**Capítulo 1**
CLAIRE
O escritório da Donovan & Co. sempre foi um lugar que me intimidava, mas também me fascinava. As paredes de vidro, que se estendiam do chão ao teto, davam ao ambiente uma sensação de imensidão, como se o mundo lá fora fosse pequeno demais diante da grandiosidade daquele espaço. Tudo naquele escritório parecia pensado para exalar poder: o design moderno, o mobiliário minimalista, até o som dos passos sobre o piso polido, como uma música de sucesso tocando sem parar. Era o tipo de lugar onde as pessoas não eram apenas bem-sucedidas — elas eram imponentes.
Eu nunca imaginei que algum dia faria parte daquele universo. Como alguém tão comum, sem qualquer traço de grandeza, teria alguma chance de entrar naquele círculo? Mas eu batalhei muito para chegar ali. Passei noites em claro estudando, lidando com frustrações e momentos de dúvida. Tudo para conquistar a chance de trabalhar ao lado de Lucas Donovan. E, no fundo, eu sabia que era ele quem mais me motivava. A oportunidade de trabalhar com alguém tão brilhante, tão… poderoso, era uma chance única. Mas, mal sabia eu, que, ao conquistar o meu lugar naquele escritório, também estaria me entregando sem querer a uma paixão avassaladora e proibida.
Desde o momento em que comecei a trabalhar como sua secretária, algo em mim mudou. Eu não conseguia mais ser a mesma pessoa. Lucas parecia dominar cada aspecto do meu mundo, embora nunca soubesse disso. Cada vez que ele passava pela minha mesa, algo no meu peito acelerava. E era impossível ignorá-lo. Ele não era apenas um chefe exigente, mas um homem cuja presença invadia todos os cantos do escritório. Seu modo de andar, sua postura rígida e confiante, a maneira como sua voz, profunda e quase arrogante, moldava cada conversa — tudo nele exalava uma energia irresistível, e, de alguma forma, eu me via consumida por ela.
Eu me pegava observando-o, quase sem perceber, enquanto ele discutia com os outros sócios, ou durante aquelas reuniões intermináveis em que sua autoridade parecia definir o ritmo de tudo ao seu redor. Lucas Donovan não tinha apenas poder sobre a empresa. Ele tinha poder sobre o ar que respirávamos. Seu olhar penetrante fazia qualquer um se calar, e sua confiança inabalável o tornava ainda mais atraente. Eu sabia que, no fundo, ele jamais veria alguém como eu — uma simples secretária, alguém que ele mal notava, uma sombra no canto de seu império de vidro e aço.
Mas, mesmo sabendo disso, eu me vi perdendo o controle. Era uma atração que ia além da simples admiração. Cada palavra que ele dizia parecia reverberar dentro de mim, como se tivesse o poder de mexer com algo muito profundo. E eu me via cada vez mais submissa à sua presença. Sua indiferença era quase magnética — quanto mais ele parecia distante, mais eu me aproximava emocionalmente, tentando decifrar cada gesto seu, cada olhar fugaz que me atravessava.
E então, houve aquele dia. Aquele momento que mudou tudo.
Eu estava sentada à minha mesa, digitando alguns documentos, tentando me manter o mais distante possível de tudo o que acontecia ao meu redor, quando a conversa entre Lucas e um dos sócios começou. As palavras que ele dizia me atingiram como um golpe frio, quase como uma lâmina cortando minha carne. Ele estava falando sobre mulheres, e, de repente, aquelas palavras começaram a invadir minha mente, tomar o controle de tudo.
— Não tenho paciência para mulher que não se cuida. Mulheres bonitas são aquelas que sabem manter o peso. As outras… bem, nem deveriam tentar.
As palavras de Lucas ressoaram em minha cabeça como um eco distante, mas agudo, como se ele estivesse falando diretamente para mim. Eu congelei. O rosto aqueceu com a vergonha, e um nó se formou na minha garganta. Era claro que ele não estava falando sobre mim. Eu não era o tipo de mulher que ele notava, não era o tipo que ele desejava. Eu, com minhas inseguranças, com meu corpo longe dos padrões de perfeição que ele tanto valorizava. Eu era invisível para ele. Sempre soubera disso, mas ouvir aquelas palavras, ditas com tanta certeza, me fez sentir algo que eu não sabia como definir. Uma dor crua, uma humilhação profunda.
Por que isso me afetava tanto? Sempre soubera que ele nunca me olharia como algo mais do que uma simples funcionária. Mas, ao ouvir sua opinião sobre o tipo de mulher que ele considerava bonita, algo dentro de mim se quebrou. Eu me senti ridícula. Todas aquelas horas em que, secretamente, me pegava admirando-o, desejando estar em seus braços, foram sumariamente desvalorizadas por aquelas palavras. Era como se, naquele instante, todos os sentimentos que eu guardava em segredo tivessem sido jogados no lixo.
Mas o que mais doía não era apenas o que ele pensava. Era o fato de que eu me importava. Eu me importava com sua opinião, com o modo como ele me via, como se toda a minha autoimagem dependesse do que ele pensava de mim. Eu me senti pequena, menos do que nada.
Eu tentei ignorar as palavras, disfarçar o impacto que elas causaram, mas não consegui. Quando o expediente terminou, o peso daquelas palavras ainda estava sobre mim. Quase como uma marca que não podia ser apagada. Eu queria desaparecer, fugir de tudo aquilo. Mas, então, uma ideia inesperada surgiu, como um grito desesperado dentro de mim. Eu não queria ser a Claire que se escondia atrás de seus sentimentos não correspondidos. Eu queria ser outra pessoa, uma mulher que não se importava com padrões ou com o que Lucas pensava sobre mim.
E foi aí que decidi fazer algo totalmente diferente. Algo que nunca imaginei que teria coragem. Eu ia sair. Eu ia dançar.
Sempre que dançava, eu me sentia livre. Era como se o corpo tomasse conta da minha mente, deixando para trás toda a insegurança e a dor. Na pista de dança, eu poderia ser quem eu quisesse ser, sem julgamentos, sem medo. Não precisava ser a Claire que se escondia atrás de seus sentimentos não correspondidos. Eu seria outra, mais forte, mais confiante.
Coloquei o top preto que abraçava minhas curvas e a saia justa, e, ao me olhar no espelho, pela primeira vez, vi uma mulher diferente. Eu não era mais uma secretária invisível. Eu era eu, e isso era tudo o que eu precisava para me sentir completa. Apliquei o batom vermelho com uma sensação de empoderamento que há muito não sentia, como se cada movimento, cada gesto, estivesse me moldando para uma versão melhor de mim mesma. Eu não me importava mais com o que Lucas pensava. Eu não precisava da aprovação dele. Eu precisava de mim mesma.
Quando desci as escadas, o coração batia forte, e a adrenalina me consumia. O caminho até a boate parecia curto, mas, ao mesmo tempo, cada passo que dava me afastava da Claire tímida, insegura e apaixonada, e me aproximava da mulher que eu queria ser. Eu não sabia o que o futuro me reservava, mas aquela noite, pelo menos, seria minha.
**Capítulo 2**LUCASA noite estava quente e abafada quando entrei na boate. Dominic, um dos meus poucos amigos fora do ambiente corporativo, estava ao meu lado, puxando-me para o balcão do bar como se fosse a única saída para um dia exaustivo. Eu não era o tipo de homem que frequentava boates. Mulheres, claro, eram parte da minha rotina — desde que fosse algo simples, rápido, e sem complicações. A vida já era complexa o bastante para que eu perdesse tempo me dedicando a romances ou a situações emocionais. Mas, por alguma razão, naquele dia, aceitei o convite de Dominic para "desligar a mente" um pouco.— Vai te fazer bem, Lucas. Você precisa se soltar de vez em quando — disse Dominic, enquanto entregava ao barman uma nota generosa e pedia duas doses de uísque.Aceitei o copo que ele me ofereceu, dando um gole enquanto observava a movimentação ao redor. O ambiente estava cheio, as luzes alternando entre tons vermelhos e azuis, o que dava ao lugar um ar de mistério. Eu não conhecia nin
**Capítulo 3**CLAIREVoltar ao escritório na manhã seguinte foi mais difícil do que eu imaginava. Dormi tarde demais, ainda sob o efeito daquela noite na boate. A imagem da dançarina estava gravada na minha mente, e cada vez que eu tentava me concentrar, ela aparecia, me desafiando com aquele olhar firme e inabalável. Era um alívio ninguém no escritório saber onde estive ou o que eu fizera na noite anterior. Mesmo assim, aquela sensação inquietante não desaparecia.Quando entrei na empresa, minha secretária, Claire, já estava em sua mesa, os olhos fixos no computador. Ela me cumprimentou com seu habitual sorriso gentil, e eu acenei com um leve movimento de cabeça, mais distraído do que o normal. Minha mente ainda estava presa na lembrança da dançarina, e, pela primeira vez em muito tempo, eu me permiti uma pequena dose de curiosidade.— Bom dia, senhor Donovan — Claire disse, sem desviar os olhos do computador.— Bom dia, Claire. — Tentei soar casual, mas ela parecia notar minha falt
**Capítulo 4**LUCASMinha obsessão pela dançarina estava tomando um rumo que eu não previa. Quando pisei no escritório naquela manhã, estava decidido a descobrir tudo o que pudesse sobre ela. A curiosidade estava me consumindo. Cada apresentação, cada movimento que ela fazia no palco, tudo parecia ter um propósito, como se estivesse lançando um convite que eu não conseguia ignorar.Claire estava lá, em sua mesa, como sempre, com aquele ar de eficiência e calma. Cumprimentou-me com um aceno e me entregou alguns documentos. Eu dei uma olhada rápida e assenti, percebendo como ela me observava mais intensamente. Havia algo diferente em sua expressão, algo que eu não conseguia decifrar. Claire sempre fora uma presença sutil e tranquila, mas nos últimos dias... eu não sabia explicar. Era como se ela soubesse o que se passava em minha mente.Naquela manhã, eu precisava de uma saída para minha frustração. A cada relatório que eu lia, a imagem da dançarina voltava à minha mente, distraindo-me
**Capítulo 5**CLAIREDesde que comecei a dançar naquela boate, algo dentro de mim despertou. No palco, eu me tornava alguém diferente, alguém que não precisava esconder suas emoções ou inseguranças. Ali, eu era livre. Longe da Claire invisível que Lucas Donovan via no escritório todos os dias. Mas agora, meu segredo parecia ameaçado, como se as paredes que construí ao redor dele estivessem começando a rachar.E tudo por causa dele.Nos últimos dias, Lucas havia mudado. Era sutil, mas eu percebia os olhares furtivos, o modo como sua atenção parecia vagar sempre que estava por perto. E o que mais me perturbava era que, em alguns momentos, parecia me observar com uma curiosidade intensa. Meu coração batia mais rápido a cada vez que ele me encarava por tempo demais. Será que ele... suspeitava?— Claire, você poderia trazer o relatório de vendas? — A voz dele me fez sair do transe, e eu pisquei, percebendo que estava perdida em pensamentos.— Claro, senhor Donovan. Vou trazê-lo agora. — M
**Capítulo 6**LUCASPassava das nove quando finalmente saí do escritório. Mesmo após um longo dia de trabalho, minha mente estava em qualquer lugar, menos nos negócios. Claire, como sempre, estava lá até o último minuto, organizando documentos e garantindo que todos os detalhes estivessem no lugar. Mas, naquela noite, seu silêncio me parecia ensurdecedor.Tentei me concentrar no último relatório que ela havia deixado em minha mesa, mas a memória da noite anterior na boate invadia meus pensamentos sem piedade. A dançarina misteriosa parecia ocupar um espaço cada vez maior na minha mente. Era como se ela tivesse plantado uma semente que crescia sem controle, uma obsessão que me consumia a cada dia.Enquanto eu tentava afogar os pensamentos, algo no meu subconsciente conectava imagens e lembranças. Havia algo na maneira como a dançarina me olhava que me lembrava... de Claire? Eu sabia que era absurdo, mas não conseguia afastar o pensamento. Elas eram tão diferentes. Claire era séria, re
**Capítulo 7**CLAIREA cada dia, a sensação de que Lucas estava mais atento a mim se intensificava. Ele parecia me observar com uma curiosidade que não existia antes. Seu olhar permanecia mais tempo do que o habitual, como se estivesse procurando algo que ainda não conseguia ver claramente. E isso me deixava em constante alerta.Tentei manter minha rotina o mais normal possível. Todas as manhãs eu chegava cedo, organizava os documentos e preparava o café dele, assim como sempre fizera. Mas a ansiedade me consumia. A qualquer momento, ele poderia conectar as peças e perceber que a dançarina que o intrigava era, na verdade, sua própria secretária.Certa tarde, enquanto preparava um relatório, ouvi passos se aproximando, e então Lucas parou ao lado da minha mesa.— Claire, preciso discutir alguns pontos com você. Pode ir à minha sala? — Sua voz era firme, mas havia um tom de curiosidade que me deixou desconfortável.Eu assenti, pegando meu bloco de notas, e o segui até sua sala, onde el
**Capítulo 8**CLAIREA tensão estava tomando conta de mim. Cada dia no escritório parecia um novo teste, uma batalha interna para esconder o que sentia e o que sabia. Estava ficando cada vez mais difícil manter a calma quando Lucas me olhava, e algo em mim dizia que ele sabia. Ele não tinha provas, mas sabia que eu escondia algo.Na manhã seguinte ao nosso encontro na saída da boate, entrei no escritório com o coração apertado. Lucas já estava em sua mesa, os olhos cravados em mim assim que cruzei a porta. A intensidade de seu olhar era quase insuportável, e me obriguei a desviar rapidamente, respirando fundo e tentando controlar o nervosismo. Era como se ele estivesse esperando uma confissão que eu nunca poderia dar.— Bom dia, senhor Donovan — murmurei ao passar por ele, mantendo o tom de voz o mais neutro possível.— Bom dia, Claire. — Ele respondeu, mas havia algo diferente em sua voz, um tom que carregava certa curiosidade, ou até mesmo uma provocação.Sem dizer mais nada, segui
**Capítulo 9**LUCASMinha obsessão estava crescendo. Não havia outra palavra para descrever o que eu sentia. Cada vez que via a dançarina, cada vez que sentia a energia dela no palco, eu queria mais. Queria descobrir quem ela era, o que a fazia viver aquela vida dupla — se é que era isso mesmo. E a cada noite passada na boate, saía de lá mais obcecado e frustrado.Na manhã seguinte ao nosso encontro na saída da boate, cheguei ao escritório determinado a juntar as peças, a encontrar algum indício. Eu sabia que minha insistência estava começando a afetar Claire, mas não conseguia parar. Por algum motivo, eu sentia que a resposta estava próxima, ao alcance das minhas mãos, mas faltava algo.Claire estava como sempre, organizada e profissional. No entanto, o nervosismo era palpável. Eu a observava com mais atenção do que nunca, notando detalhes que antes haviam passado despercebidos: o modo como desviava o olhar ao sentir minha presença, a tensão nos ombros, e até mesmo a forma como mant