Luiza
Mal acordei e já estava sendo obrigada ouvir o que iria fazer ao decorrer do dia. O silêncio é divino, mas os olhares invejosos e julgadores das freiras me deixa nervosa e com vontade de retribuir os pensamentos intrusos. Madri ditava o que eu deveria fazer, mas eu só tinha cabeça para pensar em um dia após o outro. — Bom dia, Luiza. Vejo que acordou disposta hoje! — Madri discorre, me observando sentada a mesa, enquanto fazia meu desjejum. — Bom dia, Madri. Um pouco exausta pela note de ontem, mas sim, estou disposta. — Enfiei um pedaço de pão na boca, encharcado com pasta de amendoim, bebendo um copo de leite em seguida. — Ótimo! Preciso que vá comprar tecidos, amanhã haverá um casamento de última hora e preciso que nós auxilie com os afazeres. Ela faça de uma forma como se eu não fosse útil para nada. Eu vivo excluída pelo fato de não querer ter me tornado freia e ter entregue meu corpo a Cristo, mas eu estou farta de tantos segredos sobre mim mesma. A única recordação que tenho da minha mãe é uma foto e fora isso, não sei mais nada sobre mim. Quem é o meu pai ou como eu vim parar aqui, por exemplo. Encerrei meu café da manhã ainda na metade, peguei minha blusa e fui até a loja da mãe da Bella, onde comprava os tecidos e os demais artigos. — Amanhã será meu aniversário e quero te ver lá também. — Eu mal pisei na loja e ela já me contava seus planos, o que não me animava nenhum pouco. — Você sabe que eu não posso, Bella. As freiras me matariam se soubessem que eu frequento festas e além disso, eu não quero mais confusão. A Madri me deu uma bronca, somente porque soube que eu passei a tarde em sua casa, imagina se ela soubesse que eu fui a uma festa sem sua permissão? — Luiza, você já tem idade para ser independente. Até quando vai deixar elas controlar sua vida? Afinal, até quando você vai continuar vivendo como uma prisioneira? — Até o dia em que eu consegui sair daqui, ir para um lugar mais avançado, arranjar um emprego e ser independente. Até lá, eu tenho que obedecer, ouvir e concorda calada com tudo que dizem. — Eu posso falar com a minha mãe, ela conversa com a Madri e explica que vai ser um aniversário reservado. Crescemos juntas, Lu. — Seu olhar melancólico me encarava de uma forma que me deixava constrangida e sem graça ao mesmo tempo. Isabella é o tipo da amiga que salva qualquer um dos dias tristes. Mesmo com seus 21 anos incompletos, ela já sabe muita coisa sobre a vida fora dos muros daquele convento. É dela que eu ouço os melhores conselhos sobre como não ser mandada por um homem ou como os bebês nascem. Tudo que sei sobre sexo e assuntos relacionados, foi Bella quem me disse e explicou tudo e eu agradeço a ela por não ser uma desinformada, para quando finalmente criar asas e sair voando por aí. — Quero três metros de seda, dois metros de linho e os arranjos de flores brancas e lilás que você tiver. E eu sinto muito, mas não vou poder ir, infelizmente. Mas quero que me conte como foi depois, o que aconteceu e quem estava lá. — Tudo bem! — Ela começou a separar o tecidos e as flores, em alguns minutos ela já havia embalado tudo e anotava na caderneta para que a Madri pagasse depois. — Sabe Lu, eu acho que as freiras te fazemos de fantoche o tempo inteiro. Você deveria ser mais independente, criar asas e voar com suas próprias asas para onde quiser ir, não ficar ouvindo o que tem que fazer ou não. Você não sente falta da liberdade? Os dias de eventos na igreja é o que me salva dos dias solitários e tristes. Apesar de maior de idade, querendo ser independente, Madri ainda insiste que eu devo esperar um pouco mais para sair do convento e ir ao mundo. Mas todas as vezes que converso com Bella, sinto que estou perdendo minha vida, pois não quero ser freira e também não posso escolher ser algo porque me impedem. — Não vemos depois, vá ao chá amanhã na casa das flores. Feliz aniversário, tenha uma ótima festa, beba com moderação e me conte tudo depois. — Lhe desejei felicitações com um abraço de despedida, peguei os embrulhos e fui embora. — Você faz falta, sabia? — Olhei para trás uma última vez e a vi sorrindo, mal sabendo ela que eu também sinto falta de muitas coisas. — Também sinto sua falta. Juízo! — Lhe mandei um beijo no ar e apressei os passos até a volta ao convento. As portas do convento estavam fechadas, apenas uma janela aberta e parecia que tinha algo estranho no ar, ou para acontecer sem aviso prévio. As freiras estavam reunidas na sala de reuniões, até que irmã Maria me viu e veio até mim, me apalpando.com suas mãos pesadas e me certificado de que eu estava vida e ali. — Graça a Deus você já chegou, meu anjo. — Sua voz melancólica me fez ficar apreensiva, Maria era sempre mais atenciosa do que as demais e eu nunca entendi essa sua super proteção. — O que houve? Eu fui apensar fazer o que a Madri me pediu e já estou aqui. — Coloquei os embrulhos em cima da mesa e quando iria dar as costas, Martin continuou: — Um invasor invadiu a cidade. Não podemos confiar em todos, os dias de hoje estão perigosos demais. — Eu irei tomar cuidado. Obrigada pela preocupação. De fato, Bella tenha razão. Aqui eu sou mais um fantoche para elas, já pensou se a porta está trancada e eu não consigo entrar a tempo? Estavam arrumando meus livros, quando ouvir passos e encontrei o ouvido na porta para ouvir o que iriam dizer e pasmem, era a Madri e a irmã Maria tendo um diálogo bem interessante. "Ela já não é mais uma garotinha, até quando vamos esconder a verdade para ela? Ela precisa saber, Madri" "Ainda não é o momento, Maria. Luiza é apenas uma garota ingênua, não está preparada para o mundo lá fora. Há muitas coisas que ela ainda precisa aprender. Ela não vai sair daqui enquanto agir como uma criança ainda". "Até quando ela irá viver sem saber a verdade sobre sua mãe? É a vida dela que estamos guardando segredo dela mesma, até quando, Madri?" Preferi não abrir a porta, embora os segredos sobre mim sejam perturbadores e eu não faço ideia do que se trata ou onde minha mãe anda. Pensativa, talvez eu dê razão a Bella, talvez eu queira um homem para chamar de meu, quem sabe só assim eu consegui sair daqui e descobrir quem realmente eu sou de verdade. Kalil Ligação Ativa "Se desta vez essa merda sair errada novamente os mortos serão vocês, está me entendendo, Jaz? Essa é a segunda vez que você deixa rastro seus por onde passa!" "Eu já reforcei os homens, Kalil. Não é minha culpa se todos fazem esse caralho errado, eu te disse que eu sozinho faria conta de tudo mas você nunca me escuta, pensa que eu sou ruim demais para trabalhar sozinho." "Talvez porque você nem mesmo saiba treiná-los como deveria. Então faça essa merda direito, será que não dá pra enterrar uma bala na cabeça de alguém sem sentimentos? Que porra você é?" "Sim, sou eu que os treinos, mas não é tão fácil como parece ser. Deveria ter escolhido os homens com pelo menos a habilidade de saber alvejar, não esses garotos que mal sairam das fraldas. As vítimas estão ficando cada vez mais espertas do que pensávamos que seria possível, mas..." "Não quero mais porquês Jaz. Já te dei tempo o suficiente para melhorar. Hoje será seu último dia trabalhando para mim e se alguma coisa der errado hoje, pode considerar sei fim também. Estou esperando as informações que estão na prancheta, as envie para mim e depois pode acertar seu pagamento com o Robert." "Pode deixar que hoje nada dará errado." "Assim eu espero!" Ligação InativaKalil Pedras em meu caminho surgem a todo tempo, é incrível em como eu não consigo ficar tranquilo por um dia. Parei em frente a casa do meu pai e pensei antes de entrar, ele só me liga quando precisa de algo. — Problemas meu filho? — Perguntou ele, assim que me viu entrar. — Você não imagina o quanto! Como está Suzana? Soube o que o quadro dela bem piorando, porque não me disse nada? — Sua irmã está em um estado crítico, logo em breve poderá vê-la. Mas não é isso que me interesse agora e nem por isso que o chamei aqui. Meu filho, Jaz é uma peça chave para os nossos trabalhos, conhece muito bem coisas que não estão sob nossos alcances e por isso não pode descartar ele. Ele não tem culpa de os garotos são burros, mas com certeza ele vai dar um jeito em tudo isso. — Will, eu só estou aqui porque o seu capanga me ligou dizendo que era urgente, portanto, faça-me o favor de ser breve. Com meus problemas eu resolvo depois, não preciso das suas opiniões. — Tudo bem! Quero que voc
Kalil A igreja estava próxima, alguns metros andando e eu chegaria lá rápido. As pessoas me olhavam como se eu fosse algo estranho, cidade pequena! As crianças corriam para perto dos seus pais ao me verem, sem dúvidas esse pessoal ainda dão daqueles que acreditam que mulher viraria mula se casasse com o padre! Meu pai me ligava sem parar, mas eu estava na missão que ele me mandou. Havia muitas barracas com bugigangas penduradas e expostas para a venda. Todas elas ocupadas por moças ou pessoas ainda jovens. — Bom dia, Sra. Pode me dizer para que lado fica a igreja? — Perguntei a uma senhora que mais parecia uma cigana. — Para esquerda, lhe aconselho a escolher o lado que mais lhe traga amor, suas vestes e seu tom de voz, não diz nada. — Ela sorriu e foi embora. Continuei andando até chegar na pequena igreja, onde as freiras estavam brincando de ciranda com algumas crianças. — Com licença, vocês conhecem essa moça? — Mostrei a foto de Luíza e ela se entre olharam e responderam que
Luiza Will Ferrari! Então era esse o nome do homem que estava à minha procura? O peruano quarto mal tinha espaços para locomoção, não havia luz e o cheiro estava terrível. Eu queria dormir e acordar disso tudo, mas já não há mais voltas, as freiras não fizeram nada para impedir. Nunca me disseram nada sobre quem era minha mãe,e agora eu terei que descobrir isso sozinha. Eu já não tinha mais nada que me lembrasse dela, agora eu só tinha que lutar pela minha, mas ainda precisava saber como. A porta de ferro estava rangendo e em seguida a porta em que eu estava por dentro também foi aberta. — Tá tudo bem aí? — O mesmo homem que me trouxe perguntava enquanto me via caída no chão, no meio dos insetos e da sujeira em que estava o local. Respondi balançando a cabeça e apoiando as mãos nos joelhos para levantar, mas tive meu corpo arremessado contra a porta de metal por um chute em minha barriga, o que me fez gemer de dor e cuspir sangue. — Você até que aguenta muita coisa! Mas me conta
Luiza Acordei em uma sala cheia de luzes, mas não era um hospital ou algo do tipo e aquilo me deixou aflita, eu já não estava entendendo nada e nem mesmo o porquê do tal Ferrari me querer! — Vejo que acordou consciente! — A voz rouca se fez presente e quando olhei para o lado, ele estava lá, encostado na porta com os braços cruzados. Então eu vi que não havia mais ninguém ali dentro além de mim, era um quarto pequeno e todo branco, com duas luzes no teto e era isso que fazia o lugar ficar tão claro, mas era tão pequeno como um quarto de solteiro. — Eu não entendo… por que a senhora mentiu para mim todos esses anos? Como ela foi capaz? — Me perguntava lembrando da Madri e de todas as outras freiras. — Luiza seu nome, não é? — Assenti quando ele perguntou, mas ainda sem forças para levantar. Seus passos estavam ficando cada vez mais próximos, até que ele sentou ao meu lado e me olhou nos olhos, tirando meu cabelo do rosto e colocando atrás da orelha. — Me perdoe por isso. Eu não sab
Kalil Ligação Ativa"Fui à sua casa e você não estava lá. A gente combinou de irmos à inauguração da boate da Lua, esqueceu? Qual é, Kalil. Vão tá cheio de mulher gostosa." Don era o famoso pau de mel, não sei o que ele tinha, mas as mulheres acabam ele um cara charmoso, eu acho! "Daqui a trinta minutos eu estou aí na sua casa. Precisei resolver alguns problemas hoje, mas agora estou livre.""Perfeito então. Chamei a Maya e ela vai com a gente também, ela terminou o namoro e essa é a sua chance. Vai fundo!""Vai se foder, Don. Maya é muito jovem, virgem e inexperiente. Não vou lhe dar o desprazer de transar comigo." Don era insistente, eu precisava conversar com meu pai o quanto antes sobre Luíza, mas hoje eu já não o acabaria mais em casa e então vou cair na noite com Don. Tentar esquecer um pouco sobre as imagens de Luíza nua, mesmo que toda machucada. “Tá aí ainda? Vou desligar, quando estiver saindo me avisa!”Ligação InativaMeus pensamentos estavam em Luíza. Ela ainda estava
Will FerrariAs coisas estavam indo muito bem, como não era de costume as coisas sempre saírem tão bem assim, porque sempre acontecia um imprevisto. Eu precisava saber onde ela estava, Kallil levou a garota sem me avisar sobre nada, estava a um passo de cometer alguma loucura. Então, liguei para ele, mesmo que já se passasse das duas da manhã. Ligação Ativa“Onde ela está?” Pergunto assim que ele me atende. “Você chega aqui, interrompe meus planos e tira ela daqui sem ao menos me dar uma satisfação? Que merda você tem na cabeça?”“Eu quem a busquei, eu quem a tirei de lá e o senhor ainda acha que tem algum direito sobre ela? Qual é, Will. Você me deu uma missão sem nem mesmo me dizer a verdade, sempre jogamos limpo, mas não quando o assunto é trazer uma freira até aqui e…”“E o quê? Não tem o direito de intervir em nada, Kalil. Eu lhe dei as informações necessárias. Lhe disse que a mãe dela acabou com a minha vida. Tem fotos dela, inclusive da garota também e sabe bem que ela não é f
Luiza Acordei um pouco atordoada. Estava em cima de uma cama dura, em uma sala não tão pequena, com uma poltrona ao meu lado e mais dois perto de uma mesinha de centro. Passei a mão sobre a minha barriga e percebi que não foi um sonho, eu estava realmente muito machucada. Não estava nua, estava com uma roupa de hospital, mas da que cobrirá tudo, tava mais para um pijama. Olhei para cima e vi o soro pingando enquanto meu braço estava ereto na cama. — Você dormiu pra caralho. — A voz grave atravessou a porta de metal e entrou, sendo ninguém menos que Kalil. Fiquei alguns minutos com a cabeça para cima enquanto ele mexia em algumas gavetas, quando o vi se aproximar virei o rosto para a parede e a encarei. — Por que fugiu ontem? Tem noção do perigo que você correu? — Ele sentou na poltrona ao meu lado e me entregou uma foto. — Acho que iria querer isso de volta. — Eu nunca a perdi. Como conseguiu? Você… — Meus olhos se encheram de lágrimas e já imaginando o que eu estava pensando ele
Luiza O lugar era totalmente diferente do que eu já havia pensado que fosse. As luzes piscavam em várias cores, deixando o lugar com um clima de bêbado. Kallil foi recebido por mulheres que lhe passavam a mão por todo seu corpo, beijava seu pescoço e até lhe pegavam em suas partes íntimas. Para ele, isso era normal. — E aí, gata, vai uma bebida? Eu peço alho leve, se você quiser, é claro. — Don já estava com um copo na mão, mas não me trouxe nada. — Posso experimentar o que você está bebendo? — Ele me entregou o copo e sorriu. — Vai com calma, isso aí é forte. Mas, se quiser, pode ficar à vontade pra encher a cara. Eu cuido de você, sem segundas intenções. — Então, não vejo motivos para não aproveitar. — Don me estendeu a mão e me levou até a pista de dança, ele era bonito, cavalheiro e tinha um cheiro muito gostoso. — Eu não sei dançar, Don. Não me faça passar vergonha, por favor. — Ele apenas sorriu e continuou segurando a minha mão. — Só me segue, a gente se solta juntos. Eu