiu sair do lugar nem mesmo com toda confusão que tomou conta do restaurante. Helena e todos os funcionários entraram em pânico. Uma ambulância do SAMU foi chamada. O homem continuava no chão se contorcendo como se estivesse tendo uma convulsão, e o cara do lado dele, segurava sua cabeça raspada para evitar que ele se machucasse.Seus olhares se encontraram mais uma vez e um tremor percorreu o corpo de Ana. Ela ficou presa naqueles olhos escuros e sombrios. Suas pernas pareciam pesar mais de duzentos quilos cada uma, e ela ficou onde estava. A ambulância não demorou a chegar e o homem foi colocado na maca.Gabriel entregou a chave da Hilux SW4 preta cabine dupla para André, e foi na ambulância com o pai. No trajeto para o hospital, ele deixou o paramédico fazer a massagem cardíaca no pai, e mandou uma mensagem para um dos soldados.Ana aceitou o copo de água que Felipe deu para ela. Helena fechou as portas do restaurante e passou a mão trêmula na cabeça branca.- Parecia
Ana mordeu o lábio inferior para não gemer de dor à medida que o medidor de pressão apertava o seu braço gordo. Ela começou a sentir um alívio momentâneo quando o médico parou de apertar, porém, ele voltou a apertar, para em seguida, tirar o estetoscópio dos ouvidos e pendurar no pescoço.- Está sentindo alguma coisa?Ana massageou o braço dolorido.- Tontura. Está muito alta?- Está 16x10.- Nossa Deus!Gabriel voltou a sentar, pegou uma folha de sulfite e dobrou ao meio, no tamanho que cabia no envelope pardo de cada paciente. Ele estava usando o computador só para as receitas e pedidos de exames. No mais, preferia conversar com os pacientes e anotar tudo à mão.Por alguns segundos, ele se perdeu na beleza natural de Ana, e teve que fazer um esforço para se lembrar que ali, eram médico e paciente.- A sua ficha está em branco. É a sua primeira vez aqui?Ana assentiu, não deixando de notar que Gabriel era muito novo para ser médico. Provavelmente, ele era um residente. - Eu vim de M