LizandraEu mal consegui pregar os olhos a noite toda e não poderia realmente dizer que acordei. Em consequência da péssima noite rolando na cama e derramando rios de lágrimas, na manhã seguinte eu me senti horrível. Parecia que um trator tinha passado por cima do meu corpo, me deixando totalmente dolorida. E ainda sem falar na cara inchada e nos olhos vermelhos.Levantei sem ânimo, pensando como faria para enfrentar mais um dia de trabalho na pousada da minha tia depois de tudo o que aconteceu ontem. Não havia outra opção, ao menos não no momento. Mas eu pretendia conversar com Lucrécia logo que as coisas acalmassem e tentar provar a minha inocência e que o dinheiro que estava guardado debaixo do meu colchão é fruto das minhas economias de anos. Depois de tomar um banho demorado e chorar mais um pouco no banheiro, eu decidi ser forte e enfrentar tudo o que aconteceu de cabeça erguida. Chega de chorar! Nada se resolve com lágrimas e eu já tinha derramado muitas desde a hora que entre
LizandraChegamos ao Rio de Janeiro naquele mesmo dia à noite, algo que me deixou realmente surpresa com a facilidade encontrada pelo dinheiro e o apartamento do Luciano dizia que ele realmente possuía uma condição financeira privilegiada, pois apenas em ver o edifício extremamente luxuoso já ficou claro para mim que ao menos em relação a esse assunto ele tinha falado a verdade.— Eu pensei em te hospedar no meu apartamento, pois imagino que você não tenha condições de se manter até que comece a trabalhar — ele disse ao entrarmos na sala de estar decorada em tons de marrom — E espero que se sinta em casa aqui.Dizer para eu me sentir em casa era no mínimo gentil da parte dele, mas completamente impossível para mim, quando eu estava temerosa até mesmo de tocar em qualquer coisa e por um descuido qualquer acabar derrubando algum daqueles objetos valiosos.— Obrigada, Luciano. Não soube nada mais para dizer em agradecimento a tudo o que o Luciano estava fazendo e já tinha repetido aquel
LizandraForam necessários alguns segundos para que eu conseguisse me reconhecer na garota completamente nua e olhando para a tela com expressão de extremo cansaço. E esse foi o pior momento de toda a minha vida. Pior que a traição da minha prima e a acusação falsa de roubo que tia Lucrécia, a mulher que me criou durante anos, fez contra mim.— Mas… — comecei a falar com dificuldade, sentindo um grande bolo na garganta que engoli com grande dificuldade, para só então gritar horrorizada — O que é isso!? Eu estava gritando como nunca antes eu tinha feito, pois aquilo é completamente invasivo e indigno e eu jamais poderia aceitar tamanha falta de caráter do responsável por aquele… crime. — Não é o que você está pensando, minha querida — O outro homem começou a dizer, tentando me segurar pelo braço e me tirar do quarto.Percebi que enquanto ele me puxava para fora, Luciano desligava o aparelho de TV de maneira desajeitada, e só então eu entendi a gravidade da situação em que me coloquei
HeitorDesliguei o telefone com uma sensação estranha e incomum de ansiedade e acredito que o meu semblante tenha me denunciado, pois o motorista olhou para mim com ar inquisitivo através do espelho retrovisor. Provavelmente percebeu que eu estava falando com o meu avô e suas palavras confirmaram que eu estava certo.— Algum problema com o senhor Vicente? — perguntou em tom preocupado.Respirei profundamente.— Infelizmente, sim — concordei sem pensar, e logo expliquei melhor a situação ao ver a expressão aflita do Lúcio — Na verdade, o vovô está envolvido, mas não aconteceu nada com ele em si.A expressão do Lúcio m
LizandraEu realmente não estou conseguindo entender como as coisas poderiam ter desandado daquela maneira em tão pouco tempo e agora eu estava hospitalizada em um lugar que eu não tenho a menor ideia de como vou fazer para pagar, sem dinheiro, sem mala, sem família e claro, não posso esquecer que sem namorado. É incrível como a traição do Samuel se tornou o menor dos meus problemas.Eu já estava prevendo o meu destino, que pelo andar da carruagem eu seria em breve mais uma moradora de rua, sem ter a quem recorrer. Talvez, se eu entrar em contato com a tia Lucrécia ela já esteja mais calma e até mesmo tenha entendido que eu jamais seria capaz de roubá-la e até me peça perdão pelas acusações injustas. Ou talvez não.
HeitorContive um bocejo inoportuno e tentei me concentrar na peça teatral a qual assistia naquele momento, que eu nem mesmo poderia afirmar do que se tratava realmente, visto que não consegui prestar atenção a nada do que estava acontecendo no palco.Ao meu lado estava Catarina totalmente absorta nos atores e parecendo realmente satisfeita com o desenrolar das cenas diante dos seus olhos, algo que não me surpreende de maneira alguma.Nós namoramos já há dois anos e eu já sabia do amor que ela sente pelo teatro e como ela realmente gosta daquele tipo de entretenimento e apenas por esse motivo eu a acompanhava sempre, afinal, somos parceiros e em algum momento precisamos abdicar do nosso próprio gosto em detrimento do outro. Ela também não go
HeitorBernardo olhou atentamente para Catarina, algo que mais uma vez me incomodou , mas logo voltou a sua atenção para as minhas palavras.— Não podem voltar para casa tão cedo — Bernardo protestou — Vamos esticar a noite e aproveitar que hoje é sexta-feira!— Nós chegamos ontem de viagem, Bernardo — protestei — Não deveria descansar um pouco?E eu nem estava me referindo só ao corpo. Como Bernardo não cansava de pular de galho em galho daquela forma?— Estou com convites para aquela banda de pagode que você gosta, Catarina — Ele disse, ignorando as minhas palavras.
LizandraApesar de acreditar que receberia alta do hospital no dia seguinte após o acidente, eu continuava no mesmo lugar e o médico já tinha deixado claro que isso não iria acontecer naquele dia ainda. Ele desejava mais alguns exames e uma nova tomografia, tendo em vista a pancada que eu sofri na cabeça quando caí ao ser atropelada pelo gentil senhor Vicente.Mas depois que os efeitos da anestesia passaram totalmente, eu não consegui descansar nem mais um minuto, pois os pensamentos não me deixavam em paz, sempre relembrando tudo o que tinha acontecido comigo nos últimos dias. Foram tantas coisas ruins, que eu me perguntava o que eu poderia ter feito para estar passando por tudo aquilo.Aquela é uma pergunta totalmente justificada. Em toda a minha vida, sempre procurei agir de maneira honesta e correta, respeitando todas as pessoas e principalmente atendendo a todas as vontades da minha tia. Trabalhava desde muito cedo, não tinha nem mesmo quinze anos quando comecei a ajudar no servi