Quando a respiração de Dandara finalmente se estabilizou, ela levantou o queixo, estufou o peito com confiança e seguiu até o escritório do seu pai. Assim que entrou no cômodo, avistou seu pai já sentado por trás da ampla mesa, coberta de documentos e com o conjunto de suas canetas de ouro, como um bom colecionador que era.
— Pai. — ela fala, por fim, chamando sua atenção. — Estou aqui. Do que precisa?
O homem assentiu freneticamente, mas levantou as mãos, pedindo que ela esperasse enquanto buscava algo no meio da confusão em sua mesa. Dandara o observa, desconfiada, enquanto se aproxima até sentar-se nas altas cadeiras de couro frente ao seu pai.
Dandara respira aliviada, entretanto, porque percebe que pela tranquilidade no rosto do seu pai, que o seu segredo ainda estava a salvo. A pressão que sentia em seu peito ao guardar tudo aquilo, misturado com a confusão de ainda não compreender tudo que aconteceu com ela até aquele momento, deixava os seus nervos à flor da pele.
— Encontrei! — Ronald anuncia, chamando a atenção da filha.
Um sorriso enfeita o rosto alvo do homem em sua frente, e o seu pai sempre possuiu um sorriso contagiante, ao ponto de que naquele momento, Dandara também abriu um tímido sorriso.
— Em 10 dias haverá uma licitação imensamente importante. — Ele começa e entrega os documentos que relatava o que dizia a Dandara.
Enquanto sua filha passeia com os olhos sobre aquelas folhas, o seu pai continua falando:
— As coisas na empresa não estavam andando bem, e portanto, não tivemos chance alguma para participar.
Dandara levanta os olhos rapidamente em direção ao seu pai, se sentindo desanimada por toda aquela situação e ela não pode evitar se sentir culpada, ao descobrir que a sua família esteve enfrentando mal bocados. No entanto, quando Dandara olha para o seu pai, ele não aparenta nem um pouco de preocupação, pelo contrário, segue sorrindo.
— E isso o deixa feliz, por quê? — Dandara indaga, com incerteza.
— Porque milagres acontecem! — ele diz, ou até mesmo grita – Acabei de receber uma ligação. Outra empresa que participaria da licitação foi desclassificada de maneira inesperada. E adivinha de quem é a nova vaga?
O homem pergunta, mas Dandara não tem a menor chance de responder, porque o seu pai mesmo quem esbraveja, respondendo a sua própria pergunta:
— As indústrias LeBlanc!
Ele se levantou rapidamente, a empolgação o preenchendo, e anda em passos rápidos em direção a filha. No entanto, no meio de sua caminhada sua visão ficou turva, sua cabeça sendo tomada por uma intensa tontura, que foi responsável pelo modo que ele tombou e precisou se equilibrar em sua própria mesa.
— Papai! — Dandara se levantou rapidamente, sentindo seu coração batendo forte. — O que está sentindo?
Seus olhos marejam de preocupação, e ela analisa o rosto do seu pai, que naquele momento estava pálido e ele aparentava certa dificuldade para respirar.
— Tudo bem, pai, só respire. — Ela diz, o acalmando e o direciona até o sofá de couro presente em seu escritório. — Irei chamar o doutor Andrade. Por favor, fique aqui.
Dandara não esperou uma resposta, no mesmo instante atravessou aquele escritório e pegando o telefone fixo, ligou rapidamente para o médico da família. Não demorou muito para que o doutor chegasse, assim como também não demorou para que sua família ficasse ciente da situação de Ronald.
Com ajuda do mordomo da casa, juntamente com uns empregados, Ronald foi levado até o seu quarto. E já em sua cama, o doutor Andrade já o diagnosticava, examinando o patrono da família.
Dandara se sentia ansiosa, o coração acelerado enquanto observava a imagem do seu pai vulnerável daquela forma. Sua mãe estava ao seu lado e ela encarava o seu esposo com o mesmo grau de ansiedade que a filha.
A atenção das duas mulheres foi tomada quando o doutor Andrade se levantou daquela cama, guardando o estetoscópio em sua maleta.
— E então? — Elizabeth pergunta ao médico.
— Ele está bem. — anuncia e as duas mulheres respiram aliviadas. — Ronald só está bastante sobrecarregado. O que aconteceu hoje foi apenas o seu corpo pedindo por descanso. Sugiro que esteja de repouso pelas próximas semanas, e que evite assuntos estressantes.
Após todas as informações dadas pelo médico, Dandara deixou o seu pai descansando no quarto. Mas antes mesmo que ela pudesse atravessar o corredor, sua mãe a seguiu, a acompanhando.
— Eu falei que ele precisava desacelerar. — Elizabeth resmunga enquanto anda pelos longos corredores da mansão. — Ronald não é mais o mesmo que era meses atrás.
Quando diz aquilo, uma sirene aciona no cérebro de Dandara, como se alertasse a pergunta que ela fizera, horas antes, sobre a razão de sua família não a ter procurado. A resposta estava bem ali, nos olhos verdes acusadores de sua mãe.
Mesmo assim, Dandara ousa perguntar:
— O que quer dizer, mãe? — Dandara pergunta, na defensiva.
— Como você acha que o seu pai reagiu ao descobrir que você fugiria com aquele homem?
E dizendo isso, Elizabeth deixou Dandara sozinha com os seus próprios pensamentos. E ela então se dá conta, de que por causa da sua escolha, em optar por fugir com Curtis em sua vida anterior, mesmo que em sua vida atual, ela tivesse renascido bem há tempo da festa de casamento e não tenha fugido com Curtis daquela vez. No entanto, ao descobrir que a sua filha era apaixonada por um homem como Curtis, Ronald teve a sua condição de saúde agravada pelo estresse e árduo trabalho, o que fez sua mãe segurar todas as pontas em casa sozinha. E Dandara sabia que sua família a culpava por isso, e diante disso, sua família não a procurou.
Dandara deixa sua respiração sair alta, e se ver retornando ao escritório do pai, buscando entender tudo que havia mudado em sua ausência e em como a sua m*****a escolha ameaçou a sua família.
— Eu espero profundamente que tudo isso tenha um propósito. — Ela fala consigo mesma, olhando através das janelas de vidro.
Os olhos de Dandara se direcionam a lua alta e brilhante e a medida em que as estrelas brilham no céu, ela tem um lampejo em sua memória, uma recordação clara da razão de ela ter voltado, o seu propósito em toda aquela história.
Dandara lembra-se de repente dos rumores da sua família do qual ela havia ouvido. A notícia de que Clovis LeBlanc, o seu tio paterno, havia ganhado aquela licitação, em nome de sua família, um mês depois. No entanto, o seu tio era comprovadamente incapaz. E então se pergunta, como ele poderia vencer aquela licitação?
Dandara deixa a respiração sair alta, e encarando o seu reflexo sobre as janelas de vidro daquele escritório, ela diz a si mesma:
— Eu voltei para recuperar tudo o que a minha família perdeu. E eu juro... — fecha os olhos profundamente. — Ninguém será mais capaz do que eu.
Naquele momento, Dandara promete que entregaria suas próprias lágrimas e sangue para vencer. E quando aquela mulher prometia algo... Ela iria até o fim do mundo para cumprir a sua palavra. E todos os seus inimigos iriam tremer.
Dandara está paralisada, enquanto sua única reação é analisar o documento que agora parecia imóvel em suas mãos, pelo modo como elas tremiam. Quando os olhos de Dandara param naquele documento de licitação de modo minucioso, novamente aquela sensação a toma. Dandara sente aquela pontada em sua memória outra vez, seguindo direto ao seu coração. Aquela sensação familiar a atinge fortemente, a fazendo desequilibrar ao ponto em que ela precisa se apoiar na mesa, seu coração se comprime no peito, anunciando um presságio gélido que corre em suas veias. Dandara sabe o que irá acontecer no instante seguinte, porque bem naquele momento, ela volta no tempo, em sua vida antiga e mesmo que agora tudo fosse diferente, as lembranças a engolem viva. A mulher então, assiste a memória de sua vida, como se fosse apenas uma espectadora, que sentia profundamente cada detalhe. Ela estava deitada nos braços de Curtis, e bem ali, sente-se segura e sabe que não existia perigo porque ela estava junto ao
Dandara ainda tentava disseminar as palavras cobertas de ego que saíram dos lábios de Paco. Ela se sentia desafiada pelo seu jogo narcisista ao pensar que ele teria algum poder para afeta-la daquele modo. Era óbvio que o seu coração batia acelerado, que a sua respiração estava ofegante, e o seu corpo está tão colado ao dela, ao ponto em que podia sentir as formas dos seus músculos sob a camisa, o seu hálito quente queimando em sua pele, mas nada disso fazia o seu coração bater fortemente, mas sim, a raiva que sentia. Dandara se sentia bêbada em sua própria dor, ainda cega pela raiva que parecia pinicar em toda sua pele. Principalmente, onde as mãos de Paco a tocavam. E por isso, Dandara se liberta dos seus braços, e o afasta, abruptamente. — Caso você não entenda de biologia básica, o meu coração está batendo pelo simples fato de eu estar viva. — Ela diz, com a voz extremamente fria e séria. O tom baixo, quase um sussurro aveludado sobre o ouvido de Paco. — Em nada tem a ver pela f
Dandara ainda sente o seu sangue fervilhar ao ver aquele homem parado no meio do seu quarto. A mulher realmente pensa em chamar os seguranças e relatar aquele invasor, no entanto, ela sente que se agisse daquele modo poderia demonstrar a Paco que ele a afetava, de algum modo. Mesmo que aquilo fosse uma absoluta mentira, porque ele não tinha nenhum poder sobre ela, Dandara pensou consigo mesma. Antes que Dandara possa responder aquele homem, ela encontra Paco sorrindo para ela, dentro de uma piada interna e sem graça. Ela continua mantendo contato visual, mas a sua expressão não era nem um pouco amigável, totalmente alheia aquele homem. Mas pouco a pouco, ela podia sentir os seus batimentos se regulando e a calmaria a libertando da tortura daquele pesadelo. — Você quer sair daqui? — Paco pergunta de repente. Dandara o encara, confusa, e mesmo não querendo nenhuma proximidade com aquele homem, ela não consegue recusar a ideia de sair daquela casa, porque aquele lugar e suas lemb
Dandara não teve tempo de responder o comentário ambíguo de Paco, mesmo que ela já soubesse a resposta. Paco jamais teria vindo de um lugar como aquele, pois o conhecia desde a infância, assim como sabia que o nome da sua família valia ouro, mesmo de gerações atrás. Paco havia acabado de relatar todos os privilégios que Dandara carregava ao ter nascido em uma família rica, esquecendo-se de citar de suas próprias regalias ao nascer em um berço de ouro. — Ambos sabemos que... — Dandara tentou falar, no entanto foi interrompida. Um barulho alto surgiu na janela do carro, um estrondo que a fez pular no assento, assustada e nervosa sobre o que aquilo poderia ser, principalmente em um local como aquele no meio da noite. Paco estava alheio aquela reação, porque ele sorria. — O que está fazendo? — Dandara arfou quando o viu descer o vidro da janela e começou a abrir a porta do carro. Naquele momento, Dandara pensou que iria morrer pela segunda vez, no entanto, todo o seu receio foi
— Do que está falando? – Dandara arfou no exato momento que aquelas palavras cruéis saíram dos lábios de Paco. Ela estava confusa e indignada com aquela insinuação. Paco apenas respirou fundo e levou os olhos para o alto, parecendo exasperado. — Eles estão em uma favela, Dandara, e se alguém souber que eles contam com muito dinheiro, isso atrairá pessoas perigosas. – Ele responde, por fim. Ao ouvir aquelas palavras, Dandara assentiu lentamente, sabendo que aquilo fazia sentido. Porque mesmo que Dandara não vivesse em uma favela, o fato dela ter muito dinheiro também atraiu pessoas perigosas até ela. E naquele instante, ela percebe o que estava na sua frente o tempo todo. Quanto mais riqueza acumulasse, mais gente perigosa iria atrair. Mais pessoas gananciosas iriam rondar ao seu redor, até chegar ao ponto de matá-la, assim como aconteceu em sua primeira vida. Essa revelação a faz cambalear um pouco, extremamente apavorada. — Você está bem? — Paco perguntou em seguida, pr
Assim que os primeiros raios do sol apareceram na janela, Dandara já estava de pé. A mulher realmente estava decidida em tomar as rédeas da sua vida, e sabia que aquele dia seria o escolhido para mudar a sua realidade. Mesmo não tendo conseguido dormir pelo resto da noite, ela estava bem desperta. E após um longo e quente banho, ela resolveu sair do seu quarto. Vestida em um terninho preto e elegante, desceu as escadas e apenas parou quando chegou na sala de jantar. Dandara não se deu conta que sentia tanta falta daquelas manhãs, até ver a sua família ali reunida. Os seus pais tomavam café animadamente, mesmo que um intruso também estivesse ali. — Bom dia! — Dandara saudou, sentando-se a mesa. — Bom dia, querida! — seus pais responderam com ânimo. Ela sorriu levemente quando Paco em sua frente apenas assentiu de volta, um sorriso também presente em seu rosto. — Estávamos conversando, Dandara... — Elizabeth começou, com uma intenção oculta em seu tom. — Queríamos saber
O peito de Dandara sobe e desce freneticamente, sua respiração ofegante a trai, revelando o quão afetada estava por aquela visita. Não era como se ainda se sentisse abalada pelo Curtis, ou como se aquele homem ainda obtivesse algum poder sobre ela. No entanto, existe uma explicação cientifica para o modo como Dandara se sentia naquele momento: o coração disparado, a pressão aumentando. Isso ocorre quando alguém sente raiva e naquele momento, isso é tudo que ela sente. — Onde está minha mãe? — Dandara pergunta a Zélia, ainda encarando a porta da mansão trancada. — A senhora Elizabeth saiu. Disse que iria tratar dos preparativos para o seu casamento. — A empregada responde. No mesmo instante, Dandara revira os olhos, porque o tema casamento era o menor dos seus problemas agora. No entanto, se sente aliviada, porque se sua mãe visse o Curtis ali, em seu espaço, ela poderia ter um colapso. — Tudo bem. — Dandara diz, por fim. E dizendo isso, ela começou a andar em frente, i
Uma semana havia se passado desde a última vez em que Dandara esteve na empresa. Nos últimos dias, ela manteve sua cabeça ocupada, trabalhando constantemente para a sua apresentação frente aos sócios da empresa. Toda a sua ausência, fizera com que Paco mal visse a mulher, pois sempre se encontrava presa em seu quarto ou no escritório. A última vez em que se viram, havia sido quando ele fizera aquela m*****a pergunta a Dandara, que mesmo a mulher não respondendo, aquelas palavras ficaram girando em sua cabeça. Enquanto sua vida pessoal e emocional se encontravam em uma intensa bagunça, a sua vida profissional estava em plena ascensão. Porque Dandara havia conseguido convencer todos aqueles homens a competirem por aquela licitação, e naquele momento, ela havia acabado de atravessar as portas do local marcado para a reunião. — Bom dia! — Dandara saudou assim que colocou os pés naquela sala. No entanto, Dandara parou de andar bruscamente assim que o seu olhar pousou nas pessoas ao