No Píer

O sol estava começando a se pôr quando meu pai, Matt Sinclair, me chamou em seu escritório. Ainda era difícil para mim não me sentir como uma adolescente prestes a ser repreendida, mesmo sendo uma mulher adulta. Mas algo me dizia que não seria uma conversa casual.

Respirei fundo e bati na porta antes de entrar. Meu pai estava sentado atrás de sua grande escrivaninha de mogno, com uma expressão séria no rosto. Ele era um homem alto e imponente, com cabelos começando a ficar grisalhos bem cuidados e olhos azuis penetrantes que eram um reflexo dos meus.

— Grace, por favor, sente-se — ele diz, apontando para a cadeira em frente à sua mesa.

Tento disfarçar meu nervosismo ao me acomodar. Sei que ele está preocupado comigo, especialmente depois de saber que voltei para casa com Ben, alguém que eu soube que ele claramente não aprova desde a noite que passei no hospital, por algum motivo, havia um clima estranho entre os dois. 

— O que houve, pai? — pergunto, tentando parecer calma.

— Eu vi você chegar com Ben outro dia — ele começa, escolhendo cuidadosamente suas palavras. — Você sabe o que eu penso sobre ele, Grace. Ele não é alguém adequado para você.

Suspiro, preparando-me para a conversa difícil que eu sabia que viria.

— Eu entendo suas preocupações, pai, mas Ben está mais para alguém que estou começando a conhecer — tento explicar, escolhendo minhas palavras com cautela.

Meu pai franze o cenho. — Não há nada de bom nessa aproximação, Grace, e eu não sou cego. Eu vi a forma como ele olhou para você quando foi ao hospital. Ele não é o tipo de homem com quem eu quero que você se envolva.

— Não é assim, pai — eu insisto, lutando para encontrar as palavras certas para defendê-lo.

— Você sabe o que dizem sobre ele, não é? — Matt continua, ignorando minha afirmação. — Ele é um mulherengo, um playboy. Não é alguém em quem você possa confiar.

— Eu sei que ele tem uma reputação, mas as pessoas mudam, pai — eu digo, sentindo minha frustração aumentar. — Não temos um relacionamento ou algo assim, só nos encontramos ontem, e ele se ofereceu para me trazer.

Meu pai balança a cabeça, parecendo desapontado. —  Eu só quero o melhor para você, Grace. E eu não acho que o melhor seja se envolver com alguém como ele.

— Eu entendo a sua desconfiança, mas posso fazer meus próprios julgamentos.

Eu sei que ele tem suas razões para se preocupar, e gostaria que ele fosse claro em relação a isso. É óbvio que há algum problema entre os dois, mas eu sei que perguntar abertamente nesse exato momento não seria bom. E eu gostaria de saber se Ben é mais complexo do que sua reputação de mulherengo e suas tatuagens sugerem. Mas como eu poderia explicar isso ao meu pai?

— Eu só queria que você confiasse em mim, pai — falo, com sinceridade em minha voz. — Eu sei o que estou fazendo. Vivi longe tempo o bastante para que pudesse aprender sozinha como me defender.

— Eu espero que sim — ele respondeu, sua expressão suavizando um pouco. — Mas por favor, tome cuidado, Grace. Não quero que você se machuque.

Concordo, agradecendo seu cuidado, mesmo que ainda houvesse um certo desconforto entre nós. Saio do escritório com a sensação dolorosa que pela primeira vez, minha mão não sai logo atrás de mim, depois de uma dessas conversas. Por um momento me pergunto o que ela me diria, mas sou tirada de meus pensamentos pelo som dos saltos de Bianca Evans vindo na minha direção. Ela sorri enquanto se aproxima, eu retribuo educadamente e vou ao encontro de Cam, que me aguarda para irmos ao píer Stearns Wharf.

No píer, o ambiente é agradável e descontraído. As luzes coloridas dos restaurantes e lojas começavam a se acender enquanto o sol se punha, e a brisa do mar trazia um alívio para o calor do dia.

Camille e eu nos sentamos em uma das mesas do lado de fora de um bar, pedindo duas cervejas geladas. Ela olha para mim com um sorriso curioso.

— Então, me conte mais sobre esse tal Ben — ela diz, inclinando-se para frente.

— Não tem muito para contar ainda — respondo, dando de ombros. — Depois de tudo ontem, na boate. Ele se ofereceu para me trazer de volta para casa.

Camille arqueou uma sobrancelha de um jeito malicioso. — E você aceitou....

— Sim — falo, dando um gole na cerveja. — Ele pareceu legal, e foi gentil o suficiente para me ajudar quando aquele cara da Ceifa estava incomodando.

Camille parece ponderar minhas palavras por um momento antes de falar. — Só tome cuidado, Grace. Eu conheço a fama dele, e não é boa.

— Eu sei, Cam, mas não estou pensando em me envolver romanticamente com ele ou algo assim — tento explicar. — Apenas queria agradecer por ter me ajudado.

— Nunca pensei que ele fosse seu tipo, amiga — ela comenta — tatuado, pegador e maconheiro.

— Olhando por esse ângulo, parece realmente ruim — ignoro a risada de Cam, que dá mais um gole em sua bebida.

— Nada que impeça você de beijar aquela chaminé do inferno, não é mesmo?

— Achei que ele era o diabo, Camille — sinalizo para o garçom, peço um chopp.

— O diabo fumando é o próprio Ben, mas claro que você ignora enquanto está mais interessada nas tatuagens, no tanquinho, e na cara de safado daquele traste....

—Tá parecendo meu pai, Cam....

  — Eu apoio suas decisões, Grace, você sabe disso — diz ela, com sinceridade em seu olhar. — Mas não posso evitar me preocupar. Ele tem um histórico complicado.

Eu apenas concordo, entendendo a preocupação de Camille. Ela sempre foi uma amiga leal, sempre disposta a me proteger de qualquer coisa que pudesse me fazer mal.

— Eu entendo, Cam, e eu também estou sendo cuidadosa — digo, sorrindo para ela. — Prometo que vou ficar atenta.

Camille sorri de volta, parecendo mais tranquila. — É tudo o que eu peço. Só quero que você esteja bem.

— Obrigada por se importar comigo, Cam — digo, tocando suavemente sua mão em sinal de gratidão.

Enquanto conversávamos, aproveitamos o tempo para observar o movimento no píer. Os turistas passeavam, as crianças corriam, e o som das ondas batendo contra os pilares criava uma trilha sonora reconfortante. O assunto sobre Ben acaba se dissipando entre risadas e histórias compartilhadas, e eu me senti grata por ter Camille ao meu lado. Logo nos despedimos, como ela tinha que passar rapidamente na casa de colega de trabalho para buscar algo que precisaria no outro dia cedo, preferiu pegar uma carro de aplicativo, nos despedimos, e eu fiquei observando o mar por mais um tempo. A temperatura está agradável, e aproveito o momento perfeito, somente para observar tudo ao meu redor. Muitos turistas, crianças rindo, celulares registrando tudo o tempo todo, enquanto sigo distraída pelo píer, quando vejo algo inesperado.

Não muito longe de onde está o carro, vejo Ben, e uma garota. Loira, cabelos loiros compridos, muito bonita. Ela segura no braço dele, e os dois parecem bem à vontade, rindo e conversando. Eles param ao lado da moto dele, onde Ben se apoia. Ela parece feliz, e ele a cobre de atenção, logo eles se abraçam, e ele beija seus cabelos, ela acena rapidamente enquanto se afasta e entra no carro, e ele a segue de moto. Me sinto tola por um momento, pensando que se considerei que ele pudesse ter pensado em me encontrar novamente, eu estive apenas me deixando iludir. Nada que eu não tivesse sido alertada. Entro no carro, e enquanto volto para casa penso que não importa o quanto Ben seja encantador, ele tem uma reputação, e eu não deveria estar tão ansiosa para conhecê-la e julgar se lhe faz jus ou não.

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