**Capítulo 3**
CLAIRE
Voltar ao escritório na manhã seguinte foi mais difícil do que eu imaginava. Dormi tarde demais, ainda sob o efeito daquela noite na boate. A imagem da dançarina estava gravada na minha mente, e cada vez que eu tentava me concentrar, ela aparecia, me desafiando com aquele olhar firme e inabalável. Era um alívio ninguém no escritório saber onde estive ou o que eu fizera na noite anterior. Mesmo assim, aquela sensação inquietante não desaparecia.
Quando entrei na empresa, minha secretária, Claire, já estava em sua mesa, os olhos fixos no computador. Ela me cumprimentou com seu habitual sorriso gentil, e eu acenei com um leve movimento de cabeça, mais distraído do que o normal. Minha mente ainda estava presa na lembrança da dançarina, e, pela primeira vez em muito tempo, eu me permiti uma pequena dose de curiosidade.
— Bom dia, senhor Donovan — Claire disse, sem desviar os olhos do computador.
— Bom dia, Claire. — Tentei soar casual, mas ela parecia notar minha falta de concentração, o que, de algum modo, me irritou.
Por alguma razão, a presença dela ali, sempre constante, sempre tão séria, me fazia sentir uma ponta de desconforto. Claire era eficiente, organizada, e possuía uma lealdade que eu jamais encontrara em outra pessoa. No entanto, havia algo nela que eu nunca tinha percebido até então. Enquanto ela trabalhava silenciosamente, percebi que nunca havia realmente notado sua aparência. Claro, sabia que ela era uma mulher com curvas generosas, mas nunca havia dado atenção a isso. E, naquele momento, uma pergunta tola me passou pela mente: será que Claire era tão indiferente quanto aparentava?
Balancei a cabeça, afastando o pensamento ridículo. Claire era minha secretária, uma profissional impecável, e eu não tinha razão alguma para misturar as coisas. E ainda assim, algo na forma como ela estava tão quieta me deixou pensativo.
Enquanto o dia se desenrolava, me peguei distraído mais vezes do que gostaria. A imagem da dançarina aparecia em minha mente em momentos inesperados, e, no fim da tarde, percebi que mal conseguira cumprir metade do que planejava fazer. Claire, eficiente como sempre, trouxe os relatórios e revisões do dia, e eu acenei com a cabeça, mal ouvindo as explicações dela.
— O senhor parece cansado hoje — ela observou, com um leve toque de preocupação na voz.
Surpreso com o comentário, eu a encarei. Claire sempre fora reservada, mas era perceptível que ela notava mais do que demonstrava. Sua percepção aguçada às vezes era um alívio, outras, uma inconveniência.
— Apenas uma noite longa — murmurei, tentando ser vago.
Ela assentiu, mas, por um momento, notei algo em seu olhar, uma centelha de curiosidade ou talvez até de decepção. Algo que eu não esperava ver nela. No entanto, Claire apenas voltou à sua expressão calma e impassível e deixou a sala. Suspirei e voltei ao trabalho, mas a lembrança de sua expressão ficou comigo.
Nos dias seguintes, tornei-me um visitante frequente da boate. Cada noite parecia me aproximar mais daquela figura misteriosa, daquela mulher que dominava o palco com tanta confiança. Aos poucos, descobri o horário de suas apresentações e até mesmo os dias em que ela aparecia. Eu nunca me aproximei, nunca tentei trocar uma palavra com ela, mas me tornei seu espectador silencioso.
Ela continuava a dançar, cada vez com mais intensidade, como se soubesse que alguém ali a observava com um interesse mais profundo. E, toda vez que eu voltava para o escritório, me encontrava comparando aquela dançarina com Claire, minha secretária reservada, tão oposta à mulher enigmática que me fascinava. As duas eram como dois lados opostos de uma moeda: uma, segura de si, audaciosa; a outra, tranquila, discreta.
A dualidade começava a me incomodar de um jeito que eu não entendia completamente. Passei a observar Claire com mais atenção, tentando captar algum indício de que ela escondia uma vida além daquele escritório. Eu sabia que ela era dedicada ao trabalho, mas... e fora daqui? Será que ela tinha segredos? Será que havia um lado dela que eu, como seu chefe, não conhecia?
Certa noite, após mais uma apresentação hipnotizante da dançarina, tomei coragem e pedi a Dominic informações sobre ela. Queria saber mais, qualquer detalhe que pudesse me levar mais perto dela.
— Não perca seu tempo, Lucas — Dominic riu, balançando a cabeça. — Ela é como um fantasma. Ninguém sabe nada sobre ela, e ela não fala com ninguém.
A resposta apenas aumentou minha frustração. A cada dia, eu ficava mais obcecado por aquela mulher e menos capaz de ignorar a necessidade de conhecê-la.
No escritório, Claire parecia notar minha crescente distração, mas nunca comentava nada. Eu podia sentir seu olhar curioso enquanto passava os dedos pelo cabelo, pensativo. A cada vez que me pegava perdido em pensamentos, Claire estava lá, silenciosa, mas presente. Comecei a me sentir desconfortável com sua proximidade, como se ela pudesse ver através de mim e descobrir o motivo da minha obsessão.
Certa manhã, após mais uma noite de insônia, eu a vi observando-me de canto de olho, e algo em seu rosto parecia estar entre a compreensão e a tristeza. Aquilo me irritou, mas decidi ignorar, sem coragem de perguntar o que ela realmente pensava.
Quando ela me entregou um relatório, olhei para ela por um segundo a mais do que o habitual. Talvez fosse a minha privação de sono, talvez fosse a frustração de não saber quem era a dançarina. Mas, pela primeira vez, notei o quanto Claire era... bonita, à sua maneira.
Ela tinha uma beleza discreta, mas havia algo em seu olhar que me desarmava. E, pela primeira vez, perguntei-me o que aconteceria se eu tentasse descobrir mais sobre ela, assim como fazia com a dançarina.
Claire, talvez notando meu olhar demorado, franziu a testa, e o constrangimento que senti logo me fez voltar ao normal. Eu peguei o relatório e resmunguei um agradecimento, recusando-me a me perder naquele devaneio.
Afinal, Claire era minha secretária. A dançarina, minha obsessão. E eu, o homem confuso que agora se via preso entre duas mulheres. Mesmo sem saber que eram a mesma pessoa.
**Capítulo 4**LUCASMinha obsessão pela dançarina estava tomando um rumo que eu não previa. Quando pisei no escritório naquela manhã, estava decidido a descobrir tudo o que pudesse sobre ela. A curiosidade estava me consumindo. Cada apresentação, cada movimento que ela fazia no palco, tudo parecia ter um propósito, como se estivesse lançando um convite que eu não conseguia ignorar.Claire estava lá, em sua mesa, como sempre, com aquele ar de eficiência e calma. Cumprimentou-me com um aceno e me entregou alguns documentos. Eu dei uma olhada rápida e assenti, percebendo como ela me observava mais intensamente. Havia algo diferente em sua expressão, algo que eu não conseguia decifrar. Claire sempre fora uma presença sutil e tranquila, mas nos últimos dias... eu não sabia explicar. Era como se ela soubesse o que se passava em minha mente.Naquela manhã, eu precisava de uma saída para minha frustração. A cada relatório que eu lia, a imagem da dançarina voltava à minha mente, distraindo-me
**Capítulo 5**CLAIREDesde que comecei a dançar naquela boate, algo dentro de mim despertou. No palco, eu me tornava alguém diferente, alguém que não precisava esconder suas emoções ou inseguranças. Ali, eu era livre. Longe da Claire invisível que Lucas Donovan via no escritório todos os dias. Mas agora, meu segredo parecia ameaçado, como se as paredes que construí ao redor dele estivessem começando a rachar.E tudo por causa dele.Nos últimos dias, Lucas havia mudado. Era sutil, mas eu percebia os olhares furtivos, o modo como sua atenção parecia vagar sempre que estava por perto. E o que mais me perturbava era que, em alguns momentos, parecia me observar com uma curiosidade intensa. Meu coração batia mais rápido a cada vez que ele me encarava por tempo demais. Será que ele... suspeitava?— Claire, você poderia trazer o relatório de vendas? — A voz dele me fez sair do transe, e eu pisquei, percebendo que estava perdida em pensamentos.— Claro, senhor Donovan. Vou trazê-lo agora. — M
**Capítulo 6**LUCASPassava das nove quando finalmente saí do escritório. Mesmo após um longo dia de trabalho, minha mente estava em qualquer lugar, menos nos negócios. Claire, como sempre, estava lá até o último minuto, organizando documentos e garantindo que todos os detalhes estivessem no lugar. Mas, naquela noite, seu silêncio me parecia ensurdecedor.Tentei me concentrar no último relatório que ela havia deixado em minha mesa, mas a memória da noite anterior na boate invadia meus pensamentos sem piedade. A dançarina misteriosa parecia ocupar um espaço cada vez maior na minha mente. Era como se ela tivesse plantado uma semente que crescia sem controle, uma obsessão que me consumia a cada dia.Enquanto eu tentava afogar os pensamentos, algo no meu subconsciente conectava imagens e lembranças. Havia algo na maneira como a dançarina me olhava que me lembrava... de Claire? Eu sabia que era absurdo, mas não conseguia afastar o pensamento. Elas eram tão diferentes. Claire era séria, re
**Capítulo 7**CLAIREA cada dia, a sensação de que Lucas estava mais atento a mim se intensificava. Ele parecia me observar com uma curiosidade que não existia antes. Seu olhar permanecia mais tempo do que o habitual, como se estivesse procurando algo que ainda não conseguia ver claramente. E isso me deixava em constante alerta.Tentei manter minha rotina o mais normal possível. Todas as manhãs eu chegava cedo, organizava os documentos e preparava o café dele, assim como sempre fizera. Mas a ansiedade me consumia. A qualquer momento, ele poderia conectar as peças e perceber que a dançarina que o intrigava era, na verdade, sua própria secretária.Certa tarde, enquanto preparava um relatório, ouvi passos se aproximando, e então Lucas parou ao lado da minha mesa.— Claire, preciso discutir alguns pontos com você. Pode ir à minha sala? — Sua voz era firme, mas havia um tom de curiosidade que me deixou desconfortável.Eu assenti, pegando meu bloco de notas, e o segui até sua sala, onde el
**Capítulo 8**CLAIREA tensão estava tomando conta de mim. Cada dia no escritório parecia um novo teste, uma batalha interna para esconder o que sentia e o que sabia. Estava ficando cada vez mais difícil manter a calma quando Lucas me olhava, e algo em mim dizia que ele sabia. Ele não tinha provas, mas sabia que eu escondia algo.Na manhã seguinte ao nosso encontro na saída da boate, entrei no escritório com o coração apertado. Lucas já estava em sua mesa, os olhos cravados em mim assim que cruzei a porta. A intensidade de seu olhar era quase insuportável, e me obriguei a desviar rapidamente, respirando fundo e tentando controlar o nervosismo. Era como se ele estivesse esperando uma confissão que eu nunca poderia dar.— Bom dia, senhor Donovan — murmurei ao passar por ele, mantendo o tom de voz o mais neutro possível.— Bom dia, Claire. — Ele respondeu, mas havia algo diferente em sua voz, um tom que carregava certa curiosidade, ou até mesmo uma provocação.Sem dizer mais nada, segui
**Capítulo 9**LUCASMinha obsessão estava crescendo. Não havia outra palavra para descrever o que eu sentia. Cada vez que via a dançarina, cada vez que sentia a energia dela no palco, eu queria mais. Queria descobrir quem ela era, o que a fazia viver aquela vida dupla — se é que era isso mesmo. E a cada noite passada na boate, saía de lá mais obcecado e frustrado.Na manhã seguinte ao nosso encontro na saída da boate, cheguei ao escritório determinado a juntar as peças, a encontrar algum indício. Eu sabia que minha insistência estava começando a afetar Claire, mas não conseguia parar. Por algum motivo, eu sentia que a resposta estava próxima, ao alcance das minhas mãos, mas faltava algo.Claire estava como sempre, organizada e profissional. No entanto, o nervosismo era palpável. Eu a observava com mais atenção do que nunca, notando detalhes que antes haviam passado despercebidos: o modo como desviava o olhar ao sentir minha presença, a tensão nos ombros, e até mesmo a forma como mant
**Capítulo 10**LUCASNa manhã seguinte, Claire entrou no escritório com um ar diferente, uma espécie de tensão que era quase tangível. Eu sabia que estava deixando-a desconfortável, mas era inevitável. Cada passo dela parecia cuidadoso, como se estivesse sempre alerta, sempre escondendo algo. E eu não conseguia evitar a sensação de que a dançarina e minha secretária eram a mesma pessoa.Passei o dia tentando me concentrar nos relatórios que se acumulavam em minha mesa, mas meus pensamentos sempre voltavam para Claire. Precisava descobrir a verdade, e isso estava me consumindo. Meus dias eram um jogo de observação, tentando capturar cada detalhe que pudesse me levar à resposta.No final da tarde, uma oportunidade inesperada surgiu. Fui chamado para uma reunião de última hora e, precisando de apoio, pedi que Claire me acompanhasse para tomar notas. A reunião acabou sendo breve, e, enquanto voltávamos para o escritório, decidi puxar conversa.— Claire, você já sentiu como se estivesse v
CLAIREAs palavras de Lucas ainda ecoavam em minha mente. A insistência dele em descobrir o que eu escondia parecia uma pressão constante, uma sombra que me acompanhava a cada passo. Eu sabia que ele estava perto, perto demais para o meu próprio conforto. E a ideia de que ele pudesse descobrir meu segredo estava se tornando insuportável.Aquela manhã foi um verdadeiro desafio. Cada movimento meu parecia estar sob o olhar atento de Lucas, como se ele estivesse esperando que eu cometesse um deslize. Estava claro que ele não acreditava em nada do que eu dissera na noite anterior. Ele continuaria tentando me desmascarar, e, a cada dia, a tarefa de esconder minha identidade se tornava mais difícil.Sentei-me à mesa, tentando me concentrar nos documentos à minha frente, mas minha mente vagava. Já era quase impossível focar no trabalho com a constante vigilância de Lucas. Eu precisava fazer algo. Talvez devesse simplesmente desistir e sair da boate, deixar de dançar e encerrar aquele capítul