A responsabilidade que ele me entregou pesava mais a cada dia. Liderar a máfia Mendez significava tomar decisões que poderiam salvar ou destruir vidas, inclusive a minha. E agora, com Heitor e Carlos orbitando tão perto, as escolhas pareciam ainda mais complicadas.
Eu estava no escritório quando Matteo entrou. Sua expressão estava séria, mas ele hesitava em falar, o que não era típico dele.
— O que foi, Matteo? — perguntei, cruzando os braços.
— Senhorita, Carlos enviou uma mensagem. Ele quer que você saiba que há algo sobre Heitor que você precisa ver... — Matteo hesitou antes de continuar. — E ele enviou uma localização.
Olhei para Matteo, tentando ler o que ele pensava. Eu sabia que ele era leal à minha família, mas também sabia que Matteo tinha suas próprias opiniões sobre quem deveria estar ao meu lado.
— Que localização? — perguntei, minha voz mais baixa, mas ainda carregada de autoridade.
— Um galpão nos arredores da cidade. Parece suspeito. Carlos disse que você deveria ir sozinha, sem chamar atenção.
"Claro", pensei, revirando os olhos. Carlos sempre encontrava formas de testar meus limites, de me forçar a mostrar que confiava nele mais do que em qualquer outro. Mas o que ele não entendia é que confiança, para mim, era como uma moeda de troca: eu só dava quando sabia exatamente o que receberia em troca.
Decidi ir. Troquei o vestido de seda que usava por um traje mais discreto, preto e prático. Matteo insistiu em me acompanhar, mas eu recusei.
— Eu sou Cristina Mendez. Se Carlos está armando algo, será ele quem deve temer, não eu.
Matteo bufou, mas sabia que não podia me convencer do contrário.
O galpão era exatamente como eu esperava: sombrio, isolado, com o tipo de atmosfera que fazia sua pele arrepiar antes mesmo de cruzar a entrada. Dois homens me esperavam do lado de fora, ambos claramente trabalhando para Carlos. Eles abriram as portas sem dizer uma palavra, e entrei com passos firmes.
Lá dentro, Carlos estava parado perto de uma mesa, seu semblante sério iluminado apenas por uma lâmpada fraca pendurada acima. Ao lado dele, um laptop aberto exibia imagens que imediatamente chamaram minha atenção.
— O que é isso, Carlos? — perguntei, me aproximando devagar.
Ele não respondeu de imediato. Apenas virou a tela na minha direção.
— Achei que você gostaria de ver quem realmente é Heitor Lourenzo.
As imagens mostravam Heitor em uma reunião com homens que eu sabia serem ligados a outra família mafiosa, uma família que, até onde eu sabia, estava em conflito direto com a minha. Ele parecia à vontade, conversando, rindo. Meu estômago revirou.
— Ele está negociando com os Lucchesi? — minha voz saiu mais alta do que eu esperava.
Carlos cruzou os braços, seus olhos fixos em mim.
— Exatamente. Enquanto você confia nele, ele está conspirando pelas suas costas.
Fechei os olhos por um momento, tentando processar. Heitor tinha me traído? Ou isso era apenas mais uma jogada de Carlos para me afastar de um aliado que ele nunca aprovou?
— Você acha que pode manipular minha percepção, Carlos? — perguntei, olhando diretamente para ele.
Carlos deu um passo à frente, seu rosto ficando a poucos centímetros do meu.
— Eu não quero manipular você, Cristina. Quero proteger você.
A intensidade em sua voz me pegou de surpresa. Não havia nada de calculado em suas palavras. Pela primeira vez, vi um vislumbre de algo genuíno nele. Mas isso não era suficiente.
— Se isso for verdade, Heitor vai pagar. Mas se não for, Carlos... — minha voz se tornou fria como gelo. — Você sabe o que acontece com quem mente para mim.
Ele assentiu, um pequeno sorriso surgindo no canto de sua boca.
— É por isso que gosto de você, Cristina. Você não é fácil de enganar.
Deixei o galpão sem olhar para trás, minha mente em um turbilhão. Se Heitor estava conspirando contra mim, ele cometeria o maior erro de sua vida. Mas se Carlos estivesse mentindo... bem, até mesmo os aliados mais leais podiam ser dispensáveis.
A guerra entre os dois homens estava começando, e eu era o prêmio. O que eles não sabiam é que, no final, eu era quem ditava as regras desse jogo.
Depois que Carlos terminou de falar, sai do galpão, minha cabeça fervilhava. A traição de Heitor, a insistência de Carlos, as dúvidas que pareciam me cercar como um predador à espreita. Minhas mãos tremiam levemente, algo raro em mim, e eu sabia exatamente o que precisava fazer: encontrar um momento de escape, mesmo que fosse breve.Assim que cheguei ao palácio, ignorei Matteo e os outros seguranças. Subi direto para o bar privativo, um espaço elegante no andar superior que raramente era usado, exceto por mim. A iluminação suave refletia nas prateleiras repletas de garrafas caríssimas, cada uma escolhida a dedo por meu pai antes de sua saúde começar a definhar. Era um lugar que cheirava a tradição, poder e solidão.Servi-me de um uísque, sem gelo. O líquido âmbar desceu queimando, mas trouxe o alívio que eu buscava. Apoiei-me no balcão, encarando meu reflexo no espelho atrás das garrafas. A mulher que olhava de volta parecia inabalável, mas eu sabia que, por dentro, havia rachaduras.
Carlos me ergueu, sentando-me sobre o balcão de mármore do bar. As garrafas e copos ao redor foram esquecidos. Suas mãos deslizaram pelas minhas coxas, subindo pela renda fina do meu vestido enquanto o tecido se tornava uma barreira insignificante. O som dos suspiros e da respiração pesada preencheu o espaço, misturando-se ao pulsar acelerado dos nossos corações.— Você tem certeza? — Ele parou, seus olhos encontrando os meus. A preocupação inesperada nos olhos dele me surpreendeu.— Carlos, pare de falar — murmurei, puxando-o novamente para mim.E foi exatamente isso que ele fez. Não havia mais palavras, apenas toques e olhares que diziam tudo. Ele me carregou para longe do balcão, seus movimentos decididos enquanto me conduzia até o sofá luxuoso ao lado. Suas mãos eram firmes, mas cuidadosas, como se cada toque fosse um estudo da minha pele. E eu me entreguei, deixando de lado as responsabilidades, as alianças, as traições. Por uma noite, eu era apenas Cristina, sem os pesos do meu
— Vejo que o CEO ainda não desistiu. Admirável.Heitor avançou um passo, o olhar endurecido.— Talvez você devesse aprender a respeitar os momentos alheios, Albuquerque.Carlos riu novamente, cruzando os braços.— Respeito? Isso é engraçado, vindo de alguém que parece não conhecer limites.A tensão entre os dois era palpável, e eu sabia que, se não interferisse, aquilo poderia explodir em algo muito pior.— Já chega! — cortei, minha voz firme o suficiente para silenciá-los. — Vocês dois estão agindo como garotos mimados, e isso não vai me levar a lugar algum.Olhei para Heitor, depois para Carlos, meu coração dividido entre a raiva e o cansaço.— Vocês querem jogar um contra o outro? Que joguem, mas não usem meu nome como peça no tabuleiro.Carlos estreitou os olhos, mas o sorriso desapareceu de seus lábios. Heitor apenas assentiu, com o maxilar travado. Sem dizer mais nada, virei-me e saí, deixando-os no corredor.Enquanto me afastava, só uma coisa ecoava na minha mente: no meu mundo
O empurrei com força, sentindo o calor do contato se dissipar rápido demais, mas deixando algo mais profundo – algo que eu não queria admitir – fervendo dentro de mim. Ele passou as mãos pela nuca, claramente frustrado, e depois ajeitou o cabelo, como se tentasse recuperar a compostura.— Você me deixa louco, Cristina — disse Heitor, sua voz grave ainda reverberando em minha mente. Seus olhos encontraram os meus, intensos e desafiadores. — Pense com carinho e me liga. Prometo ser fiel à nossa aliança, como o bom cachorro do Carlos...Ele deu um último olhar carregado de arrogância antes de se virar e sair pelo corredor. Aquele tom, aquela insinuação... Minha raiva explodiu como uma chama que parecia não ter fim.Andei de um lado para o outro no escritório, meu coração martelando no peito. Não era só o beijo. Era a audácia, a certeza de que ele acreditava que me tinha em suas mãos. A ideia me enojava e me fascinava ao mesmo tempo, o que apenas me deixava ainda mais furiosa.Caminhei at
— Cristina, aconteceu algo?Engoli em seco antes de responder.— Alejandro... Papá... Ele não está mais conosco.Do outro lado, ouvi um silêncio pesado, seguido pelo som de uma respiração longa e controlada.— Como assim?— Ele teve morte cerebral, Alejandro. O médico confirmou hoje cedo. É o fim.Houve um longo silêncio antes de ele responder, sua voz carregada de pesar.— Sinto muito, Criss. Gostaria de estar aí com você agora.— E precisa estar — respondi com firmeza. — A família precisa de nós mais do que nunca.Ele suspirou, e eu soube que ele já estava calculando os próximos passos.— Vou encerrar tudo aqui o mais rápido possível e volto para a Itália. Precisamos estar unidos para proteger o nome dos Mendez.— Obrigada, Alejandro. — Minha voz tremeu levemente, mas o apoio dele trouxe um conforto inesperado.Assim que desliguei, um alívio momentâneo tomou conta de mim. Mas a sensação durou pouco. Batidas firmes na porta me tiraram do transe. Era Carlos.Ele entrou com sua postura
Enquanto ajustava os últimos detalhes, uma batida firme na porta me chamou a atenção.— Entre — disse, sem desviar o olhar do espelho.Carlos entrou, tão impecável quanto sempre, vestindo um terno que parecia feito sob medida. Seus olhos avaliavam o ambiente antes de pousarem em mim. Havia algo no jeito como ele me olhava que me deixava em alerta, como se ele soubesse algo que eu ainda não sabia.— O que você quer, Carlos? — perguntei, impaciente.Ele se aproximou devagar, a expressão séria.— Não tenho muito tempo para rodeios, Cristina. Precisamos conversar.Cruzei os braços, esperando que ele explicasse.— O conselho está inquieto — ele começou, sua voz calma, mas carregada de seriedade. — Eles querem Alejandro no comando. Acham que você não está pronta.O impacto daquelas palavras me atingiu como um soco no estômago, mas mantive minha expressão neutra.— Alejandro está no México e já deixou claro que me apoia. O que mais eles precisam?Carlos suspirou, passando a mão pelos cabelos
Desliguei o telefone e fiquei olhando para o aparelho por alguns segundos, como se esperasse que ele voltasse a tocar e me dissesse que tudo aquilo era só um sonho. Mas não era.Antes que eu pudesse sair do quarto, uma batida na porta me tirou dos pensamentos. Quando a abri, encontrei Carlos parado ali, com sua expressão séria e determinada.— Cristina— ele disse, entrando no quarto sem esperar convite. — Preciso falar com você.Fechei a porta e o encarei, esperando que continuasse. Ele deu um passo à frente, os olhos fixos nos meus.— Sei que o momento é difícil, mas minha proposta continua de pé. Acho que você já percebeu que, se aceitarmos isso, todos vão entender que estamos unidos. Que ninguém pode nos derrubar.Ele fez uma pausa, aproximando-se ainda mais.— Quero me casar com você, Cristina. Não apenas pelo poder, mas porque confio em você. Nós dois podemos fazer isso funcionar.Fiquei em silêncio, sentindo uma mistura de emoções. Não sabia se queria gritar ou rir, mas uma cois
Entrei no escritório, fechei a porta com cuidado e travei a chave. Queria estar sozinha, nem que fosse por um breve momento, para poder processar o que estava acontecendo. Sentei-me na poltrona perto da janela, onde costumava ficar em momentos de pressão. Agora, porém, tudo parecia sem sentido. Meus pensamentos estavam uma bagunça, e o que antes parecia um lugar de controle e reflexão, agora era apenas um cenário de solidão e dor. Eu só queria chorar, sem as máscaras que me forçavam a usar diante dos outros. As lágrimas começaram a escorrer silenciosamente, e cada soluço parecia carregar o peso de toda a perda que eu ainda não conseguia compreender. Meu pai não estava mais ali. E com isso, algo dentro de mim se despedaçava.Mas, antes que eu pudesse me perder completamente naqueles sentimentos, ouvi as batidas na porta, impacientes e desesperadas. Heitor. Sempre ele, com sua mania de querer ter a palavra final em tudo. Ele não sabia o que estava acontecendo, não entendia a dor que eu