Depois de mais dois drinks, tudo estava um pouco fora de controle. Como esperado, Lola já tinha perdido uma das amigas de vista na pista de dança. Andrea sempre era a mais ávida em encontrar um par para a noite. Não demorou muito para Lola avistá-la alguns degraus acima, agarrada a um homem alto, de pele escura e completamente careca. O tipo dela. De onde estava, e pelo jeito como se agarravam, era difícil diferenciar quem era quem — pareciam uma coisa só.
Lola, por outro lado, não estava interessada nessas aventuras momentâneas. Desviou o olhar, deixando as amigas à vontade para se divertir enquanto se mantinha o mais sóbrio possível. Só queria voltar à mesa após se livrar dos caras inconvenientes que cruzavam seu caminho. Aquele não era o tipo de lugar que frequentava para conhecer alguém.
— Menos uma. Quem é a próxima? — apontou para as duas amigas à sua frente, que já tinham pedido outra rodada e viravam mais duas doses com entusiasmo.
Seria uma longa noite.
Entre idas e vindas até o bar e a pista de dança, Lola viu novamente o homem que havia chamado sua atenção mais cedo. Agora, ele estava encostado no balcão, perto dela, inclinando-se para falar com o barman. Duas mulheres tentavam a todo custo chamar sua atenção, jogando-se para cima dele. Mas, pelo sorriso despreocupado que ele exibia, parecia ignorá-las completamente.
Não era delas que ele queria.
Seu olhar estava fixo na morena de pele dourada, que aguardava seus drinks ficarem prontos. De relance, ele notou os olhos dela passando rapidamente sobre ele antes de desviar. Logo, voltou para o grupo, que parecia ainda maior com a chegada de mais algumas mulheres. Mas antes de se afastar, olhou para ela mais uma vez. Era como se desafiasse sua indiferença.
Aquela mulher não o reconhecia. E ainda ousava sustentar o olhar por mais do que poucos segundos. Isso foi o suficiente para deixar Max curioso.
Ele queria ouvi-la rir de novo — como quando duas mulheres a arrastaram para a pista de dança. Ela parecia magnética, exalava confiança, e todas às vezes que passou por ele, era impossível não notar sua presença.
Max buscou um lugar melhor para observá-la na pista. Quem diria que um dos herdeiros do trono da Inglaterra estaria em uma casa noturna em San Diego, completamente vidrado em uma mulher de cabelos escuros e pele dourada? Talvez fosse apenas seu ego ferido por ela não demonstrar interesse nele. Mas ele tentaria conseguir sua atenção de alguma forma.
Naquele momento, agradeceu mentalmente o convite de John para aquela reunião de negócios que o trouxe aos Estados Unidos de última hora. Fazia tempo que não via seu colega de Eton e da faculdade, mas sabia bem que qualquer desculpa era suficiente para John transformar tudo em uma grande festa.
Max nem pretendia beber mais, até ensaiava uma desculpa para ir embora. Mas depois de alguns minutos observando aquela mulher, percebeu que sua noite estava longe de acabar.
O ambiente estava abafado, e o calor parecia piorar a cada minuto. Ele sentiu a boca secar ao vê-la dançando com uma amiga, rebolando ao ritmo da música. Elas pareciam incansáveis, felizes como ele nunca havia visto antes.
John apareceu com uma garrafa de cerveja recém-aberta e entregou a ele.
— Não está batizada, certo? – Max mal olhou para o amigo, ainda focado na cena diante dele. — Sabe que tenho um voo cedo, não posso ter ressaca ou surpresas.
Ele tomou um gole, que momentaneamente aliviou o calor que sentia.
— O que você tanto olha, cara? – John, mesmo bêbado, percebeu que Max estava distraído. Seguiu seu olhar e arregalou os olhos ao ver a pista de dança.
— Qual delas? – perguntou, fascinado.
— A de vestido azul, costas nuas. Vi ela no bar mais cedo. –Max respondeu sem desviar o olhar. Agora, restavam apenas ela e a amiga dançando. Assim que a música mudou, ele a viu puxar a amiga de volta para o meio da pista.
A música era lenta, sensual e intensa.
— Preciso ver isso melhor – murmurou, ignorando completamente John e qualquer outra coisa ao seu redor.
— Porra, olha só aquela garota – John comentou, impressionado, vendo as duas dançando juntas.
Até parecia ensaiado.
Max não era um cara de dançar, muito menos aquele tipo de música. O máximo que fazia eram as benditas valsas que precisou aprender por etiqueta ou algum movimento improvisado quando realmente gostava da música. Mas aquilo… aquilo era outra coisa.
Já Lola estava ali para isso. Havia escolhido o melhor salto, o mais confortável. E nem imaginava que alguém a observava daquela forma, com tanto interesse.
A única coisa que importava era a música vibrando alto pelo salão – um remix entre pop e batidas latinas. O tipo que fazia todos se soltarem e sentirem a vibração pulsando pela pele. O clube estava lotado e quente, e, vez ou outra, precisava afastar algum engraçadinho que tentava se meter entre elas, puxando-as pela cintura ou tentando beijá-la sem qualquer permissão.
Raramente alguém tinha sucesso. Mas, quando se virou novamente, percebeu que só restavam ela e Patrícia na pista. Lá se fora mais uma amiga para algum canto escuro. As duas riram, abraçadas.
Estava prestes a voltar para a mesa e buscar um ar mais fresco, quando, entre o mar de gente, uma nova batida começou a tocar. O ritmo era inconfundível. Pela primeira vez na noite, ela ouviu a introdução de uma de suas músicas preferidas. O sorriso veio instantaneamente.
— Essa é a minha música! – Exclamou, estendendo a mão para Patrícia. E, sem hesitar, puxou-a de volta para o centro da pista.
After Hours, do The Weeknd, ecoou pelos alto-falantes, fazendo seu corpo se mover no mesmo instante.
— Toda música dele é a sua música. – Patrícia riu, acompanhando-a.
Era naquele momento que ela esquecia do mundo, ouvindo suas músicas preferidas e dançando livre, sem se importar com quem estava ao redor. Ainda mais quando se juntava à amiga, que compartilhava o mesmo sentimento, e as duas moviam-se em perfeita sincronia, como se fossem uma só. O calor abafado do ambiente as envolvia, e os rostos desconhecidos ao redor se transformavam em borrões. A cada batida da música, sentia o corpo vibrar, como se fosse parte da melodia. A pele queimava e, quanto mais tempo passava ali, mais ela se entregava àquela sensação única de liberdade. Mas quando se virou para abraçar a amiga, ainda empolgada, já desistiu.Naquele instante, apenas as costas de Patrícia e o rosto familiar que não queria ver – Mauro. Ele estava ali, mais uma vez, a abraçando e beijando como se nada tivesse acontecido. No fundo, ela sabia que era apenas questão de tempo até que os dois se encontrassem de novo e começassem a mesma história. Até que demorou para acontecer.Ellora franziu o c
— Grego? – A pergunta dele parecia genuína, fazendo Lola rir enquanto o olhava.Como sempre, alguém perguntaria de onde vinha aquele nome. E, obviamente, ela não parecia uma pessoa de ascendência grega.— Hebraico ou celta, até hoje não sei. – Ela abriu um sorriso, fazendo eco de sua resposta.O que realmente chamava mais a atenção eram os olhos dele, que alternavam entre verdes e castanhos. Com a pouca luz, era difícil identificar, mas a gentileza no olhar quando ele sorria para ela era clara. Os cantos dos olhos se apertavam um pouco ao sorrir, e ele se inclinava para ouvir melhor, respondendo-lhe com suavidade, antes de retornar à pergunta anterior.— Mas, de qualquer forma, mesmo que soubesse dançar, não danço com desconhecidos. Não assim. Valeu pela intenção. – A atenção de Lola se voltava para a garrafa recém-aberta e gelada. Estava quente demais, e a presença dele parecia intensificar o calor. Ele não desistia e, mais uma vez, chamava sua atenção.— Uma pena, adoraria umas auli
Ellora o observava em silêncio, impressionada como ele se destacava de todos os homens que já havia conhecido, especialmente em um ambiente como aquele. Inteligente, educado e sempre mantendo os limites nas conversas, Max surpreendia ao fazer comentários sutis sobre as pessoas ao redor, arrancando dela mais de um sorriso genuíno. Quando tocava, ainda que por acidente, era sempre em um braço ou no joelho dela, e, por mais que fosse um gesto simples, parecia ser o suficiente para ela sentir uma conexão mais forte.Max também estava intrigado com a proximidade dela, principalmente a suavidade de sua pele que parecia tentadora, mesmo sob a luz baixa. Sua mente vagava, imaginando deslizar os dedos sobre ela, sem pressa, por longos minutos, só para ver como ela reagiria.O sotaque dele a fascinava, mas o que a deixava ainda mais cativada era como ele sorria, especialmente quando ambos começavam a complementar as falas um do outro com uma sintonia natural. Cada risada dele era um convite a m
Mais uma vez, Ellora concordava com o que Max falava. Parecia que ela já começava a entender o suficiente para seguir a conversa, mas não queria parecer mal-educada. Então, decidiu ficar um pouco mais, tentando prolongar o diálogo.Precisava apenas mudar de assunto.A primeira coisa que queria saber era que tipo de aventura Max teria vivido, caso tivesse ficado com seus amigos em vez de vir até ela.— No mínimo, minha bela Lola estaria com a gravata na cabeça e tentando escapar de alguma moça muito bêbada. – Max refletia, tentando parecer sério, mas com um sorriso contido, difícil de esconder.— Como se você não gostasse… Eu vi as loiras mais cedo. – Ellora não fazia questão de esconder o que pensava.— Se eu te dissesse que não sou esse tipo de homem, você se surpreenderia? – Max a olhava, os dois compartilhando um segundo de silêncio carregado de tensão. Era uma tensão boa, uma mistura de curiosidade e o desejo de descobrir mais um do outro.
Ellora, embora mais baixa, conseguia atrair a atenção de todos ao seu redor. Mesmo de salto, ela ganhava alguns centímetros, mas sua postura impecável era o que realmente chamava a atenção. Naquela luz clara, Max conseguia perceber os detalhes mais sutis. O vestido curto, de um brilho suave, parecia chamar os olhares, e seus olhos escuros, em formato amendoado e com um leve puxado no canto, eram intensos. Seus lábios carnudos, pintados de vermelho vibrante, se destacavam ainda mais quando ela sorria. O rosto delicado, com um queixo fino e um olhar curioso e astuto, completava a imagem. Mesmo maquiada, Max conseguia perceber um conjunto de pintas na bochecha esquerda e perto do queixo. Pequenas e claras, elas davam um charme a mais, espalhando-se pela pele exposta pelo vestido. Ele estava, de alguma forma, enfeitiçado.Max, tentando manter a naturalidade, sugeriu:– Ou podemos sentar ali. – Aponto
— Me fala da sua família, tem irmãos? Mora com quem em Londres? – Ellora falava devagar, observando cada detalhe do rosto dele. Com um sorriso, Max conseguia prender totalmente a atenção dela, e os dois dividiam a última parte do chocolate. — Você deve ter feito faculdade, não fez?Poderia parecer uma conversa simples, mas o jeito como os dois se comportavam era diferente. O modo como se conectaram a deixava empolgada. Ainda estavam os dois de pé, encostados na grade que cercava a loja, como se precisassem ficar mais próximos um do outro, e, às vezes, até se tocavam enquanto conversavam.— Devo tratar o que está acontecendo aqui? Um primeiro encontro? – Max a olhava com curiosidade, e o cabelo escuro, que emoldurava seu rosto, parecia uma obra de arte.Antes de responder, Ellora fechava os olhos, pensando por um segundo. Nem ela sabia como chamar o que estava acontecendo entre eles. Mas, em falta de adjetivos melhores, concordou.— Acho que sim. Você me convidou, então… – Ela falava d
Nenhum dos dois percebeu que, mais uma vez, estavam de mãos dadas. Ellora se lembrava de tê-la segurado quando falava sobre o pai, mas não sabia ao certo quando largara. Seus dedos entrelaçados acariciavam a pele um do outro, e, com o corpo mais perto de Max, não eram só as mãos em contato. Ao olhar para as unhas pintadas e arredondadas, Ellora notou o quanto suas mãos eram pequenas perto das dele. A tatuagem discreta no indicador de sua mão direita se destacava. — Uma verdadeira família de brasileiros, então? – Max perguntou. Ellora sorriu orgulhosa, concordando. — Agora entendi tudo. Isso faz sentido. Toda essa energia, esse jeito… Você é linda, tem algo bem diferente em você… – Ele não sabia como expressar aquilo sem parecer piegas ou um pouco conquistador, mas o sentimento estava ali, claro. Eles se encararam por um momento, tentando entender a linha de raciocínio um do outro. — Desculpe, isso foi totalmente sem sentido, né? – Max se atrapalhou, ficando um pouco sem graça.
A noite estava quente, e ela não parecia sentir frio, embora um leve arrepio surgisse com o toque a mais que Max explorava. A ideia de falar sobre paixão se tornava ainda mais interessante, especialmente sob o ponto de vista dela.— Por que a casa da sua mãe é como estar no Brasil? – Max levantou finalmente o olhar e encontrou o dela, que o seguia, observando seus dedos deslizando pela sua pele até o ombro.— Minha mãe é uma mulher de personalidade, Maximilian. – Ela propositadamente o chamava pelo nome, enfatizando que não o esqueceria tão cedo, o que o fez sorrir. Ele gostava de como o som do seu nome soava na boca dela. — E mesmo morando aqui há mais de 30 anos, ela fez questão de nos criar como se estivéssemos no Brasil. Então, nossos costumes em casa são bem diferentes dos de qualquer família americana que você conheça. – No final, ela prendeu os lábios entre os dentes, os dois já perdidos no tempo e naquela conversa.Mais próximos e atentos, Max estava prestes a levantar o queix