Capítulo 5

Mônica

— Como assim ela não mora mais aqui? Eu… eu não tenho como ligar para ela, não sei seu número de cór e estou sem celular…

— Calma, minha filha, está tudo bem! Ela deixou seu endereço novo, caso chegasse alguma correspondência importante. Mas eu terei que procurar o papel que anotei. – A senhora fala toda calma e gentil.

— Muito obrigada, eu aguardo a senhora procurar, eu não tenho para onde ir e preciso encontrá-la hoje ainda.

— Entre, vou te servir um lanche enquanto procuro o endereço e telefone dela.

Muito grata, eu entro e me sento no sofá da pequena sala, e ela me serve cookies de chocolate com leite morno, assim como minha mãe fazia.

“Que saudade dela”

— Pronto, minha querida, aqui está seu endereço, mas não achei o número de telefone.

Sinto um alívio enorme ao ver que ela não foi para outro estado e sim, para Los Angeles, há duas horas de viagem. Abraço a senhora com muita gratidão e quando penso em sair, envergonhada eu peço.

— Eu não quero abusar, mas eu venho de Mississippi e gostaria muito, mas muito mesmo de um banho, a senhora poderia…

— Não se sinta envergonhada, vamos, eu te levo ao banheiro e te trago toalhas limpas.

— Muito obrigada, eu não sei como agradecer!

— É um prazer ajudar a irmã de Lucy, ela falava muito de você e vivia me mostrando fotos de vocês duas juntas. Ela te ama muito, sabia?

Meus olhos enchem de lágrimas, e espero compensar o tempo que fiquei afastada.

Dentro do banheiro, eu tiro minha roupa, e arrancando o fundo da minha bota, coloquei meu documento de identidade e algumas notas de 100 dólares debaixo da palmilha e no fundo falso. Outras notas, coloquei no forro do meu casaco, junto de algumas joias que consegui colocar sem fazer volume. Ainda bem que aproveitei o salto plataforma da bota para colocar o máximo de cédulas e meu documento, pois tinha medo de Ronald mexer nas minhas coisas e achar o dinheiro, ele estava muito paranoico.

Conto o dinheiro que tenho e no total tenho 4 mil dólares, fora os 650 dólares que sobraram do maço de dinheiro que o guarda/ ladrão me deu.

Coloco as joias dentro da sacola de remédios e escondo dentro da bolsa, tomo um banho completo, usando os produtos da anfitriã e agora me sinto mais humana, sem cheiro de sangue e suor. Minha ferida arde com o contato com a água quente, mas é necessário para refazer o curativo. Termino de me vestir, sem calcinha mesmo, porque na hora do desespero eu me esqueci de pensar nisso. Vejo que das roupas que coloquei na bolsa, a mais coerente de vestir agora é um vestido vermelho com flores brancas, com um babado na coxa. Mas novamente sem pensar, percebi que não poderei mais calçar a bota sem o fundo.

Olho no espelho do banheiro e vejo que tenho algumas marcas de dedos no meu pescoço, um hematoma no queixo e um arranhão na clavícula. Eu tive sorte que o mais grave foi um corte superficial no seio direito.

Saindo do banheiro com a bota arruinada nas mãos, eu nem precisei pedir a dona Helga para me ajudar. Ela prontamente saiu e depois apareceu com uma sapatilha prateada, muito feia, mas fiquei feliz de ter algo para calçar, ao invés de sair descalço até uma loja mais próxima.

Agradeço a ela por tudo e saio da casa determinada a ir para Los Angeles encontrar minha irmã mais nova. Mas antes eu deixei 300 dólares em cima da mesinha de centro da sua sala, sei que não posso gastar dinheiro, porém ela me ajudou, alimentou e me acolheu como poucas pessoas no mundo faria.

A rodoviária é um pouco distantes e como estou sem celular, decidi andar um pouco, e 1 hora depois, estou embarcando no ônibus que me levará até Lucy. Olho pela janela, pensando em como minha vida virou de cabeça para baixo em tão pouco tempo. Sai de um país tão distante tentando viver o sonho americano e hoje estou à deriva, sem poder voltar para casa, e procurando um rumo na minha vida.

Acordo com o motorista me chamando, dizendo que chegamos ao destino final. Minhas energias se renovam quando pego o táxi e vou em direção a sua casa. Mas de dedos cruzados, para Lucy não ter se mudado novamente.

Chegando na frente da sua casa… quero dizer, pequena mansão, nem acredito que esse seja mesmo o lugar. Pago o motorista e me dirijo para a grande porta de madeira e vidro, apertando a campainha. Aguardo alguns segundos e uma bela loira magra de olhos azuis abre a porta, ela me olha de cima abaixo.

— Me diga que não estou vendo um fantasma? – Ela fala em polonês, olhando atrás de mim, claramente procurando Ronald.

— Oi Lucy! Nenhum fantasma, eu sou bem real e estou sozinha!

Ela abre um sorriso gigantesco e me puxa para um abraço caloroso, fazendo minha ferida doer.

— Minha irmã querida, que saudades que eu tive de você! – Ela fala fungando no meu pescoço.

— Eu também maninha…

Me agarro a minha irmã com tanta força, que começo a tremer. Ter um rosto familiar e confiável, me traz um pouco de paz e conforto. Deixo minhas lágrimas caírem livremente e um soluço sofrido sai do meu peito. Ela me aperta de volta, e sem dizer nada, ela espera eu derramar toda a dor, angústia e alegria que sinto em ter ela comigo.

Quando finalmente me sinto mais leve, nos separamos e como sempre, ela dá um sorriso enorme, para dissipar essa tristeza, mesmo tendo chorado comigo.

— Sabe do que precisamos? – Ela pergunta me levando para dentro da bela casa.

— Do quê? – Pergunto realmente sem saber.

— De um Martini duplo com 2 azeitonas!

— Mas é quarta-feira, 11 horas da manhã…

— Nem começa com essa caretice, acredito que você precisa disso e nem me falou nada ainda. Mas suspeito que largou aquele demônio.

Fico sem graça de levar bronca da minha irmã mais nova, mais precisamente 5 anos mais nova que eu. Então só concordo com um aceno e deixo ela me dá a dose de coragem.

Brindamos antes de dar o primeiro gole na bebida, que para mim é muito forte. Então ela me olha de cima abaixo e fala:

— Você está péssima, não parece aquela dondoca bem vestida que vi um ano atrás.

“Já faz tanto tempo?”

— Estou bem agora, mas eu preciso de um lugar para ficar, será que eu posso ficar com você alguns dias?

— Você sabe muito bem que pode ficar comigo o tempo que quiser, mas não vou fingir que não percebi seus hematomas. Agora quando estiver pronta, me conta o que aconteceu?

— Sim, eu vou te contar tudo, mas deixa eu ficar feliz por ter finalmente te encontrado!

— Está bem! Mas onde estão suas malas?

— Sem malas! Sou só eu, essa bolsa e o resto da minha dignidade.

— Mônica, não vou esperar ficar pronta para falar, eu quero saber agora! Você faz malas para um dia fora, e me preocupa você estar vestida assim e machucada. – Ela fala puxando meu decote do vestido, vendo o curativo.

Sua cara está séria e preocupada, e não teria escolha senão falar tudo, exatamente tudo. E com muita coragem eu começo a contar tudo a ela. Desde o começo.

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