Capítulo 9

Quando a respiração de Dandara finalmente se estabilizou, ela levantou o queixo, estufou o peito com confiança e seguiu até o escritório do seu pai. Assim que entrou no cômodo, avistou seu pai já sentado por trás da ampla mesa, coberta de documentos e com o conjunto de suas canetas de ouro, como um bom colecionador que era. 

— Pai. — ela fala, por fim, chamando sua atenção. — Estou aqui. Do que precisa?

O homem assentiu freneticamente, mas levantou as mãos, pedindo que ela esperasse enquanto buscava algo no meio da confusão em sua mesa. Dandara o observa, desconfiada, enquanto se aproxima até sentar-se nas altas cadeiras de couro frente ao seu pai.

Dandara respira aliviada, entretanto, porque percebe que pela tranquilidade no rosto do seu pai, que o seu segredo ainda estava a salvo. A pressão que sentia em seu peito ao guardar tudo aquilo, misturado com a confusão de ainda não compreender tudo que aconteceu com ela até aquele momento, deixava os seus nervos à flor da pele.

— Encontrei! — Ronald anuncia, chamando a atenção da filha.

Um sorriso enfeita o rosto alvo do homem em sua frente, e o seu pai sempre possuiu um sorriso contagiante, ao ponto de que naquele momento, Dandara também abriu um tímido sorriso. 

— Em 10 dias haverá uma licitação imensamente importante. — Ele começa e entrega os documentos que relatava o que dizia a Dandara. 

Enquanto sua filha passeia com os olhos sobre aquelas folhas, o seu pai continua falando:

— As coisas na empresa não estavam andando bem, e portanto, não tivemos chance alguma para participar. 

Dandara levanta os olhos rapidamente em direção ao seu pai, se sentindo desanimada por toda aquela situação e ela não pode evitar se sentir culpada, ao descobrir que a sua família esteve enfrentando mal bocados. No entanto, quando Dandara olha para o seu pai, ele não aparenta nem um pouco de preocupação, pelo contrário, segue sorrindo.

— E isso o deixa feliz, por quê? — Dandara indaga, com incerteza. 

— Porque milagres acontecem! — ele diz, ou até mesmo grita – Acabei de receber uma ligação. Outra empresa que participaria da licitação foi desclassificada de maneira inesperada. E adivinha de quem é a nova vaga? 

O homem pergunta, mas Dandara não tem a menor chance de responder, porque o seu pai mesmo quem esbraveja, respondendo a sua própria pergunta:

— As indústrias LeBlanc!

Ele se levantou rapidamente, a empolgação o preenchendo, e anda em passos rápidos em direção a filha. No entanto, no meio de sua caminhada sua visão ficou turva, sua cabeça sendo tomada por uma intensa tontura, que foi responsável pelo modo que ele tombou e precisou se equilibrar em sua própria mesa.

— Papai! — Dandara se levantou rapidamente, sentindo seu coração batendo forte. — O que está sentindo?

Seus olhos marejam de preocupação, e ela analisa o rosto do seu pai, que naquele momento estava pálido e ele aparentava certa dificuldade para respirar.

— Tudo bem, pai, só respire. — Ela diz, o acalmando e o direciona até o sofá de couro presente em seu escritório. — Irei chamar o doutor Andrade. Por favor, fique aqui. 

Dandara não esperou uma resposta, no mesmo instante atravessou aquele escritório e pegando o telefone fixo, ligou rapidamente para o médico da família. Não demorou muito para que o doutor chegasse, assim como também não demorou para que sua família ficasse ciente da situação de Ronald. 

Com ajuda do mordomo da casa, juntamente com uns empregados, Ronald foi levado até o seu quarto. E já em sua cama, o doutor Andrade já o diagnosticava, examinando o patrono da família. 

Dandara se sentia ansiosa, o coração acelerado enquanto observava a imagem do seu pai vulnerável daquela forma. Sua mãe estava ao seu lado e ela encarava o seu esposo com o mesmo grau de ansiedade que a filha. 

A atenção das duas mulheres foi tomada quando o doutor Andrade se levantou daquela cama, guardando o estetoscópio em sua maleta. 

— E então? — Elizabeth pergunta ao médico. 

— Ele está bem. — anuncia e as duas mulheres respiram aliviadas. — Ronald só está bastante sobrecarregado. O que aconteceu hoje foi apenas o seu corpo pedindo por descanso. Sugiro que esteja de repouso pelas próximas semanas, e que evite assuntos estressantes. 

Após todas as informações dadas pelo médico, Dandara deixou o seu pai descansando no quarto. Mas antes mesmo que ela pudesse atravessar o corredor, sua mãe a seguiu, a acompanhando. 

— Eu falei que ele precisava desacelerar. — Elizabeth resmunga enquanto anda pelos longos corredores da mansão. — Ronald não é mais o mesmo que era meses atrás. 

Quando diz aquilo, uma sirene aciona no cérebro de Dandara, como se alertasse a pergunta que ela fizera, horas antes, sobre a razão de sua família não a ter procurado. A resposta estava bem ali, nos olhos verdes acusadores de sua mãe. 

Mesmo assim, Dandara ousa perguntar:

— O que quer dizer, mãe? — Dandara pergunta, na defensiva. 

— Como você acha que o seu pai reagiu ao descobrir que você fugiria com aquele homem?

E dizendo isso, Elizabeth deixou Dandara sozinha com os seus próprios pensamentos. E ela então se dá conta, de que por causa da sua escolha, em optar por fugir com Curtis em sua vida anterior, mesmo que em sua vida atual, ela tivesse renascido bem há tempo da festa de casamento e não tenha fugido com Curtis daquela vez. No entanto, ao descobrir que a sua filha era apaixonada por um homem como Curtis, Ronald teve a sua condição de saúde agravada pelo estresse e árduo trabalho, o que fez sua mãe segurar todas as pontas em casa sozinha. E Dandara sabia que sua família a culpava por isso, e diante disso, sua família não a procurou. 

Dandara deixa sua respiração sair alta, e se ver retornando ao escritório do pai, buscando entender tudo que havia mudado em sua ausência e em como a sua m*****a escolha ameaçou a sua família.

— Eu espero profundamente que tudo isso tenha um propósito. — Ela fala consigo mesma, olhando através das janelas de vidro.

Os olhos de Dandara se direcionam a lua alta e brilhante e a medida em que as estrelas brilham no céu, ela tem um lampejo em sua memória, uma recordação clara da razão de ela ter voltado, o seu propósito em toda aquela história. 

Dandara lembra-se de repente dos rumores da sua família do qual ela havia ouvido. A notícia de que Clovis LeBlanc, o seu tio paterno, havia ganhado aquela licitação, em nome de sua família, um mês depois. No entanto, o seu tio era comprovadamente incapaz. E então se pergunta, como ele poderia vencer aquela licitação?

Dandara deixa a respiração sair alta, e encarando o seu reflexo sobre as janelas de vidro daquele escritório, ela diz a si mesma:

— Eu voltei para recuperar tudo o que a minha família perdeu. E eu juro... — fecha os olhos profundamente. — Ninguém será mais capaz do que eu. 

Naquele momento, Dandara promete que entregaria suas próprias lágrimas e sangue para vencer. E quando aquela mulher prometia algo... Ela iria até o fim do mundo para cumprir a sua palavra. E todos os seus inimigos iriam tremer.

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