Nos dias seguintes ao confronto, apesar do respeito crescente por Stella, nem todos na matilha estavam convencidos de sua posição como Luna. Havia um pequeno grupo, liderado por Kane, um lobo jovem e impulsivo, que parecia determinado a desdenhar dela a cada oportunidade.Uma noite, enquanto a fogueira crepitava no centro do acampamento, Kane ergueu a voz, o tom carregado de sarcasmo.— Então, a "Luna Bruxa" agora é a nossa salvadora? — Ele riu, atraindo a atenção de outros lobos ao seu redor. — É disso que dependemos agora? De uma forasteira esquisita que mal sabe quem realmente é?Alguns riram com ele, mas a maioria permaneceu em silêncio, observando para ver como Stella reagiria. Ela, no entanto, não recuou. Seus olhos brilharam com algo entre determinação e desafio.— "Luna Bruxa", é? — ela disse, a voz firme, enquanto dava um passo à frente. — Sabe, Kane, eu gosto disso. Porque se ser bruxa significa ser diferente, enxergar além do óbvio e enfrentar o que assusta vocês, então, si
Naquela mesma noite, enquanto todos dormiam, Stella permaneceu acordada, sentada à beira da fogueira que se apagava lentamente. Algo dentro dela pulsava, uma inquietação que não podia ignorar. Ela olhou para mim, que estava a poucos metros de distância, com os olhos semicerrados, mas claramente atento. — Luke — chamou, a voz baixa, mas carregada de seriedade. Levantei-me e sentei ao lado dela, sentindo o peso em suas palavras antes mesmo de serem ditas. — O que foi? — perguntei, observando sua expressão pensativa. — Eles podem estar certos, sabia? — disse ela, quase num sussurro. — Talvez eu seja... diferente. Talvez esse apelido de Luna Bruxa não seja só uma provocação. Franzi o cenho, estudando seu rosto. — O que você quer dizer? Ela respirou fundo, como se estivesse organizando seus pensamentos. — Desde que cheguei aqui, coisas aconteceram, Luke. Coisas que eu não consigo explicar. Minha intuição, minha força crescente... Até mesmo o modo como sinto o território. Pare
Decidimos procurar em registros antigos, na floresta as árvores serpenteavam suavemente com o balançar causado pelo vento, oar dentro da caverna onde os registros antigos eram mantidos era denso e carregado de poeira. A luz das tochas lançava sombras oscilantes nas paredes, iluminando inscrições que pareciam ter sido esculpidas há séculos. Stella e eu estávamos sozinhos, revirando pergaminhos e analisando símbolos que desafiaram o tempo. Foi ela quem encontrou o que parecia ser a peça-chave. — Luke, veja isso — chamou, a voz cheia de uma mistura de espanto e dúvida. Aproximei-me e observei o pergaminho que ela segurava. Nele, havia um desenho que mostrava duas figuras: uma mulher cercada por lobos e outra, em um trono, com diversas criaturas ao redor — lobos, ursos, aves e até humanos. Sob a imagem, havia inscrições em uma língua antiga, uma que nenhum de nós reconhecia imediatamente. — Isso... parece diferente de tudo que já vimos — murmurei, tentando compreender. Stella fra
A ventania cortava nossa pele como lâminas enquanto montávamos acampamento na base da Montanha Cinzenta. O ar era rarefeito, e cada respiração parecia um esforço. Stella puxou o casaco de pele mais próximo ao corpo, seus lábios levemente azulados pelo frio. — Nunca imaginei que sentiria falta da floresta quente — ela murmurou, tentando forçar um sorriso enquanto acendíamos a fogueira. Kyra, sempre prática, lançou-lhe um olhar sem humor. — Isso ainda não é o pior. Espere até estarmos mais alto. Apesar das palavras ríspidas, havia uma preocupação genuína no tom de Kyra. A jornada estava começando a afetar todos nós, mesmo que nenhum quisesse admitir. — Aqui está bom para descansar por enquanto — anunciei, estendendo uma das mantas próximas à fogueira. — Amanhã começamos cedo. Precisamos alcançar a entrada da fortaleza antes do anoitecer. Stella assentiu, mas havia algo em seu olhar que me preocupava. Durante o dia, ela havia se mantido distante, perdida em pensamentos. Algo es
Enquanto o silêncio da noite voltava a se instalar, Stella quebrou o transe com um tom mais suave, quase hesitante: — Luke, você sempre parece saber o que fazer. Sempre tão... forte. É como se nada te abalasse. — Ela evitou meu olhar, os dedos brincando com uma das bordas da manta. — Mas... isso não pode ser verdade, pode? As palavras dela me atingiram de forma inesperada. Eu suspirei, desviando o olhar para as chamas que dançavam preguiçosamente. — Não sou tão forte quanto você pensa, Stella. — Minha voz saiu mais baixa do que eu pretendia, quase um murmúrio. — Então me diga. — Ela ergueu os olhos para mim, o rosto iluminado pela fogueira. — Sobre seus pais. Sobre o que te trouxe até aqui, liderando essa matilha. Pela primeira vez em muito tempo, senti o peso de memórias que eu costumava enterrar. Stella esperava pacientemente, e o silêncio dela me forçou a encarar algo que eu sempre preferi evitar. — Meu pai era um alfa respeitado — comecei, escolhendo as palavras com cu
O amanhecer trouxe um frio ainda mais cortante, que parecia penetrar os ossos. O céu estava encoberto por nuvens pesadas, e o vento trazia consigo o uivo distante de algo que nenhum de nós conseguia identificar. — Vamos nos mover — disse Kyra, já de pé, ajustando seu casaco de pele. — Ficar parado nesse frio vai nos matar antes mesmo de encontrarmos qualquer inimigo. Stella e eu concordamos silenciosamente, arrumando nossas coisas rapidamente. A tensão da noite anterior ainda pairava sobre nós, mas havia uma determinação renovada. Começamos a subir pela encosta íngreme. As pedras estavam cobertas de gelo, tornando cada passo perigoso. Kyra liderava o caminho, seus olhos atentos a qualquer movimento, enquanto Stella seguia logo atrás, com os olhos varrendo a paisagem como se esperasse que a "presença" da noite anterior voltasse a se manifestar. — Espere — Kyra disse de repente, erguendo uma mão para nos parar. — O que foi? — perguntei, já pronto para qualquer ameaça. Ela ap
O rosnado profundo ficou mais alto, reverberando pela montanha e fazendo as pedras sob nossos pés tremerem. Quando olhei à frente, o ar parecia se distorcer, como se algo estivesse tomando forma diretamente diante de nós. A figura emergiu lentamente das sombras que as ruínas projetavam. Era colossal, mais alta do que qualquer humano, com uma forma vagamente lupina, mas envolta em uma aura de magia. Os olhos brilhavam com um tom dourado ameaçador, e uma voz grave e retumbante preencheu o espaço. — Quem ousa pisar na trilha sagrada e perturbar o descanso da montanha? Era o guardião da caverna. A criatura se postava como um verdadeiro desafio, com uma presença que tornava impossível desviar o olhar. Ele segurava um cajado esculpido com runas semelhantes às que vimos nas rochas. — Somos viajantes em busca da verdade — respondi, dando um passo à frente. — Procuramos respostas sobre a Guardiã e a Rainha. A criatura nos avaliou, como se tentasse medir nossa determinação. — Muitos
Adentramos na nova passagem, com o coração batendo em sincronia, como se o destino nos aguardasse no próximo passo. A luz tênue dos cristais que adornavam as paredes iluminava nossos rostos cansados, mas determinados. O ar era mais pesado ali, como se a própria montanha sussurrasse segredos antigos. No fim do corredor, chegamos a uma sala circular. Ao centro, uma mesa de pedra negra repousava, e sobre ela, um manuscrito velho, protegido por um campo de energia dourada. As runas nas paredes pulsavam em sincronia com o brilho do manuscrito, como se reconhecessem sua importância. — O manuscrito principal... — sussurrou Stella, maravilhada. — A verdade sobre a Rainha e a Guardiã deve estar ali. Eu dei um passo à frente, com a mão estendida, mas antes que pudesse tocar a barreira dourada, um riso grave e cheio de desprezo ecoou pela sala. — Finalmente — uma voz sombria e poderosa preencheu o ar, reverberando pelas paredes. — Vocês chegaram longe demais... mas todo o esforço será em