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5 - Encontro de dois Corpos

Todas as pessoas que entraram com Kim e Liam se entreolharam abismadas. Todos naquele lugar ficaram espantados, ninguém além de Kim e Liam sabia da existência de alguém da família do loiro além dele próprio e do pai que foi assassinado. Quando recuperou o ar e metade da visão perdida… Encarou o moreno novamente.

— E a filha dela, minha irmã? - Liam engoliu a seco, não tinha palavras certas para contar o que estava acontecendo naquela cidade, mas faria qualquer coisa para ele entender que não era sua culpa. Não foi sua culpa. A demora em responder fez Christopher voltar a lhe erguer pela gola da camisa o jogando contra a mesa — CONTA ONDE ESTÁ A MINHA IRMÃ? CACETE! EU VOU MATAR VOCÊ.

— O Gael, Gael… Ele… Ela está viva. - Christopher estreitou os olhos parando em cima de Liam que tentou se proteger. — Ela está viva, está em um beco, no meio da cidade de Valcolink algemada com o corpo da mãe. - Christopher o soltou se afastando da mesma hora, seus olhos ficaram embaçados pelas lágrimas solitárias que caíram rapidamente. Não precisava de uma plateia para revelar sua tristeza, o que lhe fez sentir mais ódio. — Isso tem três dias, foi o tempo que consegui chegar aqui.

— Três dias? - Christopher deu as costas mirando em Kim que estava de boquiaberto. Aquilo era um absurdo sem tamanho, sem tamanho, sem limites, sem nada. Ele suspirou olhando para todos dentro daquela sala antes de parar outra vez em Kim… — Arruma tudo, nós vamos agora para Valcolink. - Ordenou sem realmente enxergar alguma coisa.

Parece que havia recebido uma grande surra, seus olhos estavam lagrimando a cabeça doendo. Aquela noticia realmente o entristeceu.

— Você não… Não pode ir a Valcolink, todo mundo te procura por lá. A polícia, os traficantes, e o Gael. - Christopher engoliu o choro e voltou a encarar Kim um olhar nada amigável. — Mas isso não faz diferença, não é mesmo? É da sua irmã que estamos falando. Eu vou chamar o pessoal. - Murmurou rapidamente puxando Liam de volta para fora e levou todo o resto junto.

Christopher cambaleou pelo escritório. Como, como haviam descoberto as duas? Elas estavam escondidas, bem longe da sua vida. Mas como, como isso podia ter acontecido?

Caminhou a passos pesados, se arrastando pelo escritório chegando ao armário principal e quebrou o vidro puxando uma das pistolas coloridas. Colocou todas as balas no pente e pegou mais colocando na cintura, pegou seu casaco e saiu da sala. Desviou de alguns homens que o cumprimentava como o dono e chefe de tudo aquilo, mas apesar de ser uma pessoa sorridente para com seus homens, um momento ou outro, ele usava dois ou três para socar e passar a raiva, e um desses ilustres e violentos momentos, era aquele.

Todos se desviavam quando notaram a aflição e a sede de sangue no olhar do loiro que vagava pelos corredores até chegar à sala principal.

— Wal - Gritou pela mulher que apareceu um minuto depois ao lado de Sierra. — Prepara um quarto de hospedes com tudo que uma jovem de dezenove anos iria querer. Cortinas coloridas, uma cama confortável, tudo e rápido.

— Quem vai chegar nessa casa? - Sierra quis saber se aproximando do homem que apesar de ter relaxado minutos atrás, o ódio que transparecia nos olhos azuis dele chegava a arrepiar qualquer um. — Que garota é essa?

— É a minha irmã - a seriedade em sua voz fez a outra ajeitar-se sob os saltos. — Ela está vinda para cá, ajude Wal com a decoração, vocês tem menos de três dias.

Avisou antes de partir, seus homens já o esperava do lado de fora e agora, era só pegar sua irmã de volta… Certo?

Bom, quase isso…

As ruas daquela cidade nunca iriam mudar, e Christopher sabia disso. Lembrava-se vagamente de correr por elas levando sempre algo de alguém e rindo da expressão desesperada dessa pessoa, antes de chegar à esquina e apanhar violentamente de um policial ou dois. Já não fazia isso por necessidade ou algo assim, era apenas para se divertir. Limitou-se a dar um sorriso mínimo fechando seus olhos para que no fundo, aquelas memorias sumissem para sempre.

Aquele tempo foi ruim e era por isso que queria esquecer de qualquer jeito, e mesmo depois de ter ido para bem longe daquela cidade desastrosa, se encontrava outra vez naquelas ruas em busca de algo que era seu por direito, bom, não completamente seu. Mas sua. Madeline era seu amor, sonhou desde sempre em ter aquela garota em sua cama, mas ter a pessoa amada ao seu lado nunca é a decisão correta, ou ele estava errado nisso também?

— Para aqui - Liam mandou chamando Christopher para o mundo de volta. Ele olhou para trás encarando o moreno que sorriu amarelo dando um longo suspiro e tirou do bolso uma badana arrumando em seu rosto escondendo o nariz. — Se preparem, porque não será uma coisa muito bonita de se ver.

— Você tem certeza que esse lugar é o certo? - Kim perguntou desligando o carro. Pegou o celular ligando para os carros de trás e avisou que haviam chegado ao lugar. Pegou sua arm4 da cintura e mirou seu olhar no de Christopher que virou encarando-o também. — Vou perguntar de novo, Liam. Esse lugar é o certo? Não posso deixar o Christopher sair do nada nessa cidade. Ele é procurado pela polícia, pelos bandidos e agora até o Gael está atrás dele. Com razão, mas isso não tira o fato de que tem várias pessoas atrás dele e a qualquer momento podem dar um tiro na cabeça dele. E se isso acontecer você vai logo depois e todo mundo se encontra no inferno para comemorar a nossa chegada. Você está me entendendo?

— Eu já falei que esse é o lugar. Mas se preparem, porque a cena não é uma das mais bonitas que irá ver. - Alertou.

— Se viu isso antes, porque não tirou a garota de lá? - Kim bradou mais zangado — Teria nos poupado de vir até aqui.

— Eu tentei. Juro que tentei tirá-la de lá, mas além dela não me enxergar, o odor ao redor é tão horrível que não sinto vontade nenhuma de continuar - Liam reclamou e virou para Christopher que assentiu erguendo sua arm4 para mostrar que se tudo fosse mentira, acabaria com a vida do moreno em dois segundos. — Estou falando a verdade.

— Estamos aqui falando da minha irmã, Liam. Não é de uma prostitut4 dessas esquinas. - Liam sorriu enojado ligando a lanterna e abriu a porta do carro. E assim que fez isso, o odor daquele lugar assustou a todos. Kim abriu sua porta vomitando logo depois. Christopher apenas olhou para o lado de fora, seus olhos lagrimaram apenas com aquele cheiro horrível que lhe acometeu.

Abriu sua porta colocando os dois pés para fora antes de bater a porta com força assustando os demais ao seu redor. Não. Não acreditava que haviam deixado sua irmã naquele lugar escuro com um odor descomunal.

— É. Esse com certeza é o lugar. - Kim apareceu outra vez, cambaleando pelo odor e tapou o nariz querendo vomitar mais. — Isso é cheiro de um cadáver que está em decomposição a mais de três dias. - Vomitou outra vez e Christopher revirou os olhos tomando a lanterna de Liam e foi o primeiro e entrar no beco.

A iluminação da lanterna era pouca, mas aquele pouco que clareava seu caminho dava a oportunidade para Christopher ver os ratos correndo da claridade e algumas baratas também. O cheiro de bebida, drogas e aquele odor de carne estragada, o fazia abrir e fechar a boca querendo respirar de alguma forma, mas tudo que vinha era ruim. Fechou os olhos virando para procurar por seus homens, e estavam atrás de si, contudo, alguns vomitavam, e outros apenas vinham de olhos fechados querendo desmaiar a qualquer momento.

Kim parou ao seu lado também, a careta era grande.

O odor estava péssimo. Caminharam mais um tempo desviando de lixo e rato, moradores de rua que estavam ali no meio daquele odor. Tampou o nariz, seu desejo era voltar, porque já estava de bom tamanho. Não. Não podia deixar Madeline ali ainda mais se tivesse viva.

— Christopher? - O loiro virou mirando no claro que a lanterna de Kim mostrou e soltou a sua própria junto da arm4 dourada com o nome de seu pai. Os olhos azuis cresceram para cima daquela imagem surreal.

Aproximou-se do que um dia foi o corpo de sua madrasta e o odor o pegou mais forte quase o fazendo vomitar. Contudo, continuou a caminhar parando em frente à garota ajoelhada a menos de um metro do corpo. Nenhum homem estava próximo, apenas os piores isentos que poderia contar junto do corpo da mulher.

— Madeline? - Sua voz saiu arrasta como se não acreditasse em tudo que via. Era como uma cena de um filme de terror;

Uma garotinha suja e chorosa, quase desnuda ao lado do corpo sem vida da mãe que derretia na noite fria. O olho esverdeado a qual lembrava ter vida e brilho não passava de duas esmeraldas apagadas.

— Madeline? - Ajoelhou-se na frente da garota jogando o cabelo caído loiro escondendo metade do rosto dela para o lado e sentiu o sangue ferver ao notar a ferida que começava do lábio parando na entrada da orelha. — Madeline…? - Murmurou o nome da menina e a viu piscar duas vezes antes de focar nos olhos azuis. — Madeline…

— Christopher? - Não escutaram uma voz sair dos lábios rachados da garota, mas sim um movimento pequeno de lábios, esses mesmos que se abriram num sorriso de canto tão morto quanto o corpo atrás do seu. — A minha mãe tá morta.

— Deu para notar. - Christopher empurrou todo o cabelo loiro para trás revelando o rosto completo da menina e também os seios que mal estavam cobertos pelas vestimentas que acabaram sendo rasgadas em algum momento em que ela não se lembrava — Kim, as algemas.

O moreno se aproximou fazendo menção de vomitar mais algumas vezes e cortou as algemas. Christopher puxou a garota de uma vez daquele chão sujo e a viu cambalear para os lados e encostar-se à parede mais próxima levando a mão pequena até sua cabeça. — A minha mãe está morta - Repetiu àquilo como se fosse à única coisa que estivesse na cabeça e de fato, era mesmo.

— Eu sei. - Christopher tirou o casaco dos ombros cobrindo a garota que começou a chorar e se abraçou como se estivesse em um mundo particular. — Vamos embora!

— Não. - Ela virou o rosto para Christopher, que apesar de está se segurando, acabou mordendo seus lábios para não vomitar. — A minha mãe morreu.

— Droga! Eu já entendi, vamos embora agora. - Estendeu a mão para Madeline que esticou para pegar a mesma, contudo, sua visão duplicou o garoto e acabou caindo em seus braços. — Você está precisando sair daqui.

— Eles mataram a minha mãe, bem na minha frente. - Sua voz era baixa e se não estivesse tão perto de Christopher, ele não ouviria. — E isso é culpa sua. - Foram suas últimas palavras antes de desmaiar e Christopher a pegar no colo vendo o rosto da garota adormecer de vez.

— Vamos embora. - Ele disse e andou alguns passos à frente parando logo depois, virou em direção ao cadáver desnudo e virou para Kim — A coloque numa caixa, leve para Seant. Vamos enterrá-la perto do meu pai. - Mandou e Kim assentiu atendendo as ordens do chefe como fazia desde sempre.

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