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**Capítulo 5**

CLAIRE

Desde que comecei a dançar naquela boate, algo dentro de mim despertou. No palco, eu me tornava alguém diferente, alguém que não precisava esconder suas emoções ou inseguranças. Ali, eu era livre. Longe da Claire invisível que Lucas Donovan via no escritório todos os dias. Mas agora, meu segredo parecia ameaçado, como se as paredes que construí ao redor dele estivessem começando a rachar.

E tudo por causa dele.

Nos últimos dias, Lucas havia mudado. Era sutil, mas eu percebia os olhares furtivos, o modo como sua atenção parecia vagar sempre que estava por perto. E o que mais me perturbava era que, em alguns momentos, parecia me observar com uma curiosidade intensa. Meu coração batia mais rápido a cada vez que ele me encarava por tempo demais. Será que ele... suspeitava?

— Claire, você poderia trazer o relatório de vendas? — A voz dele me fez sair do transe, e eu pisquei, percebendo que estava perdida em pensamentos.

— Claro, senhor Donovan. Vou trazê-lo agora. — Minha resposta saiu um pouco apressada, e eu me levantei, tentando controlar o nervosismo. Passei pelas mesas do escritório, sentindo o peso dos olhares dos colegas, mas nenhum era tão perturbador quanto o de Lucas.

Ao voltar para sua sala, ele me observava com uma expressão indecifrável. Como sempre, mantive a postura profissional, mas a tensão era palpável.

— Aqui está, senhor. — Coloquei o relatório em sua mesa, tentando ignorar a palpitação no meu peito.

— Obrigado, Claire. — Ele disse, mas não desviou o olhar. — Aliás... está tudo bem com você? Você parece um pouco distante ultimamente.

Tentei esconder o susto, forçando um sorriso que não chegava aos olhos.

— Estou bem, apenas focada no trabalho. Nada fora do comum. — A resposta saiu automática, mas eu podia sentir que ele não acreditava totalmente.

Ele deu um leve aceno, mas seu olhar ainda permanecia em mim, analisando cada detalhe do meu rosto. Em qualquer outro momento, eu teria apenas saído, mas algo me manteve ali, como se estivesse presa em uma teia invisível.

— Claire... eu sei que normalmente não discutimos nossas vidas pessoais, mas... há algo que queira me dizer? Algo que eu precise saber?

Seu tom era casual, mas a intensidade em seu olhar me fez estremecer. Ele estava desconfiado. Meu coração batia tão forte que eu temia que ele pudesse ouvir. Inspirei fundo, mantendo a expressão tranquila.

— Não, senhor. Estou apenas focada no trabalho. — Minha resposta foi firme, mas por dentro, eu sentia que estava à beira de um colapso.

Ele assentiu, mas o olhar penetrante ainda estava lá. Finalmente, eu me virei para sair, lutando para manter a compostura. No entanto, enquanto me afastava, pude sentir o peso do olhar dele em minhas costas, como se quisesse desvendar cada segredo que eu escondia.

Durante o restante do dia, a tensão não diminuiu. Eu sabia que precisava tomar uma decisão. Talvez fosse a hora de parar de dançar, de manter a Claire do escritório e abandonar o palco. Mas a ideia me enchia de tristeza. Dançar era minha válvula de escape, minha forma de me libertar do peso de ser apenas “a secretária”.

No entanto, cada vez que eu pensava em desistir, lembrava-me da expressão de Lucas naquela manhã, da curiosidade crescente em seu olhar. Parte de mim queria se arriscar, queria ver até onde ele iria para desvendar o mistério.

Naquela noite, voltei à boate, mas uma tensão diferente me dominava. Coloquei meu figurino e me preparei para o palco, mas meu coração estava acelerado por outro motivo. Era como se algo dentro de mim soubesse que ele poderia estar lá, como tantas outras noites. E, ao mesmo tempo, a ideia me excitava e apavorava.

A música começou, e, no momento em que pisei no palco, deixei tudo para trás. Meus medos, minhas inseguranças, até mesmo o fato de que ele poderia estar na plateia. Eu era apenas eu mesma, dançando, permitindo que a liberdade me dominasse.

Cada movimento era um lembrete de que, ali, eu podia ser quem quisesse. Girei ao redor do pole, minha mente vazia, preenchida apenas pela música e pelo ritmo. O público estava hipnotizado, como sempre, mas não importava. Eu estava lá por mim, apenas por mim.

Quando terminei, ouvi os aplausos ecoando pelo salão. Sai do palco com a cabeça erguida, sentindo-me vitoriosa. Mas, ao virar para o canto do salão, meu olhar cruzou com o dele. Meu coração parou.

Lucas estava ali, observando-me com uma intensidade quase palpável. Ele me viu. Ele me reconheceu? Senti um frio na espinha, uma mistura de medo e excitação. Virei rapidamente, deixando o palco e indo para o camarim. Meus dedos tremiam levemente enquanto eu trocava de roupa, tentando processar o que havia acabado de acontecer.

“Ele estava lá. Ele me viu”, pensei, meu coração batendo freneticamente. A ideia de que ele pudesse descobrir meu segredo era aterrorizante, mas, ao mesmo tempo, uma parte de mim ansiava por isso. Uma parte de mim queria que ele soubesse.

Mas eu sabia que não podia. Se ele descobrisse, tudo mudaria. Meu trabalho, minha vida, meu segredo. E, no entanto, enquanto deixava a boate naquela noite, senti uma estranha sensação de alívio. Como se, de algum modo, eu tivesse finalmente deixado de esconder uma parte de mim.

No dia seguinte, ao entrar no escritório, a tensão estava no ar. Lucas estava em sua mesa, e, por um momento, pensei que ele me chamaria. Mas ele apenas me olhou, um olhar que parecia atravessar todas as barreiras que eu havia construído.

Tentei manter a postura, mas o nervosismo estava lá, sempre presente. Eu sabia que, cedo ou tarde, ele descobriria. Mas, até lá, eu ainda tinha meu segredo. E, por mais que ele tentasse desvendar, eu sabia que, agora, o jogo estava apenas começando.

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