LucasOs dias eram mais claros agora. Não completamente livres de sombras, mas havia um brilho constante que me guiava. As memórias continuavam voltando, lentamente, como uma maré tímida que avançava, um pouco mais a cada dia. Eu ainda não era o Lucas que Claire conhecia, mas sentia que estava me tornando alguém que ela poderia amar de novo — ou talvez nunca tivesse parado de amar.Gabriel estava no jardim, brincando com seus carrinhos. Claire e eu o observávamos da varanda, compartilhando uma xícara de café. Era um momento simples, mas profundamente significativo.— Ele se parece muito com você, — Claire disse, sorrindo.— É mesmo? — perguntei, ainda surpreso por aprender coisas sobre meu próprio filho.— Teimoso, corajoso e... às vezes, um pouco dramático.Nós dois rimos. Era a primeira vez em semanas que um momento como esse parecia genuinamente leve, sem o peso da incerteza pairando sobre nós.— Claire, — comecei, hesitante. — Eu sei que ainda falta muito para eu ser o homem que v
ClaireA noite caiu sobre a mansão, trazendo consigo um silêncio acolhedor. O jantar foi tranquilo, uma mistura de risadas suaves e olhares que falavam mais do que palavras. Gabriel já dormia, o ritmo leve de sua respiração ecoando pelo monitor no quarto ao lado. Eu estava sentada no sofá da sala, uma taça de vinho na mão, quando ouvi os passos de Lucas atrás de mim.— Você parece perdida em pensamentos, — ele disse, sentando-se ao meu lado.Eu sorri, virando-me para encará-lo. — Apenas apreciando o momento. Esses últimos dias têm sido... diferentes.— Diferentes como? — Ele arqueou uma sobrancelha, uma expressão curiosa.— Como se estivéssemos começando de novo. Como se, mesmo com tudo o que aconteceu, ainda houvesse uma chance para nós.Lucas não respondeu de imediato. Em vez disso, pegou minha mão, seus dedos traçando círculos suaves na minha pele. Era um gesto pequeno, mas cheio de significado. Ele estava presente, no momento, comigo.— Claire, — ele começou, sua voz baixa. — Quer
ClaireA manhã raiou suave, preenchendo o quarto com uma luz dourada que parecia refletir a esperança recém-descoberta entre nós. Eu acordei envolvida nos braços de Lucas, sentindo a segurança e o calor que tanto desejei nos últimos meses. Ele ainda dormia, a respiração lenta e ritmada, e, por um momento, fiquei ali, admirando-o.Era difícil acreditar que, semanas atrás, estávamos em um abismo de incertezas. Agora, o caminho à frente parecia mais claro, mesmo que ainda houvesse desafios a enfrentar.Um barulho vindo do corredor me tirou dos meus pensamentos. Gabriel, nosso pequeno tornado, estava acordado e, pelo som de seus passos, com energia suficiente para uma manhã inteira. Eu me levantei devagar, cobrindo Lucas com o lençol e deixando um beijo em sua testa antes de sair do quarto.— Mamãe! — Gabriel exclamou assim que me viu, seus braços pequenos se estendendo em minha direção.— Bom dia, meu amor. — Eu o peguei no colo, sentindo seu calor contra o meu. — Dormiu bem?Ele assenti
ClaireO silêncio da mansão era quase ensurdecedor naquela manhã. Gabriel estava na sala de brinquedos com uma das babás, sua risada infantil ecoando ocasionalmente pelos corredores. Eu me encontrava na cozinha, girando distraidamente a colher na xícara de chá que havia preparado, mas não tinha tocado.A noite anterior havia sido um turbilhão de emoções. Lucas e eu ficamos acordados até tarde, discutindo as opções que tínhamos para lidar com Marco. Ele queria confrontá-lo de uma vez por todas, mas o medo do que isso poderia significar para nossa família apertava meu coração.— Bom dia. — A voz profunda de Lucas me arrancou de meus pensamentos.Ele entrou na cozinha, já vestido com uma camisa azul bem ajustada e calça social. A gravidade em seu rosto mostrava que ele tinha muito mais do que "bom dia" em mente.— Dormiu bem? — perguntei, tentando disfarçar minha ansiedade.Ele se inclinou para me beijar na testa antes de sentar à mesa. — Tanto quanto podia, considerando tudo.Eu me sent
ClaireA primavera em Milão nunca foi tão bonita. O ar fresco trazia consigo o perfume das flores recém-desabrochadas, e o céu parecia mais azul do que nunca. Estava parada no jardim da nossa nova casa, observando Gabriel correr atrás de uma borboleta, sua risada ecoando como música pelos corredores do tempo.Lucas estava sentado na escadaria, com um sorriso tranquilo no rosto. Ele parecia em paz, um homem finalmente liberto do peso que carregara por tanto tempo. Quando nossos olhares se encontraram, ele estendeu a mão, convidando-me a me juntar a ele.Caminhei até ele, sentando ao seu lado. Ele entrelaçou seus dedos nos meus, segurando minha mão com a mesma intensidade de sempre.— Olhe para ele, Claire. — Lucas apontou para Gabriel. — Ele é o futuro que eu nunca imaginei que teria.Sorri, encostando minha cabeça em seu ombro. — E nós somos a prova de que até as histórias mais improváveis podem ter finais felizes.Lucas riu baixo, aquele som rouco e caloroso que eu tanto amava. — Voc
**Capítulo 1**CLAIREO escritório da Donovan & Co. sempre foi um lugar que me intimidava, mas também me fascinava. As paredes de vidro, que se estendiam do chão ao teto, davam ao ambiente uma sensação de imensidão, como se o mundo lá fora fosse pequeno demais diante da grandiosidade daquele espaço. Tudo naquele escritório parecia pensado para exalar poder: o design moderno, o mobiliário minimalista, até o som dos passos sobre o piso polido, como uma música de sucesso tocando sem parar. Era o tipo de lugar onde as pessoas não eram apenas bem-sucedidas — elas eram imponentes.Eu nunca imaginei que algum dia faria parte daquele universo. Como alguém tão comum, sem qualquer traço de grandeza, teria alguma chance de entrar naquele círculo? Mas eu batalhei muito para chegar ali. Passei noites em claro estudando, lidando com frustrações e momentos de dúvida. Tudo para conquistar a chance de trabalhar ao lado de Lucas Donovan. E, no fundo, eu sabia que era ele quem mais me motivava. A oportun
**Capítulo 2**LUCASA noite estava quente e abafada quando entrei na boate. Dominic, um dos meus poucos amigos fora do ambiente corporativo, estava ao meu lado, puxando-me para o balcão do bar como se fosse a única saída para um dia exaustivo. Eu não era o tipo de homem que frequentava boates. Mulheres, claro, eram parte da minha rotina — desde que fosse algo simples, rápido, e sem complicações. A vida já era complexa o bastante para que eu perdesse tempo me dedicando a romances ou a situações emocionais. Mas, por alguma razão, naquele dia, aceitei o convite de Dominic para "desligar a mente" um pouco.— Vai te fazer bem, Lucas. Você precisa se soltar de vez em quando — disse Dominic, enquanto entregava ao barman uma nota generosa e pedia duas doses de uísque.Aceitei o copo que ele me ofereceu, dando um gole enquanto observava a movimentação ao redor. O ambiente estava cheio, as luzes alternando entre tons vermelhos e azuis, o que dava ao lugar um ar de mistério. Eu não conhecia nin
**Capítulo 3**CLAIREVoltar ao escritório na manhã seguinte foi mais difícil do que eu imaginava. Dormi tarde demais, ainda sob o efeito daquela noite na boate. A imagem da dançarina estava gravada na minha mente, e cada vez que eu tentava me concentrar, ela aparecia, me desafiando com aquele olhar firme e inabalável. Era um alívio ninguém no escritório saber onde estive ou o que eu fizera na noite anterior. Mesmo assim, aquela sensação inquietante não desaparecia.Quando entrei na empresa, minha secretária, Claire, já estava em sua mesa, os olhos fixos no computador. Ela me cumprimentou com seu habitual sorriso gentil, e eu acenei com um leve movimento de cabeça, mais distraído do que o normal. Minha mente ainda estava presa na lembrança da dançarina, e, pela primeira vez em muito tempo, eu me permiti uma pequena dose de curiosidade.— Bom dia, senhor Donovan — Claire disse, sem desviar os olhos do computador.— Bom dia, Claire. — Tentei soar casual, mas ela parecia notar minha falt