Volto até onde minha mãe permanecia em pé, me avaliando dos pés à cabeça até o momento que parei em seu lado.
— Quem era aquela mulher? — é a primeira coisa que me pergunta.
Respiro fundo, liberando o meu corpo de qualquer tensão e pego uma taça de champanhe que o garçom equilibra em uma bandeja ao passar por mim. Apenas olho para minha mãe e sorrio.
— Não era ninguém.
Minha mãe não parece convencida e me observa, desconfiada. Eu sabia que deveria ser mais paciente e provavelmente mais expressiva porque ela não conhecia a nova Dandara que estava em sua frente, na verdade, eu ainda estava me descobrindo também.
— E ele? — ela resmunga baixinho e sei que se refere a Curtis.
— Tão irrelevante quanto. — disse simplesmente. — Não há razão para se preocupar, mãe. Os nossos seguranças já receberam minhas ordens.
Ela assente lentamente, e acaba cedendo de sua insistência.
— Você está realmente diferente, Dandara. — Ela murmura.
Sorrio de volta e levo minha taça aos lábios. Gostaria de dizer que eu me tornei quem eu sempre deveria ser, que estava exatamente no lugar que era reservado para mim. Eu me sentia em paz, a calmaria e segurança que há muito não sentia.
— Acho que a cerimônia está para começar... — minha mãe deu um risinho e se afastou.
Suspiro e vejo todas as pessoas ao meu redor bebendo e se divertindo. Uma onda de melancolia ameaça se apoderar de mim, e sem perceber, caminho para fora do salão, em direção a área da piscina.
Observei a água cristalina em minha frente, enquanto me sentia sozinha. Percebo que me isolar ali não ajudaria. Curtis merecia a minha vingança, e não o meu sentimentalismo.
Quando me viro para retornar, o meu olhar se encontra com o de um homem na penumbra. O observo e nesse mesmo instante piso no meu próprio vestido e começo a deslizar, caindo para trás. Mas antes que eu caísse na piscina, fui segurada e puxada de volta. O meu corpo batendo de encontro a uma parede de músculos. Braços sólidos se estreitam ao meu redor enquanto meu corpo todo estremece nos braços daquele desconhecido.
Arfei, e vejo que se tratava de um homem rigorosamente alto, e preciso levantar os meus olhos para conseguir averiguar de quem se tratava ser o dono dos largos ombros, dos braços fortes que mesmo abaixo do terno negro eram visíveis em sua vastidão.
— Dandara LeBlanc – ele murmura o meu nome e toma toda minha atenção, o tom da sua voz me conduz até olhar em seu rosto. — Que ironia a reencontrar assim.
Os espessos cabelos castanhos claro caem em frente a sua face, os lábios são fartos e rosados e lentamente se esticam para mim em um sorriso, provavelmente rindo da minha expressão ao encará-lo do modo que eu fazia e de ainda estar presa ao redor dos seus braços.
Me recuperei no mesmo instante, e me afastei.
— E você? Quem é? — me recuperei do transe e pergunto, ignorando a maneira que o meu coração b**e freneticamente.
Aquele homem lentamente semicerrou os olhos para mim, parecendo me desafiar. Seus olhos são do mais intenso âmbar, a mesma cor do céu de um fim de tarde de outono, e me eram familiares, mas no momento, eu não conseguia me recordar de onde já o tinha visto. Eu só sabia que existia uma magnitude que me prendiam em seus olhos que não consigo desviar os meus e ele também me fita diretamente.
— Não sabe quem sou eu, senhora LeBlanc? — sua voz é firme quando pergunta, mesmo que um humor velado esteja escondido em seu tom.
— É senhorita. — O corrijo. — E eu deveria saber quem você é?
Eu olho para ele, e vejo um meio sorriso em seu rosto, um sorriso cínico. E de alguma maneira isso me incomoda, porque me faz sentir algo. Algo que não sei descrever porque nunca senti antes, mas eu tinha uma leve impressão do que poderia ser. Hostilidade, porque a maneira que ele me encarava e sorria me fez perceber que o homem em minha frente era a personificação de tudo que eu abominava. Naquela ou em qualquer vida.
— Então você não lembra de mim . – ele afirmou e sorriu, os dentes alinhados encobrindo a sua presunção.
Seu olhar era inebriante, e não havia dúvidas de que era um homem que conseguia tudo que desejasse. E estava bem ali: a arrogância. O humor ácido e sórdido.
— Certamente não. – é a minha vez sorrir.
Mas sua afirmação me deixa pensativa porque os seus olhos... Eu tinha a impressão de que já havia visto antes. Não era o tipo de olhar fácil de se esquecer.
Seu sorriso desaparece, os olhos escurecem à medida que me analisa, de cima abaixo, e sinto como se ele estivesse me bebendo com seus olhos, a atmosfera ficando mais cálida e baixa. Apenas arqueio a sobrancelha, o desafiando
— Paco. — Ele diz de repente, a voz rouca. — Sou Paco Benrouissi.
Sou pega de surpresa. Eu conhecia as Empresas Benrouissi, eram um conjunto de indústrias multibilionárias controladas pela família Benrouissi.
O seu sobrenome me faz recordar de imediato de onde o conhecia, mas não demonstro.
— Acho que já ouvi falar. — Dei de ombros, dissimulando um falso desinteresse.
Os olhos de Paco ainda estavam presos nos meus, como se tentassem desvendar quem eu era agora.
No mesmo instante uma orquestra começa a tocar pelo quarteto de jazz no palco em nossa frente, a música preenche o lugar e alguns casais se dirigem até a pista de dança. No mesmo instante vejo a mão esticada de Paco em minha direção, seus dedos são longos e faço tudo que está ao meu alcance para desviar os meus olhos.
— Aceita uma dança, senhorita LeBlanc? — ele pergunta, e vejo a insolência em seus olhos.
O homem em minha frente parece me desafiar, como se pressentisse a repulsa que eu sentia e tentasse me provocar. Bom, eu era uma mulher viciada em estímulos e nada me movia mais que uma boa provocação.
— Sim. — Respondi, aceitando seu atrevimento.
Ele pareceu ser pego de surpresa, mas em instantes se recuperou e com a minha mão sobre a sua me guiou até a pista de dança. Suas mãos se prendem na parte desnuda de minhas costas e aquele toque envia arrepios por todo o meu corpo e um leve sobressalto. Acho que ele percebe porque sorri sobre a pele do meu pescoço e o seu hálito me queima bem ali.
Sua proximidade me entrega com exatidão o seu perfume, o aroma amadeirado e de sândalo. E eu fechei os olhos, enquanto a música entoa ao nosso redor. O jazz me fez relaxar e esquecer que estava nos braços de um desconhecido.
— Eu a vi mandando-o embora, por que fez isso? — ele pergunta de repente enquanto me puxava para mais perto e me encaixo em seu corpo.
Estremeço ao ouvir aquilo e sinto a tensão me percorrer porque eu não tenho certeza se ele estava realmente se referindo ao Curtis. Se fosse essa a questão, significava que ele esteve me observando durante toda a festa.
— Não sei do que está falando. – dissimulo, não cedendo a sua pergunta.
Ele dá um sorriso curto e suas mãos descem até a minha cintura, seu toque se torna mais forte ali, enviando intensas ondas sobre o meu corpo. Naquele instante não existia mais nenhum espaço entre nós e minha respiração ofegante me trai. Umedeci os lábios no mesmo instante que ele faz o mesmo.
— Diga-me, Dandara – ele sussurrou de repente, se aproximando do meu ouvido, sua voz rouca faz todo o meu corpo vibrar. — Por que não fugiu com aquele homem?
Sua pergunta me pega de surpresa e por um instante, eu hesitei. Dúvidas encheram a minha cabeça e me perguntei como ele sabia daquela informação, de um plano de fuga frustrado. E principalmente, me perguntei em que aquilo o importava.
— Diga-me, Paco – retomei o controle – Por que deveria falar da minha vida com um desconhecido?
Ele ficou em silêncio, mesmo que os seus olhos demonstrassem diversão.
— Acho que já terminamos aqui. — Eu disse, por fim, me afastando do seu toque. — Em breve a noiva chegará.
Ele me olhou confuso.
— Você não sabe? — pergunta – Essa não é uma cerimônia de casamento. Apenas uma festa para pronunciar esta notícia.
O encarei, um tanto desnorteada porque não havia sentido no que ele falara.
— E quem irá se casar? — indaguei.
E naquele mesmo instante, Paco me encarou, um sorriso enigmático no rosto.
E então percebo que a noiva já está ali, porque sou eu. Uma noiva que não fazia ideia com quem iria se casar.
Dandara encara Paco, demonstrando sua desconfiança pela revelação que acabara de sair dos seus lábios. Os dois seguem naquela pista de dança e enquanto Paco guia os passos da mulher de acordo com a melodia, ele a observa. Paco a puxa para mais perto, o suficiente para sentir seu perfume inebriante. — Não me segure assim. — murmurou ela, e Paco percebeu que a segurava com mais força do que o necessário, e então diminuiu o aperto em sua cintura e sorriu ao vê-la corar. — Quem irá se casar? — questiona, mesmo que em seu íntimo, ela já saiba a resposta da sua indagação. Paco ainda se sente instigado a observá-la, os seus lábios estavam pintados do tom mais escarlate de vermelho e estão entreabertos, os seus cabelos negros caem como ondas sobre os seus ombros, roçando na palma da mão do homem que a guia de acordo com a música. Naquele instante, Paco a gira ao som dos violinos, e ver os seus cabelos negros voando ao seu redor, uma cortina negra que a cobria, deixando seu aroma
Paco ainda ponderava a proposta de Dandara em sua mente. Estavam seguindo para uma terceira dança, quando foram interrompidos. O segurança que horas antes atendeu as ordens da mulher, estava em sua frente e de modo imediato, Dandara se afastou de Paco, atendendo ao homem que claramente gostaria de falar com ela. Dandara sempre fora muito atenciosa com seus ajudantes, não o viam como empregados, mas sim como pessoas que estavam ali apenas para a ajudar. A justiça e bondade sempre fizera parte de seus valores de vida. — Com licença, senhor Benrouissi – ela disse, antes de se afastar e não esperou a resposta da sua pergunta anterior. Quando se aproximou do segurança, a mulher perguntou: — Aconteceu algo? O homem atrás do paletó negro e bem engomado apenas negou, antes de informar: — Fiz o que pediu, senhorita LeBlanc. Aquela mulher já está fora da festa, no entanto, ainda segue ao redor da mansão. Aquela notícia fez Dandara franzir o cenho, se perguntando por que e como a
No mesmo instante, Dandara sente mãos sobre sua boca, abafando o grito de susto que provavelmente sairia dos seus lábios. Braços fortes a seguram com firmeza, e a puxa para longe dos olhares. Quando Michaela e Curtis se viram, se dão conta de que já não existia mais ninguém ali. Dandara, no entanto, não se sente aliviada enquanto é arrastada daquele modo, e ela só consegue finalmente respirar quando ver quem está a frente e que a segurava tão firme agora. Com a respiração ofegante, ela encara Paco, que mantem os seus olhos presos nela, tentando desvendar tantas perguntas que giravam em sua mente ao olhá-la. — O que você fez? — Dandara perguntou, sentindo-se grata pela intervenção do Paco. — Você precisava de mim. — é tudo que ele diz, e não entra em mais nenhum detalhe. Quando Dandara volta a observá-lo percebe que ele a encara fixamente, e o olha desconfiado porque ele indica um caminho para Dandara seguir em frente. Dandara quase o entrega uma resposta petulante, no entant
Assim que aquele toldo caiu no chão, o barulho ensurdecedor que o causou, chamou atenção de todos a volta. Em questões de segundo, um grupo de curiosos se espreitaram até naquela cena, buscando descobrir o que aconteceu. — Oi – uma mulher parou bem na frente de Dandara e Paco, com a respiração ofegante. — Vocês estão bem? Alguém que estava por perto se machucou? Dandara olhou ao seu redor, buscando alguém que talvez pudesse estar por perto no momento em que aquilo caiu, segundos antes dela salvar Paco de alguma tragédia, mas não havia ninguém ali que pudesse ter presenciado aquela cena, e ela quase respira fundo de alívio. — Estamos bem. — Ela responde, por fim. — Ninguém se machucou. Em seguida, aquela mulher se afastou de Paco e de Dandara e se juntou ao grupo que se amontoava. No mesmo instante, os dois começaram a seguir em frente, indo em direção oposta àquela confusão. Enquanto andavam, Dandara não poderia evitar se sentir inquieta ao perceber o silêncio inquietante q
Assim que aquela pergunta sai dos lábios de Dandara, mesmo tentando não admitir, Paco não tem opção além de olhar em seus olhos e ser honesto. Se perguntou o porquê hesitou, e sobretudo porque cedeu. Ele era um homem afinal, mentir estava em seu DNA. Mesmo assim, quando ele abriu a boca, tudo que Dandara pode ouvir foram verdades. — Não tenho direito a herança. Quando diz isso, Dandara o encara fixamente, porque as peças em sua cabeça começam a fazer sentido, por fim. Porque Dandara já era escolhida como herdeira da família, e naquele instante, ela percebe que o padrão de toda a história de sua família estava se repetindo, e dessa vez, ela era a principal responsável para fazer tudo aquilo durar. Mesmo tendo sobre os seus ombros dezenas de responsabilidades desde que reviveu, ela ainda se sentia grata. — A Michaela não sabia disso. — Paco diz de repente, roubando a atenção de Michaela. — Ela acreditava que eu era herdeiro, e se casando comigo, ela iria substituir o seu lugar e
Quando a respiração de Dandara finalmente se estabilizou, ela levantou o queixo, estufou o peito com confiança e seguiu até o escritório do seu pai. Assim que entrou no cômodo, avistou seu pai já sentado por trás da ampla mesa, coberta de documentos e com o conjunto de suas canetas de ouro, como um bom colecionador que era. — Pai. — ela fala, por fim, chamando sua atenção. — Estou aqui. Do que precisa? O homem assentiu freneticamente, mas levantou as mãos, pedindo que ela esperasse enquanto buscava algo no meio da confusão em sua mesa. Dandara o observa, desconfiada, enquanto se aproxima até sentar-se nas altas cadeiras de couro frente ao seu pai. Dandara respira aliviada, entretanto, porque percebe que pela tranquilidade no rosto do seu pai, que o seu segredo ainda estava a salvo. A pressão que sentia em seu peito ao guardar tudo aquilo, misturado com a confusão de ainda não compreender tudo que aconteceu com ela até aquele momento, deixava os seus nervos à flor da pele. — En
Dandara está paralisada, enquanto sua única reação é analisar o documento que agora parecia imóvel em suas mãos, pelo modo como elas tremiam. Quando os olhos de Dandara param naquele documento de licitação de modo minucioso, novamente aquela sensação a toma. Dandara sente aquela pontada em sua memória outra vez, seguindo direto ao seu coração. Aquela sensação familiar a atinge fortemente, a fazendo desequilibrar ao ponto em que ela precisa se apoiar na mesa, seu coração se comprime no peito, anunciando um presságio gélido que corre em suas veias. Dandara sabe o que irá acontecer no instante seguinte, porque bem naquele momento, ela volta no tempo, em sua vida antiga e mesmo que agora tudo fosse diferente, as lembranças a engolem viva. A mulher então, assiste a memória de sua vida, como se fosse apenas uma espectadora, que sentia profundamente cada detalhe. Ela estava deitada nos braços de Curtis, e bem ali, sente-se segura e sabe que não existia perigo porque ela estava junto ao
Dandara ainda tentava disseminar as palavras cobertas de ego que saíram dos lábios de Paco. Ela se sentia desafiada pelo seu jogo narcisista ao pensar que ele teria algum poder para afeta-la daquele modo. Era óbvio que o seu coração batia acelerado, que a sua respiração estava ofegante, e o seu corpo está tão colado ao dela, ao ponto em que podia sentir as formas dos seus músculos sob a camisa, o seu hálito quente queimando em sua pele, mas nada disso fazia o seu coração bater fortemente, mas sim, a raiva que sentia. Dandara se sentia bêbada em sua própria dor, ainda cega pela raiva que parecia pinicar em toda sua pele. Principalmente, onde as mãos de Paco a tocavam. E por isso, Dandara se liberta dos seus braços, e o afasta, abruptamente. — Caso você não entenda de biologia básica, o meu coração está batendo pelo simples fato de eu estar viva. — Ela diz, com a voz extremamente fria e séria. O tom baixo, quase um sussurro aveludado sobre o ouvido de Paco. — Em nada tem a ver pela f