Heitor
Desci as escadas já me preparando mentalmente para enfrentar o café da manhã em família. Jamais poderia imaginar que iria encarar a refeição matinal dessa forma e tudo isso graças a uma estranha que chegou em nossas vidas apenas para tumultuar a relação entre nós.
Lembrei da noite anterior e da forma como saí chateado do apartamento de Catarina após contar sobre a minha descoberta e ela me surpreender fazendo a mesma coisa que a minha família tinha feito pouco tempo antes.
— Eu concordo com a Heloísa e o padre Jaime — Catarina disse, me deixando boquiaberto. — Sabe que acredito muito em destino e isso parece artimanha dele.
Eu fiquei de pé
LizandraA noite caiu e com ela o medo. Muito medo. Contudo, não poderia ser diferente. Estou agora em uma cidade grande, rodeada de pessoas que não conheço e que passam por mim como se eu fosse invisível, cada um no seu mundinho, enquanto eu não tinha a menor ideia do que fazer agora. Não há muito o que fazer.Eu tinha recebido alta do hospital naquela manhã e me apressei para sair antes que o senhor Vicente ou até mesmo a sua neta viesse me visitar e diante da minha situação, tentassem mais uma vez me convencer a aceitar a ajuda que estavam me oferecendo. Algo que eu não poderia fazer de forma alguma, afinal, o neto do senhor Vicente deixou muito claro que eu não tentasse me aproximar deles. Apesar da sua grosseria, considero totalmente compreensível a forma como ele está tentando proteger aqueles que ama. Não sou a pessoa que ele acredita, mas Heitor não aceita que tudo isso que está acontecendo não passa de uma grande coincidência. A preocupação me fez chorar na noite anterior e
Lizandra Todo nervosismo de uma noite em claro, escondida entre algumas árvores frondosas de uma praça estavam agora cobrando o seu preço. Aproveitei a luz do dia para tentar descansar um pouco e me sentei em uma calçada. No meio fio, e para tentar não chamar a atenção, escolhi um lugar que não havia tantas pessoas transitando, apenas alguns carros estacionados. Mas antes do que eu imaginava, senti as lágrimas caindo em meu colo, incontroláveis. Gostaria de não chorar nesse momento, mas aparentemente não sou tão forte. O sono, a fome, o cansaço trouxeram o desespero. Foi impossível contê-lo agora.Chorei… chorei e continuei a chorar baixinho. E pensar que apenas alguns dias atrás eu estava sentada na praia chorando por causa do traidor do Samuel, algo que agora parece tão pequeno comparado a tudo que estou vivendo após aquele dia.Lembrar do réveillon me trouxe também a lembrança do Heitor e as lágrimas pareciam ter se intensificado ainda mais.— Eu não sou uma golpista…. — lamentei
Lizandra Quando Heloísa disse que no banheiro eu encontraria tudo o que eu precisar, ela não estava brincando. Os armários estavam repletos de toalhas e de produtos de higiene dos mais variados. Todos de marcas desconhecidas para mim e imaginei que deveriam ser produtos "de rico", como os funcionários e eu costumávamos nos referir às coisas dos hóspedes da pousada da minha tia.Com muita dificuldade eu consegui tirar o vestido que eu usava sozinha, pois usar apenas um dos braços não é nenhum pouco fácil. Tomar banho e colocar um roupão também não, mas eu consegui. Agora restava a dúvida sobre que roupa eu iria usar, pois as únicas coisas que eu possuía e que já haviam sido doadas pela Heloísa também me foram roubadas. A única opção era ficar com o roupão, ao menos até eu lavar as peças que eu usei ao sair do hospital e logo que Heloísa voltar, pretendo verificar como posso lavar a minha roupa suja.Alguns minutos depois ela estava de volta, agora em companhia de uma jovem que deduzi
Lizandra A vida na casa dos Bragança é bem diferente da forma como estou acostumada, principalmente porque sempre que não estava na escola, estava ajudando a tia Lucrécia na pousada, de uma forma ou de outra. No início em tarefas mais simples, que não exigiam esforço físico, que depois se tornaram o serviço mais pesado de limpeza. Como sempre trabalhei na pousada, eu sentia que estava de alguma forma retribuindo tudo o que a tia Lucrécia fez por mim, bem diferente do momento atual, em que eu estava me sentindo desconfortável por ficar apenas descansando enquanto outras pessoas atendiam a todas as minhas necessidades. Tentei oferecer ajuda de alguma forma quando fui à cozinha, mas os empregados que estavam lá me olharam com verdadeiro horror e dispensaram a minha ajuda de maneira firme e sem muita opção, eu acabei
HeitorApós três dias sem ir à minha própria casa por ser contra a "estadia" da nova hóspede da minha família, cheguei à conclusão de que eu não posso deixar o meu lar por causa de uma golpista. Aquela história de que os incomodados que se mudem também pode se aplicar a outra parte.Decidi voltar para casa e incomodar bastante a doce Lily e não fazer o que fiz até agora, deixando-a livre para enganar a todos fingindo ser alguém que não é. Muito pelo contrário, pretendo tornar a estadia dela na minha casa o mais difícil possível, para que ela desista dos seus planos sórdidos, vá embora e nos deixe em paz.Todas aquelas resoluções foram fortemente abaladas no mom
LizandraCaminhei apressada em direção a varanda lateral da casa, precisava de ar, pois o clima se tornou sufocante para mim desde que encontrei Heitor quando estava descendo as escadas. Ele mexe comigo de uma maneira bastante inconveniente, preciso aceitar o fato. Ao mesmo tempo, eu também o detestoSou mais fraca do que eu pensava. Não consegui nem mesmo enfrentar um jantar até mesmo simples para o padrão da família. Como eu iria suportar ficar na rua? Chorando o dia todo?Pensar nisso me consola sobre o fato de ter aceitado a ajuda dos Bragança, pois estar naquela casa é bem melhor do que ser uma pessoa em situação de rua, isso está bastante claro. Então, preciso ser menos frágil e ficar boa o mais rápido poss&i
HeitorEu só poderia estar louco! Pensei ao entender o que tinha acabado de acontecer naquela varanda. Eu praticamente ataquei Lizandra igual um homem das cavernas, só faltou jogá-la em meu ombro e carregá-la para a minha caverna. Ou melhor dizendo, para o meu quarto.— E você só se lembrou da Catarina agora? — Perguntei com sarcasmo.As palavras mal saíram da minha boca e eu já estava irremediavelmente arrependido. Estava me sentindo culpado e acabei despejando a raiva em Lizandra, algo bastante cretino da minha parte.— Esquece o que eu disse — pedi rapidamente, passando as mãos em meus cabelos e assim como Lizandra, também virei as costas para ela — Foi uma acusaçã
CatarinaOlhei para o computador naquele momento com a única intenção de conferir as horas. Meio dia. Contei mentalmente até dez e antes mesmo de chegar ao número oito, a porta da minha sala se abriu, dando passagem a alguém que eu realmente não queria ver naquele momento.— Olá, meu amor — O "intruso" disse com animação — Trouxe o nosso almoço.Suspirei exasperada enquanto ele colocava algumas sacolas em cima da mesa de canto, já organizando os lugares à mesa, como tem feito há dias.— Eu já pedi para que você não me trouxesse almoço, Bernardo — repeti o mesmo que disse das outras vezes — O que você acha que o Hei