Capítulo 4

Era naquele momento que ela esquecia do mundo, ouvindo suas músicas preferidas e dançando livre, sem se importar com quem estava ao redor. Ainda mais quando se juntava à amiga, que compartilhava o mesmo sentimento, e as duas moviam-se em perfeita sincronia, como se fossem uma só. O calor abafado do ambiente as envolvia, e os rostos desconhecidos ao redor se transformavam em borrões. A cada batida da música, sentia o corpo vibrar, como se fosse parte da melodia. A pele queimava e, quanto mais tempo passava ali, mais ela se entregava àquela sensação única de liberdade. Mas quando se virou para abraçar a amiga, ainda empolgada, já desistiu.

Naquele instante, apenas as costas de Patrícia e o rosto familiar que não queria ver – Mauro. Ele estava ali, mais uma vez, a abraçando e beijando como se nada tivesse acontecido. No fundo, ela sabia que era apenas questão de tempo até que os dois se encontrassem de novo e começassem a mesma história. Até que demorou para acontecer.

Ellora franziu o cenho para Mauro, que a olhava com aquele sorriso de quem já havia vencido a noite. Parecia uma provocação, ficar com a amiga dela de novo, só para incomodá-la. Ela deixou os dois sozinhos e foi em direção ao bar, desviando dos caras que tentavam chamá-la para dançar, após vê-la com Patrícia. Não estava no clima.

Mesmo com a música alta, conseguia se comunicar com o bartender. A bancada estava mais tranquila, já que quem queria se embebedar já tinha se servido. Pediu apenas uma garrafa de água e, enquanto pensava na desculpa que usaria para ir embora antes de ser deixada para trás, a noite já não parecia como o planejado.

Max estava sentado em um banco, observando-a dançar aquela música lenta e sensual. Ele a via com mais clareza dali o sorriso, os movimentos dos quadris. Principalmente quando ela descia mais devagar; era sexy ao extremo, e ele não era o único a observá-la com atenção. Porém, foi para ele que ela caminhou, o sorriso já desaparecido. Ela o ignorou quase completamente.

Mas ele não desistiria.

— Eu ia te chamar para dançar, mas agora estou vendo que não daria conta – disse, próximo o suficiente para ela ouvir, mas sem invadir seu espaço. — De te acompanhar.

Ellora, distraída, não o havia notado até então antes de dar uma resposta afiada, olhou-o pela primeira vez. Reconheceu aquela boca que havia chamado sua atenção mais cedo.

Agora, de perto, viu a pequena pinta ao lado superior esquerdo dos lábios carnudos, bem desenhados, que pareciam próximos do rosto. E o sotaque… definitivamente não era dali. Ela se perguntou, em um flash de pensamento, se ele seria britânico. Estava tão longe de casa.

Levou dois segundos para reagir.

— Como disse? – Ela respondeu, bebendo um gole da água, tentando manter a voz amigável, apesar do estresse. Um interesse natural começou a surgir.

Ele se aproximou mais, falou novamente, mais devagar:

— Ia te chamar para dançar, mas não dou conta. Não tenho o rebolado igual ao da sua amiga.

Ele apontou para a pista de dança, onde Patrícia estava com Mauro, e Ellora não pôde evitar revirar os olhos, já sabendo o que viria pela frente.

— E quem disse que eu quero continuar dançando? – Ela indagou, o rosto perto do dele.

— Não me parece cansada. E diferente de muitos por aqui, você sabe o que faz. Dança muito bem.

Apesar da altura do rapaz, ela não se deixou impressionar. Mentalmente, só queria pegar Patrícia e ir embora. Respirou fundo, observando a amiga se entregar à multidão e desaparecendo ali. Olhou novamente para o homem ao seu lado, suspirando. Precisava de uma pausa.

— Você não é daqui certo? – Perguntou, inclinando-se para falar mais perto dele. — Dá para notar pelo jeito que fala. Tem um sotaque bem forte.

Era direto, mas ela estava surpresa com o quanto se sentia intrigada por ele, considerando que evitava qualquer aproximação naquela noite. Ele estava bem-vestido, até demais para aquele lugar. Não passava despercebido, especialmente com o relógio Tom Ford, um modelo novo e elegante.

— Esperta, me pegou. Londres, estou só de passagem, visitando uns amigos – ele respondeu, apontando para o grupo embriagado que ela vira mais cedo.

Bem diferente dele, que parecia impecável, mesmo com alguns botões da camisa abertos e as mangas enroladas até os cotovelos. Não exalava álcool ou desleixo; estava tranquilo.

— A propósito, sou Max. E você? – Ele se apresentou, estendendo a mão para ela.

A atitude educada foi um alívio. Normalmente, os caras em lugares como aquele estavam mais interessados em tirar vantagem da situação, tentando se aproximar e tocar em qualquer parte do corpo possível. Mas ela apertou sua mão grande e macia, intrigada.

— Ellora – respondeu, com um sorriso. Max sorriu de volta, de maneira contagiante, como se aquela boca tivesse sido feita sob medida para o rosto de linhas fortes e queixo marcado. Porém, ao ouvir seu nome, ele levantou uma sobrancelha, como se um pequeno questionamento surgisse. — Ou Lola. Local – ela corrigiu, rindo discretamente.

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