Heitor
Bernardo olhou atentamente para Catarina, algo que mais uma vez me incomodou , mas logo voltou a sua atenção para as minhas palavras.
— Não podem voltar para casa tão cedo — Bernardo protestou — Vamos esticar a noite e aproveitar que hoje é sexta-feira!
— Nós chegamos ontem de viagem, Bernardo — protestei — Não deveria descansar um pouco?
E eu nem estava me referindo só ao corpo. Como Bernardo não cansava de pular de galho em galho daquela forma?
— Estou com convites para aquela banda de pagode que você gosta, Catarina — Ele disse, ignorando as minhas palavras.
LizandraApesar de acreditar que receberia alta do hospital no dia seguinte após o acidente, eu continuava no mesmo lugar e o médico já tinha deixado claro que isso não iria acontecer naquele dia ainda. Ele desejava mais alguns exames e uma nova tomografia, tendo em vista a pancada que eu sofri na cabeça quando caí ao ser atropelada pelo gentil senhor Vicente.Mas depois que os efeitos da anestesia passaram totalmente, eu não consegui descansar nem mais um minuto, pois os pensamentos não me deixavam em paz, sempre relembrando tudo o que tinha acontecido comigo nos últimos dias. Foram tantas coisas ruins, que eu me perguntava o que eu poderia ter feito para estar passando por tudo aquilo.Aquela é uma pergunta totalmente justificada. Em toda a minha vida, sempre procurei agir de maneira honesta e correta, respeitando todas as pessoas e principalmente atendendo a todas as vontades da minha tia. Trabalhava desde muito cedo, não tinha nem mesmo quinze anos quando comecei a ajudar no servi
HeitorCheguei à empresa naquela manhã bastante irritado, mas tentei não deixar isso atrapalhar o meu trabalho, mas isso estava sendo realmente difícil. A maior prova desse fato é que eu não consegui me concentrar em nada, devido a indignação que eu estava sentindo por causa de uma decisão tomada pelo meu avô e que me foi comunicada hoje cedo, durante o nosso desjejum.Estava saindo agora de uma reunião, a segunda desde que cheguei ao trabalho, quando decidi que o melhor a fazer neste momento é cancelar todos os meus outros compromissos daquele dia. Estava sendo impossível produzir qualquer coisa boa quando eu ainda me sentia extremamente chateado. Tudo isso culpa do vovô, pois apenas a lembrança das suas palavras já conseguem me deixar com os nervos à f
LizandraDepois da visita de Heloísa, foi a vez do senhor Vicente vir até o hospital e me fazer companhia por alguns minutos onde pude conhecer mais um pouco sobre o senhor de coração enorme e alma bondosa. É realmente surpreendente para mim que um homem tão distinto, notavelmente um homem rico, seja alguém tão simples como ele se mostra. Torna-se compreensível que Heloísa também seja alguém tão gentil, simpática e prestativa quanto o próprio avô,afinal, foi criada por ele, como ela mesma contou.Não foi surpresa, no entanto, que o senhor Vicente tenha anotado novamente sobre o seu desejo de me ajudar de alguma forma, algo que me deixa feliz e triste.Mas eu
HeitorSaí do quarto de hospital com a sensação de dever cumprido. Fiz exatamente o que deveria fazer para proteger a minha família de aproveitadores que desejam apenas conseguir ganhar dinheiro fácil. Gostaria de poder fazer o mesmo pela minha mãe e evitar que ela caísse sempre nas mãos de homens dispostos a tudo apenas para usufruir do seu dinheiro, contudo, Marla prefere viver longe de todos e fazer tudo aquilo que tem vontade, até mesmo pagar para que os homens fiquem ao seu lado.Mas eu podia cuidar do vovô e da Heloísa e não deixaria que aquela garota com aquela carinha angelical conseguisse enganá-los. Eles são minha responsabilidade e precisam aceitar a verdade.Entrar naquele quarto e me deparar com a mesma garota
HeitorDesci as escadas já me preparando mentalmente para enfrentar o café da manhã em família. Jamais poderia imaginar que iria encarar a refeição matinal dessa forma e tudo isso graças a uma estranha que chegou em nossas vidas apenas para tumultuar a relação entre nós.Lembrei da noite anterior e da forma como saí chateado do apartamento de Catarina após contar sobre a minha descoberta e ela me surpreender fazendo a mesma coisa que a minha família tinha feito pouco tempo antes.— Eu concordo com a Heloísa e o padre Jaime — Catarina disse, me deixando boquiaberto. — Sabe que acredito muito em destino e isso parece artimanha dele.Eu fiquei de pé
LizandraA noite caiu e com ela o medo. Muito medo. Contudo, não poderia ser diferente. Estou agora em uma cidade grande, rodeada de pessoas que não conheço e que passam por mim como se eu fosse invisível, cada um no seu mundinho, enquanto eu não tinha a menor ideia do que fazer agora. Não há muito o que fazer.Eu tinha recebido alta do hospital naquela manhã e me apressei para sair antes que o senhor Vicente ou até mesmo a sua neta viesse me visitar e diante da minha situação, tentassem mais uma vez me convencer a aceitar a ajuda que estavam me oferecendo. Algo que eu não poderia fazer de forma alguma, afinal, o neto do senhor Vicente deixou muito claro que eu não tentasse me aproximar deles. Apesar da sua grosseria, considero totalmente compreensível a forma como ele está tentando proteger aqueles que ama. Não sou a pessoa que ele acredita, mas Heitor não aceita que tudo isso que está acontecendo não passa de uma grande coincidência. A preocupação me fez chorar na noite anterior e
Lizandra Todo nervosismo de uma noite em claro, escondida entre algumas árvores frondosas de uma praça estavam agora cobrando o seu preço. Aproveitei a luz do dia para tentar descansar um pouco e me sentei em uma calçada. No meio fio, e para tentar não chamar a atenção, escolhi um lugar que não havia tantas pessoas transitando, apenas alguns carros estacionados. Mas antes do que eu imaginava, senti as lágrimas caindo em meu colo, incontroláveis. Gostaria de não chorar nesse momento, mas aparentemente não sou tão forte. O sono, a fome, o cansaço trouxeram o desespero. Foi impossível contê-lo agora.Chorei… chorei e continuei a chorar baixinho. E pensar que apenas alguns dias atrás eu estava sentada na praia chorando por causa do traidor do Samuel, algo que agora parece tão pequeno comparado a tudo que estou vivendo após aquele dia.Lembrar do réveillon me trouxe também a lembrança do Heitor e as lágrimas pareciam ter se intensificado ainda mais.— Eu não sou uma golpista…. — lamentei
Lizandra Quando Heloísa disse que no banheiro eu encontraria tudo o que eu precisar, ela não estava brincando. Os armários estavam repletos de toalhas e de produtos de higiene dos mais variados. Todos de marcas desconhecidas para mim e imaginei que deveriam ser produtos "de rico", como os funcionários e eu costumávamos nos referir às coisas dos hóspedes da pousada da minha tia.Com muita dificuldade eu consegui tirar o vestido que eu usava sozinha, pois usar apenas um dos braços não é nenhum pouco fácil. Tomar banho e colocar um roupão também não, mas eu consegui. Agora restava a dúvida sobre que roupa eu iria usar, pois as únicas coisas que eu possuía e que já haviam sido doadas pela Heloísa também me foram roubadas. A única opção era ficar com o roupão, ao menos até eu lavar as peças que eu usei ao sair do hospital e logo que Heloísa voltar, pretendo verificar como posso lavar a minha roupa suja.Alguns minutos depois ela estava de volta, agora em companhia de uma jovem que deduzi