ClaireLucas havia dado um pequeno passo na direção certa, e isso encheu meu coração de esperança. Ver ele se lembrar, ainda que brevemente, do passado que construímos juntos era como um raio de sol atravessando uma tempestade.Naquela manhã, decidi que faríamos algo especial. Talvez o ambiente de casa, com todos os lembretes do que ele não podia acessar, estivesse pesando sobre ele. Levaria Lucas e Gabriel para fora, longe da rotina, para um lugar que pudesse trazer mais alegria do que pressão.— Gabriel, que tal levarmos seu pai ao parque hoje? — sugeri durante o café da manhã.— Sim! Posso mostrar a ele como eu aprendi a andar de bicicleta!Lucas levantou os olhos do prato.— Tenho certeza de que vai ser divertido, — disse, com um pequeno sorriso.Apesar do entusiasmo de Gabriel, percebi que Lucas estava cauteloso. Ele temia decepcionar nosso filho, eu podia ver isso. Mas parte de mim acreditava que ele precisava desses momentos para começar a reconectar as partes de si mesmo que e
ClaireAquela pequena faísca de memória reacendeu a esperança em meu coração. Quando Lucas mencionou o penhasco, vi em seus olhos algo que não via há semanas: reconhecimento, ainda que tímido. Era o primeiro passo em direção ao homem que ele sempre foi.Na manhã seguinte, enquanto preparava o café da manhã, percebi Lucas observando Gabriel brincar com um carrinho na sala. Ele parecia absorvido, como se tentasse juntar os pedaços de algo muito maior.— Ele parece tão feliz, — Lucas comentou, quase para si mesmo.Sorri, colocando uma xícara de café em frente a ele.— Ele é feliz, porque te tem aqui.Lucas segurou a xícara e ficou em silêncio, como se ponderasse minhas palavras.— É estranho, Claire. Às vezes, sinto que conheço ele tão bem, mas em outros momentos é como se fosse um estranho.— Ele não é um estranho, Lucas. Ele é parte de você. E, com o tempo, vai se lembrar disso.Mais tarde, decidimos passar o dia juntos, sem interrupções ou preocupações. Queria que Lucas se conectasse
LucasOs dias que se seguiram foram marcados por pequenas fagulhas de lembrança. Era como andar em um corredor escuro e, de repente, uma lâmpada se acendia, iluminando um pedaço do caminho. Ainda era frustrante, mas havia progresso. Claire nunca deixava de me lembrar que, mesmo lento, todo avanço era importante.Gabriel continuava sendo meu guia mais fiel. Sua energia e pureza criavam uma conexão que, embora não fosse totalmente baseada em memórias, era visceral. Ele sempre me puxava para suas brincadeiras, como se soubesse que, ao nos divertirmos juntos, os pedaços do quebra-cabeça voltariam ao lugar.Naquela tarde, enquanto estávamos no jardim, algo aconteceu. Gabriel segurava um avião de brinquedo e pediu que eu o ajudasse a lançá-lo.— Papai, joga forte! Quero que ele voe bem alto!Papai. A palavra ainda ecoava como algo distante, mas ao mesmo tempo familiar. Peguei o avião e o arremessei com força. Ele subiu alto, dançando no ar antes de cair. Gabriel correu atrás dele, rindo.De
LucasOs dias eram mais claros agora. Não completamente livres de sombras, mas havia um brilho constante que me guiava. As memórias continuavam voltando, lentamente, como uma maré tímida que avançava, um pouco mais a cada dia. Eu ainda não era o Lucas que Claire conhecia, mas sentia que estava me tornando alguém que ela poderia amar de novo — ou talvez nunca tivesse parado de amar.Gabriel estava no jardim, brincando com seus carrinhos. Claire e eu o observávamos da varanda, compartilhando uma xícara de café. Era um momento simples, mas profundamente significativo.— Ele se parece muito com você, — Claire disse, sorrindo.— É mesmo? — perguntei, ainda surpreso por aprender coisas sobre meu próprio filho.— Teimoso, corajoso e... às vezes, um pouco dramático.Nós dois rimos. Era a primeira vez em semanas que um momento como esse parecia genuinamente leve, sem o peso da incerteza pairando sobre nós.— Claire, — comecei, hesitante. — Eu sei que ainda falta muito para eu ser o homem que v
ClaireA noite caiu sobre a mansão, trazendo consigo um silêncio acolhedor. O jantar foi tranquilo, uma mistura de risadas suaves e olhares que falavam mais do que palavras. Gabriel já dormia, o ritmo leve de sua respiração ecoando pelo monitor no quarto ao lado. Eu estava sentada no sofá da sala, uma taça de vinho na mão, quando ouvi os passos de Lucas atrás de mim.— Você parece perdida em pensamentos, — ele disse, sentando-se ao meu lado.Eu sorri, virando-me para encará-lo. — Apenas apreciando o momento. Esses últimos dias têm sido... diferentes.— Diferentes como? — Ele arqueou uma sobrancelha, uma expressão curiosa.— Como se estivéssemos começando de novo. Como se, mesmo com tudo o que aconteceu, ainda houvesse uma chance para nós.Lucas não respondeu de imediato. Em vez disso, pegou minha mão, seus dedos traçando círculos suaves na minha pele. Era um gesto pequeno, mas cheio de significado. Ele estava presente, no momento, comigo.— Claire, — ele começou, sua voz baixa. — Quer
ClaireA manhã raiou suave, preenchendo o quarto com uma luz dourada que parecia refletir a esperança recém-descoberta entre nós. Eu acordei envolvida nos braços de Lucas, sentindo a segurança e o calor que tanto desejei nos últimos meses. Ele ainda dormia, a respiração lenta e ritmada, e, por um momento, fiquei ali, admirando-o.Era difícil acreditar que, semanas atrás, estávamos em um abismo de incertezas. Agora, o caminho à frente parecia mais claro, mesmo que ainda houvesse desafios a enfrentar.Um barulho vindo do corredor me tirou dos meus pensamentos. Gabriel, nosso pequeno tornado, estava acordado e, pelo som de seus passos, com energia suficiente para uma manhã inteira. Eu me levantei devagar, cobrindo Lucas com o lençol e deixando um beijo em sua testa antes de sair do quarto.— Mamãe! — Gabriel exclamou assim que me viu, seus braços pequenos se estendendo em minha direção.— Bom dia, meu amor. — Eu o peguei no colo, sentindo seu calor contra o meu. — Dormiu bem?Ele assenti
ClaireO silêncio da mansão era quase ensurdecedor naquela manhã. Gabriel estava na sala de brinquedos com uma das babás, sua risada infantil ecoando ocasionalmente pelos corredores. Eu me encontrava na cozinha, girando distraidamente a colher na xícara de chá que havia preparado, mas não tinha tocado.A noite anterior havia sido um turbilhão de emoções. Lucas e eu ficamos acordados até tarde, discutindo as opções que tínhamos para lidar com Marco. Ele queria confrontá-lo de uma vez por todas, mas o medo do que isso poderia significar para nossa família apertava meu coração.— Bom dia. — A voz profunda de Lucas me arrancou de meus pensamentos.Ele entrou na cozinha, já vestido com uma camisa azul bem ajustada e calça social. A gravidade em seu rosto mostrava que ele tinha muito mais do que "bom dia" em mente.— Dormiu bem? — perguntei, tentando disfarçar minha ansiedade.Ele se inclinou para me beijar na testa antes de sentar à mesa. — Tanto quanto podia, considerando tudo.Eu me sent
ClaireA primavera em Milão nunca foi tão bonita. O ar fresco trazia consigo o perfume das flores recém-desabrochadas, e o céu parecia mais azul do que nunca. Estava parada no jardim da nossa nova casa, observando Gabriel correr atrás de uma borboleta, sua risada ecoando como música pelos corredores do tempo.Lucas estava sentado na escadaria, com um sorriso tranquilo no rosto. Ele parecia em paz, um homem finalmente liberto do peso que carregara por tanto tempo. Quando nossos olhares se encontraram, ele estendeu a mão, convidando-me a me juntar a ele.Caminhei até ele, sentando ao seu lado. Ele entrelaçou seus dedos nos meus, segurando minha mão com a mesma intensidade de sempre.— Olhe para ele, Claire. — Lucas apontou para Gabriel. — Ele é o futuro que eu nunca imaginei que teria.Sorri, encostando minha cabeça em seu ombro. — E nós somos a prova de que até as histórias mais improváveis podem ter finais felizes.Lucas riu baixo, aquele som rouco e caloroso que eu tanto amava. — Voc