Dandara encara Paco, demonstrando sua desconfiança pela revelação que acabara de sair dos seus lábios. Os dois seguem naquela pista de dança e enquanto Paco guia os passos da mulher de acordo com a melodia, ele a observa.
Paco a puxa para mais perto, o suficiente para sentir seu perfume inebriante.
— Não me segure assim. — murmurou ela, e Paco percebeu que a segurava com mais força do que o necessário, e então diminuiu o aperto em sua cintura e sorriu ao vê-la corar.
— Quem irá se casar? — questiona, mesmo que em seu íntimo, ela já saiba a resposta da sua indagação.
Paco ainda se sente instigado a observá-la, os seus lábios estavam pintados do tom mais escarlate de vermelho e estão entreabertos, os seus cabelos negros caem como ondas sobre os seus ombros, roçando na palma da mão do homem que a guia de acordo com a música.
Naquele instante, Paco a gira ao som dos violinos, e ver os seus cabelos negros voando ao seu redor, uma cortina negra que a cobria, deixando seu aroma hipnótico no ar.
Quando a música assume um tom mais suave, ela retorna para seus braços.
— Você sabe quem irá se casar. — Ele se sussurra em sua orelha, enquanto seus corpos seguem no ritmo da melodia — Mas você não consegue dizer as palavras em voz alta, não é? — Paco diz, sua voz grave e provocativa.
Dandara o encara imediatamente, e arqueia apenas uma sobrancelha, o seu modo clássico de desafiar alguém. Os seus olhos seguem firmes nos de Paco, o desafiando, mas o homem também não vacila, continua a provocando, enquanto um leve sorriso se pronuncia em seu rosto.
Nesse momento, Dandara vacilou e desviou o seu olhar, por fim.
— Sim, consigo – ela profere solenemente — E eu digo que não irei me casar com você.
No mesmo instante em que diz isso, ela fica pensativa, como se ponderasse aquela afirmação, do mesmo modo que Paco sabia que ela faria, porque ele sabia que os dois estavam na mesma posição: Ela também precisaria se casar tanto quanto ele.
— Por que não, Dandara? — pergunta Paco, por fim.
Ela o encara, piscando os seus olhos e se libertando do transe em que lista mentalmente todas as razões de casar-se ou não com aquele homem.
— Porque eu não gosto de você. — Ela diz simplesmente, o sorriso petulante nos lábios.
— Então temos algo em comum. — Paco sorri, e vira a cabeça para o lado, a encarando de maneira minuciosa, ele se inclina novamente e sussurra em seu ouvido — Porque eu também não gosto de você.
Quando diz isso, Paco a segura firme pela cintura quando o jazz clássico se inicia. Ela não parece notar que ele a arrasta para uma segunda dança.
Quando os dedos do homem apertam a sua pele, a respiração de Dandara se torna ofegante, no mesmo instante em que Paco desvia sutilmente o olhar para o decote chamativo do seu vestido.
— Seu olhar o trai. — Ela diz, e Paco sabe exatamente do que ela fala, pois não havia sido nada sutil.
— Posso dizer o mesmo do seu. — Paco sorri lentamente e ela semicerra os olhos. — O toque das minhas mãos a desperta.
Quando diz isso, ela o encara, os olhos flamejantes, enquanto em sua mente pondera como seria o assassinato perfeito para aquele homem. Mesmo que os seus olhos e a sua expressão demonstrassem o quão cálido ele poderia ser, Dandara não poderia deixar de pensar que o seu coração deveria ser frio como um iceberg.
Ignorando sua provocação, e mais uma vez arqueando sua sobrancelha, voltou a perguntar:
— Então você não gosta de mim e claramente, eu também não gosto de você — ela começa, um sorriso desafiador — Então por que você quer casar comigo? — pergunta a mulher.
Quando ela sorri daquele modo, Paco desce seu olhar para seus lábios e ele se dá conta que, mesmo aparentando-a ser uma mulher forte, sem receios e com uma expressão totalmente fria, o seu coração queimava como labaredas.
— Eu não quero me casar com você, Dandara. Eu apenas preciso. — Paco responde a sua pergunta honestamente. — E sei que você também precisa. É apenas um negócio.
No mesmo instante, a mulher respirou fundo, sua mente distante, em algum lugar muito mais além daquele jardim, e ela pondera todas as suas razões entre aceitar ou não aquilo. As palavras de Paco girando em sua cabeça, mas no final ela percebe que não tinha nenhuma opção melhor que ele, mas antes precisava entender suas motivações.
— Por que precisa se casar? — Dandara pergunta e ele a responde de imediato.
— Ordem de família – diz prontamente — Não me tornarei herdeiro desde que esteja casado.
— E como eu me tornei sua opção? — a mulher pergunta.
— Na lista de possíveis noivas havia muitas mulheres bonitas, contudo, eu não queria uma desconhecida. — Ele fala enquanto a faz girar novamente. — Pode presumir que eu queria um rosto conhecido, lembro-me de você na infância.
Dandara fica em silêncio, enquanto em sua mente pergunta-se se realmente poderia chamar aquele pequeno e distante contato de infância de ´´conhecer´´
Ela o conhecia? Não realmente.
— Tudo bem. — Ela cedeu de repente, mas havia um brilho de desafio em seus olhos. — Desde que se submeta a mim. — Acrescentou.
Paco deixou escapar um sorriso, porque aquela condição só era cômica demais. Qual a mínima possibilidade de deixar uma mulher o dominar dessa forma, pensou.
— Eu me submeter? Depende da situação. — Ele sorriu maliciosamente. — Não sabia que era tão dominadora.
No mesmo instante ela cora terrivelmente, e involuntariamente, entreabriu os lábios, a respiração se tornando ofegante. Paco mantem o olhar preso no dela, porque aquela imagem o atraia, ela parecia inocente, e ele sabia que ela não era.
— Não disse dessa forma! — Ela disse, de repente, irritada.
— Não deseja mais me dominar? — Paco dissimula e ignora como seu rosto corado é charmoso.
— Aceitarei me casar com você, desde que saiba que eu não seguirei você, você quem me seguirá. Eu tomarei as decisões. — Sua voz é imponente, e seu olhar indomável.
— Mas o que eu ganharia com isso? — Paco a provoca.
— Além de conseguir o que você quer ao se casar comigo? — indaga Dandara, coberta de ironia. — Você poderá continuar vivendo como um homem solteiro, desde que seja discreto.
Sua proposta realmente chama a atenção do homem, que fica surpreso por diversas razões. A primeira seria porque Dandara não parecia nem um pouco incomodada com a possibilidade de compartilhar seu futuro marido, e a segunda seria porque ele nunca havia pensado que a ideia de um casamento poderia o deixar tão feliz como aquela proposta o fez.
Talvez não tirasse a sua liberdade como imaginou.
— E então? Vai se submeter a mim?
Paco ainda ponderava a proposta de Dandara em sua mente. Estavam seguindo para uma terceira dança, quando foram interrompidos. O segurança que horas antes atendeu as ordens da mulher, estava em sua frente e de modo imediato, Dandara se afastou de Paco, atendendo ao homem que claramente gostaria de falar com ela. Dandara sempre fora muito atenciosa com seus ajudantes, não o viam como empregados, mas sim como pessoas que estavam ali apenas para a ajudar. A justiça e bondade sempre fizera parte de seus valores de vida. — Com licença, senhor Benrouissi – ela disse, antes de se afastar e não esperou a resposta da sua pergunta anterior. Quando se aproximou do segurança, a mulher perguntou: — Aconteceu algo? O homem atrás do paletó negro e bem engomado apenas negou, antes de informar: — Fiz o que pediu, senhorita LeBlanc. Aquela mulher já está fora da festa, no entanto, ainda segue ao redor da mansão. Aquela notícia fez Dandara franzir o cenho, se perguntando por que e como a
No mesmo instante, Dandara sente mãos sobre sua boca, abafando o grito de susto que provavelmente sairia dos seus lábios. Braços fortes a seguram com firmeza, e a puxa para longe dos olhares. Quando Michaela e Curtis se viram, se dão conta de que já não existia mais ninguém ali. Dandara, no entanto, não se sente aliviada enquanto é arrastada daquele modo, e ela só consegue finalmente respirar quando ver quem está a frente e que a segurava tão firme agora. Com a respiração ofegante, ela encara Paco, que mantem os seus olhos presos nela, tentando desvendar tantas perguntas que giravam em sua mente ao olhá-la. — O que você fez? — Dandara perguntou, sentindo-se grata pela intervenção do Paco. — Você precisava de mim. — é tudo que ele diz, e não entra em mais nenhum detalhe. Quando Dandara volta a observá-lo percebe que ele a encara fixamente, e o olha desconfiado porque ele indica um caminho para Dandara seguir em frente. Dandara quase o entrega uma resposta petulante, no entant
Assim que aquele toldo caiu no chão, o barulho ensurdecedor que o causou, chamou atenção de todos a volta. Em questões de segundo, um grupo de curiosos se espreitaram até naquela cena, buscando descobrir o que aconteceu. — Oi – uma mulher parou bem na frente de Dandara e Paco, com a respiração ofegante. — Vocês estão bem? Alguém que estava por perto se machucou? Dandara olhou ao seu redor, buscando alguém que talvez pudesse estar por perto no momento em que aquilo caiu, segundos antes dela salvar Paco de alguma tragédia, mas não havia ninguém ali que pudesse ter presenciado aquela cena, e ela quase respira fundo de alívio. — Estamos bem. — Ela responde, por fim. — Ninguém se machucou. Em seguida, aquela mulher se afastou de Paco e de Dandara e se juntou ao grupo que se amontoava. No mesmo instante, os dois começaram a seguir em frente, indo em direção oposta àquela confusão. Enquanto andavam, Dandara não poderia evitar se sentir inquieta ao perceber o silêncio inquietante q
Assim que aquela pergunta sai dos lábios de Dandara, mesmo tentando não admitir, Paco não tem opção além de olhar em seus olhos e ser honesto. Se perguntou o porquê hesitou, e sobretudo porque cedeu. Ele era um homem afinal, mentir estava em seu DNA. Mesmo assim, quando ele abriu a boca, tudo que Dandara pode ouvir foram verdades. — Não tenho direito a herança. Quando diz isso, Dandara o encara fixamente, porque as peças em sua cabeça começam a fazer sentido, por fim. Porque Dandara já era escolhida como herdeira da família, e naquele instante, ela percebe que o padrão de toda a história de sua família estava se repetindo, e dessa vez, ela era a principal responsável para fazer tudo aquilo durar. Mesmo tendo sobre os seus ombros dezenas de responsabilidades desde que reviveu, ela ainda se sentia grata. — A Michaela não sabia disso. — Paco diz de repente, roubando a atenção de Michaela. — Ela acreditava que eu era herdeiro, e se casando comigo, ela iria substituir o seu lugar e
Quando a respiração de Dandara finalmente se estabilizou, ela levantou o queixo, estufou o peito com confiança e seguiu até o escritório do seu pai. Assim que entrou no cômodo, avistou seu pai já sentado por trás da ampla mesa, coberta de documentos e com o conjunto de suas canetas de ouro, como um bom colecionador que era. — Pai. — ela fala, por fim, chamando sua atenção. — Estou aqui. Do que precisa? O homem assentiu freneticamente, mas levantou as mãos, pedindo que ela esperasse enquanto buscava algo no meio da confusão em sua mesa. Dandara o observa, desconfiada, enquanto se aproxima até sentar-se nas altas cadeiras de couro frente ao seu pai. Dandara respira aliviada, entretanto, porque percebe que pela tranquilidade no rosto do seu pai, que o seu segredo ainda estava a salvo. A pressão que sentia em seu peito ao guardar tudo aquilo, misturado com a confusão de ainda não compreender tudo que aconteceu com ela até aquele momento, deixava os seus nervos à flor da pele. — En
Dandara está paralisada, enquanto sua única reação é analisar o documento que agora parecia imóvel em suas mãos, pelo modo como elas tremiam. Quando os olhos de Dandara param naquele documento de licitação de modo minucioso, novamente aquela sensação a toma. Dandara sente aquela pontada em sua memória outra vez, seguindo direto ao seu coração. Aquela sensação familiar a atinge fortemente, a fazendo desequilibrar ao ponto em que ela precisa se apoiar na mesa, seu coração se comprime no peito, anunciando um presságio gélido que corre em suas veias. Dandara sabe o que irá acontecer no instante seguinte, porque bem naquele momento, ela volta no tempo, em sua vida antiga e mesmo que agora tudo fosse diferente, as lembranças a engolem viva. A mulher então, assiste a memória de sua vida, como se fosse apenas uma espectadora, que sentia profundamente cada detalhe. Ela estava deitada nos braços de Curtis, e bem ali, sente-se segura e sabe que não existia perigo porque ela estava junto ao
Dandara ainda tentava disseminar as palavras cobertas de ego que saíram dos lábios de Paco. Ela se sentia desafiada pelo seu jogo narcisista ao pensar que ele teria algum poder para afeta-la daquele modo. Era óbvio que o seu coração batia acelerado, que a sua respiração estava ofegante, e o seu corpo está tão colado ao dela, ao ponto em que podia sentir as formas dos seus músculos sob a camisa, o seu hálito quente queimando em sua pele, mas nada disso fazia o seu coração bater fortemente, mas sim, a raiva que sentia. Dandara se sentia bêbada em sua própria dor, ainda cega pela raiva que parecia pinicar em toda sua pele. Principalmente, onde as mãos de Paco a tocavam. E por isso, Dandara se liberta dos seus braços, e o afasta, abruptamente. — Caso você não entenda de biologia básica, o meu coração está batendo pelo simples fato de eu estar viva. — Ela diz, com a voz extremamente fria e séria. O tom baixo, quase um sussurro aveludado sobre o ouvido de Paco. — Em nada tem a ver pela f
Dandara ainda sente o seu sangue fervilhar ao ver aquele homem parado no meio do seu quarto. A mulher realmente pensa em chamar os seguranças e relatar aquele invasor, no entanto, ela sente que se agisse daquele modo poderia demonstrar a Paco que ele a afetava, de algum modo. Mesmo que aquilo fosse uma absoluta mentira, porque ele não tinha nenhum poder sobre ela, Dandara pensou consigo mesma. Antes que Dandara possa responder aquele homem, ela encontra Paco sorrindo para ela, dentro de uma piada interna e sem graça. Ela continua mantendo contato visual, mas a sua expressão não era nem um pouco amigável, totalmente alheia aquele homem. Mas pouco a pouco, ela podia sentir os seus batimentos se regulando e a calmaria a libertando da tortura daquele pesadelo. — Você quer sair daqui? — Paco pergunta de repente. Dandara o encara, confusa, e mesmo não querendo nenhuma proximidade com aquele homem, ela não consegue recusar a ideia de sair daquela casa, porque aquele lugar e suas lemb