Após o café da manhã, antes de sair em busca de Maximiliano, Joana foi até a cozinha da mansão e pediu a cozinheira e seus ajudantes pães, frutas e uma garrafinha do suco feito naquela manhã. Arrumou todos os itens em uma cesta, incluindo itens básicos de primeiros socorros e medicamentos que arranjou com outro empregado da mansão. Maximiliano deu uma olhada rápida para a enorme cesta, mas não disse uma palavra sobre, simplesmente pegou o objeto pesado e se encaminhou para o jipe com Joana ao seu lado. — Joana! Maximiliano! Esperem! Joana virou-se, estranhando ver seu cunhado andando apressado até eles. Supôs que nenhum dos Orleans, incluindo sua irmã, se despediria deles. Ficou tensa quando Adriano a estreitou em um abraço, algo que não fazia desde o fim do relacionamento deles. Olhando para o lado, notou a irritação subir ao rosto de Maximiliano. — Apesar das nossas diferenças nos últimos dias, espero novas visitas suas antes da festa de noivado — incentivou o Orleans. Largando
Ao descer do jipe, deixando Maximiliano carregar a cesta, Joana envolveu a mão dele com a sua, conduzindo-o até o galpão em que foi levada na visita que fez ao colono ferido. Com seus dedos envolvidos pela mão macia e pequena de Joana, Maximiliano se deixou levar pela área dos colonos, reparando superficialmente nos peões observando-os passar com curiosidade e receio. Focou nas construções degradadas pelo tempo, com portas improvisadas, nas poucas mulheres no local, com idade acima dos cinquenta e aparência cansada, nas crianças com barriga inchada e roupas puídas. A diferença do tempo que passeou ali com Nicolas era gritante. Lembrava-se de casas bem cuidadas, homens saudando com alegria, mulheres de várias idades e crianças brincando, correndo, todos felizes. A felicidade morreu com o antigo patrão. Declínio e pobreza estavam em seu lugar apesar da fortuna acumulada e das terras que os Orleans obtiveram sugando a vitalidade daquelas pessoas. Olhou para Joana, que não parecia perce
Sozinho com a família Santos, Maximiliano aproveitou a oportunidade que se apresentava a sua frente. — Maria, pegue suas coisas e se junte a minha noiva. Irá conosco para a cidade — contou para a jovem que pulou animada, até olhar preocupada para o irmão e o tio. — Meu irmão e meu tio podem vir comigo? Não tinha pensado no tio, que sempre se conformou com as ordens de Tarcísio, até ver o estado em que ele estava. Tinha medo que ele, não podendo trabalhar como os demais, fosse jogado na rua ou morto por Tarcísio. — Levarei seu tio também — Maximiliano decidiu para a tranquilidade da jovem. — Seu irmão recebeu uma proposta de Adriano Orleans, por isso quero falar com ele a respeito disso, para que decida o melhor a fazer. Torcendo para o irmão seguir com eles para a cidade, Maria não necessitou juntar nada dela, recolheu apenas uns poucos itens de seu tio e o guiou devagar para fora do galpão. Gabriel se ajeitou na cama, o estrado rangendo e o móvel enferrujado sacolejando, aparent
No bar Crista do Mar, fechado com somente seus amigos, Maria e Ulisses Santos, Maximiliano conversava sobre o que seria feito dali em diante. Alinharam que os Santos e Margô ocupariam um quarto no piso superior, que Cristiano costumava alugar, pelo menos enquanto Maria não decidisse como usaria o dinheiro que receberia do Gonzalez. A jovem também se ofereceu para trabalhar na limpeza do local, depois de fechado por não quer ficar entre os bêbados. Iniciando sua intenção de modernizar a comunicação do grupo, Maximiliano entregou a Beto a função de conseguir celulares para todos, incluindo Gabriel, e procurar meios para conseguirem se comunicar em alto-mar. O grupo, embora surpreso na inclusão de Gabriel aos planos e na falta de motivos para isso, permaneceram calados, sabendo que não adiantaria pedir explicações do Gonzalez. Ele revelava apenas o que queria e quando queria. Os Santos e Margô subiram para ajeitar o quarto, enquanto os demais juntaram duas mesas, pegaram cervejas e sa
— Não. E nem deve saber — Maximiliano complementou lançando ao grupo um olhar afiado, um aviso para manter segredo. — Ela não entenderia e colocaria em risco meu plano. Beto esfregou a mão na nuca, o pedido – ordem – de Maximiliano dando voltas em sua cabeça. Ocultar algo tão grave de uma namorada, noiva, já era difícil, pior seria de uma esposa. Do grupo era o que mais ouviu sobre a intenção antiga do Gonzalez em obter justiça pela família, embora acreditasse que a tal vingança se limitaria a impor a presença dentro da família Orleans através do casamento com a garota Savoia, incialmente uma e depois a outra quando a primeira não cumpriu a palavra. Nunca imaginou que Maximiliano, conhecido por contrabando e diversos crimes, pretendia envolver a polícia. — Conte para ela sobre o que fizeram com seus pais — recomendou. — Não tenho provas para mostrar e, mesmo que tivesse, Joana nunca aceita as críticas que faço sobre os Orleans — retrucou com amargor. — Por isso, o que revelei aqui
Gabriel Santos observava cada detalhe da casa luxuosa com fascinação e curiosidade enquanto era escoltado pela casa dos Orleans em Sanmarino. Era sua primeira excursão na casa grande, tornando aquele momento ainda mais intrigante e pavoroso quando pensava no que teria de fazer. O empregado, o mesmo que o buscou na fazenda de manhã, abriu uma porta e indicou que entrasse, fechando-a após a passagem do Santos. Olhou cauteloso para o sorridente homem sentado atrás da escrivaninha. Só via o patrão, Adriano Orleans, de relance pela fazenda, sempre ao lado de Tarcísio ou da mãe. Os Orleans falavam apenas o necessário com os peões ou com os colonos, e nunca precisaram falar com ele até aquele dia. — Como vai...?! — Gabriel Santos, senhor — apresentou-se ao perceber - sem a menor surpresa - que o outro desconhecia seu nome. — Estou bem, senhor — respondeu apenas por educação, duvidava que ele quisesse realmente saber que estava todo dolorido, com o braço deslocado por causa dos abusos do c
Sem encontrar a paz para suas aflições nas orações, Joana ainda teve de lidar com esbarrar nos pais ao sair da igreja. — Ah, a pequena burra da família! — Iago bradou fazendo as poucas pessoas no local olharem para eles. — A desonra da minha casa! — Iago, por favor! — Carmem murmurou olhando tensa a sua volta. Por algum motivo desconhecido o marido, que sempre evitou a igreja, naquele dia, após quase quebrar a casa toda, saiu apressado dizendo que lavaria os pecados da família. Carmem não fazia ideia do que isso significava, mas com medo do que aconteceria o seguiu para fora de casa e atravessou correndo os poucos metros até o local logo atrás dele. Ao notar Joana andando devagar para fora da igreja supôs que o marido viu a filha pela janela, de onde tinham uma vista perfeita do interior da igreja, e isso motivou o estranho desejo. — Sabia que encontraria essa perdida aqui. Percebendo que o pai estava ébrio demais para lembrar um trecho de oração, Joana imaginou que ele não estav
Segurando a raiva contra as pessoas que não fizeram nada para impedir Iago de agredir Joana, se limitando a perversamente registrar o horror que ela passou dentro da casa do Deus que eles tanto louvavam, Maximiliano dirigiu de volta a sua cabana. O caminho pedregoso foi feito com cuidado, pois a cada solavanco Joana se contorcia de dor, e a raiva dele subia um nível. Devia ter espancado o sogro, devolver com os punhos as feridas que via avermelharem a pele alva dos braços dela, pensava cerrando as mãos em volta do volante. Parando próximo a porta, deu a volta e pegou Joana em seus braços. Perturbado, com ela encolhida contra seu peito, o choro contido causando tremores e soluços, pegou no bolso a cópia da entrada que pegou com Baltasar, por ter entregado a original para ela mais cedo. Seguiu até o quarto, pousando-a com cuidado na cama. Antes que pudesse se afastar, Joana segurou sua mão. — Fique aqui comigo... por favor...! Em silêncio, deitou ao lado dela, estreitando-a em seus