**Capítulo 6**
LUCAS
Passava das nove quando finalmente saí do escritório. Mesmo após um longo dia de trabalho, minha mente estava em qualquer lugar, menos nos negócios. Claire, como sempre, estava lá até o último minuto, organizando documentos e garantindo que todos os detalhes estivessem no lugar. Mas, naquela noite, seu silêncio me parecia ensurdecedor.
Tentei me concentrar no último relatório que ela havia deixado em minha mesa, mas a memória da noite anterior na boate invadia meus pensamentos sem piedade. A dançarina misteriosa parecia ocupar um espaço cada vez maior na minha mente. Era como se ela tivesse plantado uma semente que crescia sem controle, uma obsessão que me consumia a cada dia.
Enquanto eu tentava afogar os pensamentos, algo no meu subconsciente conectava imagens e lembranças. Havia algo na maneira como a dançarina me olhava que me lembrava... de Claire? Eu sabia que era absurdo, mas não conseguia afastar o pensamento. Elas eram tão diferentes. Claire era séria, reservada, enquanto a mulher na boate parecia segura de si, quase desafiadora.
Mas a ideia não me deixava em paz. Será que a minha secretária discreta, a mulher que parecia passar despercebida pela maioria das pessoas, poderia ter um lado tão escondido? Eu não tinha como saber, mas cada dia no escritório parecia trazer novas evidências de que eu estava perdendo algo. Claire andava mais distraída, mais tensa, e isso só aumentava minha curiosidade.
Naquela noite, enquanto eu estava em casa, decidi que precisava encontrar alguma pista. Talvez houvesse algo que eu havia ignorado, um detalhe que conectasse as duas. Fui até a cozinha, pegando um copo de uísque, e me sentei no sofá. Na penumbra da sala, tentei me concentrar, revivendo cada detalhe da dançarina na minha mente. Seu olhar, seus movimentos... Cada um deles parecia gravado em minha memória.
Nos dias seguintes, mantive meu olhar atento em Claire, notando as pequenas coisas que antes passavam despercebidas. Ela era impecável no trabalho, mas agora, parecia um pouco mais reservada. Como se houvesse algo que ela estivesse escondendo. Ou talvez fosse apenas a minha imaginação, distorcendo tudo na minha busca por respostas.
Um dia, decidi tentar uma abordagem mais direta.
— Claire, sei que normalmente não pergunto, mas... o que faz depois do expediente? — A pergunta soou mais direta do que eu esperava, mas eu precisava saber.
Ela me olhou, surpresa, com as sobrancelhas ligeiramente erguidas.
— Depois do trabalho? Nada de especial, senhor. Normalmente, vou para casa. — A resposta foi tão simples quanto sempre, mas havia algo em seu tom que parecia tenso. Algo que despertou ainda mais minha curiosidade.
— Certo, apenas curioso. — Tentei soar casual, mas a curiosidade ainda estava lá, latejando.
Ela sorriu de leve, mas seu sorriso era frio, e percebi que ela evitava meu olhar. Cada detalhe parecia se encaixar, mas, ao mesmo tempo, cada um abria mais dúvidas. Eu precisava de respostas, mas não queria ser óbvio. A última coisa que eu queria era assustá-la, ou fazer uma acusação absurda.
Nas noites que se seguiram, voltei à boate, cada vez mais desesperado por um sinal, qualquer indício que confirmasse minhas suspeitas. No entanto, cada vez que a via, era como se a dançarina jogasse com o mistério. Ela não dava nenhuma dica, nenhuma pista que pudesse revelar quem realmente era. Era apenas uma dança, um show... e eu, seu espectador obcecado.
Após mais uma apresentação, tentei abordá-la, mas ela se afastou rapidamente, misturando-se ao público e desaparecendo nas sombras. Uma frustração crescente me consumia. Como alguém poderia ser tão evasivo e, ao mesmo tempo, tão fascinante? Era como se ela estivesse sempre um passo à frente, como se soubesse exatamente o efeito que causava em mim.
No escritório, Claire parecia ainda mais cuidadosa, cada vez mais concentrada e atenta a qualquer palavra minha. E eu, por outro lado, começava a perceber detalhes sutis: o modo como ela abaixava a cabeça, evitava meu olhar, ou mesmo como respondia às perguntas sem nunca se expor. Começava a me perguntar se eu realmente conhecia minha própria secretária.
Naquela tarde, depois que todos saíram, decidi arriscar uma última tentativa.
— Claire, não sei se está interessada, mas eu e alguns colegas vamos sair para um happy hour. Gostaria de nos acompanhar?
Ela hesitou, uma surpresa estampada em seu rosto. Sabia que eu nunca convidava ninguém para eventos fora do escritório. Era minha política manter as coisas estritamente profissionais. Mas, por algum motivo, queria vê-la fora daquele ambiente controlado, sem a formalidade que ela usava como armadura.
— Ah... eu... agradeço, senhor Donovan, mas acho que vou passar. — Ela sorriu de leve, parecendo desconfortável.
Eu assenti, um pouco frustrado, mas entendi sua hesitação. Eu estava tentando avançar em um terreno incerto, e Claire, por algum motivo, parecia mais distante a cada dia.
Naquela noite, voltei para casa com a sensação de que o mistério estava mais perto de ser resolvido, mas, ao mesmo tempo, tão distante quanto sempre. O jogo de gato e rato parecia não ter fim. Eu sabia que minha obsessão pela dançarina continuaria a crescer, e Claire, de alguma forma, continuava sendo um enigma que eu ainda precisava desvendar.
E eu sabia que, mesmo que levasse mais tempo do que eu imaginava, não desistiria. Afinal, algo dentro de mim dizia que as respostas estavam bem na minha frente. Eu só precisava enxergar melhor.
**Capítulo 7**CLAIREA cada dia, a sensação de que Lucas estava mais atento a mim se intensificava. Ele parecia me observar com uma curiosidade que não existia antes. Seu olhar permanecia mais tempo do que o habitual, como se estivesse procurando algo que ainda não conseguia ver claramente. E isso me deixava em constante alerta.Tentei manter minha rotina o mais normal possível. Todas as manhãs eu chegava cedo, organizava os documentos e preparava o café dele, assim como sempre fizera. Mas a ansiedade me consumia. A qualquer momento, ele poderia conectar as peças e perceber que a dançarina que o intrigava era, na verdade, sua própria secretária.Certa tarde, enquanto preparava um relatório, ouvi passos se aproximando, e então Lucas parou ao lado da minha mesa.— Claire, preciso discutir alguns pontos com você. Pode ir à minha sala? — Sua voz era firme, mas havia um tom de curiosidade que me deixou desconfortável.Eu assenti, pegando meu bloco de notas, e o segui até sua sala, onde el
**Capítulo 8**CLAIREA tensão estava tomando conta de mim. Cada dia no escritório parecia um novo teste, uma batalha interna para esconder o que sentia e o que sabia. Estava ficando cada vez mais difícil manter a calma quando Lucas me olhava, e algo em mim dizia que ele sabia. Ele não tinha provas, mas sabia que eu escondia algo.Na manhã seguinte ao nosso encontro na saída da boate, entrei no escritório com o coração apertado. Lucas já estava em sua mesa, os olhos cravados em mim assim que cruzei a porta. A intensidade de seu olhar era quase insuportável, e me obriguei a desviar rapidamente, respirando fundo e tentando controlar o nervosismo. Era como se ele estivesse esperando uma confissão que eu nunca poderia dar.— Bom dia, senhor Donovan — murmurei ao passar por ele, mantendo o tom de voz o mais neutro possível.— Bom dia, Claire. — Ele respondeu, mas havia algo diferente em sua voz, um tom que carregava certa curiosidade, ou até mesmo uma provocação.Sem dizer mais nada, segui
**Capítulo 9**LUCASMinha obsessão estava crescendo. Não havia outra palavra para descrever o que eu sentia. Cada vez que via a dançarina, cada vez que sentia a energia dela no palco, eu queria mais. Queria descobrir quem ela era, o que a fazia viver aquela vida dupla — se é que era isso mesmo. E a cada noite passada na boate, saía de lá mais obcecado e frustrado.Na manhã seguinte ao nosso encontro na saída da boate, cheguei ao escritório determinado a juntar as peças, a encontrar algum indício. Eu sabia que minha insistência estava começando a afetar Claire, mas não conseguia parar. Por algum motivo, eu sentia que a resposta estava próxima, ao alcance das minhas mãos, mas faltava algo.Claire estava como sempre, organizada e profissional. No entanto, o nervosismo era palpável. Eu a observava com mais atenção do que nunca, notando detalhes que antes haviam passado despercebidos: o modo como desviava o olhar ao sentir minha presença, a tensão nos ombros, e até mesmo a forma como mant
**Capítulo 10**LUCASNa manhã seguinte, Claire entrou no escritório com um ar diferente, uma espécie de tensão que era quase tangível. Eu sabia que estava deixando-a desconfortável, mas era inevitável. Cada passo dela parecia cuidadoso, como se estivesse sempre alerta, sempre escondendo algo. E eu não conseguia evitar a sensação de que a dançarina e minha secretária eram a mesma pessoa.Passei o dia tentando me concentrar nos relatórios que se acumulavam em minha mesa, mas meus pensamentos sempre voltavam para Claire. Precisava descobrir a verdade, e isso estava me consumindo. Meus dias eram um jogo de observação, tentando capturar cada detalhe que pudesse me levar à resposta.No final da tarde, uma oportunidade inesperada surgiu. Fui chamado para uma reunião de última hora e, precisando de apoio, pedi que Claire me acompanhasse para tomar notas. A reunião acabou sendo breve, e, enquanto voltávamos para o escritório, decidi puxar conversa.— Claire, você já sentiu como se estivesse v
CLAIREAs palavras de Lucas ainda ecoavam em minha mente. A insistência dele em descobrir o que eu escondia parecia uma pressão constante, uma sombra que me acompanhava a cada passo. Eu sabia que ele estava perto, perto demais para o meu próprio conforto. E a ideia de que ele pudesse descobrir meu segredo estava se tornando insuportável.Aquela manhã foi um verdadeiro desafio. Cada movimento meu parecia estar sob o olhar atento de Lucas, como se ele estivesse esperando que eu cometesse um deslize. Estava claro que ele não acreditava em nada do que eu dissera na noite anterior. Ele continuaria tentando me desmascarar, e, a cada dia, a tarefa de esconder minha identidade se tornava mais difícil.Sentei-me à mesa, tentando me concentrar nos documentos à minha frente, mas minha mente vagava. Já era quase impossível focar no trabalho com a constante vigilância de Lucas. Eu precisava fazer algo. Talvez devesse simplesmente desistir e sair da boate, deixar de dançar e encerrar aquele capítul
CLAIREEra uma quarta-feira tranquila, até Lucas aparecer ao lado da minha mesa, surpreendendo-me com um convite inesperado.— Claire, tenho uma proposta. — Ele começou, com um sorriso calculado. — Vamos jantar amanhã para discutir o andamento do projeto.Meu coração deu um salto. O “jantar” sugerido parecia mais uma armadilha do que uma reunião casual, e a data era um problema. Naquela noite eu tinha uma apresentação na boate. Faltavam poucos minutos para o show, então não havia como escapar sem chamar atenção. Precisava de um plano e rápido.— Claro, senhor Donovan, estarei à disposição. — Minha voz soou calma, mas, por dentro, as engrenagens do desespero já começavam a girar.Assim que Lucas se afastou, corri para o telefone e liguei para a única pessoa que poderia me salvar daquela situação: Nina, minha amiga de longa data e dançarina profissional. Ela era tão apaixonada pelo palco quanto eu e, por sorte, tínhamos corpos parecidos. E Nina sempre adorou participar das minhas “loucu
CLAIRENa manhã seguinte ao jantar, entrei no escritório com uma sensação de vitória que não experimentava há muito tempo. Meu plano com Nina fora um sucesso, e, pelo menos por enquanto, Lucas parecia ter deixado de lado suas suspeitas sobre mim.Sentei-me à mesa e organizei os papéis do dia, sentindo o olhar de Lucas sobre mim quando ele entrou no escritório. Por um momento, nossos olhares se encontraram, e ele me ofereceu um sorriso que me fez respirar mais tranquila. Parecia que minha estratégia havia funcionado perfeitamente, afinal.Mas a paz durou pouco. No meio da manhã, ele se aproximou, segurando um relatório e com um olhar levemente provocador.— Claire, podemos conversar? — Ele perguntou, gesticulando para a sala de reuniões.Assenti, tentando manter a expressão neutra enquanto o seguia. Entramos na sala, e ele fechou a porta, o que só aumentou minha ansiedade. Lucas colocou o relatório sobre a mesa e sentou-se, indicando que eu fizesse o mesmo.— Queria agradecer por ontem
CLAIREAs horas passaram lentamente naquela tarde. O escritório estava praticamente vazio, com todos os funcionários já saindo para o fim de semana. Eu permanecia ali, revisando os últimos relatórios do dia, quando Lucas entrou, sua presença dominando o espaço como sempre. Senti meu corpo reagir imediatamente, uma mistura de tensão e algo que eu me recusava a nomear.— Claire, sei que já está tarde, mas preciso que revise este último documento. — Ele disse, entregando-me um envelope grosso.Assenti, aceitando o envelope e começando a revisar os papéis, sentindo a proximidade dele. Estávamos sozinhos, e o silêncio no escritório só parecia intensificar tudo. A cada segundo, sentia o ar entre nós mais denso, como se algo estivesse prestes a acontecer.Enquanto eu lia, Lucas continuava parado ao meu lado, observando-me atentamente. Quando terminei a última página, ele estendeu a mão para pegar os papéis, mas, em um breve momento, nossos dedos se tocaram. O toque foi breve, mas o suficient