Lizandra
Eu estava em choque.
Será que os meus próprios ouvidos estavam me enganando? A voz feminina que estava gemend0 como uma gata no ci0 e o nome que ela repetia de maneira incessante era o que eu estava pensando ouvir? Talvez fosse melhor ir embora e fingir que nada daquilo estava acontecendo.
— Gostos@!
Agora foi a vez de uma voz masculina dizer e depois soltar algo muito parecido com um urro, que me deixou completamente en0jada e logo foi se formando em meu interior um sentimento forte de indignação com a situação que estava vivenciando naquele momento. Eu precisava tomar uma atitude, mas os meus pés pareciam estar plantados no chão da extensa varanda.
— Vamos levantar, Jú. Estou coberto de suor e preciso tomar um banho.
Não havia mais dúvida alguma sobre o dono da voz masculina e eu estava claramente diante de uma dura traição.
— Calma, deixa eu arrumar o meu vestido, Sam — Juliana pediu com um sorriso na voz.
Consegui ouvir os passos deles e as risadas mais próximas. Eu estava na parte da frente da varanda e deduzi que eles estivessem logo no início da parte lateral, pois rapidamente eles estavam dobrando a "esquina" e aparecendo diante de mim, ainda parada tal qual uma estátua idiot@ traída.
— Então, é "Jú" e "Sam"? — perguntei de maneira irônica.
Eles estancaram de maneira brusca, chegando até mesmo a ser engraçado a forma como eles quase colidiram um com o outro ao perceber a minha presença na varanda.
— Não é nada do que você está pensando, Lily! — Samuel foi logo dizendo e levantando a mão, notavelmente tentando se esquivar da culpa.
— Claro que não — falei com um sorriso de escárnio — Vocês estavam gemend0 porque é divertido fazer isso pelas minhas costas, não é mesmo?
— Nós iríamos te contar, prima — Juliana teve a decência de admitir — Mas você anda sempre tão cansada para encontrar o Sam, que ele não teve oportunidade.
Para a cena ficar ainda mais interessante, no instante em que Juliana disse aquilo, Samuel se aproximou dela e passou o braço por seus ombros, que logo o enlaçou pela cintura também, formando o casal de "milhões".
— Então, a culpa por vocês estarem tendo um caso pelas minhas costas e me fazendo de idot@ é minha por não ter tempo disponível para o meu namorado? É isso que você quer dizer, Juliana!?
— Eu não disse isso! — Juliana protestou — Nós nos apaixonamos e isso simplesmente aconteceu, não foi nada planejado. E não deveria ter acontecido nada entre nós antes do Sam terminar tudo com você, mas há dias ele está tentando fazer isso.
Eu me senti ainda pior ao ouvir essa explicação, pois quando Samuel disse há alguns dias que precisava conversar algo muito importante comigo, eu imaginei que ele iria me pedir novamente em casamento e eu tinha até mesmo chegado a conclusão que desta vez eu iria aceitar a sua proposta. Jamais poderia imaginar que aquilo que ele queria dizer, na verdade fosse sobre a sua paixão pela minha prima e o desejo deles de ficarem juntos.
— Você é uma garota legal e muito gente boa, Lily — Samuel continuou com a humilhação — Mas, após anos namorando com você, percebi que eu não te amo realmente.
— Que bom que você descobriu isso agora, não é mesmo? Imagina que eu tivesse aceitado o seu pedido de casamento alguns meses atrás e você só descobrisse essa paixão repentina pela Juliana depois de casados? Afinal, o fato dela estar "dando" para você algo que eu não dei não tem nada a ver com isso, não é mesmo?
— Não seja tão baixa, Lizandra! O Samuel e eu nos amamos e vamos ficar juntos.
— Faça bom proveito, "Jú"...
Não permaneci nem mais um segundo naquele lugar e desci as escadas de dois em dois degraus, tentando sair o mais rápido possível daquela varanda e de perto daqueles dois traidores covard€s. A minha prima e o meu namorado. Quem diria que a tímida e introvertida Juliana fosse tão assanhada, pensei com cinismo. Não esperou nem o casamento para entregar-se ao seu grande amor. Hahaha, parece até piada.
Caminhei bravamente pelas ruas de São Miguel do Gostoso sem prestar atenção nas várias pessoas que estavam por todos os lados, a grande maioria turistas sorridentes e bronzeados pelas horas nas praias lindas e quentes da cidade. Muita gente bonita e feliz, mas eu não me sentia nenhuma coisa e menos ainda a outra. Eu só queria chegar ao meu quarto e derramar todas as lágrimas que eu estava contendo a muita custo.
Mas o meu desânimo cresceu ainda mais quando encontrei Luciano Monteiro, pois tive certeza de que ele iria se oferecer para me acompanhar até a pousada e eu não tinha vontade alguma de falar com ninguém, menos ainda de me forçar a ser simpática com um estranho.
— Vejam só, se não é a garota mais linda da cidade aqui na minha frente — Luciano brincou.
Eu forcei o meu melhor sorriso e foi apenas isso. Não consegui fazer nada além.
— Está indo para casa? — ele perguntou aquilo que eu mais temia — Lucrécia estava à sua procura.
Aquelas palavras fizeram soar um alarme em meu cérebro “Ah, não!”. Eu não tinha disposição alguma para falar com a minha tia agora e menos ainda para fazer qualquer coisa que ela venha a me pedir hoje. Só então compreendi que o melhor a fazer no momento é não voltar para casa agora.
Mas, para onde eu poderia ir sozinha? Não tinha mais nenhum outro lugar que eu pudesse ir.
— Não estou voltando pra casa — falei de maneira sucinta.
Luciano pareceu ficar bastante satisfeito com a minha resposta e logo fez a oferta que eu já previa que faria, me convidando novamente para ir com ele ver a queima de fogos e por total falta de opção, eu aceitei.
Caminhamos então pelas ruas juntos, mas tentei manter a maior distância possível do Luciano. Não queria que ninguém pensasse que havia algo entre nós, afinal, em uma cidade pequena como Gostoso, tudo era motivo para boatos sobre os moradores.
— Onde está o seu namoradinho? — Luciano perguntou, puxando assunto e já começando de maneira errada.
— Vou encontrar com ele mais tarde— ele não precisa saber o que aconteceu e posso usar isso como desculpa para ir embora quando for necessário.
Luciano insistiu para que eu o acompanhasse a um dos hotéis da orla onde estava acontecendo uma grande festa com artistas famosos nacionalmente, mas eu jamais poderia aceitar algo assim. Eu nem estava vestida para ir a um lugar de alto nível como esse! Quando ele percebeu que realmente não iria me convencer, optou então por continuar na orla onde estavam concentradas muitas pessoas para acompanhar a virada do ano e enquanto ele tomava alguns drinques, eu aceitei apenas um refrigerante.
Mas enquanto eu olhava as pessoas e pensava na grande decepção que sofri naquela noite, também me questionava sobre o que iria acontecer a partir de agora, quando todos ficassem sabendo que o meu namorado e a minha prima tinham simplesmente descoberto que se amam e querem ficar juntos.
Contudo, em momento algum passou pela minha cabeça que aquilo iria acontecer tão rápido, até que eu vi, como em um pesadelo horrível, o mais novo casal caminhando juntos de mãos dadas diante de todo mundo, sem se importar nem por um segundo em como eu iria me sentir sobre isso.
— Aquela não é a sua prima… a Juliana? — Luciano perguntou com um sorriso, que logo se tornou ainda maior ao ver o acompanhante da minha prima — Aquele que está abraçado a ela não seria o seu…
— Sim… — confirmei com dificuldade, um bolo se formando na minha garganta — É ele mesmo.
HeitorDepois de muita insistência da Heloísa eu tinha aceitado acompanhá-la para passar o Réveillon em São Miguel do Gostoso e agora eu me questionava porque eu sempre acabava cedendo aos caprichos da minha irmã chata e impulsiva. Logo eu respondia a mim mesmo: Eu a amo, apesar de tudo.— Você deveria tentar se divertir, Heitor! — Heloisa repete a mesma frase pela enésima vez só naquela noite — É sempre tão certinho. — Sou um cara responsável, foi isso que você quis dizer, não? — sugeri de maneira irônica.— Um chato! Foi isso que a Heloisa quis dizer — Bernardo diz, se intrometendo no assunto.— Não lembro de ninguém aqui ter pedido a sua opinião, Bernardo — falei de maneira rude.— Gente, vamos apenas aproveitar o réveillon? — Heloísa tenta mais uma vez — É possível ou não? — A Heloísa tem razão — Catarina diz de maneira cordata — O que acham de descer e nos juntar ao restante dos hóspedes e assistir a queima de fogos?Todos concordaram em seguir a sugestão de Catarina e pedimos
LizandraApós ver o Samuel e a Juliana juntos perante todos os moradores da cidade em pleno Ano Novo, foi impossível continuar firme e fingir que nada estava acontecendo quando eu estava sangrando por dentro.Acabei aceitando um copo de uma bebida qualquer que o Luciano me ofereceu e tomando todo o conteúdo da taça de um único gole, o que me deixou imediatamente tonta e com uma sensação de euforia totalmente estranha diante do que eu estava vivendo naquele momento ao ver os dois traidores sorrindo felizes logo após me fazer de palhaça.Apesar de me sentir zonza e com vontade de rir da minha própria desgraça, eu tentei me controlar a todo custo e consegui me esquivar do Luciano na primeira oportunidade que tive. A bebida não tinha me dominado completamente e eu apenas andei sem rumo pela orla da praia, molhando os pés nas ondas, enquanto desejava a todo custo que aquelas sensações esquisitas sumissem, o que não estava acontecendo realmente.Sem nem mesmo perceber o que estava fazendo,
Heitor Eu deveria apenas seguir meu caminho e voltar a procurar por Catarina, que tinha bebido um tanto quanto além do que o recomendável quando eu a vi pela última vez e por quem eu tenho responsabilidade. Eu pretendia fazer isso, mas ao caminhar apenas alguns poucos metros, notei que alguns homens visivelmente embriagados caminhavam na direção da garota insuportável e aquilo foi suficiente para me deixar apreensivo de uma maneira desconcertante.Eu não tenho que me preocupar com aquela garota, mas foi impossível continuar a andar sem ter certeza de que aqueles indivíduos iriam seguir o seu caminho sem incomodá-la. Acabei diminuindo completamente a velocidade dos meus passos apenas para confirmar que eles realmente não iriam notar a presença da garota solitária sentada à beira mar.— Olha o que temos diante de nós, meus amigos — um deles falou alto o suficiente para que eu conseguisse ouvir — Uma gata dessas sozinha aqui. Deve estar perdida…— Ou está apenas esperando que alguém a e
LizandraToda a adrenalina pelos últimos acontecimentos deve ter interferido em meu emocional e mesmo ciente de que eu estava chorando copiosamente na frente de um completo estranho, eu não consegui evitar.Ao ouvir a sua oferta, no entanto, decidi pôr um basta na minha fraqueza e sequei o meu rosto, ou ao menos tentei fazer isso de alguma forma, mas sabia que deveria estar totalmente descabelada, mas isso realmente não tem importância alguma para mim. Aquela noite estava sendo longa demais e eu cheguei ao meu limite. Então, quando aquele estranho se ofereceu para me acompanhar até um local mais seguro, eu simplesmente aceitei. O fato dele não ter dito que iria me acompanhar até em casa me fez sentir mais tranquila, mesmo que pudesse ser uma grande idiotice da minha parte, pois sei que não deveria confiar em alguém que acabei de encontrar na praia e que com toda certeza é um turista, alguém que está apenas de passagem por Gostoso e pode muito bem se aproveitar da situação, afinal, n
HeitorDepois que deixei a garota em um local bastante movimentado, voltei apressado para o hotel, que ficava a apenas alguns minutos de distância. Estava me sentindo culpado pelo tempo que acabei perdendo por estar com a garota na praia. Para o meu alívio, logo cheguei já encontrei com a Heloísa, que veio ao meu encontro de maneira afobada.— Onde você estava? — perguntou ansiosa — Eu já estava ficando preocupada.— Você conseguiu encontrar Catarina? — perguntei, fugindo da pergunta comprometedora.— Catarina está bem, não se preocupe — contou — Bernardo a encontrou na praia.Algo naquela informação me deixou um pouco incomodado e isso com certeza tem haver com aquilo que a garota insinuou na durante nosso estranho encontro.— E como Bernardo soube que estávamos à procura de Catarina? Ele não estava aqui quando saí… — Eu liguei para o Bernardo e pedi a sua ajuda para localizar a Catarina — Heloísa explicou — Ela parecia bem normal, para falar a verdade. Ainda assim, eu a acompanhei
LizandraEu mal consegui pregar os olhos a noite toda e não poderia realmente dizer que acordei. Em consequência da péssima noite rolando na cama e derramando rios de lágrimas, na manhã seguinte eu me senti horrível. Parecia que um trator tinha passado por cima do meu corpo, me deixando totalmente dolorida. E ainda sem falar na cara inchada e nos olhos vermelhos.Levantei sem ânimo, pensando como faria para enfrentar mais um dia de trabalho na pousada da minha tia depois de tudo o que aconteceu ontem. Não havia outra opção, ao menos não no momento. Mas eu pretendia conversar com Lucrécia logo que as coisas acalmassem e tentar provar a minha inocência e que o dinheiro que estava guardado debaixo do meu colchão é fruto das minhas economias de anos. Depois de tomar um banho demorado e chorar mais um pouco no banheiro, eu decidi ser forte e enfrentar tudo o que aconteceu de cabeça erguida. Chega de chorar! Nada se resolve com lágrimas e eu já tinha derramado muitas desde a hora que entre
LizandraChegamos ao Rio de Janeiro naquele mesmo dia à noite, algo que me deixou realmente surpresa com a facilidade encontrada pelo dinheiro e o apartamento do Luciano dizia que ele realmente possuía uma condição financeira privilegiada, pois apenas em ver o edifício extremamente luxuoso já ficou claro para mim que ao menos em relação a esse assunto ele tinha falado a verdade.— Eu pensei em te hospedar no meu apartamento, pois imagino que você não tenha condições de se manter até que comece a trabalhar — ele disse ao entrarmos na sala de estar decorada em tons de marrom — E espero que se sinta em casa aqui.Dizer para eu me sentir em casa era no mínimo gentil da parte dele, mas completamente impossível para mim, quando eu estava temerosa até mesmo de tocar em qualquer coisa e por um descuido qualquer acabar derrubando algum daqueles objetos valiosos.— Obrigada, Luciano. Não soube nada mais para dizer em agradecimento a tudo o que o Luciano estava fazendo e já tinha repetido aquel
LizandraForam necessários alguns segundos para que eu conseguisse me reconhecer na garota completamente nua e olhando para a tela com expressão de extremo cansaço. E esse foi o pior momento de toda a minha vida. Pior que a traição da minha prima e a acusação falsa de roubo que tia Lucrécia, a mulher que me criou durante anos, fez contra mim.— Mas… — comecei a falar com dificuldade, sentindo um grande bolo na garganta que engoli com grande dificuldade, para só então gritar horrorizada — O que é isso!? Eu estava gritando como nunca antes eu tinha feito, pois aquilo é completamente invasivo e indigno e eu jamais poderia aceitar tamanha falta de caráter do responsável por aquele… crime. — Não é o que você está pensando, minha querida — O outro homem começou a dizer, tentando me segurar pelo braço e me tirar do quarto.Percebi que enquanto ele me puxava para fora, Luciano desligava o aparelho de TV de maneira desajeitada, e só então eu entendi a gravidade da situação em que me coloquei