A noite trouxe consigo um silêncio inquietante. Do lado de fora da cabana, o vento soprava como um lamento, balançando as árvores e fazendo a madeira ranger. Dentro, Stella estava inconsciente, sua respiração cada vez mais fraca. O curandeiro murmurava preces antigas, enquanto eu me mantinha em alerta, os ouvidos atentos a cada som que pudesse indicar perigo. Foi então que o silêncio se quebrou. Um estrondo reverberou pela floresta, como se o próprio chão tivesse sido atingido por um trovão. O curandeiro se virou para mim, os olhos arregalados. — Ele está aqui. Meu sangue gelou. O rei bruxo. A sombra que nos perseguia desde que fugimos, o responsável por tanto sofrimento. Ele havia nos encontrado. Antes que eu pudesse reagir, a porta da cabana foi lançada contra a parede com uma força sobrenatural, e uma figura envolta em um manto negro atravessou o umbral. Seus olhos brilhavam como chamas rubras sob o capuz, e sua presença carregava um peso quase sufocante, como se a própri
O som dos passos dos lobos foi o primeiro sinal de que a matilha estava próxima. Ao deixarmos a cabana, carregando Stella ainda fraca, o ar parecia mais leve, como se a própria floresta reconhecesse nossa vitória sobre o rei bruxo. O céu, antes encoberto por nuvens densas, agora revelava tímidos raios de sol que atravessavam as copas das árvores.Os lobos surgiram como sombras entre as árvores, seus olhos brilhando em expectativa. Quando nos viram, um uivo de alívio ecoou pela floresta, seguido por outros, como uma sinfonia de boas-vindas. Eles correram até nós, cercando-nos com cuidado. Alguns se aproximaram de Stella, farejando-a como se quisessem ter certeza de que ela estava bem.— Eles sabem o que aconteceu — murmurei, olhando para Stella, que se apoiava em mimEla sorriu, ainda frágil, mas com uma nova luz em seus olhos. — Eles sempre sabem.Ao chegarmos ao coração do território da matilha, a clareira estava cheia de vida. Outros lobos apareceram, acompanhados por alguns membros
Os dias que se seguiram à derrota do rei bruxo foram uma mistura de calma e adaptação. Ver Stella se recuperar completamente foi um alívio indescritível, mas logo ficou claro que sua jornada estava apenas começando. Como minha Luna, ela precisava aprender a liderar, a viver como parte da matilha, e a carregar o peso das responsabilidades que vinham com essa posição. No início, eu via a hesitação em seus olhos. Stella sempre foi forte, mas governar ao lado de um Alpha era um papel que exigia mais do que coragem; exigia equilíbrio, sabedoria e um amor genuíno pela matilha. Todos os dias, ao amanhecer, ela começava seus aprendizados. Nyra, nossa loba mais experiente, assumiu o papel de mentora, ensinando Stella as tradições da matilha e como cuidar de cada um de seus membros. Eu acompanhava de perto, pronto para ajudá-la, mas Stella era teimosa. Queria provar que podia fazer isso por conta própria. — Você precisa conhecer todos aqui — disse Nyra a Stella em um de nossos passeios pe
As semanas passaram, e a rotina da matilha voltou a um ritmo natural, embora com uma energia renovada. Stella já não era vista como uma forasteira; ela era a Luna, um pilar de força e inspiração para todos. A cada amanhecer, ela saía comigo para patrulhar os limites do território. Apesar de ainda estar aprendendo, sua intuição era impressionante. Durante uma dessas patrulhas, paramos para observar a floresta ao redor. — Parece tão tranquilo agora — Stella comentou, o olhar perdido na linha do horizonte. — Mas eu sei que essa calma é apenas temporária. — Sempre é — concordei. — Mas isso não significa que devemos viver com medo. Estamos prontos para o que vier. Ela assentiu, respirando fundo. — É estranho, sabe? Antes de te conhecer, minha vida era tão diferente. E agora... é como se eu tivesse encontrado meu lugar. Eu a observei por um momento, percebendo como ela havia mudado. Stella não era mais a mulher assustada que conheci; ela havia se transformado em alguém forte, conf
As semanas seguintes trouxeram um ar de expectativa. Embora a vida cotidiana continuasse, uma tensão silenciosa pairava sobre a matilha. Era como se todos sentissem que a tempestade estava prestes a chegar. Kyra, minha beta e braço direito, insistiu em redobrar os treinamentos. Ela acreditava que a força da matilha não estava apenas nos números, mas na disciplina e na conexão que compartilhávamos.Stella acompanhava cada sessão, absorvendo tudo como uma esponja. Ela não apenas aprendia, mas também inspirava. Havia algo em sua presença que unia até os mais desconfiados. Durante um dos treinamentos, enquanto Kyra nos guiava em um exercício de defesa, Stella surpreendeu a todos ao desviar habilmente de um golpe e derrubar um dos guerreiros veteranos. Um silêncio pesado caiu sobre o grupo, seguido por aplausos e uivos de aprovação. — Eu avisei que ela era especial, não avisei? — provoquei, sorrindo para Kyra.Kyra arqueou a sobrancelha, um sorriso orgulhoso nos lábios. — Talvez você ten
Nos dias seguintes ao confronto, apesar do respeito crescente por Stella, nem todos na matilha estavam convencidos de sua posição como Luna. Havia um pequeno grupo, liderado por Kane, um lobo jovem e impulsivo, que parecia determinado a desdenhar dela a cada oportunidade.Uma noite, enquanto a fogueira crepitava no centro do acampamento, Kane ergueu a voz, o tom carregado de sarcasmo.— Então, a "Luna Bruxa" agora é a nossa salvadora? — Ele riu, atraindo a atenção de outros lobos ao seu redor. — É disso que dependemos agora? De uma forasteira esquisita que mal sabe quem realmente é?Alguns riram com ele, mas a maioria permaneceu em silêncio, observando para ver como Stella reagiria. Ela, no entanto, não recuou. Seus olhos brilharam com algo entre determinação e desafio.— "Luna Bruxa", é? — ela disse, a voz firme, enquanto dava um passo à frente. — Sabe, Kane, eu gosto disso. Porque se ser bruxa significa ser diferente, enxergar além do óbvio e enfrentar o que assusta vocês, então, si
Naquela mesma noite, enquanto todos dormiam, Stella permaneceu acordada, sentada à beira da fogueira que se apagava lentamente. Algo dentro dela pulsava, uma inquietação que não podia ignorar. Ela olhou para mim, que estava a poucos metros de distância, com os olhos semicerrados, mas claramente atento. — Luke — chamou, a voz baixa, mas carregada de seriedade. Levantei-me e sentei ao lado dela, sentindo o peso em suas palavras antes mesmo de serem ditas. — O que foi? — perguntei, observando sua expressão pensativa. — Eles podem estar certos, sabia? — disse ela, quase num sussurro. — Talvez eu seja... diferente. Talvez esse apelido de Luna Bruxa não seja só uma provocação. Franzi o cenho, estudando seu rosto. — O que você quer dizer? Ela respirou fundo, como se estivesse organizando seus pensamentos. — Desde que cheguei aqui, coisas aconteceram, Luke. Coisas que eu não consigo explicar. Minha intuição, minha força crescente... Até mesmo o modo como sinto o território. Pare
Decidimos procurar em registros antigos, na floresta as árvores serpenteavam suavemente com o balançar causado pelo vento, oar dentro da caverna onde os registros antigos eram mantidos era denso e carregado de poeira. A luz das tochas lançava sombras oscilantes nas paredes, iluminando inscrições que pareciam ter sido esculpidas há séculos. Stella e eu estávamos sozinhos, revirando pergaminhos e analisando símbolos que desafiaram o tempo. Foi ela quem encontrou o que parecia ser a peça-chave. — Luke, veja isso — chamou, a voz cheia de uma mistura de espanto e dúvida. Aproximei-me e observei o pergaminho que ela segurava. Nele, havia um desenho que mostrava duas figuras: uma mulher cercada por lobos e outra, em um trono, com diversas criaturas ao redor — lobos, ursos, aves e até humanos. Sob a imagem, havia inscrições em uma língua antiga, uma que nenhum de nós reconhecia imediatamente. — Isso... parece diferente de tudo que já vimos — murmurei, tentando compreender. Stella fra