Ao descer do jipe, deixando Maximiliano carregar a cesta, Joana envolveu a mão dele com a sua, conduzindo-o até o galpão em que foi levada na visita que fez ao colono ferido. Com seus dedos envolvidos pela mão macia e pequena de Joana, Maximiliano se deixou levar pela área dos colonos, reparando superficialmente nos peões observando-os passar com curiosidade e receio. Focou nas construções degradadas pelo tempo, com portas improvisadas, nas poucas mulheres no local, com idade acima dos cinquenta e aparência cansada, nas crianças com barriga inchada e roupas puídas. A diferença do tempo que passeou ali com Nicolas era gritante. Lembrava-se de casas bem cuidadas, homens saudando com alegria, mulheres de várias idades e crianças brincando, correndo, todos felizes. A felicidade morreu com o antigo patrão. Declínio e pobreza estavam em seu lugar apesar da fortuna acumulada e das terras que os Orleans obtiveram sugando a vitalidade daquelas pessoas. Olhou para Joana, que não parecia perce
Sozinho com a família Santos, Maximiliano aproveitou a oportunidade que se apresentava a sua frente. — Maria, pegue suas coisas e se junte a minha noiva. Irá conosco para a cidade — contou para a jovem que pulou animada, até olhar preocupada para o irmão e o tio. — Meu irmão e meu tio podem vir comigo? Não tinha pensado no tio, que sempre se conformou com as ordens de Tarcísio, até ver o estado em que ele estava. Tinha medo que ele, não podendo trabalhar como os demais, fosse jogado na rua ou morto por Tarcísio. — Levarei seu tio também — Maximiliano decidiu para a tranquilidade da jovem. — Seu irmão recebeu uma proposta de Adriano Orleans, por isso quero falar com ele a respeito disso, para que decida o melhor a fazer. Torcendo para o irmão seguir com eles para a cidade, Maria não necessitou juntar nada dela, recolheu apenas uns poucos itens de seu tio e o guiou devagar para fora do galpão. Gabriel se ajeitou na cama, o estrado rangendo e o móvel enferrujado sacolejando, aparent
No bar Crista do Mar, fechado com somente seus amigos, Maria e Ulisses Santos, Maximiliano conversava sobre o que seria feito dali em diante. Alinharam que os Santos e Margô ocupariam um quarto no piso superior, que Cristiano costumava alugar, pelo menos enquanto Maria não decidisse como usaria o dinheiro que receberia do Gonzalez. A jovem também se ofereceu para trabalhar na limpeza do local, depois de fechado por não quer ficar entre os bêbados. Iniciando sua intenção de modernizar a comunicação do grupo, Maximiliano entregou a Beto a função de conseguir celulares para todos, incluindo Gabriel, e procurar meios para conseguirem se comunicar em alto-mar. O grupo, embora surpreso na inclusão de Gabriel aos planos e na falta de motivos para isso, permaneceram calados, sabendo que não adiantaria pedir explicações do Gonzalez. Ele revelava apenas o que queria e quando queria. Os Santos e Margô subiram para ajeitar o quarto, enquanto os demais juntaram duas mesas, pegaram cervejas e sa
— Não. E nem deve saber — Maximiliano complementou lançando ao grupo um olhar afiado, um aviso para manter segredo. — Ela não entenderia e colocaria em risco meu plano. Beto esfregou a mão na nuca, o pedido – ordem – de Maximiliano dando voltas em sua cabeça. Ocultar algo tão grave de uma namorada, noiva, já era difícil, pior seria de uma esposa. Do grupo era o que mais ouviu sobre a intenção antiga do Gonzalez em obter justiça pela família, embora acreditasse que a tal vingança se limitaria a impor a presença dentro da família Orleans através do casamento com a garota Savoia, incialmente uma e depois a outra quando a primeira não cumpriu a palavra. Nunca imaginou que Maximiliano, conhecido por contrabando e diversos crimes, pretendia envolver a polícia. — Conte para ela sobre o que fizeram com seus pais — recomendou. — Não tenho provas para mostrar e, mesmo que tivesse, Joana nunca aceita as críticas que faço sobre os Orleans — retrucou com amargor. — Por isso, o que revelei aqui
Gabriel Santos observava cada detalhe da casa luxuosa com fascinação e curiosidade enquanto era escoltado pela casa dos Orleans em Sanmarino. Era sua primeira excursão na casa grande, tornando aquele momento ainda mais intrigante e pavoroso quando pensava no que teria de fazer. O empregado, o mesmo que o buscou na fazenda de manhã, abriu uma porta e indicou que entrasse, fechando-a após a passagem do Santos. Olhou cauteloso para o sorridente homem sentado atrás da escrivaninha. Só via o patrão, Adriano Orleans, de relance pela fazenda, sempre ao lado de Tarcísio ou da mãe. Os Orleans falavam apenas o necessário com os peões ou com os colonos, e nunca precisaram falar com ele até aquele dia. — Como vai...?! — Gabriel Santos, senhor — apresentou-se ao perceber - sem a menor surpresa - que o outro desconhecia seu nome. — Estou bem, senhor — respondeu apenas por educação, duvidava que ele quisesse realmente saber que estava todo dolorido, com o braço deslocado por causa dos abusos do c
Sem encontrar a paz para suas aflições nas orações, Joana ainda teve de lidar com esbarrar nos pais ao sair da igreja. — Ah, a pequena burra da família! — Iago bradou fazendo as poucas pessoas no local olharem para eles. — A desonra da minha casa! — Iago, por favor! — Carmem murmurou olhando tensa a sua volta. Por algum motivo desconhecido o marido, que sempre evitou a igreja, naquele dia, após quase quebrar a casa toda, saiu apressado dizendo que lavaria os pecados da família. Carmem não fazia ideia do que isso significava, mas com medo do que aconteceria o seguiu para fora de casa e atravessou correndo os poucos metros até o local logo atrás dele. Ao notar Joana andando devagar para fora da igreja supôs que o marido viu a filha pela janela, de onde tinham uma vista perfeita do interior da igreja, e isso motivou o estranho desejo. — Sabia que encontraria essa perdida aqui. Percebendo que o pai estava ébrio demais para lembrar um trecho de oração, Joana imaginou que ele não estav
Segurando a raiva contra as pessoas que não fizeram nada para impedir Iago de agredir Joana, se limitando a perversamente registrar o horror que ela passou dentro da casa do Deus que eles tanto louvavam, Maximiliano dirigiu de volta a sua cabana. O caminho pedregoso foi feito com cuidado, pois a cada solavanco Joana se contorcia de dor, e a raiva dele subia um nível. Devia ter espancado o sogro, devolver com os punhos as feridas que via avermelharem a pele alva dos braços dela, pensava cerrando as mãos em volta do volante. Parando próximo a porta, deu a volta e pegou Joana em seus braços. Perturbado, com ela encolhida contra seu peito, o choro contido causando tremores e soluços, pegou no bolso a cópia da entrada que pegou com Baltasar, por ter entregado a original para ela mais cedo. Seguiu até o quarto, pousando-a com cuidado na cama. Antes que pudesse se afastar, Joana segurou sua mão. — Fique aqui comigo... por favor...! Em silêncio, deitou ao lado dela, estreitando-a em seus
Sentado confortavelmente em sua poltrona, Adriano explicou o motivo de sua decisão, cada palavra carregada de austeridade e reprimenda pelas escolhas equivocadas do capataz e antigo administrador. — Como sabe, as sentenças dos réus amigos de Maximiliano não estavam completas, não tinham as condenações e nem acréscimo de que poderiam diminuir a pena trabalhando aqui — Adriano disse, ao que Tarcísio soltou repetidas desculpas e endereçou a culpa a ineficiência da polícia. — Não importa de quem é a culpa — cortou a ladainha de justificativas vazias. — O cargo de administrador exige a revisão de documento por documento, ter certeza da legalidade, antes de aceitar qualquer acordo. Tarcísio se encolheu diante da bronca, sua humilhação sendo maior por ter um desafeto ouvindo tudo de camarote. — Tivemos sorte que, segundo Donato captou com o oficial Queiroz, as sentenças foram destruídas em um incêndio. Dessa forma não existe como provar se as acusações eram verdadeiras ou não — Adriano ind