Eu estava dançando quando Camille se aproximou de mim, com um sorriso travesso nos lábios. Seus olhos brilhavam com uma ideia em mente, e eu sabia que estava prestes a ser arrastada para outra aventura.
— Grace, tenho uma proposta para você — ela disse, inclinando-se para que eu pudesse ouvir acima da música alta. — Um dos meus amigos tem uma propriedade incrível nos arredores da cidade. Ele convidou um grupo de amigos para ir até lá esta noite. Seria uma experiência diferente, longe da agitação da boate. O que você acha?Senti-me dividida. Por um lado, adorava o ambiente vibrante da boate, a música pulsante e a sensação de liberdade que enchia o ar. Mas, por outro lado, a ideia era aproveitarmos a noite juntas, e seria no mínimo indelicado me recusar depois do plano bem-sucedido de fuga que Cam orquestrou.
— Não tenho certeza, Cam. Estou me divertindo bastante aqui — respondi, balançando a cabeça em direção à multidão que ainda se agitava na pista de dança.Camille franziu o cenho, claramente desapontada com minha resposta. - Eu entendo, Grace, mas não quero ir sozinha com o cara com quem estou ficando. Seria mais confortável se você viesse comigo. Além disso, tenho certeza de que você gostará de um pouco de tranquilidade, acho que os caras só querem um pouco mais de privacidade.
Enquanto Camille falava, um rapaz bonito se aproximou ao lado dela. Seus cabelos castanhos despenteados e olhos intensos me encaravam, como se estivesse curioso sobre mim. Camille logo percebeu minha distração e apresentou-nos.
— Grace, este é Alex - ela disse, apontando para o rapaz ao seu lado. — Ele é amigo do Josh, que nos convidou para a propriedade.— Oi, Grace — Alex cumprimentou, estendendo a mão em um gesto amigável. — É um prazer conhecê-la.
Retribui o cumprimento, sentindo um leve calor subir às minhas bochechas. Claro que Camille já havia cuidado de tudo, e queria garantir que eu não me sentiria sozinha enquanto ela se divertia com seu ficante. Alex é muito atraente, talvez dar uma chance à proposta de Camille não fosse uma má ideia afinal.
— Olá, Alex — respondo, sorrindo de volta. — Também é um prazer conhecê-lo.Camille olhou para nós com um sorriso vitorioso, sabendo que havia me convencido. — Ótimo! Vamos nos divertir muito, tenho certeza.
Sigo com Camille e Alex para fora da boate, a ideia era irmos logo atrás do carro de Josh, em direção há alguns pequenos vinhedos não muito longe daqui. Cam contava animada que já havia ido a uma festa lá semanas atrás, e que o lugar era realmente encantador. Estamos passando pelas pessoas em direção a entrada principal da boate, o que leva algum tempo devido ao quanto está movimentado, quando algo me chama a atenção, e não de uma maneira boa.
Entre a multidão animada, avistei Ben Carter encostado em uma das colunas, como se eu o tivesse esquecido por um longo tempo e esbarrado em sua lembrança inesperadamente. Fiquei chocada ao vê-lo lá, seu olhar enevoado, de quem provavelmente já havia bebido demais, e sua presença atraindo a atenção de todos ao seu redor.
Enquanto ele segurava um cigarro entre os dedos, duas garotas dançavam em sua proximidade. Difícil não pensar que dançavam para ele, pois se esfregavam em Ben, enquanto dois pares de mãos passeavam por seus músculos e tatuagens, ambas oferecendo-se de maneira que ele não tivesse dúvidas que o desejavam.
Pensei se era essa mesma dança que ele havia me pedido para fazer, e senti meu corpo inteiro tenso, porque sim, minha imaginação me deu um pequeno vislumbre do que seria se eu concordasse em dançar para ele. O impacto daquela cena trouxe à tona as palavras sussurradas por Camille anteriormente, quando ela me alertou sobre Ben. Ela sempre teve um sexto sentido apurado, capaz de perceber o perigo onde eu, muitas vezes, fechava os olhos. Aquela visão na boate era um lembrete sombrio de que Ben não era alguém confiável.Camille, notando meu olhar fixo na direção de Ben, aproximou-se e sussurrou em meu ouvido: — Eu te disse, Grace. Ele não presta. Fique longe dele.
A tensão se espalhou pelo meu corpo, criando uma sensação de desconforto e curiosidade ao mesmo tempo. Eu sabia que deveria seguir o conselho de Camille, eu só tinha que ouvi-la e manter distância dele.
Enquanto lutava com meus pensamentos conflitantes, Alex tocou gentilmente meu braço, desviando minha atenção para ele. — Está tudo bem, Grace? — ele perguntou, preocupado, notando uma certa agitação mais adiante.Balancei a cabeça, tentando afastar a imagem de Ben de meus pensamentos. Alex sorriu e segurou minha mão, transmitindo uma sensação de segurança. Era como se ele pudesse sentir minha hesitação e estivesse determinado a me guiar por um caminho mais seguro. Deixei para trás o fascínio perturbador que Ben exercia sobre mim, e minutos depois, saímos da boate.
A noite já avançava quando decidimos deixar a boate. Camille estava animada, e eu a acompanhei, convencida de que havia tomado a decisão correta. Nosso grupo seguiu pela estrada, com Camille atrás do carro de um dos amigos, e mais dois carros nos acompanhavam, todos cheios de risadas e vozes altas preenchendo o ar.
Enquanto conversávamos animadamente, a embriaguez do momento parecia nos envolver. A adrenalina corria em nossas veias, mas a imprudência nos dominava. No calor do momento, esquecemos os limites. De bebida, de velocidade.
E de repente, tudo mudou. O mundo ao meu redor foi subitamente transformado em uma série de flashes, barulho de pneu arrastando-se pelo asfalto, batidas que superaram o volume da minha voz ou da de Cam. Percebi o carro de Camille sendo atingido violentamente por outro veículo. A visão de metal retorcido e a sensação de rodopiar em meio à escuridão me deixaram paralisada, o medo apertando meu coração.
O som ensurdecedor do impacto invadiu meus ouvidos, abafando as risadas e conversas animadas. Os ruídos diminuíram gradualmente, como se estivessem se distanciando, e a escuridão se espalhou por minha visão, ameaçando me levar para um abismo desconhecido.Custei a entender o que se passava quando recuperei a consciência, senti-me sendo amparada por mãos gentis. O cenário ao meu redor estava confuso e embaçado. Ambulâncias piscavam luzes vermelhas e azuis, e o som de vozes preocupadas ecoava ao longe. Lentamente, comecei a distinguir as figuras familiares ao meu redor.
Camille estava ali, ao meu lado, seu rosto exibindo sinais de alívio e preocupação simultâneos. Ela me segurava com firmeza, como se temesse que eu desaparecesse a qualquer momento. E, de pé ao lado dela, meu pai, Matt Sinclair, cujos olhos expressavam uma mistura de medo e alívio ao me ver acordar.
— Grace, minha querida, você está bem? — sussurrou meu pai, a voz trêmula.Tentei falar, mas minha garganta estava seca e minha voz não saía. Olhei em volta, percebendo as ambulâncias e a agitação ao meu redor. O cenário do acidente era uma prova brutal de como um momento de imprudência podia transformar uma noite de diversão em tragédia.
Foi quando um socorrista se aproximou, interrompendo meu pai enquanto ele me pergunta como me sinto. O homem mencionou que alguém havia me resgatado do carro enquanto o socorro estava a caminho. Segundo suas palavras, alguém que parecia preocupado comigo. Ele apontou discretamente para sua direita, segui seu olhar, e meus olhos encontraram os de Ben Carter, a poucos metros de distância.
Ben estava ali, testemunhando os eventos que se desenrolavam. A escuridão que antes o cercava parecia diminuir por um momento, como se o diabo pudesse agir decentemente, mesmo que por um curto período de tempo. Havia um socorrista e um policial falando com ele, certamente perguntado detalhes do acidente.
Voltei minha atenção para Camille, que me apertou suavemente o braço, trazendo-me de volta à realidade. Seu rosto exibia uma expressão preocupada, lembrando-me de que estávamos em meio a um acidente e de que outras pessoas estavam sofrendo as consequências.— Grace, precisamos nos concentrar em garantir que todos estejam bem — ela diz, sua voz embargada pela emoção, ela tenta se manter tranquila, mas está gelada, e tremendo. — Podemos lidar com o resto depois.
Enquanto os paramédicos continuam a trabalhar e os outros passageiros são atendidos, percebo que meus sentidos começam a ficar confusos novamente quando tento me levantar, logo, meu pai me impede, dizendo que iremos todos para o hospital. Vejo, alguém se aproximando e aplicando uma injeção, e logo sinto meu corpo relaxando, e meus olhos pesando novamente enquanto sou levada na direção de uma ambulância. Não há como resistir, sinto-me exausta, apenas fecho meus olhos enquanto deixamos o local.
Estou deitada na cama do hospital, observando os médicos e enfermeiros correndo de um lado para o outro. Ainda sinto a tensão do acidente percorrendo meu corpo, mas agradeço por não ter sofrido ferimentos graves. Ao meu lado, Cam também estava deitada em uma cama próxima, e nossa conversa é interrompida pelo barulho constante dos monitores e pelos murmúrios das pessoas ao nosso redor, aos quais tentamos ficar atentas para saber como estão os amigos de Camille.Enquanto escuto meu pai conversando com o médico, pude perceber sua preocupação e determinação em garantir que todos recebessem o melhor tratamento possível. Ele é um homem de negócios sério e comprometido, além de muito conhecido na cidade. O pai de Camille e sua mãe também estão aqui, e agora ela parece estar menos agitada do que antes. Sinto-me aliviada ao saber que seríamos liberadas no dia seguinte após alguns exames e observação.No entanto, não posso deixar de notar as outras conversas que meu pai tem ao celular. Ele esta
Sinto-me subitamente desperto quando ouço batidas a porta do meu quarto, alerta, depois de uma noite longa. Fecho os olhos novamente, cheiro de perfume doce nos cabelos vermelhos, da garota deitada ao meu lado, que ainda dorme profundamente. A outra se vira sonolenta, os olhos parecem não ter nenhum foco distinto, então ela volta a dormir. Mais uma batidinha discreta, e faço um esforço para me levantar, George não iria insistir se não fosse sério, ou pelo menos incomum. Saio da cama, encontrando minhas roupas pelo caminho, me visto o mais rápido que posso, um jeans e uma camiseta devem ser o suficiente, e enquanto passo a mão pelo cabelo na tentativa de ficar mais apresentável, abro a porta.— Senhor Carter — George diz, com a mesma postura discreta e solícita de quando ainda trabalhava para meu pai — o senhor tem uma visita inesperada.— É um inesperado bom ou ruim, George? — pergunto, fechando a porta atrás de mim.— É a Srta. Evans, ela foi bastante insistente se me permite dizer —
Os dias após o acidente pareciam ter uma aura de cautela pairando no ar. Matt Sinclair finalmente concordou com meu pedido de ir à boate novamente, mas sob suas condições restritas. Aceitei seu acordo, ciente de que era melhor tê-lo ao meu lado do que arriscar a fuga novamente, e não tenho dúvida alguma que isso aconteceria.Hoje à noite, Camille vai passar em minha casa como nos velhos tempos. Nossa rotina de maquiagem, escolha de vestidos e risadas parecia uma escapada para uma realidade mais jovem e despreocupada. Estávamos animadas com a perspectiva de uma noite divertida, mas algo me incomodava profundamente: a presença de Bianca. A "namorada" de meu pai. E o problema nem é tanto o fato de que ela é apenas alguns anos mais velha do que eu, mas porque apesar de que ambas somos adultas agora, ela não me parece muito mais madura do que a garota insuportável do tempo da escola, por trás da postura digna e bons modos que cá entre nós, qualquer um com um pouco de prática faria até melh
Uma mulher elegante em um terninho permite nossa entrada. Passamos por um pequeno corredor com iluminação suave antes de entramos, em um outro ambiente. Há mesas aqui, um bar, o local é sofisticado sem parecer pretensioso. Nos acomodamos enquanto uma garçonete se aproxima, sorrindo discretamente e se coloca a nossa disposição. Cam pede cervejas para nós, e quando a moça se afasta ela respira fundo e tenta relaxar.— O que foi aquilo?— Eu tinha esquecido completamente essa palhaçada—ela diz—tem um pessoal que celebra a colheita. São ligados aos principais vinhedos da Califórnia. E todo ano é essa palhaçada.— O que é a ceifa, Cam?— É só uma bobagem mística que alguns fanáticos insistem em encenar todo ano —ouço a voz de Ben próximo a nós, me surpreendendo, e logo depois olho para ele —você está bem? Aquele idiota te machucou?— Estou bem — falo, ainda surpresa com a presença dele aqui — quem era aquele cara?— Ninguém que vale o seu tempo — ele parece querer encerrar o assunto - você
O sol estava começando a se pôr quando meu pai, Matt Sinclair, me chamou em seu escritório. Ainda era difícil para mim não me sentir como uma adolescente prestes a ser repreendida, mesmo sendo uma mulher adulta. Mas algo me dizia que não seria uma conversa casual.Respirei fundo e bati na porta antes de entrar. Meu pai estava sentado atrás de sua grande escrivaninha de mogno, com uma expressão séria no rosto. Ele era um homem alto e imponente, com cabelos começando a ficar grisalhos bem cuidados e olhos azuis penetrantes que eram um reflexo dos meus.— Grace, por favor, sente-se — ele diz, apontando para a cadeira em frente à sua mesa.Tento disfarçar meu nervosismo ao me acomodar. Sei que ele está preocupado comigo, especialmente depois de saber que voltei para casa com Ben, alguém que eu soube que ele claramente não aprova desde a noite que passei no hospital, por algum motivo, havia um clima estranho entre os dois. — O que houve, pai? — pergunto, tentando parecer calma.— Eu vi vo
O final da tarde ilumina o meu luxuoso escritório no alto de um prédio em Santa Barbara. A vista panorâmica da cidade era de tirar o fôlego, mas meus olhos estavam fixos nos relatórios financeiros que eu analisava, até o momento. Como investidor e empresário, esse é o meu mundo, o lugar onde eu me sinto verdadeiramente realizado, e pelo qual comecei a lutar ainda muito jovem.Atrás da minha imponente mesa de madeira escura, eu me inclino sobre os gráficos e números, buscando identificar as melhores oportunidades para meus clientes e para os meus próprios investimentos. Os números mostravam que tudo está indo bem, que os negócios estão prosperando, e isso me traz uma sensação de satisfação, tenho orgulho do meu trabalho.O telefone toca, interrompendo minha imersão no trabalho. Atendo com um tom profissional, mas também com a simpatia que sempre cultivava em minhas relações de negócios.— Ben Carter falando.— Sr. Carter, aqui é David da equipe de análise. Temos os relatórios finais do
Montando na moto, acelero pelas ruas de Santa Barbara em direção ao "Maré Alta". O restaurante é um dos empreendimentos mais bem-sucedidos que tenho, e Bianca sabia disso quando escolheu esse local para seus planos.Ao chegar, estaciono a moto e caminho em direção ao restaurante. Passo pelos clientes, que olham curiosos para mim. Muitos deles sabem que eu sou o dono, mas para outros, sou apenas mais um cliente como tantos outros.Ao entrar, vejo Grace conversando com Matt, os três poderiam fazer as vezes de família feliz, se não fosse a ambição de Bianca. Grace me nota e seus olhos brilham com um toque de surpresa e alegria. Ela não disfarça o quanto está feliz em me ver, enquanto Matt enxerga apenas o playboy que em algum momento vai partir o coração de sua garotinha em pedaços, e eu não me importo de manter esse papel se isso a mantiver distante.— Grace — chamo, cumprimentando-a com um sorriso malicioso.— Ben — ela responde, um pouco desconcertada.— Bem-vindos ao Maré Alta, estão
O encontro com Grace tinha deixado uma marca em mim, uma sensação que eu não estou acostumado a experimentar. Enquanto a observava se afastar, eu soube que aquilo poderia se tornar algo mais, mas me mantenho firme na minha decisão de não me envolver emocionalmente. Mulheres como Grace não precisam de alguém como eu, e eu não estou disposto a arriscar.Volto para o escritório do restaurante, deixando meus pensamentos de lado e me concentrando no trabalho. Aproveito para dar uma olhada nos relatórios financeiros como disse a Clary que faria, enquanto jantávamos.Enquanto estou imerso na papelada, a porta do escritório se abre, e uma figura familiar entra. É Veronica, uma mulher com quem tenho uma relação casual há algum tempo. Ela tem uma beleza exuberante, cabelos escuros e olhos penetrantes. É o tipo de mulher que não tenho problema nenhum em manter por perto, já que sabemos exatamente o que queremos um do outro.— Olá, Ben. Pensei que estivesse ocupado, mas resolvi aparecer — ela diz