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A VINGANÇA DE CLARICE COHEN
A VINGANÇA DE CLARICE COHEN
Por: Virginia Rocha
Capítulo 1: Quem é Clarice Cohen?

Klaus a viu pela primeira vez na sinagoga sentada na companhia de algumas outras mulheres bem mais velhas do que ela.

Os cabelos ruivos brilhavam na luz e seus olhos verdes combinavam perfeitamente com o vestido verde musgo que usava. Parecia perfeita.

Dias depois ele estava com alguns amigos em Copacabana olhando o movimento enquanto comiam uma pizza quando ele avistou Clarice caminhando sozinha no calçadão. Era como uma aparição. Sentiu o seu coração bater mais rápido.

Um dos amigos assobiou e isto o irritou profundamente.

- Não faça isso! Mandou o amigo parar com aquilo.

- O que lhe deu, Klaus? Perguntou um dos amigos sem entender nada.

- Eu a conheço e ela não é como as outras. Explicou sem saber o que deveria fazer.

- Aquela garota é linda mesmo. Disse um dos amigos mais assanhados.

- Parece uma atriz de Hollywood. Comentou outro enquanto Klaus pensava se deveria ou não ir até ela. Logo ela passaria por eles.

- Os pais dela são amigos dos meus pais... Ela é tão nova... Disse quase num sussurro.

- Acha que ela é a noiva que sua mãe está lhe arranjando? Perguntou um dos amigos enquanto o observava atentamente.

- Eu não me importaria se fosse ela, mas ela é tão nova. Disse ao acenar para ela, mas ela não acenou de volta e atravessou a rua. - Eu vou lá. Disse ao ver que ela continuava caminhando.

Clarice não o reconheceu de imediato e tirou os óculos escuros para ver se enxergava melhor, mas não se lembrava dele.

- Você me conhece? Perguntou sem saber de onde o tinha visto.

- Sou o Klaus Klein, filho de Gustav e Norma. Disse a fazendo sorrir.

- Ah... Desculpe, Klaus. Essa claridade acaba comigo. Disse gentilmente.

- Passeando? Eu quase não a vejo muito. Comentou percebendo que ela parecia incomodada.

- Voltando para casa. Disse indicando o prédio. - Eu sempre almoço com os meus avós, mas tem sempre muito barulho. Eu não gosto de tumulto.

- Quer estender um pouco o passeio? Perguntou ao mostrar uma sorveteria.

- Um outro dia, quem sabe? Fica cheio nos finais de semana. Disse se esquivando educadamente do passeio.

- Eu compreendo. Klaus disse percebendo que ela queria sumir. - Tem algum namorado? Alguém que esteja interessada? Perguntou a fazendo sorrir.

- Não, Sr. Klein. Respondeu de forma debochada. - Eu não estou interessada em ninguém e nem estou saindo com ninguém. Disse olhando ao redor. - Eu não sou muito de sair. Sou do tipo estudiosa e discreta. Eu não estou interessada em eventos sociais e nem na vida noturna do Rio de Janeiro. Sua mãe não lhe contou? Ela fez um interrogatório interminável durante a semana. Comentou o deixando sem graça.

- Ela quase não conta nada. Eu passo muito tempo fora de casa. Disse ao se aproximar.

- Ela foi bem indiscreta. Chegou até me perguntar quantos filhos eu queria. Meu Deus! Eu só quero terminar a faculdade. Declarou chamando um pouco a atenção de quem passava perto deles.

- Sinto muito por isso. Disse olhando rapidamente para os amigos que ergueram as canecas de chopp.

- Eu não bebo. Disse olhando para ele. - Uma taça de vinho quando estou em minha casa. Ainda não tem tanto tempo que minha irmã morreu. Se a Martha estivesse viva, gostaria muito dela.

- Eu conheci a sua irmã. Não nos dávamos muito bem. Era detalhista demais e isso me irritava muito. Nunca fomos muito próximos. Confessou a deixando surpresa.

- É a primeira pessoa que diz que não gostava dela. Disse o deixando sem graça.

- Talvez porque não nos víamos como um par. Acredito que minha mãe deve ter pensado nisso quando nos forçou num encontro anos atrás. Contou a fazendo rir.

- Acho que foi descrito como estudantezinho metido. Comentou rindo mais entusiasmada.

- Não leve a mal a minha mãe. Pediu Klaus suavemente. - Eu sou filho único e ela é protetora demais. Eu viajo no final do ano para estudar no exterior e ela está apavorada. Ela gosta de você. Gosta muito pelo visto. Disse ficando mais próximo.

- Ela me deixa tonta. Declarou sorrindo. - É muito insistente.

- Sei como é. Disse dando uma pequena gargalhada. - Mas, ainda gostaria de levá-la para tomar um sorvete.

- Sua mãe tem meu telefone. Disse se afastando. - Também deve ter o meu CPF e RG. Disse o fazendo rir enquanto acenava para ela.

Sua mãe havia acertado na escolha finalmente. Ele estava interessado nessa garota. Klaus voltou para o bar depois de vê-la entrar no prédio e acenar. Os amigos riram de sua cara de bobo. Como aquela mulher que ele havia declarado ser nova demais mexia com ele daquela forma?

Dois dias depois ele a encontraria saindo do prédio para caminhar um pouco. Ele buzinou duas vezes e ela olhou sorrindo ao reconhecê-lo.

- Onde vai, boneca? Perguntou a deixando visivelmente aborrecida com o apelido.

- Caminhar um pouco. Estou estudando faz horas. Disse apontando em direção do Forte.

- Quer caminhar mesmo? Perguntou cansado de ficar em pé durante muito tempo.

- Você veio da faculdade? Perguntou após vê-lo de branco.

- Plantão de vinte e quatro horas. Respondeu sem conseguir segurar um bocejo.

- Deveria ir para casa, Klaus. Tomar um bom banho, comer e dormir. Disse mostrando-se preocupada.

- Só uma volta para saber as novidades. Disse a fazendo olhar para os lados.

- O que foi, Clarice? Perguntou ao vê-la preocupada.

- Eu não posso, Klaus. Disse um pouco envergonhada. - Sinto muito, mas eu não posso.

- Precisa de autorização para sair comigo? Quis se certificar de que era o que ele pensava.

- Sim. Respondeu sem graça. - Eu sou filha única agora, Klaus. Meus pais sabem apenas que eu saí para caminhar até o Forte... Dizia quando ele abriu a boca novamente. - Klaus, vá para casa!

- Não! Sorveteria você pode? É logo ali. Apontou.

- Tudo bem. Enquanto estaciona vou avisar que vou na sorveteria com você. Disse meio sem jeito.

Klaus sorriu. Clarice era uma garota "de família". Que coisa! Era muito formal, mas talvez fosse melhor ser assim. Ela seria uma boa mãe. Provavelmente deixaria tudo pela educação deles e cuidaria bem da casa como a sua mãe. É claro que o seu pai tinha algumas aventuras fora do casamento, mas nunca houve alguém capaz de lhe despertar algo irresistível e indispensável.

Os seus amigos acharam Clarice linda e era bom ter alguém que todos queriam. Mas, apesar de toda a sua experiência, sempre se corria risco da garota em questão se interessar por outro. Nunca permitiria que alguém se aproximasse tanto de Clarice para persuadi-la. Nunca a deixaria sair sem ele. O rosto doce e gentil seria somente dele. Mas ela aceitaria isso?

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