Ansiosamente, observei o relógio em meu quarto. Eram quase uma da manhã, e eu aguardava com expectativa a mensagem da minha amiga, Camille, ou melhor, Cam. Essa noite prometia ser diferente de todas as outras. Desde que voltei a Santa Barbara, tenho me arrastado pelos compromissos sociais e jantares oferecidos por sócios e velhos amigos da família. Estou sufocando sob as expectativas impostas aos Sinclair. No entanto, a mensagem tentadora de Cam no meio da noite desencadeou seu plano de me libertar deste lugar, tarde da noite, sem que ninguém perceba.
Estar de volta após tantos anos têm sido uma experiência intensa, mas estou descobrindo que, mesmo que eu tenha que participar desses eventos, sinto um estranho contentamento por estar novamente em casa. Foram quase seis anos no exterior, vivendo e estudando na Europa após a morte de minha mãe. Por muito tempo, nem mesmo considerei voltar para casa. No entanto, o tempo, que semeia dúvidas, também nos mostra o caminho e as respostas corretas. Tenho a impressão de que, não importa o quão longe eu vá ou por quanto tempo eu fique, há apenas um lugar para onde meu coração deseja retornar.
Devo confessar que pensei que seria mais desafiador, mas além de algumas perturbações, que pretendo resolver pessoalmente, como uma candidata a madrasta desagradável, estou satisfeita por ter voltado. Se meu pai não foi capaz de lidar comigo e com a perda de minha mãe nos primeiros meses, parece que ela encontrou a energia necessária para fazê-lo considerar se casar novamente. Talvez ela tenha esquecido que certas situações do passado sempre retornam, com o tempo que semeia dúvidas e revela as respostas corretas. Vou lembrá-la disso. Mas hoje, lembro apenas das palavras de Cam, ao me aconselhar a usar um certo vestido preto que ela encontrou em meu closet.
Mais óbvio seria impossível, mas eu não me importo. Tenho passado muito tempo tentando me encaixar e ser o que esperam de mim. Hoje, só quero uma noite comum, alguns drinques e alguma diversão.
Cam tem acesso irrestrito à nossa mansão, pois nos conhecemos desde sempre. Portanto, combinamos que ela me levará secretamente em seu carro. Ela chegará, alegando ter vindo me visitar rapidamente antes de seguir seu próprio caminho, enquanto eu devo me esgueirar pela porta lateral e encontrá-la o mais rápido possível, antes que meu segurança perceba minha saída. Não consigo me lembrar da última vez em que Cam e eu tivemos uma noite assim. É trágico pensar que momentos como esse são raros em minha vida.Finalmente, a mensagem de Cam chega: “Estou do lado de fora”. Com cuidado e silêncio, percorro os corredores da mansão, evitando fazer qualquer ruído que possa alertar meu pai ou os seguranças.
Chegando ao carro de Camille, uma sensação imensa de liberdade me inunda. Agradeço efusivamente à minha amiga e adentro no veículo, ansiosa por deixar para trás as expectativas e todo o luto que ainda me assombram desde a trágica perda de minha mãe anos atrás. O cenário é tão sombrio quanto na noite em que ocorreu a fatalidade, e a morte ainda paira como uma presença ameaçadora na Casa Sinclair, especialmente quando a escuridão toma conta de seus cômodos, como se estendesse seus braços em minha direção, clamando por minha atenção.Enquanto o carro se afasta, Cam aumenta o volume do som, e conversamos animadas, felizes por termos passado despercebidas, mesmo sabendo que teremos que nos explicar nos dias seguintes. Sim, Cam também terá que prestar contas, já que seu pai ocupa um cargo de confiança na Vinícola, e certamente ficará furioso com ela. Mas ambas concordamos que isso é algo para se pensar apenas amanhã. Apenas amanhã.
Antes de deixar Santa Barbara anos atrás, eu era jovem demais para sair tarde da noite, mas devo dizer que a vida noturna da cidade não me surpreende. Ela é movimentada e vibrante, especialmente a boate que escolhemos para nos divertir. A multidão é grande e diversa, uma mistura de locais e turistas, criando uma atmosfera animada e elétrica. Estar aqui, sem me preocupar com formalidades, por, pelo menos, algumas horas, será revigorante antes do que está por vir.Cam já esteve nesta boate antes, e eu a sigo de perto, observando enquanto ela acena para conhecidos. Logo, ela se dirige ao bar do outro lado do ambiente e segura minha mão, levando-me em direção às escadas. Rapidamente, coloca uma pulseira em meu braço, e os seguranças nos dão passagem à área vip.
— Vamos beber! — Ela diz animadamente, soltando uma risada.Eu simplesmente concordo, sentindo o frio no ar, tendo a certeza de que uma bebida quente me ajudará a aquecer. O andar de cima da boate é um caos. Um bar fica no fundo do ambiente, com nichos de sofá iluminados como camarotes e pequenos palcos onde dançarinas se apresentam. Para mim, é um lugar que exala diversão e adrenalina.
Em um dos pequenos palcos, um homem está sentado, como se fosse o dono do lugar. Eu reviro os olhos, mas acabo olhando novamente. Ele parece extremamente à vontade em seu jeans e camiseta branca, exibindo diversas tatuagens nos braços. Pulseiras de couro e um relógio completam seu visual. Um grupo de garotas o rodeia, parecendo adorá-lo, com seus cabelos escuros caindo sobre os olhos. Ele segura um cigarro em uma das mãos e uma lata de energético na outra, aparentemente despreocupado. Quando ele j**a os cabelos para trás, afastando-os dos olhos, nossos olhares se encontram.
— Não, não, não, não! — Cam exclama ao me ver pegando uma cerveja. — Pelo amor de Deus, Grace, aquele é o Satanás! Ele não presta!— Oh….— respondo, ainda sem entender.
— Deixa eu te explicar — continua Cam, segurando a cerveja em suas mãos. — Aquele cara ali é diversão barata. Ele não é confiável.
— Amiga, isso foi bem específico…., — comento, um tanto confusa.
— Eu? — ela ri nervosamente. — Não, jamais! Mas já ouvi um monte de histórias ruins sobre o bonitão ali. Por isso estou avisando, não quero que você acabe sendo mais uma vítima.
— Ok… — concordo, absorvendo suas palavras, embora ainda um pouco perplexa.
— Lembre-se, ele é como o diabo, Grace. Fique longe dele — conclui Cam, me dando um sorriso amistoso.
A advertência de Cam desperta minha curiosidade, mas também me deixa cautelosa. Eu já havia ouvido em algum lugar que não se deve se fazer notar pelo diabo, e o que fazer quando seu olhar cruza com o dele? Ignore-o. O quanto você puder. Eu me afastei, seguindo com Camille para uma mesa onde estavam alguns conhecidos dela, mas a sensação de ser observada não me deixava. Das sombras, coberto de tatuagens, envolto em fumaça, ele permanece lá, e talvez possa me ver, mais do que eu gostaria.Decidi ir para o ambiente do piso inferior da boate, juntando-me a Cam na pista de dança. Enquanto me movia ao ritmo da música, sentia os olhares famintos de outros homens voltados para mim. Uma sensação arrepiante percorria minha pele, misturando-se com a embriaguez da bebida e a batida pulsante da música. Eu adoro música, adoro dança, então tratei de ignorar a timidez inicial pensando que ninguém poderia ficar entre mim e algo que eu goste tanto. Dançar era uma forma de escape, uma maneira de esquece
Eu estava dançando quando Camille se aproximou de mim, com um sorriso travesso nos lábios. Seus olhos brilhavam com uma ideia em mente, e eu sabia que estava prestes a ser arrastada para outra aventura.— Grace, tenho uma proposta para você — ela disse, inclinando-se para que eu pudesse ouvir acima da música alta. — Um dos meus amigos tem uma propriedade incrível nos arredores da cidade. Ele convidou um grupo de amigos para ir até lá esta noite. Seria uma experiência diferente, longe da agitação da boate. O que você acha?Senti-me dividida. Por um lado, adorava o ambiente vibrante da boate, a música pulsante e a sensação de liberdade que enchia o ar. Mas, por outro lado, a ideia era aproveitarmos a noite juntas, e seria no mínimo indelicado me recusar depois do plano bem-sucedido de fuga que Cam orquestrou.— Não tenho certeza, Cam. Estou me divertindo bastante aqui — respondi, balançando a cabeça em direção à multidão que ainda se agitava na pista de dança.Camille franziu o cenho, c
Estou deitada na cama do hospital, observando os médicos e enfermeiros correndo de um lado para o outro. Ainda sinto a tensão do acidente percorrendo meu corpo, mas agradeço por não ter sofrido ferimentos graves. Ao meu lado, Cam também estava deitada em uma cama próxima, e nossa conversa é interrompida pelo barulho constante dos monitores e pelos murmúrios das pessoas ao nosso redor, aos quais tentamos ficar atentas para saber como estão os amigos de Camille.Enquanto escuto meu pai conversando com o médico, pude perceber sua preocupação e determinação em garantir que todos recebessem o melhor tratamento possível. Ele é um homem de negócios sério e comprometido, além de muito conhecido na cidade. O pai de Camille e sua mãe também estão aqui, e agora ela parece estar menos agitada do que antes. Sinto-me aliviada ao saber que seríamos liberadas no dia seguinte após alguns exames e observação.No entanto, não posso deixar de notar as outras conversas que meu pai tem ao celular. Ele esta
Sinto-me subitamente desperto quando ouço batidas a porta do meu quarto, alerta, depois de uma noite longa. Fecho os olhos novamente, cheiro de perfume doce nos cabelos vermelhos, da garota deitada ao meu lado, que ainda dorme profundamente. A outra se vira sonolenta, os olhos parecem não ter nenhum foco distinto, então ela volta a dormir. Mais uma batidinha discreta, e faço um esforço para me levantar, George não iria insistir se não fosse sério, ou pelo menos incomum. Saio da cama, encontrando minhas roupas pelo caminho, me visto o mais rápido que posso, um jeans e uma camiseta devem ser o suficiente, e enquanto passo a mão pelo cabelo na tentativa de ficar mais apresentável, abro a porta.— Senhor Carter — George diz, com a mesma postura discreta e solícita de quando ainda trabalhava para meu pai — o senhor tem uma visita inesperada.— É um inesperado bom ou ruim, George? — pergunto, fechando a porta atrás de mim.— É a Srta. Evans, ela foi bastante insistente se me permite dizer —
Os dias após o acidente pareciam ter uma aura de cautela pairando no ar. Matt Sinclair finalmente concordou com meu pedido de ir à boate novamente, mas sob suas condições restritas. Aceitei seu acordo, ciente de que era melhor tê-lo ao meu lado do que arriscar a fuga novamente, e não tenho dúvida alguma que isso aconteceria.Hoje à noite, Camille vai passar em minha casa como nos velhos tempos. Nossa rotina de maquiagem, escolha de vestidos e risadas parecia uma escapada para uma realidade mais jovem e despreocupada. Estávamos animadas com a perspectiva de uma noite divertida, mas algo me incomodava profundamente: a presença de Bianca. A "namorada" de meu pai. E o problema nem é tanto o fato de que ela é apenas alguns anos mais velha do que eu, mas porque apesar de que ambas somos adultas agora, ela não me parece muito mais madura do que a garota insuportável do tempo da escola, por trás da postura digna e bons modos que cá entre nós, qualquer um com um pouco de prática faria até melh
Uma mulher elegante em um terninho permite nossa entrada. Passamos por um pequeno corredor com iluminação suave antes de entramos, em um outro ambiente. Há mesas aqui, um bar, o local é sofisticado sem parecer pretensioso. Nos acomodamos enquanto uma garçonete se aproxima, sorrindo discretamente e se coloca a nossa disposição. Cam pede cervejas para nós, e quando a moça se afasta ela respira fundo e tenta relaxar.— O que foi aquilo?— Eu tinha esquecido completamente essa palhaçada—ela diz—tem um pessoal que celebra a colheita. São ligados aos principais vinhedos da Califórnia. E todo ano é essa palhaçada.— O que é a ceifa, Cam?— É só uma bobagem mística que alguns fanáticos insistem em encenar todo ano —ouço a voz de Ben próximo a nós, me surpreendendo, e logo depois olho para ele —você está bem? Aquele idiota te machucou?— Estou bem — falo, ainda surpresa com a presença dele aqui — quem era aquele cara?— Ninguém que vale o seu tempo — ele parece querer encerrar o assunto - você
O sol estava começando a se pôr quando meu pai, Matt Sinclair, me chamou em seu escritório. Ainda era difícil para mim não me sentir como uma adolescente prestes a ser repreendida, mesmo sendo uma mulher adulta. Mas algo me dizia que não seria uma conversa casual.Respirei fundo e bati na porta antes de entrar. Meu pai estava sentado atrás de sua grande escrivaninha de mogno, com uma expressão séria no rosto. Ele era um homem alto e imponente, com cabelos começando a ficar grisalhos bem cuidados e olhos azuis penetrantes que eram um reflexo dos meus.— Grace, por favor, sente-se — ele diz, apontando para a cadeira em frente à sua mesa.Tento disfarçar meu nervosismo ao me acomodar. Sei que ele está preocupado comigo, especialmente depois de saber que voltei para casa com Ben, alguém que eu soube que ele claramente não aprova desde a noite que passei no hospital, por algum motivo, havia um clima estranho entre os dois. — O que houve, pai? — pergunto, tentando parecer calma.— Eu vi vo
O final da tarde ilumina o meu luxuoso escritório no alto de um prédio em Santa Barbara. A vista panorâmica da cidade era de tirar o fôlego, mas meus olhos estavam fixos nos relatórios financeiros que eu analisava, até o momento. Como investidor e empresário, esse é o meu mundo, o lugar onde eu me sinto verdadeiramente realizado, e pelo qual comecei a lutar ainda muito jovem.Atrás da minha imponente mesa de madeira escura, eu me inclino sobre os gráficos e números, buscando identificar as melhores oportunidades para meus clientes e para os meus próprios investimentos. Os números mostravam que tudo está indo bem, que os negócios estão prosperando, e isso me traz uma sensação de satisfação, tenho orgulho do meu trabalho.O telefone toca, interrompendo minha imersão no trabalho. Atendo com um tom profissional, mas também com a simpatia que sempre cultivava em minhas relações de negócios.— Ben Carter falando.— Sr. Carter, aqui é David da equipe de análise. Temos os relatórios finais do