Paco ainda ponderava a proposta de Dandara em sua mente. Estavam seguindo para uma terceira dança, quando foram interrompidos.
O segurança que horas antes atendeu as ordens da mulher, estava em sua frente e de modo imediato, Dandara se afastou de Paco, atendendo ao homem que claramente gostaria de falar com ela. Dandara sempre fora muito atenciosa com seus ajudantes, não o viam como empregados, mas sim como pessoas que estavam ali apenas para a ajudar. A justiça e bondade sempre fizera parte de seus valores de vida.
— Com licença, senhor Benrouissi – ela disse, antes de se afastar e não esperou a resposta da sua pergunta anterior.
Quando se aproximou do segurança, a mulher perguntou:
— Aconteceu algo?
O homem atrás do paletó negro e bem engomado apenas negou, antes de informar:
— Fiz o que pediu, senhorita LeBlanc. Aquela mulher já está fora da festa, no entanto, ainda segue ao redor da mansão.
Aquela notícia fez Dandara franzir o cenho, se perguntando por que e como aquela mulher ainda poderia ter a coragem de estar tão próxima dela. Isso rapidamente fez acender o senso de desconfiança em sua mente, e Dandara sentia em seu peito que estava para enfrentar um tipo de batalha que ela só entraria para ganhar.
— Obrigada, Cooper – ela disse ao seu ajudante, antes de se afastar e atravessar aquele jardim.
Dandara só estava decidida a lutar e arruinar qualquer plano que aquela mulher ainda pudesse ter, e em seu íntimo, ela sabia que todos os seus inimigos iriam se derrotar sozinhos, antes mesmo que ela pudesse ter uma chance de se preparar.
Quando Dandara deu o primeiro passo para fora do jardim da mansão, a avistou. A mulher estava de costas, o cabelo negro, liso e longo cobrindo o vestido da mesma cor, e ela falava em alto e bom som e foi quando Dandara se deu conta de que ela não estava sozinha. Decidiu se esgueirar, e por trás de um arbusto intensamente verde, se posicionou sorrateiramente, numa posição que a desse total acessibilidade para ouvir aquela discussão.
Assim que se aproximou, Dandara respirou fundo, porque no mesmo instante, um aroma de um perfume que ela conhecia muito bem invadiu todo o seu espaço. Mesmo em outra vida, se sentindo enganada e até mesmo uma tola, ela reconheceria aquele cheiro em todo lugar. Pertencia a Curtis, ao único homem que ela gostou o suficiente para quebrar o seu coração. E que agora, planejava a sua destruição.
— O que você pensou que estava fazendo? — Curtis esbravejou e rosnou ao mesmo tempo. — Michaela, você só tinha um trabalho e arruinou tudo.
A mulher em sua frente apenas deu uma risada, mesmo que em seu tom e expressão não existisse humor algum.
— Você tem certeza de que estava tudo sobre controle, Curtis? — ela grunhe, irritada pela maneira que aquele homem jogava toda a culpa sobre ela. — Ela havia renegado você antes mesmo que eu chegasse.
Curtis a olhou, os olhos cobertos de um ódio velado, ao se dá conta de que talvez tudo o que esteve planejando nos últimos meses, simplesmente se dissipasse. Tudo por confiar em uma mulher, mesmo ele sempre dizendo que tudo o que uma mulher toca sempre é arruinado, e agora ele se sentia culpado e estúpido por ter aceitado ser misturar a Michaela desse modo.
— Que maravilha você ter tocado nesse assunto. — Curtis murmura, antes de a segurar pelo braço. — O que você fez? A Dandara jamais me trataria desse modo, ao menos que descobrisse a verdade. A verdade que só você conhece.
Michaela engoliu em seco, irritada pelo modo rude que as palavras saiam da boca de Curtis. Ao passo em que Dandara, atrás daqueles arbustos, ainda sentindo a mágoa e o rancor a corroendo, estava desejando profundamente descobrir a verdade sobre aquele homem.
— Não sei do que está falando, Curtis – Michaela dissimulou, ainda que sua mente gritasse que ela sabia muito bem o que fez na noite passada. — Talvez ela só esteja suspeitando de algo.
Curtis sorriu, sem humor algum, e levando as mãos aos cabelos, olhou friamente para Michaela.
— A Dandara me ama. Jamais a dei razão para desconfiar de mim.
Essa foi a voz de Michaela sorrir, porque era cômico ouvir da boca do homem que se espreitava em sua cama de modo rotineiro, agir como se fosse o mais leal dos homens, quando só a razão de estarem ali, no meio daquela discussão, só comprovava o quão perverso e hipócrita aquele homem poderia ser.
— Exceto pela maneira que você me possui toda a noite. — Profere Michaela, se rendendo a ironia.
Por outro lado, quando aquelas palavras saem da boca daquela mulher, Dandara sente o seu mundo se desfazendo, as palavras cruéis a fere tão profundamente que ela sente em seus ossos. Não era como se ainda se surpreendesse com a capacidade ou falta de caráter do homem que ela julgava conhecer por completo, mas existia algo que era agonizante demais ao descobrir que você jamais foi suficiente para um homem a quem se entregou de corpo, alma e coração.
Dandara deixou sua respiração se esvair lentamente dos seus lábios, a lembrando outra vez que deveria respirar, dizendo a si mesma que aquele homem, que aquela história jamais a poderia tocá-la ou machucá-la outra vez, porque agora que renasceu, jamais permitiria que um homem voltasse a matá-la, diariamente.
O amor é um perigo letal, Dandara pensou, porque toda vez que deixava alguém entrar, ela sabia que era questão de tempo até vê-los ir embora de novo e arrancar tudo que ela tinha.
— Não fale isso em voz alta. Não aqui. – Curtis sussurrou, de repente. — Irei reaver essa situação e buscarei ter o controle mais uma vez. Mas se você fizer mais alguma besteira...
— Não farei. — Michaela o interrompeu, antes de ouvir sua possível ameaça. — Agora, diga—me, qual é o novo plano?
Ao ouvir aquela sentença, Dandara sentiu que a vida outra vez estava lhe presenteando com outra chance e sabia que, ao descobrir qual poderia ser o perverso e jogo sujo de Curtis e sua amante, ela saberia perfeitamente qual deveria ser o seu ponto de partida no seu plano de vingança e na destruição dos seus nêmesis.
Se esgueirando, enquanto buscava ter acesso aquela informação, Dandara deu um passo em frente, e se esquecendo momentaneamente de onde estava e do trabalho de vigilante que estava praticando, o seu salto atingiu as folhas secas nos seus pés, causando mais barulho do que ela poderia prever.
O ruído se tornou mais alto do que deveria, e foi exatamente nesse instante que aquelas duas cabeças viraram em sua direção.
No mesmo instante, Dandara sente mãos sobre sua boca, abafando o grito de susto que provavelmente sairia dos seus lábios. Braços fortes a seguram com firmeza, e a puxa para longe dos olhares. Quando Michaela e Curtis se viram, se dão conta de que já não existia mais ninguém ali. Dandara, no entanto, não se sente aliviada enquanto é arrastada daquele modo, e ela só consegue finalmente respirar quando ver quem está a frente e que a segurava tão firme agora. Com a respiração ofegante, ela encara Paco, que mantem os seus olhos presos nela, tentando desvendar tantas perguntas que giravam em sua mente ao olhá-la. — O que você fez? — Dandara perguntou, sentindo-se grata pela intervenção do Paco. — Você precisava de mim. — é tudo que ele diz, e não entra em mais nenhum detalhe. Quando Dandara volta a observá-lo percebe que ele a encara fixamente, e o olha desconfiado porque ele indica um caminho para Dandara seguir em frente. Dandara quase o entrega uma resposta petulante, no entant
Assim que aquele toldo caiu no chão, o barulho ensurdecedor que o causou, chamou atenção de todos a volta. Em questões de segundo, um grupo de curiosos se espreitaram até naquela cena, buscando descobrir o que aconteceu. — Oi – uma mulher parou bem na frente de Dandara e Paco, com a respiração ofegante. — Vocês estão bem? Alguém que estava por perto se machucou? Dandara olhou ao seu redor, buscando alguém que talvez pudesse estar por perto no momento em que aquilo caiu, segundos antes dela salvar Paco de alguma tragédia, mas não havia ninguém ali que pudesse ter presenciado aquela cena, e ela quase respira fundo de alívio. — Estamos bem. — Ela responde, por fim. — Ninguém se machucou. Em seguida, aquela mulher se afastou de Paco e de Dandara e se juntou ao grupo que se amontoava. No mesmo instante, os dois começaram a seguir em frente, indo em direção oposta àquela confusão. Enquanto andavam, Dandara não poderia evitar se sentir inquieta ao perceber o silêncio inquietante q
Assim que aquela pergunta sai dos lábios de Dandara, mesmo tentando não admitir, Paco não tem opção além de olhar em seus olhos e ser honesto. Se perguntou o porquê hesitou, e sobretudo porque cedeu. Ele era um homem afinal, mentir estava em seu DNA. Mesmo assim, quando ele abriu a boca, tudo que Dandara pode ouvir foram verdades. — Não tenho direito a herança. Quando diz isso, Dandara o encara fixamente, porque as peças em sua cabeça começam a fazer sentido, por fim. Porque Dandara já era escolhida como herdeira da família, e naquele instante, ela percebe que o padrão de toda a história de sua família estava se repetindo, e dessa vez, ela era a principal responsável para fazer tudo aquilo durar. Mesmo tendo sobre os seus ombros dezenas de responsabilidades desde que reviveu, ela ainda se sentia grata. — A Michaela não sabia disso. — Paco diz de repente, roubando a atenção de Michaela. — Ela acreditava que eu era herdeiro, e se casando comigo, ela iria substituir o seu lugar e
Quando a respiração de Dandara finalmente se estabilizou, ela levantou o queixo, estufou o peito com confiança e seguiu até o escritório do seu pai. Assim que entrou no cômodo, avistou seu pai já sentado por trás da ampla mesa, coberta de documentos e com o conjunto de suas canetas de ouro, como um bom colecionador que era. — Pai. — ela fala, por fim, chamando sua atenção. — Estou aqui. Do que precisa? O homem assentiu freneticamente, mas levantou as mãos, pedindo que ela esperasse enquanto buscava algo no meio da confusão em sua mesa. Dandara o observa, desconfiada, enquanto se aproxima até sentar-se nas altas cadeiras de couro frente ao seu pai. Dandara respira aliviada, entretanto, porque percebe que pela tranquilidade no rosto do seu pai, que o seu segredo ainda estava a salvo. A pressão que sentia em seu peito ao guardar tudo aquilo, misturado com a confusão de ainda não compreender tudo que aconteceu com ela até aquele momento, deixava os seus nervos à flor da pele. — En
Dandara está paralisada, enquanto sua única reação é analisar o documento que agora parecia imóvel em suas mãos, pelo modo como elas tremiam. Quando os olhos de Dandara param naquele documento de licitação de modo minucioso, novamente aquela sensação a toma. Dandara sente aquela pontada em sua memória outra vez, seguindo direto ao seu coração. Aquela sensação familiar a atinge fortemente, a fazendo desequilibrar ao ponto em que ela precisa se apoiar na mesa, seu coração se comprime no peito, anunciando um presságio gélido que corre em suas veias. Dandara sabe o que irá acontecer no instante seguinte, porque bem naquele momento, ela volta no tempo, em sua vida antiga e mesmo que agora tudo fosse diferente, as lembranças a engolem viva. A mulher então, assiste a memória de sua vida, como se fosse apenas uma espectadora, que sentia profundamente cada detalhe. Ela estava deitada nos braços de Curtis, e bem ali, sente-se segura e sabe que não existia perigo porque ela estava junto ao
Dandara ainda tentava disseminar as palavras cobertas de ego que saíram dos lábios de Paco. Ela se sentia desafiada pelo seu jogo narcisista ao pensar que ele teria algum poder para afeta-la daquele modo. Era óbvio que o seu coração batia acelerado, que a sua respiração estava ofegante, e o seu corpo está tão colado ao dela, ao ponto em que podia sentir as formas dos seus músculos sob a camisa, o seu hálito quente queimando em sua pele, mas nada disso fazia o seu coração bater fortemente, mas sim, a raiva que sentia. Dandara se sentia bêbada em sua própria dor, ainda cega pela raiva que parecia pinicar em toda sua pele. Principalmente, onde as mãos de Paco a tocavam. E por isso, Dandara se liberta dos seus braços, e o afasta, abruptamente. — Caso você não entenda de biologia básica, o meu coração está batendo pelo simples fato de eu estar viva. — Ela diz, com a voz extremamente fria e séria. O tom baixo, quase um sussurro aveludado sobre o ouvido de Paco. — Em nada tem a ver pela f
Dandara ainda sente o seu sangue fervilhar ao ver aquele homem parado no meio do seu quarto. A mulher realmente pensa em chamar os seguranças e relatar aquele invasor, no entanto, ela sente que se agisse daquele modo poderia demonstrar a Paco que ele a afetava, de algum modo. Mesmo que aquilo fosse uma absoluta mentira, porque ele não tinha nenhum poder sobre ela, Dandara pensou consigo mesma. Antes que Dandara possa responder aquele homem, ela encontra Paco sorrindo para ela, dentro de uma piada interna e sem graça. Ela continua mantendo contato visual, mas a sua expressão não era nem um pouco amigável, totalmente alheia aquele homem. Mas pouco a pouco, ela podia sentir os seus batimentos se regulando e a calmaria a libertando da tortura daquele pesadelo. — Você quer sair daqui? — Paco pergunta de repente. Dandara o encara, confusa, e mesmo não querendo nenhuma proximidade com aquele homem, ela não consegue recusar a ideia de sair daquela casa, porque aquele lugar e suas lemb
Dandara não teve tempo de responder o comentário ambíguo de Paco, mesmo que ela já soubesse a resposta. Paco jamais teria vindo de um lugar como aquele, pois o conhecia desde a infância, assim como sabia que o nome da sua família valia ouro, mesmo de gerações atrás. Paco havia acabado de relatar todos os privilégios que Dandara carregava ao ter nascido em uma família rica, esquecendo-se de citar de suas próprias regalias ao nascer em um berço de ouro. — Ambos sabemos que... — Dandara tentou falar, no entanto foi interrompida. Um barulho alto surgiu na janela do carro, um estrondo que a fez pular no assento, assustada e nervosa sobre o que aquilo poderia ser, principalmente em um local como aquele no meio da noite. Paco estava alheio aquela reação, porque ele sorria. — O que está fazendo? — Dandara arfou quando o viu descer o vidro da janela e começou a abrir a porta do carro. Naquele momento, Dandara pensou que iria morrer pela segunda vez, no entanto, todo o seu receio foi