Era naquele momento que ela esquecia do mundo, ouvindo suas músicas preferidas e dançando livre, sem se importar com quem estava ao redor. Ainda mais quando se juntava à amiga, que compartilhava o mesmo sentimento, e as duas moviam-se em perfeita sincronia, como se fossem uma só. O calor abafado do ambiente as envolvia, e os rostos desconhecidos ao redor se transformavam em borrões. A cada batida da música, sentia o corpo vibrar, como se fosse parte da melodia. A pele queimava e, quanto mais tempo passava ali, mais ela se entregava àquela sensação única de liberdade. Mas quando se virou para abraçar a amiga, ainda empolgada, já desistiu.
Naquele instante, apenas as costas de Patrícia e o rosto familiar que não queria ver – Mauro. Ele estava ali, mais uma vez, a abraçando e beijando como se nada tivesse acontecido. No fundo, ela sabia que era apenas questão de tempo até que os dois se encontrassem de novo e começassem a mesma história. Até que demorou para acontecer.
Ellora franziu o cenho para Mauro, que a olhava com aquele sorriso de quem já havia vencido a noite. Parecia uma provocação, ficar com a amiga dela de novo, só para incomodá-la. Ela deixou os dois sozinhos e foi em direção ao bar, desviando dos caras que tentavam chamá-la para dançar, após vê-la com Patrícia. Não estava no clima.
Mesmo com a música alta, conseguia se comunicar com o bartender. A bancada estava mais tranquila, já que quem queria se embebedar já tinha se servido. Pediu apenas uma garrafa de água e, enquanto pensava na desculpa que usaria para ir embora antes de ser deixada para trás, a noite já não parecia como o planejado.
Max estava sentado em um banco, observando-a dançar aquela música lenta e sensual. Ele a via com mais clareza dali o sorriso, os movimentos dos quadris. Principalmente quando ela descia mais devagar; era sexy ao extremo, e ele não era o único a observá-la com atenção. Porém, foi para ele que ela caminhou, o sorriso já desaparecido. Ela o ignorou quase completamente.
Mas ele não desistiria.
— Eu ia te chamar para dançar, mas agora estou vendo que não daria conta – disse, próximo o suficiente para ela ouvir, mas sem invadir seu espaço. — De te acompanhar.
Ellora, distraída, não o havia notado até então antes de dar uma resposta afiada, olhou-o pela primeira vez. Reconheceu aquela boca que havia chamado sua atenção mais cedo.
Agora, de perto, viu a pequena pinta ao lado superior esquerdo dos lábios carnudos, bem desenhados, que pareciam próximos do rosto. E o sotaque… definitivamente não era dali. Ela se perguntou, em um flash de pensamento, se ele seria britânico. Estava tão longe de casa.
Levou dois segundos para reagir.
— Como disse? – Ela respondeu, bebendo um gole da água, tentando manter a voz amigável, apesar do estresse. Um interesse natural começou a surgir.
Ele se aproximou mais, falou novamente, mais devagar:
— Ia te chamar para dançar, mas não dou conta. Não tenho o rebolado igual ao da sua amiga.
Ele apontou para a pista de dança, onde Patrícia estava com Mauro, e Ellora não pôde evitar revirar os olhos, já sabendo o que viria pela frente.
— E quem disse que eu quero continuar dançando? – Ela indagou, o rosto perto do dele.
— Não me parece cansada. E diferente de muitos por aqui, você sabe o que faz. Dança muito bem.
Apesar da altura do rapaz, ela não se deixou impressionar. Mentalmente, só queria pegar Patrícia e ir embora. Respirou fundo, observando a amiga se entregar à multidão e desaparecendo ali. Olhou novamente para o homem ao seu lado, suspirando. Precisava de uma pausa.
— Você não é daqui certo? – Perguntou, inclinando-se para falar mais perto dele. — Dá para notar pelo jeito que fala. Tem um sotaque bem forte.
Era direto, mas ela estava surpresa com o quanto se sentia intrigada por ele, considerando que evitava qualquer aproximação naquela noite. Ele estava bem-vestido, até demais para aquele lugar. Não passava despercebido, especialmente com o relógio Tom Ford, um modelo novo e elegante.
— Esperta, me pegou. Londres, estou só de passagem, visitando uns amigos – ele respondeu, apontando para o grupo embriagado que ela vira mais cedo.
Bem diferente dele, que parecia impecável, mesmo com alguns botões da camisa abertos e as mangas enroladas até os cotovelos. Não exalava álcool ou desleixo; estava tranquilo.
— A propósito, sou Max. E você? – Ele se apresentou, estendendo a mão para ela.
A atitude educada foi um alívio. Normalmente, os caras em lugares como aquele estavam mais interessados em tirar vantagem da situação, tentando se aproximar e tocar em qualquer parte do corpo possível. Mas ela apertou sua mão grande e macia, intrigada.
— Ellora – respondeu, com um sorriso. Max sorriu de volta, de maneira contagiante, como se aquela boca tivesse sido feita sob medida para o rosto de linhas fortes e queixo marcado. Porém, ao ouvir seu nome, ele levantou uma sobrancelha, como se um pequeno questionamento surgisse. — Ou Lola. Local – ela corrigiu, rindo discretamente.
— Grego? – A pergunta dele parecia genuína, fazendo Lola rir enquanto o olhava.Como sempre, alguém perguntaria de onde vinha aquele nome. E, obviamente, ela não parecia uma pessoa de ascendência grega.— Hebraico ou celta, até hoje não sei. – Ela abriu um sorriso, fazendo eco de sua resposta.O que realmente chamava mais a atenção eram os olhos dele, que alternavam entre verdes e castanhos. Com a pouca luz, era difícil identificar, mas a gentileza no olhar quando ele sorria para ela era clara. Os cantos dos olhos se apertavam um pouco ao sorrir, e ele se inclinava para ouvir melhor, respondendo-lhe com suavidade, antes de retornar à pergunta anterior.— Mas, de qualquer forma, mesmo que soubesse dançar, não danço com desconhecidos. Não assim. Valeu pela intenção. – A atenção de Lola se voltava para a garrafa recém-aberta e gelada. Estava quente demais, e a presença dele parecia intensificar o calor. Ele não desistia e, mais uma vez, chamava sua atenção.— Uma pena, adoraria umas auli
Ellora o observava em silêncio, impressionada como ele se destacava de todos os homens que já havia conhecido, especialmente em um ambiente como aquele. Inteligente, educado e sempre mantendo os limites nas conversas, Max surpreendia ao fazer comentários sutis sobre as pessoas ao redor, arrancando dela mais de um sorriso genuíno. Quando tocava, ainda que por acidente, era sempre em um braço ou no joelho dela, e, por mais que fosse um gesto simples, parecia ser o suficiente para ela sentir uma conexão mais forte.Max também estava intrigado com a proximidade dela, principalmente a suavidade de sua pele que parecia tentadora, mesmo sob a luz baixa. Sua mente vagava, imaginando deslizar os dedos sobre ela, sem pressa, por longos minutos, só para ver como ela reagiria.O sotaque dele a fascinava, mas o que a deixava ainda mais cativada era como ele sorria, especialmente quando ambos começavam a complementar as falas um do outro com uma sintonia natural. Cada risada dele era um convite a m
Mais uma vez, Ellora concordava com o que Max falava. Parecia que ela já começava a entender o suficiente para seguir a conversa, mas não queria parecer mal-educada. Então, decidiu ficar um pouco mais, tentando prolongar o diálogo.Precisava apenas mudar de assunto.A primeira coisa que queria saber era que tipo de aventura Max teria vivido, caso tivesse ficado com seus amigos em vez de vir até ela.— No mínimo, minha bela Lola estaria com a gravata na cabeça e tentando escapar de alguma moça muito bêbada. – Max refletia, tentando parecer sério, mas com um sorriso contido, difícil de esconder.— Como se você não gostasse… Eu vi as loiras mais cedo. – Ellora não fazia questão de esconder o que pensava.— Se eu te dissesse que não sou esse tipo de homem, você se surpreenderia? – Max a olhava, os dois compartilhando um segundo de silêncio carregado de tensão. Era uma tensão boa, uma mistura de curiosidade e o desejo de descobrir mais um do outro.
Ellora, embora mais baixa, conseguia atrair a atenção de todos ao seu redor. Mesmo de salto, ela ganhava alguns centímetros, mas sua postura impecável era o que realmente chamava a atenção. Naquela luz clara, Max conseguia perceber os detalhes mais sutis. O vestido curto, de um brilho suave, parecia chamar os olhares, e seus olhos escuros, em formato amendoado e com um leve puxado no canto, eram intensos. Seus lábios carnudos, pintados de vermelho vibrante, se destacavam ainda mais quando ela sorria. O rosto delicado, com um queixo fino e um olhar curioso e astuto, completava a imagem. Mesmo maquiada, Max conseguia perceber um conjunto de pintas na bochecha esquerda e perto do queixo. Pequenas e claras, elas davam um charme a mais, espalhando-se pela pele exposta pelo vestido. Ele estava, de alguma forma, enfeitiçado.Max, tentando manter a naturalidade, sugeriu:– Ou podemos sentar ali. – Aponto
— Me fala da sua família, tem irmãos? Mora com quem em Londres? – Ellora falava devagar, observando cada detalhe do rosto dele. Com um sorriso, Max conseguia prender totalmente a atenção dela, e os dois dividiam a última parte do chocolate. — Você deve ter feito faculdade, não fez?Poderia parecer uma conversa simples, mas o jeito como os dois se comportavam era diferente. O modo como se conectaram a deixava empolgada. Ainda estavam os dois de pé, encostados na grade que cercava a loja, como se precisassem ficar mais próximos um do outro, e, às vezes, até se tocavam enquanto conversavam.— Devo tratar o que está acontecendo aqui? Um primeiro encontro? – Max a olhava com curiosidade, e o cabelo escuro, que emoldurava seu rosto, parecia uma obra de arte.Antes de responder, Ellora fechava os olhos, pensando por um segundo. Nem ela sabia como chamar o que estava acontecendo entre eles. Mas, em falta de adjetivos melhores, concordou.— Acho que sim. Você me convidou, então… – Ela falava d
Nenhum dos dois percebeu que, mais uma vez, estavam de mãos dadas. Ellora se lembrava de tê-la segurado quando falava sobre o pai, mas não sabia ao certo quando largara. Seus dedos entrelaçados acariciavam a pele um do outro, e, com o corpo mais perto de Max, não eram só as mãos em contato. Ao olhar para as unhas pintadas e arredondadas, Ellora notou o quanto suas mãos eram pequenas perto das dele. A tatuagem discreta no indicador de sua mão direita se destacava. — Uma verdadeira família de brasileiros, então? – Max perguntou. Ellora sorriu orgulhosa, concordando. — Agora entendi tudo. Isso faz sentido. Toda essa energia, esse jeito… Você é linda, tem algo bem diferente em você… – Ele não sabia como expressar aquilo sem parecer piegas ou um pouco conquistador, mas o sentimento estava ali, claro. Eles se encararam por um momento, tentando entender a linha de raciocínio um do outro. — Desculpe, isso foi totalmente sem sentido, né? – Max se atrapalhou, ficando um pouco sem graça.
A noite estava quente, e ela não parecia sentir frio, embora um leve arrepio surgisse com o toque a mais que Max explorava. A ideia de falar sobre paixão se tornava ainda mais interessante, especialmente sob o ponto de vista dela.— Por que a casa da sua mãe é como estar no Brasil? – Max levantou finalmente o olhar e encontrou o dela, que o seguia, observando seus dedos deslizando pela sua pele até o ombro.— Minha mãe é uma mulher de personalidade, Maximilian. – Ela propositadamente o chamava pelo nome, enfatizando que não o esqueceria tão cedo, o que o fez sorrir. Ele gostava de como o som do seu nome soava na boca dela. — E mesmo morando aqui há mais de 30 anos, ela fez questão de nos criar como se estivéssemos no Brasil. Então, nossos costumes em casa são bem diferentes dos de qualquer família americana que você conheça. – No final, ela prendeu os lábios entre os dentes, os dois já perdidos no tempo e naquela conversa.Mais próximos e atentos, Max estava prestes a levantar o queix
Max fez questão de acompanhá-la até a parte externa da loja, na calçada. Sua mão repousava na cintura dela, como se quisesse trazê-la ainda mais para perto, e, sem resistir, ela se aproximou, em silêncio, enquanto digitava o endereço no aplicativo.— Tomara que eu tenha sorte agora e consiga um motorista. – Ela pensou alto, tentando quebrar o silêncio.Normalmente, ele teria sido mais ousado e talvez a beijado minutos antes, já que aqueles lábios pareciam implorar por isso. Mas, naquele momento, ele não sabia quando a veria de novo, e, por isso, entregou seu telefone desbloqueado a ela. Ela, por sua vez, se aconchegava ainda mais contra o corpo dele, buscando calor.— Eu sei que o fuso horário não vai ajudar, mas adoraria continuar essa conversa. Talvez outro encontro… se você quiser. – Com cuidado, ele prendeu uma mecha solta de cabelo dela atrás da orelha. Ela sorriu em resposta.— Claro, por que não? – Ela não pensou duas vezes, salvou o número e entregou de volta o telefone, dei