Nos dias seguintes, minha rotina mudou completamente. Cada manhã começava com uma visita à ala neonatal para acompanhar Dario. Ele estava ficando mais forte, e o brilho nos olhos dos médicos e enfermeiros sempre que o avaliavam me dava esperança. Era como se a força dele fosse um reflexo de tudo o que tínhamos vivido até agora.Carlos esteve ao meu lado o tempo todo, ajudando a lidar com os detalhes burocráticos enquanto eu me concentrava em Dario. Ele organizava tudo: os seguranças no hospital, a equipe que nos ajudaria na transição de volta para casa, e até os documentos necessários para levar Dario para a Itália assim que fosse possível.Certa tarde, enquanto estávamos sentados em uma sala de espera do hospital, Carlos falou algo que mexeu comigo.— Cristina, já pensou no que vamos dizer a Dario quando ele crescer? Sobre tudo isso?Demorei alguns segundos para responder, olhando fixamente para as paredes brancas e frias do hospital.— Diremos a ele a verdade, Carlos. Sobre Olivia,
O trajeto do hospital ao aeroporto foi tenso. Alejandro foi colocado em uma ambulância equipada como uma UTI móvel, enquanto Carlos e eu seguimos em um dos carros da escolta, com Dario em um assento especial ao meu lado. Eu não tirava os olhos do pequeno, mas minha mente vagava para Alejandro, imaginando como ele estava suportando a viagem.No aeroporto, o jato particular nos aguardava. Era uma aeronave adaptada, com todos os equipamentos necessários para manter Alejandro estável durante o voo. Dario, por outro lado, parecia se divertir com o movimento e os sons ao nosso redor, completamente alheio ao caos.Assim que embarcamos, o Dr. Francesco fez os últimos ajustes em Alejandro, verificando novamente os aparelhos e os medicamentos. Ele se aproximou de mim, sua postura profissional inabalável.— Senhora Mendez, estamos prontos para decolar. A tripulação está ciente das paradas médicas planejadas, e ficaremos atentos a qualquer mudança nos sinais vitais do seu irmão.— Obrigada, douto
Depois da reunião, voltei para o quarto onde Dario estava. Peguei-o em meus braços e sentei-me em uma poltrona próxima à janela, olhando para os jardins iluminados do palácio. Carlos entrou em seguida, sentando-se ao meu lado.— Foi um bom começo, Cristina — ele disse, sua voz baixa e reconfortante.— Ainda temos um longo caminho pela frente — respondi, olhando para Dario, que dormia tranquilamente. — Mas enquanto estivermos juntos, Carlos, vamos conseguir superar qualquer coisa.Ele assentiu, colocando a mão sobre a minha. Por mais difícil que a jornada fosse, sabia que estávamos no lugar onde precisávamos estar, prontos para lutar pelo que era nosso.O salão principal do palácio estava iluminado como uma constelação. Lustres de cristal refletiam brilhos dourados nas paredes ornamentadas, e as longas mesas estavam cobertas com toalhas brancas impecáveis, adornadas com arranjos de flores vermelhas e douradas. O aroma de pratos sofisticados, preparados pelos melhores chefs, preenchia o
Aquele era o tipo de noite que fazia qualquer um acreditar que o caos poderia ser belo. As luzes de Nápoles brilhavam como um mar de estrelas invertido, enquanto eu observava a cidade do alto da varanda do palácio Mendez. Apesar do vento suave que acariciava meu rosto, eu sentia o peso do mundo em meus ombros.O telefone em minha mão piscava com a mensagem de Carlos Albuquerque. Ele era um aliado leal, ao menos por enquanto. A confiança na máfia é uma mercadoria rara, e a que Carlos e eu compartilhávamos tinha um preço: poder. Ele prometeu estar ao meu lado para proteger o legado da minha família, mas sei que, no fundo, Carlos nunca faz nada sem calcular seus próprios ganhos.“Cristina, o carregamento chegará amanhã. Quero sua aprovação antes de darmos o próximo passo.”Li a mensagem e apaguei a tela. Sempre exigiam algo de mim, como se ser a líder da máfia mais temida da Itália aos 23 anos não fosse o suficiente. Meu pai costumava dizer que o poder nunca é dado, ele é tomado, arranca
A responsabilidade que ele me entregou pesava mais a cada dia. Liderar a máfia Mendez significava tomar decisões que poderiam salvar ou destruir vidas, inclusive a minha. E agora, com Heitor e Carlos orbitando tão perto, as escolhas pareciam ainda mais complicadas.Eu estava no escritório quando Matteo entrou. Sua expressão estava séria, mas ele hesitava em falar, o que não era típico dele.— O que foi, Matteo? — perguntei, cruzando os braços.— Senhorita, Carlos enviou uma mensagem. Ele quer que você saiba que há algo sobre Heitor que você precisa ver... — Matteo hesitou antes de continuar. — E ele enviou uma localização.Olhei para Matteo, tentando ler o que ele pensava. Eu sabia que ele era leal à minha família, mas também sabia que Matteo tinha suas próprias opiniões sobre quem deveria estar ao meu lado.— Que localização? — perguntei, minha voz mais baixa, mas ainda carregada de autoridade.— Um galpão nos arredores da cidade. Parece suspeito. Carlos disse que você deveria ir soz
Depois que Carlos terminou de falar, sai do galpão, minha cabeça fervilhava. A traição de Heitor, a insistência de Carlos, as dúvidas que pareciam me cercar como um predador à espreita. Minhas mãos tremiam levemente, algo raro em mim, e eu sabia exatamente o que precisava fazer: encontrar um momento de escape, mesmo que fosse breve.Assim que cheguei ao palácio, ignorei Matteo e os outros seguranças. Subi direto para o bar privativo, um espaço elegante no andar superior que raramente era usado, exceto por mim. A iluminação suave refletia nas prateleiras repletas de garrafas caríssimas, cada uma escolhida a dedo por meu pai antes de sua saúde começar a definhar. Era um lugar que cheirava a tradição, poder e solidão.Servi-me de um uísque, sem gelo. O líquido âmbar desceu queimando, mas trouxe o alívio que eu buscava. Apoiei-me no balcão, encarando meu reflexo no espelho atrás das garrafas. A mulher que olhava de volta parecia inabalável, mas eu sabia que, por dentro, havia rachaduras.
Carlos me ergueu, sentando-me sobre o balcão de mármore do bar. As garrafas e copos ao redor foram esquecidos. Suas mãos deslizaram pelas minhas coxas, subindo pela renda fina do meu vestido enquanto o tecido se tornava uma barreira insignificante. O som dos suspiros e da respiração pesada preencheu o espaço, misturando-se ao pulsar acelerado dos nossos corações.— Você tem certeza? — Ele parou, seus olhos encontrando os meus. A preocupação inesperada nos olhos dele me surpreendeu.— Carlos, pare de falar — murmurei, puxando-o novamente para mim.E foi exatamente isso que ele fez. Não havia mais palavras, apenas toques e olhares que diziam tudo. Ele me carregou para longe do balcão, seus movimentos decididos enquanto me conduzia até o sofá luxuoso ao lado. Suas mãos eram firmes, mas cuidadosas, como se cada toque fosse um estudo da minha pele. E eu me entreguei, deixando de lado as responsabilidades, as alianças, as traições. Por uma noite, eu era apenas Cristina, sem os pesos do meu
— Vejo que o CEO ainda não desistiu. Admirável.Heitor avançou um passo, o olhar endurecido.— Talvez você devesse aprender a respeitar os momentos alheios, Albuquerque.Carlos riu novamente, cruzando os braços.— Respeito? Isso é engraçado, vindo de alguém que parece não conhecer limites.A tensão entre os dois era palpável, e eu sabia que, se não interferisse, aquilo poderia explodir em algo muito pior.— Já chega! — cortei, minha voz firme o suficiente para silenciá-los. — Vocês dois estão agindo como garotos mimados, e isso não vai me levar a lugar algum.Olhei para Heitor, depois para Carlos, meu coração dividido entre a raiva e o cansaço.— Vocês querem jogar um contra o outro? Que joguem, mas não usem meu nome como peça no tabuleiro.Carlos estreitou os olhos, mas o sorriso desapareceu de seus lábios. Heitor apenas assentiu, com o maxilar travado. Sem dizer mais nada, virei-me e saí, deixando-os no corredor.Enquanto me afastava, só uma coisa ecoava na minha mente: no meu mundo