Dentro daquele carro que balançava de um lado para o outro, tudo que Grace conseguia pensar era em Madeline ao seu lado.
Podia sentir seu cheiro, a mão gelada agarrada na sua, mas não conseguia vê-la, visto que em sua cabeça havia um saco negro colocado antes de entrarem no carro que foram ordenadas. Com as mãos amarradas para trás e a boca fechada por uma fita branca, ficou difícil de pedir ajuda, ou gritar o mais alto que podia.
E depois de muito pensar, achou melhor seguir as regras que foram lhe ditas durante a viagem, afinal, tinham razão quando falou sobre ter uma pessoa especial, em que faríamos de tudo para proteger não importava o que. Essa pessoa para si era Madeline, sua filha. Christopher sabia lidar com qualquer coisa que viesse a seu rumo, afinal, tomou o título de gângster perigoso ultrapassando os limites de seu pai, e chegando a um nível que ninguém nesse mundo podia o parar.
E foi por isso que se afastou de tudo e de todos, crendo ser o melhor para sua família, mas agora, diante de tudo que lhe passava junto de Madeline, Grace se mutilava mentalmente, apenas com medo de algo ruim acontecer com sua princesa.
Depois pelo que pareceram horas, Grace percebeu o carro parar e várias vozes lhe cercar. Apertou a mão de Madeline ainda que pouco e sentiu aquele aperto se desfazer ao ser puxado sem carinho algum para fora daquele automóvel. Saiu ao lado de alguém que lhe apertava os braços, tropeçou em seus próprios pés procurando no ar o que lhe pudesse lembrar-se de Madeline, não queria de forma alguma se afastar da filha.
— Não se preocupe senhora Jones, ou Macallister. - Riu de canto — Não sei exatamente como se te chamar. Mas sua filha está em boas mãos. - Grace escutou a voz de outrora, reconhecendo ser de Mikael e a confirmação da voz de outro homem, o que fora mencionado sobre a permanência de sua filha ao seu lado.
Ainda que não pudesse ver nada além dos pés calçados num salto que naquela altura, lhe fazia mal não saber andar direito em cima deles enquanto era arrastada aos tropeços para dentro de uma casa com cerâmicas brancas com círculos desenhados em cima.
Andaram por mais alguns minutos e logo Grace se deparou com os degraus de uma escada que mal conseguia descer, quase caiu três vezes antes de chegar ao andar sugerido e finalmente adentrar em um lugar que pareceu claro o suficiente para seus olhos verem alguma coisa na escuridão do saco.
Suas pernas tremeram quando escutou gemidos da filha ao lado, talvez estivessem a puxando com mais força, mas ela reclamava de algo. O coração acelerou mais quando seu braço foi empurrado para baixo, fazendo suas pernas dobrarem, ficando de joelhos para alguém ou alguma coisa e logo o saco foi retirado de seus olhos.
A visão que teve do homem parando no fundo da sala sentando numa cadeira que simbolizava o trono de alguém, fez Grace ter a plena certeza de que apenas uma delas sairia viva daquele lugar com uma aparência horrível, os raios de sol adentravam a sala ampla e decorada com inúmeras cores e pinturas diferentes, algo chique, talvez algo que tenha valido mais que todas as vidas presentes naquele lugar. Engoliu a seco erguendo a cabeça, tomaria a frente de tudo sem deixar que qualquer fagulha de violência caísse sobre a garota ao seu lado, que notou ainda está com os olhos cobertos pelo tecido negro.
Ainda assim, podia ver o peito de sua filha subir e descer tentando uma respiração mais calma, contudo, o que conseguia era mostrar-se nervosa, chorosa, e com medo a cada minuto.
— Não é uma honra está diante de duas mulheres tão bonitas? - Levantou de sua cadeira descendo dois degraus que dividia o mundo dos reis, dos meros mortais mais embaixo. Grace voltou a olhar para o dono de tudo aquilo, que se aproximava a passos lentos, precisos, como se fosse um predador pronto para atacar sua presa amarrada e ajoelhada, e essa presa, era ela mesma.
O viu sorrir, mostrar seus lindos dentes brancos e agachar em sua frente olhando-a fixamente.
— Grace Jones Macallister, uma mulher distinta, bonita, quarenta e sete anos, dona de um salão de beleza cheio de fofoqueiras de plantão. - Riu outra vez, fazendo a mulher engolir a seco. — Sou Gael. Gael Kennedy. Se nunca ouviu falar de mim é aconselhável que eu me apresente adequadamente. - Sorriu maliciosamente — Não é mesmo?
— Eu não pretendo conhecê-lo. - Afirmou fazendo o homem parar de sorri.
— Mas quero conhecer quem colocou no mundo o maior filho da put4 que já conheci em toda minha decadente vida. - Colocou uma mão no peito deixando o copo de uísque nas mãos de outras pessoas. — Minha mãe é dona de cassinos famosos pelo mundo, ganha rios de dinheiro, é milionária e bem idolatrada onde passa. Eu sou seu único filho, e herdeiro de tudo aquilo que ela tem, contudo, estar diante de jogos de azar e mulheres peladas vendendo seus corpos nunca foi muito a minha praia. - Confessou enquanto se aproximava cautelosamente das mulheres no centro da sala — E tudo começou quando vi dois milhões de reais caírem no meu colo após uma única troca de arm4s. Aquilo foi emocionante. E depois houve também alguns tráficos, poucos, nada muito grande a ponto de prender minha atenção, afinal, cem, duzentos mil por carga é imensamente deslumbrante e excitante, fico mais rico a cada vez.
— Se é tão rico assim, porque nos trouxe aqui? Acha que temos dinheiro para resgate? Sinto em te informar, mas não temos toda essa grana, como bem acabou de dizer, eu tenho um salão de beleza, não uma boate com cassinos e jogos de azar. - Contou ainda com o nariz em pé, ao menos mostraria que não tinha tanto medo assim. — O que quer?
— Seu filho, Christopher Macallister. - Confessou rápido e Grace desviou o olhar. — Mês passado uma balsa saiu de uma cidade rica em todo tipo de drog4s ilícitas, e o prefeito é um grande amigo meu. Dividimos um trabalho grandioso, no valor de cento e quinze milhões de reais para mim, e o mesmo para ele. - O homem ficou sério se aproximando mais um pouco da mulher que sentiu as pernas em choque. A respiração lhe faltou e o olhar daquele ser quase que a matou sem ar. — O seu filho sumiu com essa balsa - Grace puxou o ar para dentro, mas era como se tivesse o perdido novamente. — Você não sabe o quanto de gente morreu por conta disso, e para quê? Para seu filho ficar com tudo isso sem perder nada?
— Nós… - Começou fraco, quase sem voz, não podia perder a voz agora. — nós não temos nada a ver com isso. - Contou e olhou para o lado. As mãos de Madeline estavam ficando vermelhas por conta das cordas ao redor de seus pulsos, além de ver nitidamente as marcas de dedos na pele tão alva da pequena. — Eu e minha filha não fazemos parte disso. Por favor, nos deixe ir. - Pediu deixando a primeira lágrima cair.
— Você deve pagar, porque colocou esse filho da put4 no mundo. E sua filha também deveria pagar, não é? - Grace entreabriu os lábios. — Minha mãe tem um cassino incrível para jovens universitárias - Avisou antes de se dirigir a garota puxando o tecido negro da cabeça e revelando o lindo rosto avermelhado e os olhos esverdeados cheios de lágrimas que deslizavam pelo rosto bonito. Todos a encararam também, mas Madeline procurou pelos olhos desesperados de sua mãe. — Quanto você acha que pagariam pela virgindade dela? - As duas mulheres subiram o olhar para o homem. — Duzentos, trinta, quarenta… Cento e quinze milhões?
— Poderíamos leiloa-la. - Mikael comentou do outro lado. De braços cruzados, os músculos apareciam mais, o cabelo caindo ao redor do rosto, negro, batendo nos ombros. — Muita gente pagaria caro pare entrar nesse corpinho intocável, eu não sairia da fila se você a mandar para o cassino.
— Por favor… - Grace prendeu a respiração trazendo a atenção do mais velho outra vez. — Não toquem na minha filha.
— Não toquem na minha filha, eu imploro. Faça… Faça qualquer coisa comigo, mas não toquem… nela - gaguejou, a imagem de Madeline sendo maltrata por qualquer pessoa no mundo lhe deixou sem ar, enjoada. A garota era frágil, nunca havia mesmo tentando sair ou ficado com algum garoto por medo de ser imperfeita demais para qualquer um.— Tudo isso pode ser resolvido. Quero que me diga onde está o seu filho. - Grace piscou algumas vezes e encarou o homem.— Eu… Eu não sei onde o Christopher está. - Contou deixando mais lágrimas banharem seu rosto. — Há muito tempo ele se foi. Não nos falamos, eu não faço ideia de onde ele se encontra.— Não é o que suas contas no banco dizem. - Gael sorriu de canto ao receber um tablet e virou para Grace que não olhou de primeira — Ele banca você, seu salão, até a faculdade da irmãzinha.— Não, ele não faz isso. - A voz doce de Madeline assustou até mesmo Gael que olhou para o lado. Os lábios rosados entreabertos o desespero estampado naqueles olhos tão int
Com o pedido já pronto, Gael tornou a seguir seu caminho deixando que seus homens fizessem o que mais queriam com a garota, ou não. Sinceramente, não lhe importava. Seguiu para o quarto do casarão onde fazia sua morada junto dos homens que o seguiam a todo custo. O quarto era grande espaçoso e com outro quarto secreto atrás de um quadro antigo e caro. Caminhou pelo estreito corredor oculto do guardo por alguns minutos até chegar à sua porta preferida. O cômodo era bem iluminado como um salão no meio de um museu. Era seu lugar preferido no mundo.As paredes eram enfeitadas pelas armas de seus inimigos que conseguiu enfrentar e ganhar em todos os anos dentro daquele mundo sujo e criminoso. Seguiu confiante e sorridente até a arma que era o seu maior destaque, a arma de James Macallister, o homem a qual teve medo e ódio no começo, mas que depois de uma luta justa e tiros em inúmeras direções ele saiu vitorioso.Arrependia-se de não ter assassinato o garoto que viera com ele naquela época
Todas as pessoas que entraram com Kim e Liam se entreolharam abismadas. Todos naquele lugar ficaram espantados, ninguém além de Kim e Liam sabia da existência de alguém da família do loiro além dele próprio e do pai que foi assassinado. Quando recuperou o ar e metade da visão perdida… Encarou o moreno novamente.— E a filha dela, minha irmã? - Liam engoliu a seco, não tinha palavras certas para contar o que estava acontecendo naquela cidade, mas faria qualquer coisa para ele entender que não era sua culpa. Não foi sua culpa. A demora em responder fez Christopher voltar a lhe erguer pela gola da camisa o jogando contra a mesa — CONTA ONDE ESTÁ A MINHA IRMÃ? CACETE! EU VOU MATAR VOCÊ.— O Gael, Gael… Ele… Ela está viva. - Christopher estreitou os olhos parando em cima de Liam que tentou se proteger. — Ela está viva, está em um beco, no meio da cidade de Valcolink algemada com o corpo da mãe. - Christopher o soltou se afastando da mesma hora, seus olhos ficaram embaçados pelas lágrimas s
O volume baixo da música tocada ao seu redor era tão pequeno que mal se podia ouvir.As janelas grandes que iam do teto ao chão estavam abertas trazendo de fora uma brisa fria e com isso, as cortinas entravam cada vez mais no quarto deixando aquele silêncio mínimo mais confortável do que o de costume. O cheiro gostoso daquele lugar era o mais perfeito do mundo, claro que, depois de sentir algo tão desumano quanto o odor de um cadáver em decomposição, qualquer coisa que viesse era bom.Christopher engoliu a seco quando trouxe seus olhos azuis brilhos de fora daquele quarto, para cima da cama onde jazia sua irmã mais nova deitada dentre os lençóis de lã em tons de branco e rosa, assim como o quarto em que se encontrava. Decorado com as cores mais bonitas para uma flor machucada do deserto, mas não deixava sua beleza ir embora nem um segundo.A última vez que viu Madeline, sua irmã tinha mais ou menos dezesseis anos. Estava saindo da formatura ao lado de suas amigas que nem notou sua pre
— Talvez eu tenha puxado aos genes do nosso pai. - Christopher ficou sério e ela também, ambos se encararam friamente e pareciam se entender perfeitamente com aquele olhar duro. — Onde está o que restou do corpo da minha mãe? - Levantou um braço procurando pela algema e agradeceu mentalmente por não está mais com aquilo.— Kim a enterrou no final da praia, onde sempre enterramos nossas pessoas queridas. Quando estiver melhor, mandarei que levem você até lá.— Praia? Valcolink não tem praias.— Você está Seant, na minha casa. - Madeline não demonstrou reação alguma. — Não pisará mais em Valcolink, nunca mais.— Eu tenho uma vida lá, você sabia? Eu faço faculdade e trabalho, ou trabalhava naquela cafeteria perto do salão da mamãe... - Christopher assentiu — O que acontecerá com o salão da mamãe?— Mandei uma pessoa para lá cuidar de tudo. E de novo, não quero que volte para lá. Seant é a minha cidade, e se quiser continuar sua faculdade aqui, pode fazer. Até trago os professores bem aq
Mas o que mais ele queria? Um aumento? Um aumento por fazer seu trabalho? Mais fácil ele não receber nada que ter um aumento concedido por Christopher.Entre ficar na sala com aquela mulher e subir para buscar encontrar seu chefe, preferia subir e enfrentar Christopher. Subiu os degraus com calma escutando as outras empregadas servir a grande senhora daquele lugar. Esperava que um dia aquela garota sumisse da vida de Christopher, porque o tanto que era enjoada e cínica lhe doía na alma. É claro que o Chris não era um dos homens mais corretos do mundo, mas ao menos uma mulher fiel deveria estar em sua cama, e não uma prostitit4 que achou no bordel e trouxe para dentro de casa.Andou pelo corredor com o coração mão. Não queria interromper nenhum momento entre os irmãos, mas estava no meio de seus trabalhos, arrumar as confusões que Christopher arranjava por toda sua vida. Parou em frente a porta escutando a voz de Christopher contar como fora que a trouxe até Seant o que não era uma his
Quando começou a descer as escadas, escutou primeiramente à voz da equipe que conhecia muito bem e adorava, porém, a mantinha longe fazendo trabalhos de longas datas em que seu pai não terminou quando vivo, mas ele fazia questão de terminar colocando todos os pingos nos “is”. Caminhou pelos corredores chegando a sua sala e achando seus quase melhores amigos.— Christopher - A primeira a correr em sua direção para lhe abraçar foi sua prima, Karen Logan. Caiu em seus braços lhe dando um beijo molhado em sua bochecha antes de se afastar e sorri sem nenhum pingo de vergonha, mesmo sabendo o quanto a namorada de aquele ser humano morri4. — Estava morrendo de saudade. Graças aos deuses nos chamou de volta. - Riu maliciosa agarrando sua camisa — Estava com saudade também do seu corpo, e eu poderia me aproveitar dele dessa vez?— Não… - Ele sorriu de canto notando os olhares de Sierra e Karen se afastou dando espaço para a outra integrante da equipe que vinha com um sorriso grande em sua dire
Quando a manhã chegou naquele dia, Madeline abriu os olhos pela primeira vez depois de uma noite inteira de sono, uma das melhores da sua vida.Encarou as cortinas em frente das janelas do quarto balançarem sem parar e o cheiro forte de limpeza e álcool chegou mais concentrado em suas narinas. Fechou os olhos outra vez para se deleitar daquilo, o aroma era o mais gostoso do mundo comparado ao que passou nos últimos dias. Ainda podia lembrar-se do cheiro daquele beco, do cheiro do corpo de sua mãe mort4 depois de chorar por horas em cima dele.Respirou fundo deixando as memorias perfurarem sua mente como se fosse facas, dolorosas mais do que qualquer coisa.Tornou a abrir os olhos verdes e esses estavam molhados dessa vez, havia uma parcela de culpa tão grande dentro do coração, ela devia ter amado mais Grace e se soubesse mais um pouco sobre seu irmão tinha pedido para que morassem juntos. Ela sempre contava historia de Christopher e acreditou que ele fosse uma pessoa boa, ao contrari