Em Recanto Dourado Adriano surpreendia-se com o repentino clima de discórdia entre sua mãe e sua esposa. Ainda indignada por ele aprovar a ida de Dalila para Sanmarino, logo pela manhã sua mãe se negou a compartilhar o café da manhã na sala de jantar com ele e a esposa. Confuso com o comportamento dela, Adriano procurou convencer Kassandra a descer pelo menos para se despedir de Dalila que partiria em alguns minutos. Furiosa, a viúva novamente se negou, colocando para fora todo seu desagrado com a atitude do filho em relação à esposa. — É irresponsável em deixar Dalila fazer tudo que deseja. O lugar dela é ao seu lado, não resolvendo os problemas da irmã — comandou de cabeça erguida e sem arrependimento. — Dalila está preocupada com os pais, é com razão — justificou. — Sei que a ama, mas não pode permitir que Dalila o manipule ao seu bel-prazer — Kassandra alertou, querendo que Adriano percebesse que cometia um enorme erro fazendo todas as vontades da esposa. — Estão casados há po
Acrescentando mais um problema na pilha que crescia desde que Maximiliano apareceu em sua fazenda, Kassandra recebeu um irritado Tarcísio. Tinha escapado da conversa na noite anterior, pelo tardar da hora, mas não podia se esquivar por muito tempo então permitiu a passagem do capataz, e ex-administrador de Recanto Dourado, em sua saleta. Sentada confortavelmente atrás de sua escrivaninha, deixou Tarcísio extravasar, narrar como era injusto, sobre sua dedicação e teria permanecido assim até ouvir em um tom de ameaça: — Patroa, sempre fui fiel como um cão. Jamais disse nada das coisas que fiz a seu pedido. — Abaixou-se até a mulher sentada, as mãos espalmadas sobre o tampo de vidro que os separava e, sinistro, deixou cair suas palavras. — Nunca contei nem pro seu filho sobre o incidente antes da morte do senhor Nicolas. Kassandra se ergueu de imediato, sua costumeira expressão indiferente às dores e anseios dos demais sumindo. Em seu lugar rugas se destacaram em volta dos olhos azulad
Sendo recepcionada por Paula, Joana não estranhou que sua mãe estivesse reclusa em seu quarto. Era algo que sempre ocorria quando seus pais brigavam. Sua mãe passava horas enterrada no quarto e seu pai virava a noite no trabalho. Encontrar sua mãe encolhida embaixo das cobertas, no escuro, mergulhada em tristeza costumava afetá-la, entristecia, pois acreditava que seus pais se amavam e as brigas poluíam o relacionamento deles. No entanto, isso foi antes de descobrir a vida dupla de Iago Savoia. E, naquele dia, deduziu que ele não virou a noite no trabalho, pois uma funcionária dele ligou instantes após sua chegada e Carmem mandou dizer que não sabia em que lugar o marido estava. Respeitava seu pai, mas não o achava merecedor do amor e respeito de sua mãe. — Mamãe, não fique assim — pediu se sentando ao lado de Carmem, os dedos deslizando pelo cabelo acobreado dela. — Papai não merece que sofra dessa forma. Ele causou o problema, perdendo dinheiro em jogos, bebidas e... — Titubeou,
Como prometido para Dalila, pela manhã Adriano a levou para a casa dos Savoia. Ao estacionar, comprometendo-se a visitá-la todos os dias. — Lamento não poder ficar, mas com a colheita tão próxima e sem um administrador preciso me atentar aos serviços na fazenda. — Sem problema, meu amor. — Manipuladora, fingiu pesar por se afastar dele. — Só estou aqui para ajudar meus pais nesse momento delicado, mas contarei os dias para retornar ao seu lado. Se pudesse fazer Joana desistir dessa loucura... — Acho que devemos nos conformar — disse levando Dalila a se enojar com a falta de empenho do marido em ajudá-la a acabar com a futura união. — Estive pensando em tudo o que aconteceu e creio que minha mãe tem razão. Eles se amam e estamos sendo injustos e egoístas ficando contra — Adriano sentenciou sentindo-se mal pela forma que tratou o antigo amigo desde que soube do envolvimento dele com Joana. Dalila, com raiva da nobreza de seu marido, afirmou desdenhosa: — Ele sempre será um contraban
— O que faz aqui, Dalila? — Carmem insistiu, ignorando a resposta indignada da filha, pois outra coisa a preocupava. — Adriano descobriu sobre Maximiliano e você? Dalila a encarou com descrença. — Vim porque pensei que estaria deprimida depois da vergonha que Joana fez você e o papai passarem ontem, e que gravaram para toda cidade ver. — Dalila lançou a Joana um olhar contrariado. — Se soubesse que a recepção seria tão fria, teria poupado meu tempo. Sem compreender a raiva presente na voz de Dalila e sua presença na casa, interrogante, Carmem aguardou que Joana tivesse uma explicação. — Não creio em seus sentimentos nobres — Joana disse e sem poupar as palavras sentenciou: — Se veio atormentar e fazer intriga contra o meu casamento, melhor dar meia volta. — Por Deus, vocês são irmãs, devem se amar e não brigarem toda vez que se encontram — Carmem reclamou. — Mamãe está certa, Joana! Vim aqui justamente para fazermos as pazes e pedir para que esqueça esse absurdo compromisso — Dal
Da janela de seu quarto, Kassandra observando o filho dando ordens aos peões. Agora que não contava com um administrador na fazenda, Adriano havia absorvido todas as funções de comando. Por um lado, Kassandra achava esse maior envolvimento do filho nos negócios da fazenda bom. Assim descobria que a fazenda precisava de pulso firme para ser mantida em ordem e dando lucro. Por outro, foi justamente esse fato que deu a Dalila liberdade para passar alguns dias em Sanmarino sem o marido. A cada dia odiava ainda mais a nora, sua perversa artimanha de colocar a mão na fortuna dos Orleans. Tudo teria sido perfeito se Adriano houvesse seguido seu plano, casado com Joana, que foi criada para beijar o chão em que ele pisava, lamentou recordando todo seu empenho em conseguir a esposa perfeita. E toda sua desgraça era culpa dos Gonzalez. Pai, mãe e filho, todos que carregavam aquele sobrenome maldito era a ruína de sua vida. Primeiro foi o pai: Fabiano Gonzalez. Fabiano foi seu primeiro amor
O almoço na casa dos Savoia acabou acontecendo somente com Carmem e Dalila. Iago não apareceu, para desgosto da esposa, que durante toda a silenciosa refeição tentou ocultar o fato. Empolgada que o pedido feito à empregada da casa, aguardou Paula voltar do próprio almoço para saber a resposta de Maximiliano ao seu pedido. Precisava falar com ele pessoalmente, mas com sua irmã morando com ele seria impossível encontra-lo na cabana. Também estava ansiosa pelo retorno de seu pai, tinha algumas ideias em que ele poderia ajudá-la a anular o futuro casamento, mas precisava dele sóbrio, o que possivelmente não aconteceria naquele dia. Retirando-se para seu quarto, aguardou impaciente o retorno da empregada, andando de um lado para o outro por longos minutos antes de Paula entrar afoita em seu dormitório. — O viu? — Não. Ele abandonou o porto mais cedo. Parece que foi se encontrar com Donato — informou para decepção da Dalila. — Por causa disso não consegui entregar o bilhete. — Paula ret
Juntando-se a Maximiliano para fazer compras para casa, depois de colocar tudo no jipe, Joana permaneceu com um sorriso amplo e o braço entrelaçado ao dele, aproveitando o fim de tarde para passearem pela praça da cidade. Com a mão dele acariciando de leve a sua, Joana sentia-se nas nuvens, mal conseguindo parar de olhar abobalhada para o homem ao seu lado, apreciando a forma como os fios negros se revoltavam contra o vento, deliciando-se com a carícia suave no dorso de sua mão. Tão lindo, tão viril, tão seu. Em poucas horas Maximiliano mostrou-se uma miríade de surpresas. Podia jurar, pela forma que ele a estreitava um pouco mais contra si, que seu noivo não gostava da maioria das pessoas que pararam para cumprimenta-los, mesmo assim foi cortês. Não chegava a sorrir ou falar amenidades, como era o esperado pelas pessoas que os abordava, mas trocou algumas palavras com cada uma delas e até fingiu interesse no que diziam antes de pedir licença para continuarem a andar. De sua parte,