Segurando a raiva contra as pessoas que não fizeram nada para impedir Iago de agredir Joana, se limitando a perversamente registrar o horror que ela passou dentro da casa do Deus que eles tanto louvavam, Maximiliano dirigiu de volta a sua cabana. O caminho pedregoso foi feito com cuidado, pois a cada solavanco Joana se contorcia de dor, e a raiva dele subia um nível. Devia ter espancado o sogro, devolver com os punhos as feridas que via avermelharem a pele alva dos braços dela, pensava cerrando as mãos em volta do volante. Parando próximo a porta, deu a volta e pegou Joana em seus braços. Perturbado, com ela encolhida contra seu peito, o choro contido causando tremores e soluços, pegou no bolso a cópia da entrada que pegou com Baltasar, por ter entregado a original para ela mais cedo. Seguiu até o quarto, pousando-a com cuidado na cama. Antes que pudesse se afastar, Joana segurou sua mão. — Fique aqui comigo... por favor...! Em silêncio, deitou ao lado dela, estreitando-a em seus
Sentado confortavelmente em sua poltrona, Adriano explicou o motivo de sua decisão, cada palavra carregada de austeridade e reprimenda pelas escolhas equivocadas do capataz e antigo administrador. — Como sabe, as sentenças dos réus amigos de Maximiliano não estavam completas, não tinham as condenações e nem acréscimo de que poderiam diminuir a pena trabalhando aqui — Adriano disse, ao que Tarcísio soltou repetidas desculpas e endereçou a culpa a ineficiência da polícia. — Não importa de quem é a culpa — cortou a ladainha de justificativas vazias. — O cargo de administrador exige a revisão de documento por documento, ter certeza da legalidade, antes de aceitar qualquer acordo. Tarcísio se encolheu diante da bronca, sua humilhação sendo maior por ter um desafeto ouvindo tudo de camarote. — Tivemos sorte que, segundo Donato captou com o oficial Queiroz, as sentenças foram destruídas em um incêndio. Dessa forma não existe como provar se as acusações eram verdadeiras ou não — Adriano ind
Sentada na cama, deslizando o polegar por um hematoma arroxeado no antebraço que usou para proteger o rosto, Joana engolia a humilhação de ter toda cidade vendo seu pai ofender e bater nela dentro da igreja. Maximiliano estava se despedindo dos amigos, que partiam depois dela garantir – mentir - que estava bem. Eles tinham sido gentis, oferecido desde palavras de consolo, a retaliação a qualquer um que ousasse chama-la de mulher do diabo como estava na legenda do vídeo. Retornando ao quarto, aflito e incerto com a melhor forma de consolar a noiva, Maximiliano sentou na cama e a puxou mansamente para seu colo, embalando a jovem devagar, os dedos deslizando por seu cabelo. Seu corpo não queria se desprender do dela, da maciez do cabelo longo, do cheiro suave e do calor feminino. Desejava sentir novamente a doçura dos lábios de sua noiva, provar cada curva com sua boca. Mas se controlava por causa da culpa. Culpa pelo que escondia dela. Culpa pelo descontrole do pai dela que proporcion
Na fazenda, Adriano tinha sua família reunida no jantar, um motivo a se comemorar. E por alguns minutos foi isso que fez, conversando animadamente com sua mãe, sua esposa e com Bruno, que decidiu permanecer na fazenda por mais alguns dias. Porém, logo o clima de paz se quebrou quando a conversa abordou a briga entre Iago e Joana, seguido do anúncio de Dalila que visitaria seus pais em Sanmarino para ajudá-los. Mesmo sem verbalizar uma palavra, Adriano notou que sua mãe desaprovava a visita. A notícia também não caiu bem para Bruno, que questionou imediatamente ressentido por ter perdido suas chances com Joana para um homem de reputação duvidosa: — Se não gosta de seu futuro cunhado, porque vai? — Por meus pais — Dalila respondeu, evitando olhar na direção da sogra ao acrescentar desdenhosa: — Ficou claro pelo vídeo que meu pai está no limite por ter que se rebaixar para receber um contrabandista na família. E minha pobre mãe, mesmo contrariada, será obrigada a ajudar Joana caso o ca
O cantarolar dos pássaros invadia cada canto da cabana do Gonzalez, aumentando a felicidade de Joana, acompanhando baixinho a sinfonia da manhã. Um sorriso apaixonado irradiou por seu rosto, assim como uma coloração suave o fez em suas bochechas ao relembrar a noite anterior e como foi maravilhoso acordar ao lado de Maximiliano sem a barreira da dúvida. Como de costume acordou cedo e, com alegria impregnada em sua pele, aproveitou que o ele não despertou para apreciar sua beleza, os lábios que devastavam seu corpo e alma, os macios fios escuros espalhados no travesseiro, à pele cálida em contato com a sua. Sem se atrever a toca-lo, por medo de desperta-lo, levantou com cuidado e se arrumou, evitando qualquer mínimo ruído para não o incomodar, antes de se encaminhar para fora do quarto. Na pequena cozinha, preparava o café manhã deles, com poucos itens porque os armários e a geladeira estavam quase vazios. Com tanto tempo no mar e os dias em Recanto Dourado, a falta de mantimentos e
As suspeitas de que os amigos não ligavam a mínima para sua alimentação confirmou-se em poucos minutos, quando Baltasar largou um pacote pequeno de salgadinhos industrializados e gordurosos em sua mão. Como abelhas em volta de uma flor, os três cercaram Joana perguntando se amanheceu melhor, se precisava de algo e logo seguiam com ela para a cozinha para devorar o café da manhã feito para ele. Não ligaria para as demonstrações de afeição deles por Joana, se a cada torrada degustada um deles não soltasse propostas de casamento para sua noiva, concluiu cruzando os braços e encarando Baltasar atravessado ao ouvi-lo murmurar maravilhado. — Você é uma pequena fada que transforma tudo em uma delícia — disse fazendo Joana corar de alegria. — Se Maximiliano desistir do casamento, posso substitui-lo? — Chega de substituições — Maximiliano urrou laçando o braço nos ombros da noiva sentada ao seu lado. — Fora acabar com meu café da manhã, o que mais querem tão cedo na minha casa? — “E com a m
Em Recanto Dourado Adriano surpreendia-se com o repentino clima de discórdia entre sua mãe e sua esposa. Ainda indignada por ele aprovar a ida de Dalila para Sanmarino, logo pela manhã sua mãe se negou a compartilhar o café da manhã na sala de jantar com ele e a esposa. Confuso com o comportamento dela, Adriano procurou convencer Kassandra a descer pelo menos para se despedir de Dalila que partiria em alguns minutos. Furiosa, a viúva novamente se negou, colocando para fora todo seu desagrado com a atitude do filho em relação à esposa. — É irresponsável em deixar Dalila fazer tudo que deseja. O lugar dela é ao seu lado, não resolvendo os problemas da irmã — comandou de cabeça erguida e sem arrependimento. — Dalila está preocupada com os pais, é com razão — justificou. — Sei que a ama, mas não pode permitir que Dalila o manipule ao seu bel-prazer — Kassandra alertou, querendo que Adriano percebesse que cometia um enorme erro fazendo todas as vontades da esposa. — Estão casados há po
Acrescentando mais um problema na pilha que crescia desde que Maximiliano apareceu em sua fazenda, Kassandra recebeu um irritado Tarcísio. Tinha escapado da conversa na noite anterior, pelo tardar da hora, mas não podia se esquivar por muito tempo então permitiu a passagem do capataz, e ex-administrador de Recanto Dourado, em sua saleta. Sentada confortavelmente atrás de sua escrivaninha, deixou Tarcísio extravasar, narrar como era injusto, sobre sua dedicação e teria permanecido assim até ouvir em um tom de ameaça: — Patroa, sempre fui fiel como um cão. Jamais disse nada das coisas que fiz a seu pedido. — Abaixou-se até a mulher sentada, as mãos espalmadas sobre o tampo de vidro que os separava e, sinistro, deixou cair suas palavras. — Nunca contei nem pro seu filho sobre o incidente antes da morte do senhor Nicolas. Kassandra se ergueu de imediato, sua costumeira expressão indiferente às dores e anseios dos demais sumindo. Em seu lugar rugas se destacaram em volta dos olhos azulad