Carlos me ergueu, sentando-me sobre o balcão de mármore do bar. As garrafas e copos ao redor foram esquecidos. Suas mãos deslizaram pelas minhas coxas, subindo pela renda fina do meu vestido enquanto o tecido se tornava uma barreira insignificante. O som dos suspiros e da respiração pesada preencheu o espaço, misturando-se ao pulsar acelerado dos nossos corações.
— Você tem certeza? — Ele parou, seus olhos encontrando os meus. A preocupação inesperada nos olhos dele me surpreendeu.
— Carlos, pare de falar — murmurei, puxando-o novamente para mim.
E foi exatamente isso que ele fez. Não havia mais palavras, apenas toques e olhares que diziam tudo. Ele me carregou para longe do balcão, seus movimentos decididos enquanto me conduzia até o sofá luxuoso ao lado. Suas mãos eram firmes, mas cuidadosas, como se cada toque fosse um estudo da minha pele. E eu me entreguei, deixando de lado as responsabilidades, as alianças, as traições. Por uma noite, eu era apenas Cristina, sem os pesos do meu mundo.
Na manhã seguinte, o quarto estava banhado pela luz do sol que entrava pelas janelas altas. Acordei sentindo o peso do braço de Carlos ao redor da minha cintura. Por um instante, fiquei imóvel, deixando minha mente processar o que havia acontecido.
Não era arrependimento que eu sentia, mas sim uma nova onda de complicações. Ele acordou pouco depois, seus olhos castanhos encontrando os meus.
— Vai me expulsar agora? — ele perguntou, a voz rouca pelo sono.
— Ainda não decidi — respondi, com um leve sorriso.
Ele riu, rolando para o lado e apoiando a cabeça na mão.
— Se isso foi um erro, foi o melhor erro que já cometi.
Eu ri também, mas no fundo sabia que aquilo era apenas o começo de algo que poderia mudar tudo.
Levantei-me silenciosamente, deixando que o robe de seda me envolvesse, e caminhei até a janela. O palácio estava quieto, mas eu sabia que a calma nunca durava muito no meu mundo.
Ao me aproximar do corredor que levava ao escritório, ouvi o som de passos ritmados. Levantei o olhar e o vi: Heitor, encostado na parede, as mãos nos bolsos, como se estivesse esperando por mim. Seus olhos encontraram os meus imediatamente, e por um instante, o tempo pareceu parar.
— Cristina — ele começou, endireitando-se. Sua voz era suave, mas carregada de urgência.
Parei a poucos metros dele, cruzando os braços como uma barreira invisível.
— O que você ainda está fazendo aqui, Heitor? — perguntei, mantendo meu tom controlado.
Ele deu um passo em minha direção, mas parou ao perceber minha postura rígida.
— Precisamos conversar. Eu não posso sair daqui sem que você me escute.
Suspirei, sentindo o peso de sua presença.
— Fale.
Heitor respirou fundo, como se estivesse escolhendo cada palavra com cuidado.
— Eu cometi um erro, Cristina. Um erro que me atormenta desde o momento que aconteceu. Não vou tentar justificar nada, porque não há desculpas para trair sua confiança. Só posso dizer que eu... — Ele hesitou, seus olhos procurando os meus. — Eu não queria magoar você.
Suas palavras mexeram comigo de um jeito que eu não queria admitir. Heitor sempre foi impecavelmente racional, um estrategista nato. Vê-lo assim, vulnerável, era desconcertante.
— E o que você espera que eu faça com isso, Heitor? — perguntei, minha voz mais baixa, mas ainda firme. — Você espera que eu simplesmente esqueça?
— Não espero que você esqueça, mas espero que me dê uma chance de provar que isso não vai se repetir.
Antes que eu pudesse responder, ele deu mais um passo, reduzindo ainda mais a distância entre nós.
— Cristina, eu te admiro mais do que consigo expressar. Eu respeito quem você é, o que você construiu, e... — Ele fez uma pausa, inclinando-se ligeiramente. — Eu não quero perder isso. Não quero perder você.
As palavras pairaram no ar, carregadas de significados não ditos. Antes que eu pudesse processar, ele inclinou-se ainda mais, e de repente seus lábios estavam nos meus. O beijo foi intenso, uma mistura de arrependimento, desejo e súplica. Por um instante, cedi, esquecendo de tudo, de todos.
Mas o som de uma gargalhada baixa e sarcástica fez meus olhos se abrirem. Afastei-me de Heitor rapidamente, e ao virar, lá estava Carlos, parado no final do corredor, com aquele sorriso que eu conhecia bem: provocador, perigoso.
— Bom dia, princesa — disse ele, a voz carregada de ironia. — Parece que cheguei na hora errada.
Meus olhos se estreitaram, e dei um passo à frente, enfrentando Carlos.
— Você está no lugar errado, Carlos — retruquei, mantendo meu tom afiado.
Carlos ignorou minha resposta, seus olhos fixos em Heitor.
— Vejo que o CEO ainda não desistiu. Admirável.Heitor avançou um passo, o olhar endurecido.— Talvez você devesse aprender a respeitar os momentos alheios, Albuquerque.Carlos riu novamente, cruzando os braços.— Respeito? Isso é engraçado, vindo de alguém que parece não conhecer limites.A tensão entre os dois era palpável, e eu sabia que, se não interferisse, aquilo poderia explodir em algo muito pior.— Já chega! — cortei, minha voz firme o suficiente para silenciá-los. — Vocês dois estão agindo como garotos mimados, e isso não vai me levar a lugar algum.Olhei para Heitor, depois para Carlos, meu coração dividido entre a raiva e o cansaço.— Vocês querem jogar um contra o outro? Que joguem, mas não usem meu nome como peça no tabuleiro.Carlos estreitou os olhos, mas o sorriso desapareceu de seus lábios. Heitor apenas assentiu, com o maxilar travado. Sem dizer mais nada, virei-me e saí, deixando-os no corredor.Enquanto me afastava, só uma coisa ecoava na minha mente: no meu mundo
O empurrei com força, sentindo o calor do contato se dissipar rápido demais, mas deixando algo mais profundo – algo que eu não queria admitir – fervendo dentro de mim. Ele passou as mãos pela nuca, claramente frustrado, e depois ajeitou o cabelo, como se tentasse recuperar a compostura.— Você me deixa louco, Cristina — disse Heitor, sua voz grave ainda reverberando em minha mente. Seus olhos encontraram os meus, intensos e desafiadores. — Pense com carinho e me liga. Prometo ser fiel à nossa aliança, como o bom cachorro do Carlos...Ele deu um último olhar carregado de arrogância antes de se virar e sair pelo corredor. Aquele tom, aquela insinuação... Minha raiva explodiu como uma chama que parecia não ter fim.Andei de um lado para o outro no escritório, meu coração martelando no peito. Não era só o beijo. Era a audácia, a certeza de que ele acreditava que me tinha em suas mãos. A ideia me enojava e me fascinava ao mesmo tempo, o que apenas me deixava ainda mais furiosa.Caminhei at
— Cristina, aconteceu algo?Engoli em seco antes de responder.— Alejandro... Papá... Ele não está mais conosco.Do outro lado, ouvi um silêncio pesado, seguido pelo som de uma respiração longa e controlada.— Como assim?— Ele teve morte cerebral, Alejandro. O médico confirmou hoje cedo. É o fim.Houve um longo silêncio antes de ele responder, sua voz carregada de pesar.— Sinto muito, Criss. Gostaria de estar aí com você agora.— E precisa estar — respondi com firmeza. — A família precisa de nós mais do que nunca.Ele suspirou, e eu soube que ele já estava calculando os próximos passos.— Vou encerrar tudo aqui o mais rápido possível e volto para a Itália. Precisamos estar unidos para proteger o nome dos Mendez.— Obrigada, Alejandro. — Minha voz tremeu levemente, mas o apoio dele trouxe um conforto inesperado.Assim que desliguei, um alívio momentâneo tomou conta de mim. Mas a sensação durou pouco. Batidas firmes na porta me tiraram do transe. Era Carlos.Ele entrou com sua postura
Enquanto ajustava os últimos detalhes, uma batida firme na porta me chamou a atenção.— Entre — disse, sem desviar o olhar do espelho.Carlos entrou, tão impecável quanto sempre, vestindo um terno que parecia feito sob medida. Seus olhos avaliavam o ambiente antes de pousarem em mim. Havia algo no jeito como ele me olhava que me deixava em alerta, como se ele soubesse algo que eu ainda não sabia.— O que você quer, Carlos? — perguntei, impaciente.Ele se aproximou devagar, a expressão séria.— Não tenho muito tempo para rodeios, Cristina. Precisamos conversar.Cruzei os braços, esperando que ele explicasse.— O conselho está inquieto — ele começou, sua voz calma, mas carregada de seriedade. — Eles querem Alejandro no comando. Acham que você não está pronta.O impacto daquelas palavras me atingiu como um soco no estômago, mas mantive minha expressão neutra.— Alejandro está no México e já deixou claro que me apoia. O que mais eles precisam?Carlos suspirou, passando a mão pelos cabelos
Desliguei o telefone e fiquei olhando para o aparelho por alguns segundos, como se esperasse que ele voltasse a tocar e me dissesse que tudo aquilo era só um sonho. Mas não era.Antes que eu pudesse sair do quarto, uma batida na porta me tirou dos pensamentos. Quando a abri, encontrei Carlos parado ali, com sua expressão séria e determinada.— Cristina— ele disse, entrando no quarto sem esperar convite. — Preciso falar com você.Fechei a porta e o encarei, esperando que continuasse. Ele deu um passo à frente, os olhos fixos nos meus.— Sei que o momento é difícil, mas minha proposta continua de pé. Acho que você já percebeu que, se aceitarmos isso, todos vão entender que estamos unidos. Que ninguém pode nos derrubar.Ele fez uma pausa, aproximando-se ainda mais.— Quero me casar com você, Cristina. Não apenas pelo poder, mas porque confio em você. Nós dois podemos fazer isso funcionar.Fiquei em silêncio, sentindo uma mistura de emoções. Não sabia se queria gritar ou rir, mas uma cois
Entrei no escritório, fechei a porta com cuidado e travei a chave. Queria estar sozinha, nem que fosse por um breve momento, para poder processar o que estava acontecendo. Sentei-me na poltrona perto da janela, onde costumava ficar em momentos de pressão. Agora, porém, tudo parecia sem sentido. Meus pensamentos estavam uma bagunça, e o que antes parecia um lugar de controle e reflexão, agora era apenas um cenário de solidão e dor. Eu só queria chorar, sem as máscaras que me forçavam a usar diante dos outros. As lágrimas começaram a escorrer silenciosamente, e cada soluço parecia carregar o peso de toda a perda que eu ainda não conseguia compreender. Meu pai não estava mais ali. E com isso, algo dentro de mim se despedaçava.Mas, antes que eu pudesse me perder completamente naqueles sentimentos, ouvi as batidas na porta, impacientes e desesperadas. Heitor. Sempre ele, com sua mania de querer ter a palavra final em tudo. Ele não sabia o que estava acontecendo, não entendia a dor que eu
Quando a porta se fechou atrás dele, um silêncio pesado se instalou. Eu estava exausta, emocionalmente drenada, mas, ao mesmo tempo, aliviada por ter evitado o pior. Olhei para Carlos, que ainda mantinha a arma nas mãos, e, embora ele estivesse alheio à tensão do momento, percebi um leve sorriso de aprovação em seu rosto. Ele sempre soubera como proteger, até quando isso significava agir de forma extrema. E, naquele momento, isso me assustava. Mas eu sabia que, ao menos por enquanto, eu estava segura.Carlos se aproximou lentamente, sua presença preenchendo o espaço como uma sombra constante. Eu estava parada na porta do escritório, tentando recuperar o controle da tempestade que rugia dentro de mim. Ele se posicionou a poucos passos de distância, a intensidade em seus olhos denunciando o que viria a seguir.– Eu te disse que nossa aliança é importante – começou ele, sua voz baixa, mas firme. – Quero você ao meu lado, Cristina, e espero que futuramente sejamos mais que aliados.Respir
Antes que eu pudesse responder ou processar suas palavras, ele levantou-se e deixou o quarto, fechando a porta atrás de si.Enquanto as mulheres me ajudavam a me recompor, uma sensação inesperada de vulnerabilidade me invadiu. Era estranho permitir que alguém cuidasse de mim, mesmo que apenas por uma noite. Mas ali, naquele momento, não havia mais espaço para resistir.O banho quente trouxe um alívio momentâneo, e a comida que me trouxeram ajudou a acalmar meu estômago e minha mente. Enquanto me recostava na cama, com a exaustão me vencendo novamente, a última coisa que me veio à mente foram as palavras de Carlos.“Estou aqui.”Por mais que eu me recusasse a admitir, parte de mim queria acreditar nele.A noite avançava, e o casarão permanecia mergulhado em um silêncio quase absoluto. Por volta das duas da manhã, ouvi o som suave da porta se abrindo. Carlos entrou no quarto, com passos cuidadosos, como se não quisesse me acordar.Mas eu já estava meio desperta, sentindo uma mistura de