Gabriel Santos observava cada detalhe da casa luxuosa com fascinação e curiosidade enquanto era escoltado pela casa dos Orleans em Sanmarino. Era sua primeira excursão na casa grande, tornando aquele momento ainda mais intrigante e pavoroso quando pensava no que teria de fazer. O empregado, o mesmo que o buscou na fazenda de manhã, abriu uma porta e indicou que entrasse, fechando-a após a passagem do Santos. Olhou cauteloso para o sorridente homem sentado atrás da escrivaninha. Só via o patrão, Adriano Orleans, de relance pela fazenda, sempre ao lado de Tarcísio ou da mãe. Os Orleans falavam apenas o necessário com os peões ou com os colonos, e nunca precisaram falar com ele até aquele dia. — Como vai...?! — Gabriel Santos, senhor — apresentou-se ao perceber - sem a menor surpresa - que o outro desconhecia seu nome. — Estou bem, senhor — respondeu apenas por educação, duvidava que ele quisesse realmente saber que estava todo dolorido, com o braço deslocado por causa dos abusos do c
Sem encontrar a paz para suas aflições nas orações, Joana ainda teve de lidar com esbarrar nos pais ao sair da igreja. — Ah, a pequena burra da família! — Iago bradou fazendo as poucas pessoas no local olharem para eles. — A desonra da minha casa! — Iago, por favor! — Carmem murmurou olhando tensa a sua volta. Por algum motivo desconhecido o marido, que sempre evitou a igreja, naquele dia, após quase quebrar a casa toda, saiu apressado dizendo que lavaria os pecados da família. Carmem não fazia ideia do que isso significava, mas com medo do que aconteceria o seguiu para fora de casa e atravessou correndo os poucos metros até o local logo atrás dele. Ao notar Joana andando devagar para fora da igreja supôs que o marido viu a filha pela janela, de onde tinham uma vista perfeita do interior da igreja, e isso motivou o estranho desejo. — Sabia que encontraria essa perdida aqui. Percebendo que o pai estava ébrio demais para lembrar um trecho de oração, Joana imaginou que ele não estav
Segurando a raiva contra as pessoas que não fizeram nada para impedir Iago de agredir Joana, se limitando a perversamente registrar o horror que ela passou dentro da casa do Deus que eles tanto louvavam, Maximiliano dirigiu de volta a sua cabana. O caminho pedregoso foi feito com cuidado, pois a cada solavanco Joana se contorcia de dor, e a raiva dele subia um nível. Devia ter espancado o sogro, devolver com os punhos as feridas que via avermelharem a pele alva dos braços dela, pensava cerrando as mãos em volta do volante. Parando próximo a porta, deu a volta e pegou Joana em seus braços. Perturbado, com ela encolhida contra seu peito, o choro contido causando tremores e soluços, pegou no bolso a cópia da entrada que pegou com Baltasar, por ter entregado a original para ela mais cedo. Seguiu até o quarto, pousando-a com cuidado na cama. Antes que pudesse se afastar, Joana segurou sua mão. — Fique aqui comigo... por favor...! Em silêncio, deitou ao lado dela, estreitando-a em seus
Sentado confortavelmente em sua poltrona, Adriano explicou o motivo de sua decisão, cada palavra carregada de austeridade e reprimenda pelas escolhas equivocadas do capataz e antigo administrador. — Como sabe, as sentenças dos réus amigos de Maximiliano não estavam completas, não tinham as condenações e nem acréscimo de que poderiam diminuir a pena trabalhando aqui — Adriano disse, ao que Tarcísio soltou repetidas desculpas e endereçou a culpa a ineficiência da polícia. — Não importa de quem é a culpa — cortou a ladainha de justificativas vazias. — O cargo de administrador exige a revisão de documento por documento, ter certeza da legalidade, antes de aceitar qualquer acordo. Tarcísio se encolheu diante da bronca, sua humilhação sendo maior por ter um desafeto ouvindo tudo de camarote. — Tivemos sorte que, segundo Donato captou com o oficial Queiroz, as sentenças foram destruídas em um incêndio. Dessa forma não existe como provar se as acusações eram verdadeiras ou não — Adriano ind
Sentada na cama, deslizando o polegar por um hematoma arroxeado no antebraço que usou para proteger o rosto, Joana engolia a humilhação de ter toda cidade vendo seu pai ofender e bater nela dentro da igreja. Maximiliano estava se despedindo dos amigos, que partiam depois dela garantir – mentir - que estava bem. Eles tinham sido gentis, oferecido desde palavras de consolo, a retaliação a qualquer um que ousasse chama-la de mulher do diabo como estava na legenda do vídeo. Retornando ao quarto, aflito e incerto com a melhor forma de consolar a noiva, Maximiliano sentou na cama e a puxou mansamente para seu colo, embalando a jovem devagar, os dedos deslizando por seu cabelo. Seu corpo não queria se desprender do dela, da maciez do cabelo longo, do cheiro suave e do calor feminino. Desejava sentir novamente a doçura dos lábios de sua noiva, provar cada curva com sua boca. Mas se controlava por causa da culpa. Culpa pelo que escondia dela. Culpa pelo descontrole do pai dela que proporcion
Na fazenda, Adriano tinha sua família reunida no jantar, um motivo a se comemorar. E por alguns minutos foi isso que fez, conversando animadamente com sua mãe, sua esposa e com Bruno, que decidiu permanecer na fazenda por mais alguns dias. Porém, logo o clima de paz se quebrou quando a conversa abordou a briga entre Iago e Joana, seguido do anúncio de Dalila que visitaria seus pais em Sanmarino para ajudá-los. Mesmo sem verbalizar uma palavra, Adriano notou que sua mãe desaprovava a visita. A notícia também não caiu bem para Bruno, que questionou imediatamente ressentido por ter perdido suas chances com Joana para um homem de reputação duvidosa: — Se não gosta de seu futuro cunhado, porque vai? — Por meus pais — Dalila respondeu, evitando olhar na direção da sogra ao acrescentar desdenhosa: — Ficou claro pelo vídeo que meu pai está no limite por ter que se rebaixar para receber um contrabandista na família. E minha pobre mãe, mesmo contrariada, será obrigada a ajudar Joana caso o ca
O cantarolar dos pássaros invadia cada canto da cabana do Gonzalez, aumentando a felicidade de Joana, acompanhando baixinho a sinfonia da manhã. Um sorriso apaixonado irradiou por seu rosto, assim como uma coloração suave o fez em suas bochechas ao relembrar a noite anterior e como foi maravilhoso acordar ao lado de Maximiliano sem a barreira da dúvida. Como de costume acordou cedo e, com alegria impregnada em sua pele, aproveitou que o ele não despertou para apreciar sua beleza, os lábios que devastavam seu corpo e alma, os macios fios escuros espalhados no travesseiro, à pele cálida em contato com a sua. Sem se atrever a toca-lo, por medo de desperta-lo, levantou com cuidado e se arrumou, evitando qualquer mínimo ruído para não o incomodar, antes de se encaminhar para fora do quarto. Na pequena cozinha, preparava o café manhã deles, com poucos itens porque os armários e a geladeira estavam quase vazios. Com tanto tempo no mar e os dias em Recanto Dourado, a falta de mantimentos e
As suspeitas de que os amigos não ligavam a mínima para sua alimentação confirmou-se em poucos minutos, quando Baltasar largou um pacote pequeno de salgadinhos industrializados e gordurosos em sua mão. Como abelhas em volta de uma flor, os três cercaram Joana perguntando se amanheceu melhor, se precisava de algo e logo seguiam com ela para a cozinha para devorar o café da manhã feito para ele. Não ligaria para as demonstrações de afeição deles por Joana, se a cada torrada degustada um deles não soltasse propostas de casamento para sua noiva, concluiu cruzando os braços e encarando Baltasar atravessado ao ouvi-lo murmurar maravilhado. — Você é uma pequena fada que transforma tudo em uma delícia — disse fazendo Joana corar de alegria. — Se Maximiliano desistir do casamento, posso substitui-lo? — Chega de substituições — Maximiliano urrou laçando o braço nos ombros da noiva sentada ao seu lado. — Fora acabar com meu café da manhã, o que mais querem tão cedo na minha casa? — “E com a m