No mesmo instante, Dandara sente mãos sobre sua boca, abafando o grito de susto que provavelmente sairia dos seus lábios. Braços fortes a seguram com firmeza, e a puxa para longe dos olhares. Quando Michaela e Curtis se viram, se dão conta de que já não existia mais ninguém ali.
Dandara, no entanto, não se sente aliviada enquanto é arrastada daquele modo, e ela só consegue finalmente respirar quando ver quem está a frente e que a segurava tão firme agora. Com a respiração ofegante, ela encara Paco, que mantem os seus olhos presos nela, tentando desvendar tantas perguntas que giravam em sua mente ao olhá-la.
— O que você fez? — Dandara perguntou, sentindo-se grata pela intervenção do Paco.
— Você precisava de mim. — é tudo que ele diz, e não entra em mais nenhum detalhe.
Quando Dandara volta a observá-lo percebe que ele a encara fixamente, e o olha desconfiado porque ele indica um caminho para Dandara seguir em frente.
Dandara quase o entrega uma resposta petulante, no entanto, ela consegue ouvir passos se aproximando e momentaneamente, aceita o caminho que ele indica em sua direção. Era uma rua estreita e deserta, e enquanto anda em passos rápidos, Dandara ouve Paco segui-la.
— Como soube onde eu estava? — Dandara perguntou quando Paco parou ao seu lado.
— Você não deveria se arriscar tanto. — Paco grunhiu.
Dandara percebe de imediato que ele não responde a sua pergunta, e o clima pesava porque se deu conta que estava sendo acompanhada por um homem de quem ela não sabia nada, contudo, toda vez que ele abria a boca ela percebia que ele sabia muito dela.
— Como sabia que eu estava me arriscando? — pergunta completamente curiosa.
Paco apenas a encara, pelo canto de olho. O seu olhar não a entrega nada além de uma frieza apática. Mas mesmo assim, ele responde:
— Ninguém se esconde do jeito que você estava fazendo, se não estiver se atrevendo em espaços que não deveria.
No entanto, Paco não foi completamente honesto em sua resposta. Ele sabia que Dandara corria mais perigos do que apenas se espreitar daquele modo.
— De todo modo, não pedi e nem precisava que você me salvasse.
Seu atrevimento ao responder, faz Paco sorrir, e mesmo dentro de um sorriso tímido, ele tira os olhos da calçada em frente apenas por um minuto e a encara fixamente. Dandara sente o seu sorriso se impregnando em sua memória, mas ela se mantém firma ao olhá-lo, o desafiando e ignorando o modo como seu coração dançava em seu peito.
— Não me lembro de tê-la forçado a seguir o caminho que eu indicava. — Ele respondeu orgulhoso, porque mesmo não assumindo, Dandara sabia que precisava dele, no momento em que ele apareceu.
— Mas é você quem está me seguindo. – Ela retrucou, mesmo sem saber para qual local exato seguia. — Então, pergunto-me, para onde você está indo, Paco?
— Você não sabe? — Paco a olhou, um sorriso feroz no rosto. — Estou salvando você.
E dizendo isso, ele parou de andar abruptamente no meio daquela rua, bem em frente a uma cafeteria cujo aroma de café, poderia sentir-se mesmo estando do lado de fora.
— Não preciso da sua salvação, e honestamente, não acredito que estaria salva em suas mãos.
— Tem razão, Dandara. — Paco se aproxima lentamente, ao ponto de alcançar a sua orelha e sussurrar de maneira instigante – Minhas mãos fariam coisas que te deixaria arruinada.
No exato momento em que diz aquelas palavras, ele se afasta, deixando a cabeça de Dandara girando, buscando interpretações pertinentes para sua provocação, enquanto todos os pelos do seu corpo se arrepiam.
A mulher não teve tempo de responder, porque Paco começou a andar em frente, em direção aquela cafeteria. Convencida de que não o deixaria a provocar, ela seguiu em frente, o seguindo.
Quando atravessou as portas de metais da cafeteira e com uma resposta digna para entregar aquele homem na ponta da língua, ela o viu na fila de espera daquele café, e ele olhava para porta em que ela atravessou, como se a estivesse esperando.
Precisando guardar a ira que entregaria a Paco em questões de segundos, ela seguiu em frente e sentou-se no fundo da cafeteira, nos estofados vermelhos e confortáveis daquele estabelecimento.
— Posso saber para onde você me trouxe? — Dandara pergunta quando Paco senta-se em sua frente.
Paco a olhou, enquanto entregava um café em sua direção e ela assentiu, em agradecimento.
— Dessa vez, você quem me seguiu, Dandara. Por vontade própria. — E dizendo isso, desceu o seu próprio café sob os lábios.
Dandara bufou de frustração, porque daquela vez ele tinha razão. Ela estava ali, sentada naquela cafeteira com ele, porque ela queria, ninguém a forçou, mesmo que sentisse uma força maior a atraindo.
— Só estou aqui para recordá-lo que, se realmente nos casarmos, você não terá permissão para se aproximar de mim como o fez. Não existe necessidade alguma de entregar sussurros em meu ouvido. — Dandara diz, enquanto o encara fixamente, o incitando.
Aquilo não causa o efeito esperado em Paco, ao contrário, ele se sente estimulado ao perceber que a sua aproximação a afetava daquele modo.
— Deveria tomar cuidado com a Michaela – Paco diz de repente, bebericando seu café.
— Do que está falando? — Dandara pergunta. — Como sabe o nome dela?
Quando ela faz aquela pergunta, Paco sabe que precisa pensar rápido, não poderia entregar que sabia tanto da vida dela assim, portanto, ele prefere dissimular.
— Também os ouvi conversando, ouvi quando ele chamou a chamou por esse nome. — Responde. — E claramente, conheço o seu namorado. Ou ex namorado? Não sei o que aconteceu ao certo.
Dandara o olhou, ainda se sentindo desconfiada pela sua afirmação anterior seguida daquela pergunta, mas mesmo assim ela resolveu falar. Precisava compartir todo o caos em que sofreu nas últimas horas.
— Ex namorado. — Ela fala. — Descobri que estava sendo traída, e não existe nada no mundo que eu odeie mais do que mentiras. — Ela o mira fixamente, levando o seu café aos lábios. — Além disso, ele só estava comigo por causa do meu dinheiro.
— E você não sabia disso antes? — Paco indaga, porque aquilo era óbvio para ele. — Ninguém se aproxima de pessoas como nós por amor, Dandara. Nossa conta bancária é o que importa.
As suas palavras deixam Dandara melancólica, questionando a sua própria sorte. Aquilo a toca profundamente, e por isso, ela apenas levanta-se e sai daquela cafeteira, na esperança que aquelas palavras deixem de doer.
— Dandara, espere. — A mulher ouve a voz de Paco a chamando.
Ela se vira e o encontra parado no meio daquela rua, e ela a fita intensamente.
— Eu posso ajudá-la. — Ele diz de repente, e Dandara sente-se intrigada. — Eu tenho algumas informações sobre Curtis e Michaela. E se você quiser saber, precisará me ajudar com algumas coisas.
— O quê? — Dandara esbraveja. — Do que...
No entanto, as palavras de Dandara ficam interrompidas, porque os seus olhos seguem em direção ao alto, e nesse mesmo momento, ela sente uma pontada em sua memória, que segue direto ao seu coração. Um presságio corre em suas veias e ela fita Paco com os olhos arregalados, porque ela pressente e sabe exatamente o que irá acontecer em segundos.
— Saia daí! — sua voz alta em advertência.
— O quê? — Paco pergunta, alheio a urgência da voz de Dandara.
— Agora! — Dandara esbravejou, impulsionando sua mão a dele e puxando com toda a força para distante do local em que Paco estava embaixo.
O corpo de Paco esbarra no seu quando ela o puxa daquele modo. No mesmo momento, eles escutam o som ensurdecedor de um toldo da loja ao lado se espatifando no chão, o barulho do ferro tintilando junto a lona. E por pouco, aquilo não caiu sobre aquele homem.
Paco encara Dandara no mesmo instante, desnorteado, a respiração ofegante.
— Como você soube que isso iria acontecer? — ele pergunta, a encarando do modo que ela mais temia.
Dandara engoliu em seco, temendo o que tudo aquilo poderia significar. Por isso, ela dissimula sua resposta, do melhor jeito que podia:
— Eu tenho bom reflexo. Vi quando o toldo começou a se soltar. — Diz e reza para que Paco acredite em suas palavras fingidas.
A verdade era que Dandara pressentiu o que iria acontecer, quase como se... Previsse o futuro.
E assim, Dandara descobre que com seu renascimento, ela foi agraciada com mais uma questão: Ela soube que tudo que já aconteceu em sua antiga vida, iria se repetir. E agora, ela precisaria aprender a lidar com as consequências de viver pela segunda vez.
Com essa revelação, Dandara tem a consciência que se um dia alguém descobrisse aquela verdade, a sua verdade, ela estaria arruinada. Seria acusada de insanidade, e até mesmo, de feitiçaria.
Assim que aquele toldo caiu no chão, o barulho ensurdecedor que o causou, chamou atenção de todos a volta. Em questões de segundo, um grupo de curiosos se espreitaram até naquela cena, buscando descobrir o que aconteceu. — Oi – uma mulher parou bem na frente de Dandara e Paco, com a respiração ofegante. — Vocês estão bem? Alguém que estava por perto se machucou? Dandara olhou ao seu redor, buscando alguém que talvez pudesse estar por perto no momento em que aquilo caiu, segundos antes dela salvar Paco de alguma tragédia, mas não havia ninguém ali que pudesse ter presenciado aquela cena, e ela quase respira fundo de alívio. — Estamos bem. — Ela responde, por fim. — Ninguém se machucou. Em seguida, aquela mulher se afastou de Paco e de Dandara e se juntou ao grupo que se amontoava. No mesmo instante, os dois começaram a seguir em frente, indo em direção oposta àquela confusão. Enquanto andavam, Dandara não poderia evitar se sentir inquieta ao perceber o silêncio inquietante q
Assim que aquela pergunta sai dos lábios de Dandara, mesmo tentando não admitir, Paco não tem opção além de olhar em seus olhos e ser honesto. Se perguntou o porquê hesitou, e sobretudo porque cedeu. Ele era um homem afinal, mentir estava em seu DNA. Mesmo assim, quando ele abriu a boca, tudo que Dandara pode ouvir foram verdades. — Não tenho direito a herança. Quando diz isso, Dandara o encara fixamente, porque as peças em sua cabeça começam a fazer sentido, por fim. Porque Dandara já era escolhida como herdeira da família, e naquele instante, ela percebe que o padrão de toda a história de sua família estava se repetindo, e dessa vez, ela era a principal responsável para fazer tudo aquilo durar. Mesmo tendo sobre os seus ombros dezenas de responsabilidades desde que reviveu, ela ainda se sentia grata. — A Michaela não sabia disso. — Paco diz de repente, roubando a atenção de Michaela. — Ela acreditava que eu era herdeiro, e se casando comigo, ela iria substituir o seu lugar e
Quando a respiração de Dandara finalmente se estabilizou, ela levantou o queixo, estufou o peito com confiança e seguiu até o escritório do seu pai. Assim que entrou no cômodo, avistou seu pai já sentado por trás da ampla mesa, coberta de documentos e com o conjunto de suas canetas de ouro, como um bom colecionador que era. — Pai. — ela fala, por fim, chamando sua atenção. — Estou aqui. Do que precisa? O homem assentiu freneticamente, mas levantou as mãos, pedindo que ela esperasse enquanto buscava algo no meio da confusão em sua mesa. Dandara o observa, desconfiada, enquanto se aproxima até sentar-se nas altas cadeiras de couro frente ao seu pai. Dandara respira aliviada, entretanto, porque percebe que pela tranquilidade no rosto do seu pai, que o seu segredo ainda estava a salvo. A pressão que sentia em seu peito ao guardar tudo aquilo, misturado com a confusão de ainda não compreender tudo que aconteceu com ela até aquele momento, deixava os seus nervos à flor da pele. — En
Dandara está paralisada, enquanto sua única reação é analisar o documento que agora parecia imóvel em suas mãos, pelo modo como elas tremiam. Quando os olhos de Dandara param naquele documento de licitação de modo minucioso, novamente aquela sensação a toma. Dandara sente aquela pontada em sua memória outra vez, seguindo direto ao seu coração. Aquela sensação familiar a atinge fortemente, a fazendo desequilibrar ao ponto em que ela precisa se apoiar na mesa, seu coração se comprime no peito, anunciando um presságio gélido que corre em suas veias. Dandara sabe o que irá acontecer no instante seguinte, porque bem naquele momento, ela volta no tempo, em sua vida antiga e mesmo que agora tudo fosse diferente, as lembranças a engolem viva. A mulher então, assiste a memória de sua vida, como se fosse apenas uma espectadora, que sentia profundamente cada detalhe. Ela estava deitada nos braços de Curtis, e bem ali, sente-se segura e sabe que não existia perigo porque ela estava junto ao
Dandara ainda tentava disseminar as palavras cobertas de ego que saíram dos lábios de Paco. Ela se sentia desafiada pelo seu jogo narcisista ao pensar que ele teria algum poder para afeta-la daquele modo. Era óbvio que o seu coração batia acelerado, que a sua respiração estava ofegante, e o seu corpo está tão colado ao dela, ao ponto em que podia sentir as formas dos seus músculos sob a camisa, o seu hálito quente queimando em sua pele, mas nada disso fazia o seu coração bater fortemente, mas sim, a raiva que sentia. Dandara se sentia bêbada em sua própria dor, ainda cega pela raiva que parecia pinicar em toda sua pele. Principalmente, onde as mãos de Paco a tocavam. E por isso, Dandara se liberta dos seus braços, e o afasta, abruptamente. — Caso você não entenda de biologia básica, o meu coração está batendo pelo simples fato de eu estar viva. — Ela diz, com a voz extremamente fria e séria. O tom baixo, quase um sussurro aveludado sobre o ouvido de Paco. — Em nada tem a ver pela f
Dandara ainda sente o seu sangue fervilhar ao ver aquele homem parado no meio do seu quarto. A mulher realmente pensa em chamar os seguranças e relatar aquele invasor, no entanto, ela sente que se agisse daquele modo poderia demonstrar a Paco que ele a afetava, de algum modo. Mesmo que aquilo fosse uma absoluta mentira, porque ele não tinha nenhum poder sobre ela, Dandara pensou consigo mesma. Antes que Dandara possa responder aquele homem, ela encontra Paco sorrindo para ela, dentro de uma piada interna e sem graça. Ela continua mantendo contato visual, mas a sua expressão não era nem um pouco amigável, totalmente alheia aquele homem. Mas pouco a pouco, ela podia sentir os seus batimentos se regulando e a calmaria a libertando da tortura daquele pesadelo. — Você quer sair daqui? — Paco pergunta de repente. Dandara o encara, confusa, e mesmo não querendo nenhuma proximidade com aquele homem, ela não consegue recusar a ideia de sair daquela casa, porque aquele lugar e suas lemb
Dandara não teve tempo de responder o comentário ambíguo de Paco, mesmo que ela já soubesse a resposta. Paco jamais teria vindo de um lugar como aquele, pois o conhecia desde a infância, assim como sabia que o nome da sua família valia ouro, mesmo de gerações atrás. Paco havia acabado de relatar todos os privilégios que Dandara carregava ao ter nascido em uma família rica, esquecendo-se de citar de suas próprias regalias ao nascer em um berço de ouro. — Ambos sabemos que... — Dandara tentou falar, no entanto foi interrompida. Um barulho alto surgiu na janela do carro, um estrondo que a fez pular no assento, assustada e nervosa sobre o que aquilo poderia ser, principalmente em um local como aquele no meio da noite. Paco estava alheio aquela reação, porque ele sorria. — O que está fazendo? — Dandara arfou quando o viu descer o vidro da janela e começou a abrir a porta do carro. Naquele momento, Dandara pensou que iria morrer pela segunda vez, no entanto, todo o seu receio foi
— Do que está falando? – Dandara arfou no exato momento que aquelas palavras cruéis saíram dos lábios de Paco. Ela estava confusa e indignada com aquela insinuação. Paco apenas respirou fundo e levou os olhos para o alto, parecendo exasperado. — Eles estão em uma favela, Dandara, e se alguém souber que eles contam com muito dinheiro, isso atrairá pessoas perigosas. – Ele responde, por fim. Ao ouvir aquelas palavras, Dandara assentiu lentamente, sabendo que aquilo fazia sentido. Porque mesmo que Dandara não vivesse em uma favela, o fato dela ter muito dinheiro também atraiu pessoas perigosas até ela. E naquele instante, ela percebe o que estava na sua frente o tempo todo. Quanto mais riqueza acumulasse, mais gente perigosa iria atrair. Mais pessoas gananciosas iriam rondar ao seu redor, até chegar ao ponto de matá-la, assim como aconteceu em sua primeira vida. Essa revelação a faz cambalear um pouco, extremamente apavorada. — Você está bem? — Paco perguntou em seguida, pr