O Peso da Fuga Deitei minha cabeça no chão e respirei profundamente. O ar era fresco, mas parecia pesado, como se cada partícula carregasse o peso da batalha que acabávamos de enfrentar. Stella ainda estava ao meu lado, seus dedos delicados aplicando magia nos cortes profundos que marcavam meu corpo. — Não era para termos sobrevivido — murmurei, minha voz rouca. Ela olhou para mim, sua expressão séria. — Nós sobrevivemos porque você lutou, Alpha. E porque eu não podia deixar que ele nos vencesse. Apesar da dor, virei o rosto para encará-la. Seus olhos brilhavam com determinação, mas havia uma sombra de dúvida ali. — Stella, você está bem? — perguntei, percebendo que suas mãos tremiam levemente enquanto trabalhava. Ela hesitou antes de responder, desviando o olhar. — Não sei. Algo daquele lugar... ficou comigo. Eu sinto. Me sentei com esforço, ignorando o protesto do meu corpo. — O que quer dizer? Stella segurou seu braço esquerdo, como se algo o incomodasse. Quan
Stella caminhava pelo interior das ruínas com determinação, ainda que visivelmente exausta. Ela estendeu as mãos, murmurando palavras em uma língua antiga. Logo, faíscas de luz surgiram do nada, e, diante de nós, grossos cobertores de lã macia tomaram forma, caindo suavemente no chão. — Isso deve mantê-lo aquecido. — Sua voz era suave, mas firme. Ela continuou com outro feitiço, desta vez conjurando uma pequena fogueira no centro da sala. A chama brilhou intensamente, iluminando nossos rostos cansados e enchendo o espaço com um calor reconfortante. — Agora, descanse, Alpha. Vou preparar algo para você comer. Eu quis protestar, mas o cansaço e a dor em meu corpo eram esmagadores. Apenas assenti e me recostei contra a parede, observando Stella enquanto ela movia suas mãos graciosas, misturando ervas e água em um pequeno caldeirão que havia conjurado. O aroma do caldo quente logo preenchia o ar, trazendo uma sensação de conforto que eu não sentia há muito tempo. Ela se aproximo
O silêncio da noite envolvia tudo ao nosso redor, quebrado apenas pelo som distante do vento e pelo estalar das brasas. Stella dormia agora, a expressão suavizada pelo cansaço. Eu, porém, não conseguia fechar os olhos. O peso daquela promessa era como uma pedra sobre o meu peito. A cada vez que eu olhava para ela, tão frágil e ao mesmo tempo tão resiliente, sentia minha determinação se reforçar. Mas o que eu não podia ignorar era a realidade implacável que nos cercava. O mundo não era gentil com aqueles que fugiam. Levantei-me devagar, tentando não perturbá-la. A dor atravessou meu lado como uma lâmina quente, mas eu a ignorei. Caminhei até a beira da clareira e olhei para a floresta adiante. Ela parecia infinita, cheia de segredos e perigos. Se havia algum lugar onde poderíamos estar seguros, ele ainda estava muito além do que podíamos ver. Lembrei-me das palavras de um velho viajante que encontramos meses atrás: "O norte guarda mais do que gelo e neve. Guarda segredos antigos,
A floresta parecia infinita. As árvores altas e retorcidas lançavam sombras que se moviam com o vento, enquanto o chão irregular tornava cada passo um esforço. Carregar Stella nos braços era uma tarefa árdua, mas eu não tinha escolha. Seu estado piorava a cada hora; a febre queimava sua pele e, às vezes, ela murmurava palavras desconexas que eu não conseguia entender. — Alpha... — Ela chamou meu nome, a voz fraca como o suspiro de uma folha ao vento. Parei e a coloquei cuidadosamente no chão, encostando-a em uma árvore coberta de musgo. Seus olhos estavam entreabertos, mas havia algo diferente. Uma luz peculiar, quase etérea, parecia brilhar em suas íris. — O que foi, Stella? Fale comigo. — Minha preocupação crescia, mas ela parecia alheia à urgência na minha voz. — Eu vi... algo. — Sua respiração estava pesada, mas suas palavras saíam com clareza assustadora. — Havia uma mulher. Ela falou de uma profecia. Apertei os punhos, tentando afastar o arrepio que subiu pela minha es
A noite trouxe consigo um silêncio inquietante. Do lado de fora da cabana, o vento soprava como um lamento, balançando as árvores e fazendo a madeira ranger. Dentro, Stella estava inconsciente, sua respiração cada vez mais fraca. O curandeiro murmurava preces antigas, enquanto eu me mantinha em alerta, os ouvidos atentos a cada som que pudesse indicar perigo. Foi então que o silêncio se quebrou. Um estrondo reverberou pela floresta, como se o próprio chão tivesse sido atingido por um trovão. O curandeiro se virou para mim, os olhos arregalados. — Ele está aqui. Meu sangue gelou. O rei bruxo. A sombra que nos perseguia desde que fugimos, o responsável por tanto sofrimento. Ele havia nos encontrado. Antes que eu pudesse reagir, a porta da cabana foi lançada contra a parede com uma força sobrenatural, e uma figura envolta em um manto negro atravessou o umbral. Seus olhos brilhavam como chamas rubras sob o capuz, e sua presença carregava um peso quase sufocante, como se a própri
O som dos passos dos lobos foi o primeiro sinal de que a matilha estava próxima. Ao deixarmos a cabana, carregando Stella ainda fraca, o ar parecia mais leve, como se a própria floresta reconhecesse nossa vitória sobre o rei bruxo. O céu, antes encoberto por nuvens densas, agora revelava tímidos raios de sol que atravessavam as copas das árvores.Os lobos surgiram como sombras entre as árvores, seus olhos brilhando em expectativa. Quando nos viram, um uivo de alívio ecoou pela floresta, seguido por outros, como uma sinfonia de boas-vindas. Eles correram até nós, cercando-nos com cuidado. Alguns se aproximaram de Stella, farejando-a como se quisessem ter certeza de que ela estava bem.— Eles sabem o que aconteceu — murmurei, olhando para Stella, que se apoiava em mimEla sorriu, ainda frágil, mas com uma nova luz em seus olhos. — Eles sempre sabem.Ao chegarmos ao coração do território da matilha, a clareira estava cheia de vida. Outros lobos apareceram, acompanhados por alguns membros
Os dias que se seguiram à derrota do rei bruxo foram uma mistura de calma e adaptação. Ver Stella se recuperar completamente foi um alívio indescritível, mas logo ficou claro que sua jornada estava apenas começando. Como minha Luna, ela precisava aprender a liderar, a viver como parte da matilha, e a carregar o peso das responsabilidades que vinham com essa posição. No início, eu via a hesitação em seus olhos. Stella sempre foi forte, mas governar ao lado de um Alpha era um papel que exigia mais do que coragem; exigia equilíbrio, sabedoria e um amor genuíno pela matilha. Todos os dias, ao amanhecer, ela começava seus aprendizados. Nyra, nossa loba mais experiente, assumiu o papel de mentora, ensinando Stella as tradições da matilha e como cuidar de cada um de seus membros. Eu acompanhava de perto, pronto para ajudá-la, mas Stella era teimosa. Queria provar que podia fazer isso por conta própria. — Você precisa conhecer todos aqui — disse Nyra a Stella em um de nossos passeios pe
As semanas passaram, e a rotina da matilha voltou a um ritmo natural, embora com uma energia renovada. Stella já não era vista como uma forasteira; ela era a Luna, um pilar de força e inspiração para todos. A cada amanhecer, ela saía comigo para patrulhar os limites do território. Apesar de ainda estar aprendendo, sua intuição era impressionante. Durante uma dessas patrulhas, paramos para observar a floresta ao redor. — Parece tão tranquilo agora — Stella comentou, o olhar perdido na linha do horizonte. — Mas eu sei que essa calma é apenas temporária. — Sempre é — concordei. — Mas isso não significa que devemos viver com medo. Estamos prontos para o que vier. Ela assentiu, respirando fundo. — É estranho, sabe? Antes de te conhecer, minha vida era tão diferente. E agora... é como se eu tivesse encontrado meu lugar. Eu a observei por um momento, percebendo como ela havia mudado. Stella não era mais a mulher assustada que conheci; ela havia se transformado em alguém forte, conf