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**Capítulo 4**

LUCAS

Minha obsessão pela dançarina estava tomando um rumo que eu não previa. Quando pisei no escritório naquela manhã, estava decidido a descobrir tudo o que pudesse sobre ela. A curiosidade estava me consumindo. Cada apresentação, cada movimento que ela fazia no palco, tudo parecia ter um propósito, como se estivesse lançando um convite que eu não conseguia ignorar.

Claire estava lá, em sua mesa, como sempre, com aquele ar de eficiência e calma. Cumprimentou-me com um aceno e me entregou alguns documentos. Eu dei uma olhada rápida e assenti, percebendo como ela me observava mais intensamente. Havia algo diferente em sua expressão, algo que eu não conseguia decifrar. Claire sempre fora uma presença sutil e tranquila, mas nos últimos dias... eu não sabia explicar. Era como se ela soubesse o que se passava em minha mente.

Naquela manhã, eu precisava de uma saída para minha frustração. A cada relatório que eu lia, a imagem da dançarina voltava à minha mente, distraindo-me dos detalhes importantes. E Claire, sempre atenta, parecia perceber minha crescente inquietação.

— Senhor Donovan, precisa de mais alguma coisa? — A voz dela trouxe-me de volta à realidade, e, por um instante, pensei em desabafar, contar a ela sobre a mulher que estava me enlouquecendo.

Mas isso seria loucura. Em vez disso, apenas balancei a cabeça.

— Não, obrigado, Claire. — Minha resposta foi fria, distante, e ela deu um leve aceno antes de voltar para sua mesa.

Enquanto o dia passava, tentei me concentrar, mas, inevitavelmente, minha mente vagava de volta para a dançarina. E, nos breves momentos em que me permitia observar Claire, percebia uma sutileza em seu olhar, como se ela soubesse mais do que estava disposta a revelar. Eu me repreendi por deixar minha imaginação correr solta; Claire era apenas minha secretária, nada mais.

Quando o expediente terminou, me vi novamente no caminho para a boate. Agora, esse lugar era quase uma rotina para mim, um refúgio onde eu podia me entregar a esse mistério que, de algum modo, me fazia sentir vivo. Cheguei um pouco mais cedo naquela noite, com a esperança de vê-la fora do palco, talvez conversar, descobrir algo mais sobre ela. Mas, como sempre, ela apareceu apenas para a apresentação.

Assim que ela entrou no palco, o ar pareceu mudar. Ela usava um figurino diferente — um vestido justo, vermelho, que abraçava cada curva de seu corpo. Era impossível ignorar a intensidade com que ela se movia, a expressão concentrada em seu rosto, o olhar fixo que parecia atravessar a multidão e pousar diretamente em mim. Eu sentia uma tensão familiar crescer, algo que eu não sabia nomear. A cada movimento, a cada giro, ela me puxava mais fundo em sua teia de mistério.

Quando o show terminou, ela desapareceu rapidamente. Tentei localizá-la entre as sombras da boate, mas, como sempre, ela era apenas uma visão fugaz. Suspirei, frustrado, perguntando-me até quando isso duraria.

No dia seguinte, voltei ao escritório com a mente confusa. Passei por Claire sem prestar muita atenção, ainda perdido em meus pensamentos sobre a noite anterior. Mas notei que ela me olhava com uma curiosidade diferente, como se quisesse perguntar algo, mas se contivesse. Eu estava quase tentado a contar a ela sobre a dançarina, mas, de algum modo, parecia inadequado.

O dia passou lentamente, com a presença de Claire se tornando cada vez mais intrigante para mim. Ela sempre fora eficiente, mas agora parecia... diferente. E não era apenas meu estado de espírito. Havia algo no modo como ela evitava meu olhar, como se soubesse mais do que eu.

Finalmente, em um momento de impaciência, decidi chamá-la para uma conversa.

— Claire, você teria alguns minutos? — perguntei, tentando soar casual.

Ela levantou o olhar, surpresa, e se aproximou com a calma habitual.

— Claro, senhor Donovan. Algo errado? — Ela parecia confusa, e, por um momento, senti que estava prestes a cruzar uma linha que não deveria.

— Não, nada específico. Apenas... eu notei que você parece... diferente ultimamente. Tem algo que queira compartilhar? — As palavras saíram de um modo mais direto do que eu planejava, mas era tarde demais para voltar atrás.

Claire ficou em silêncio por alguns segundos, o rosto assumindo uma expressão de surpresa. Depois de um momento, ela balançou a cabeça, sorrindo, mas o sorriso não alcançou seus olhos.

— Não, senhor. Apenas estou focada no trabalho, como sempre.

Algo em sua resposta me deixou inquieto. O modo como ela evitou meu olhar, a tensão em sua voz... Claire estava escondendo algo, mas o que exatamente? Tentei afastar a ideia, mas aquela sensação não desapareceu.

Os dias seguintes foram um jogo de paciência. Claire parecia cada vez mais distante, mas sempre eficiente e discreta. Ao mesmo tempo, meu fascínio pela dançarina crescia. Fui à boate mais algumas vezes, mas cada noite era igual. Ela dançava, desaparecia, e eu ficava com aquela insatisfação latente.

Uma noite, decidi tentar algo diferente. Após o show, esperei na saída da boate, na esperança de vê-la fora do palco, de algum modo mais próxima, mais acessível. O tempo passava, e a frustração crescia. No entanto, depois de um longo tempo de espera, eu a vi.

Ela estava saindo pelos fundos, com o cabelo preso e usando uma jaqueta simples. Parecia tão comum, tão diferente da mulher que dançava no palco. E, por um instante, algo familiar chamou minha atenção. Um detalhe, um traço sutil em seu rosto que parecia... conhecido.

Eu respirei fundo, tentando manter a calma. Seria possível? Não, era um pensamento absurdo. Claire jamais estaria ali, naquele lugar. Mas, de algum modo, a ideia não saía da minha mente. Decidi seguir minha intuição.

Na manhã seguinte, no escritório, percebi que Claire estava mais silenciosa que o normal. Sentei em minha mesa, observando-a discretamente. Cada movimento dela parecia ganhar um novo significado, cada gesto parecia ter uma conexão com a mulher que eu tanto desejava conhecer. Mas, como sempre, Claire mantinha-se impecável, profissional, como se fosse impossível qualquer ligação entre ela e a dançarina.

Ainda assim, algo dentro de mim dizia que eu estava prestes a descobrir algo. E, pela primeira vez em muito tempo, percebi que Claire, minha secretária discreta e eficiente, talvez fosse muito mais do que eu jamais imaginei.

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