Assim que aquele toldo caiu no chão, o barulho ensurdecedor que o causou, chamou atenção de todos a volta. Em questões de segundo, um grupo de curiosos se espreitaram até naquela cena, buscando descobrir o que aconteceu.
— Oi – uma mulher parou bem na frente de Dandara e Paco, com a respiração ofegante. — Vocês estão bem? Alguém que estava por perto se machucou?
Dandara olhou ao seu redor, buscando alguém que talvez pudesse estar por perto no momento em que aquilo caiu, segundos antes dela salvar Paco de alguma tragédia, mas não havia ninguém ali que pudesse ter presenciado aquela cena, e ela quase respira fundo de alívio.
— Estamos bem. — Ela responde, por fim. — Ninguém se machucou.
Em seguida, aquela mulher se afastou de Paco e de Dandara e se juntou ao grupo que se amontoava. No mesmo instante, os dois começaram a seguir em frente, indo em direção oposta àquela confusão.
Enquanto andavam, Dandara não poderia evitar se sentir inquieta ao perceber o silêncio inquietante que havia se instalado entre os dois. Ela temia que se por um acaso falasse qualquer palavra, Paco poderia descobrir que ela mentia e escondia algo. Mesmo sendo uma mulher extremamente forte, e até mesmo cruel quando precisava ser, Dandara era transparente o suficiente e apesar de possuir centenas de qualidades, mentir não era uma delas.
Enquanto a mulher morde o próprio lábio com força, ao ponto de quase sentir o gosto do seu próprio sangue, Paco ao seu lado repassa em sua mente os últimos minutos. Tenta se agarrar a alguma explicação coerente para o modo ágil e certeiro como o qual Dandara agiu, e ele não evita pensar que, se Dandara tivesse hesitado em sua intervenção só por um único segundo, ele talvez não tivesse se salvado.
Mesmo se sentindo grato pelo modo que ela agiu, a sua curiosidade e desconfiança fala mais alto, e por Fim, Paco a indaga:
— Como soube que aquilo iria acontecer? — Quando ele diz essas palavras, Dandara engole em seco, mas o encara. — E não me diga que foi coincidência.
Dandara mordeu a língua, porque ela estava prestes a dizer aquilo, que só foi uma coincidência, um golpe de sorte. Mesmo odiando mentir, ela sabia que aquilo era necessário, não poderia se arriscar. Sobretudo, porque nem ela mesmo sabia ou era capaz de nomear tudo que estava se passando em sua nova vida.
— Eu já falei, Paco. — Ela se prende em sua afirmação anterior. — Eu tenho um bom reflexo e percebi quando começou a se soltar, você não ouviu? Eu estava de frente para você, tive uma visão mais ampla.
Quando termina de dissimular, Dandara olha em frente porque teme que Paco possa ser capaz de ler ``Culpada´´ em suas irises verdes. Mesmo não estando 100% confiante em suas palavras, Paco apenas assente de volta, porque ele sabe que mais cedo ou mais tarde, se Dandara estivesse escondendo qualquer coisa dele, ele saberia.
A mulher se sente aliviada quando ele não pergunta mais nada. O vento frio de um fim de tarde b**e em seu rosto, balançando seus cabelos enquanto eles atravessam a rua, refazendo o caminho de volta até a mansão.
Naquele instante, Dandara recorda das últimas palavras de Paco, minutos antes daquele conflito surgir. E por isso, indaga:
— Você disse que poderia me ajudar. — Profere e Paco a fita no mesmo instante. — Falou que tinha informações sobre Curtis e Michaela.
— Assim como disse que só daria essas informações a você, se fizesse algo por mim. — Ele diz, enquanto um sorriso astuto brilha em seu rosto.
Dandara ignora como aquela imagem a afeta e como os olhos cor de âmbar do homem desafiador a sua frente, a incita. Também não deixando se afetar pela provocação de suas palavras anteriores, e sendo incapaz de ceder o menor favor a ele naquele dia outra vez, ela retoma outra pergunta:
— Como você sabia da relação entre Curtis e Michaela?
Aquela pergunta realmente incomodava Dandara, porque ela não conseguia se conformar que havia sido realmente a última a perceber como estava sendo enganada, como havia errado tanto em se apaixonar pela pessoa errada. Naquele instante ela percebe que era verdade o que diziam, o amor é capaz de te deixar cega, porque enxergar a realidade era cruel demais, e ela sentia isso cada vez que respirava, porque de algum modo, a dor da decepção continuava ali.
— A Michaela também me procurou. — Paco declara, de repente.
Aquela informação faz Dandara parar de andar no mesmo instante. E ali, parada na calçada, encara Paco, completamente surpresa. Porque percebe que, mesmo tendo renascido, e se sentindo uma nova mulher, Dandara desconhecia muitas questões de sua vida anterior. E mesmo agora, com uma segunda chance, ela ainda não poderia saber de tudo, e então se perguntou qual seria a razão de toda essa história?
— Do que você está falando, Paco? — Dandara questiona, e Paco também parou para encará-la.
Quando Paco a olha daquela maneira, por um instante, ela se esquece de todo o motivo real do seu alvoroço e foca no modo em que seu coração a traiu no peito, acelerando e desacelerando, repetidas vezes. Seus lábios se entreabrem, porque existe algo oculto e profundo demais nos olhos dourados de Paco enquanto o pôr do sol reflete em suas írises. Seu cabelo castanho cai em frente ao seu rosto, os lábios rosados pressionados, e enquanto a fita daquele jeito, Dandara se auto repreende por admirá-lo daquele modo, e mesmo por um instante, o achar atraente. Irritante, ela repete mentalmente, é tudo que ele é.
Ela acorda do seu próprio devaneio quando vê os lábios de Paco se movendo, e ela percebe que ele voltou a falar, por fim:
— A Michaela se aproximou de mim, há cerca de alguns meses. — Ele explica. — Ela acreditava realmente que poderia ser capaz de me conquistar, e assim eu a tornaria minha esposa.
Paco diz aquilo com um sorriso de lado enquanto revira os olhos, mas Dandara não encontra humor algum, e o encara, completamente séria.
— E o que você disse? — ela questiona, genuinamente curiosa com as ramificações daquela história.
Paco franze a testa com a sua pergunta, porque para ele a resposta era muito óbvia.
— Claro que recusei. — Ele faz uma careta, porque aquela pergunta era estúpida o suficiente.
Após isso, Dandara continuou a andar em frente, não o respondeu outra vez. Sua cabeça estava em um lugar muito mais distante, não conseguia descobrir o propósito de Michaela em toda aquela história, era incapaz de compreender a razão daquela mulher ter aparecido em sua vida, e agora demonstrava estar na espreita de tudo. Mas ela sentia no seu íntimo, que a sua intenção era a mais tirana de todas.
Ainda com a cabeça girando rapidamente, e assim que chega em frente à mansão, Dandara para de andar bruscamente. Paco a encara, confuso pela maneira que ela paralisou em sua frente, depois de passar os últimos minutos sem falar nada.
Paco a observa de volta, com a sobrancelha arqueada e os seus olhos param involuntariamente nos lábios da mulher, outra vez sentindo-se a magnitude que segue dele até Dandara. E é quando ela o surpreende, perguntando:
— Você tem o direito da herança da família?
Aquela indagação faz Paco hesitar e ele se questiona sobre o que aquela pergunta significava, e sobretudo, pondera se revela a verdade ou não.
Assim que aquela pergunta sai dos lábios de Dandara, mesmo tentando não admitir, Paco não tem opção além de olhar em seus olhos e ser honesto. Se perguntou o porquê hesitou, e sobretudo porque cedeu. Ele era um homem afinal, mentir estava em seu DNA. Mesmo assim, quando ele abriu a boca, tudo que Dandara pode ouvir foram verdades. — Não tenho direito a herança. Quando diz isso, Dandara o encara fixamente, porque as peças em sua cabeça começam a fazer sentido, por fim. Porque Dandara já era escolhida como herdeira da família, e naquele instante, ela percebe que o padrão de toda a história de sua família estava se repetindo, e dessa vez, ela era a principal responsável para fazer tudo aquilo durar. Mesmo tendo sobre os seus ombros dezenas de responsabilidades desde que reviveu, ela ainda se sentia grata. — A Michaela não sabia disso. — Paco diz de repente, roubando a atenção de Michaela. — Ela acreditava que eu era herdeiro, e se casando comigo, ela iria substituir o seu lugar e
Quando a respiração de Dandara finalmente se estabilizou, ela levantou o queixo, estufou o peito com confiança e seguiu até o escritório do seu pai. Assim que entrou no cômodo, avistou seu pai já sentado por trás da ampla mesa, coberta de documentos e com o conjunto de suas canetas de ouro, como um bom colecionador que era. — Pai. — ela fala, por fim, chamando sua atenção. — Estou aqui. Do que precisa? O homem assentiu freneticamente, mas levantou as mãos, pedindo que ela esperasse enquanto buscava algo no meio da confusão em sua mesa. Dandara o observa, desconfiada, enquanto se aproxima até sentar-se nas altas cadeiras de couro frente ao seu pai. Dandara respira aliviada, entretanto, porque percebe que pela tranquilidade no rosto do seu pai, que o seu segredo ainda estava a salvo. A pressão que sentia em seu peito ao guardar tudo aquilo, misturado com a confusão de ainda não compreender tudo que aconteceu com ela até aquele momento, deixava os seus nervos à flor da pele. — En
Dandara está paralisada, enquanto sua única reação é analisar o documento que agora parecia imóvel em suas mãos, pelo modo como elas tremiam. Quando os olhos de Dandara param naquele documento de licitação de modo minucioso, novamente aquela sensação a toma. Dandara sente aquela pontada em sua memória outra vez, seguindo direto ao seu coração. Aquela sensação familiar a atinge fortemente, a fazendo desequilibrar ao ponto em que ela precisa se apoiar na mesa, seu coração se comprime no peito, anunciando um presságio gélido que corre em suas veias. Dandara sabe o que irá acontecer no instante seguinte, porque bem naquele momento, ela volta no tempo, em sua vida antiga e mesmo que agora tudo fosse diferente, as lembranças a engolem viva. A mulher então, assiste a memória de sua vida, como se fosse apenas uma espectadora, que sentia profundamente cada detalhe. Ela estava deitada nos braços de Curtis, e bem ali, sente-se segura e sabe que não existia perigo porque ela estava junto ao
Dandara ainda tentava disseminar as palavras cobertas de ego que saíram dos lábios de Paco. Ela se sentia desafiada pelo seu jogo narcisista ao pensar que ele teria algum poder para afeta-la daquele modo. Era óbvio que o seu coração batia acelerado, que a sua respiração estava ofegante, e o seu corpo está tão colado ao dela, ao ponto em que podia sentir as formas dos seus músculos sob a camisa, o seu hálito quente queimando em sua pele, mas nada disso fazia o seu coração bater fortemente, mas sim, a raiva que sentia. Dandara se sentia bêbada em sua própria dor, ainda cega pela raiva que parecia pinicar em toda sua pele. Principalmente, onde as mãos de Paco a tocavam. E por isso, Dandara se liberta dos seus braços, e o afasta, abruptamente. — Caso você não entenda de biologia básica, o meu coração está batendo pelo simples fato de eu estar viva. — Ela diz, com a voz extremamente fria e séria. O tom baixo, quase um sussurro aveludado sobre o ouvido de Paco. — Em nada tem a ver pela f
Dandara ainda sente o seu sangue fervilhar ao ver aquele homem parado no meio do seu quarto. A mulher realmente pensa em chamar os seguranças e relatar aquele invasor, no entanto, ela sente que se agisse daquele modo poderia demonstrar a Paco que ele a afetava, de algum modo. Mesmo que aquilo fosse uma absoluta mentira, porque ele não tinha nenhum poder sobre ela, Dandara pensou consigo mesma. Antes que Dandara possa responder aquele homem, ela encontra Paco sorrindo para ela, dentro de uma piada interna e sem graça. Ela continua mantendo contato visual, mas a sua expressão não era nem um pouco amigável, totalmente alheia aquele homem. Mas pouco a pouco, ela podia sentir os seus batimentos se regulando e a calmaria a libertando da tortura daquele pesadelo. — Você quer sair daqui? — Paco pergunta de repente. Dandara o encara, confusa, e mesmo não querendo nenhuma proximidade com aquele homem, ela não consegue recusar a ideia de sair daquela casa, porque aquele lugar e suas lemb
Dandara não teve tempo de responder o comentário ambíguo de Paco, mesmo que ela já soubesse a resposta. Paco jamais teria vindo de um lugar como aquele, pois o conhecia desde a infância, assim como sabia que o nome da sua família valia ouro, mesmo de gerações atrás. Paco havia acabado de relatar todos os privilégios que Dandara carregava ao ter nascido em uma família rica, esquecendo-se de citar de suas próprias regalias ao nascer em um berço de ouro. — Ambos sabemos que... — Dandara tentou falar, no entanto foi interrompida. Um barulho alto surgiu na janela do carro, um estrondo que a fez pular no assento, assustada e nervosa sobre o que aquilo poderia ser, principalmente em um local como aquele no meio da noite. Paco estava alheio aquela reação, porque ele sorria. — O que está fazendo? — Dandara arfou quando o viu descer o vidro da janela e começou a abrir a porta do carro. Naquele momento, Dandara pensou que iria morrer pela segunda vez, no entanto, todo o seu receio foi
— Do que está falando? – Dandara arfou no exato momento que aquelas palavras cruéis saíram dos lábios de Paco. Ela estava confusa e indignada com aquela insinuação. Paco apenas respirou fundo e levou os olhos para o alto, parecendo exasperado. — Eles estão em uma favela, Dandara, e se alguém souber que eles contam com muito dinheiro, isso atrairá pessoas perigosas. – Ele responde, por fim. Ao ouvir aquelas palavras, Dandara assentiu lentamente, sabendo que aquilo fazia sentido. Porque mesmo que Dandara não vivesse em uma favela, o fato dela ter muito dinheiro também atraiu pessoas perigosas até ela. E naquele instante, ela percebe o que estava na sua frente o tempo todo. Quanto mais riqueza acumulasse, mais gente perigosa iria atrair. Mais pessoas gananciosas iriam rondar ao seu redor, até chegar ao ponto de matá-la, assim como aconteceu em sua primeira vida. Essa revelação a faz cambalear um pouco, extremamente apavorada. — Você está bem? — Paco perguntou em seguida, pr
Assim que os primeiros raios do sol apareceram na janela, Dandara já estava de pé. A mulher realmente estava decidida em tomar as rédeas da sua vida, e sabia que aquele dia seria o escolhido para mudar a sua realidade. Mesmo não tendo conseguido dormir pelo resto da noite, ela estava bem desperta. E após um longo e quente banho, ela resolveu sair do seu quarto. Vestida em um terninho preto e elegante, desceu as escadas e apenas parou quando chegou na sala de jantar. Dandara não se deu conta que sentia tanta falta daquelas manhãs, até ver a sua família ali reunida. Os seus pais tomavam café animadamente, mesmo que um intruso também estivesse ali. — Bom dia! — Dandara saudou, sentando-se a mesa. — Bom dia, querida! — seus pais responderam com ânimo. Ela sorriu levemente quando Paco em sua frente apenas assentiu de volta, um sorriso também presente em seu rosto. — Estávamos conversando, Dandara... — Elizabeth começou, com uma intenção oculta em seu tom. — Queríamos saber