LizandraForam necessários alguns segundos para que eu conseguisse me reconhecer na garota completamente nua e olhando para a tela com expressão de extremo cansaço. E esse foi o pior momento de toda a minha vida. Pior que a traição da minha prima e a acusação falsa de roubo que tia Lucrécia, a mulher que me criou durante anos, fez contra mim.— Mas… — comecei a falar com dificuldade, sentindo um grande bolo na garganta que engoli com grande dificuldade, para só então gritar horrorizada — O que é isso!? Eu estava gritando como nunca antes eu tinha feito, pois aquilo é completamente invasivo e indigno e eu jamais poderia aceitar tamanha falta de caráter do responsável por aquele… crime. — Não é o que você está pensando, minha querida — O outro homem começou a dizer, tentando me segurar pelo braço e me tirar do quarto.Percebi que enquanto ele me puxava para fora, Luciano desligava o aparelho de TV de maneira desajeitada, e só então eu entendi a gravidade da situação em que me coloquei
HeitorDesliguei o telefone com uma sensação estranha e incomum de ansiedade e acredito que o meu semblante tenha me denunciado, pois o motorista olhou para mim com ar inquisitivo através do espelho retrovisor. Provavelmente percebeu que eu estava falando com o meu avô e suas palavras confirmaram que eu estava certo.— Algum problema com o senhor Vicente? — perguntou em tom preocupado.Respirei profundamente.— Infelizmente, sim — concordei sem pensar, e logo expliquei melhor a situação ao ver a expressão aflita do Lúcio — Na verdade, o vovô está envolvido, mas não aconteceu nada com ele em si.A expressão do Lúcio m
LizandraEu realmente não estou conseguindo entender como as coisas poderiam ter desandado daquela maneira em tão pouco tempo e agora eu estava hospitalizada em um lugar que eu não tenho a menor ideia de como vou fazer para pagar, sem dinheiro, sem mala, sem família e claro, não posso esquecer que sem namorado. É incrível como a traição do Samuel se tornou o menor dos meus problemas.Eu já estava prevendo o meu destino, que pelo andar da carruagem eu seria em breve mais uma moradora de rua, sem ter a quem recorrer. Talvez, se eu entrar em contato com a tia Lucrécia ela já esteja mais calma e até mesmo tenha entendido que eu jamais seria capaz de roubá-la e até me peça perdão pelas acusações injustas. Ou talvez não.
HeitorContive um bocejo inoportuno e tentei me concentrar na peça teatral a qual assistia naquele momento, que eu nem mesmo poderia afirmar do que se tratava realmente, visto que não consegui prestar atenção a nada do que estava acontecendo no palco.Ao meu lado estava Catarina totalmente absorta nos atores e parecendo realmente satisfeita com o desenrolar das cenas diante dos seus olhos, algo que não me surpreende de maneira alguma.Nós namoramos já há dois anos e eu já sabia do amor que ela sente pelo teatro e como ela realmente gosta daquele tipo de entretenimento e apenas por esse motivo eu a acompanhava sempre, afinal, somos parceiros e em algum momento precisamos abdicar do nosso próprio gosto em detrimento do outro. Ela também não go
HeitorBernardo olhou atentamente para Catarina, algo que mais uma vez me incomodou , mas logo voltou a sua atenção para as minhas palavras.— Não podem voltar para casa tão cedo — Bernardo protestou — Vamos esticar a noite e aproveitar que hoje é sexta-feira!— Nós chegamos ontem de viagem, Bernardo — protestei — Não deveria descansar um pouco?E eu nem estava me referindo só ao corpo. Como Bernardo não cansava de pular de galho em galho daquela forma?— Estou com convites para aquela banda de pagode que você gosta, Catarina — Ele disse, ignorando as minhas palavras.
LizandraApesar de acreditar que receberia alta do hospital no dia seguinte após o acidente, eu continuava no mesmo lugar e o médico já tinha deixado claro que isso não iria acontecer naquele dia ainda. Ele desejava mais alguns exames e uma nova tomografia, tendo em vista a pancada que eu sofri na cabeça quando caí ao ser atropelada pelo gentil senhor Vicente.Mas depois que os efeitos da anestesia passaram totalmente, eu não consegui descansar nem mais um minuto, pois os pensamentos não me deixavam em paz, sempre relembrando tudo o que tinha acontecido comigo nos últimos dias. Foram tantas coisas ruins, que eu me perguntava o que eu poderia ter feito para estar passando por tudo aquilo.Aquela é uma pergunta totalmente justificada. Em toda a minha vida, sempre procurei agir de maneira honesta e correta, respeitando todas as pessoas e principalmente atendendo a todas as vontades da minha tia. Trabalhava desde muito cedo, não tinha nem mesmo quinze anos quando comecei a ajudar no servi
HeitorCheguei à empresa naquela manhã bastante irritado, mas tentei não deixar isso atrapalhar o meu trabalho, mas isso estava sendo realmente difícil. A maior prova desse fato é que eu não consegui me concentrar em nada, devido a indignação que eu estava sentindo por causa de uma decisão tomada pelo meu avô e que me foi comunicada hoje cedo, durante o nosso desjejum.Estava saindo agora de uma reunião, a segunda desde que cheguei ao trabalho, quando decidi que o melhor a fazer neste momento é cancelar todos os meus outros compromissos daquele dia. Estava sendo impossível produzir qualquer coisa boa quando eu ainda me sentia extremamente chateado. Tudo isso culpa do vovô, pois apenas a lembrança das suas palavras já conseguem me deixar com os nervos à f
LizandraDepois da visita de Heloísa, foi a vez do senhor Vicente vir até o hospital e me fazer companhia por alguns minutos onde pude conhecer mais um pouco sobre o senhor de coração enorme e alma bondosa. É realmente surpreendente para mim que um homem tão distinto, notavelmente um homem rico, seja alguém tão simples como ele se mostra. Torna-se compreensível que Heloísa também seja alguém tão gentil, simpática e prestativa quanto o próprio avô,afinal, foi criada por ele, como ela mesma contou.Não foi surpresa, no entanto, que o senhor Vicente tenha anotado novamente sobre o seu desejo de me ajudar de alguma forma, algo que me deixa feliz e triste.Mas eu