Kalil
A igreja estava próxima, alguns metros andando e eu chegaria lá rápido. As pessoas me olhavam como se eu fosse algo estranho, cidade pequena! As crianças corriam para perto dos seus pais ao me verem, sem dúvidas esse pessoal ainda dão daqueles que acreditam que mulher viraria mula se casasse com o padre! Meu pai me ligava sem parar, mas eu estava na missão que ele me mandou. Havia muitas barracas com bugigangas penduradas e expostas para a venda. Todas elas ocupadas por moças ou pessoas ainda jovens. — Bom dia, Sra. Pode me dizer para que lado fica a igreja? — Perguntei a uma senhora que mais parecia uma cigana. — Para esquerda, lhe aconselho a escolher o lado que mais lhe traga amor, suas vestes e seu tom de voz, não diz nada. — Ela sorriu e foi embora. Continuei andando até chegar na pequena igreja, onde as freiras estavam brincando de ciranda com algumas crianças. — Com licença, vocês conhecem essa moça? — Mostrei a foto de Luíza e ela se entre olharam e responderam que não. Luiza Havia acabado de voltar para a igreja, onde estava passando pano no mármore, quando ouvi alguém cochilando não muito longe. — Ele veio atrás dela, o que iremos fazer agora? — Uma das freiras falava muito baixo e por eu estar em uma parte reservada demais, não era fácil de me ver. — Deixe isso comigo, ninguém dirá nada, eu mesma irei conversar com ela. Aliás, vocês a viram? — Madri perguntava e eu engolia em seco. Meu corpo automaticamente paralisou por alguns segundos, mas alguma coisa dentro de mim me dizia para correr, pois o perigo estava próximo. Peguei o pano com o balde de água e saí sem fazer barulho e deixando tudo limpo, assim não corre o risco de deixar pistas. Estava me vestindo para jantar quando a Madri bateu a porta pedindo passagem. — Pode entrar, Madri! — Disse engolindo em seco, pois nunca fecho a porta e desta vez ela sabe que eu estou sentindo algo. — Filha, eu te peço que me ouça. Preciso que siga com Maria amanhã antes do Sol nascer. Você está em perigo, não deixaremos nada acontecer com você. — Madri, eu já sou uma mulher, já sou adulta e agora chegou a hora de encarar minha realidade. A senhora sabe que jamais quis ser freira, eu amo vocês e tudo que fizeram por mim. Há mais alguma coisa que minha mãe tenha feito e que a senhora me esconde? Eu nunca fui tola, Madri. — Vi ela ficar pasmem e sem reação. Estalei os dedos e ela piscou vagarosamente até voltar ao normal. — Mas… mas como assim não é inocente? — Não foi isso que eu quis dizer. Disse que eu sei que há alguma história por trás de como eu vim parar aqui. Ninguém mora em um convento por nada. — Tudo bem, lhe direi tudo que for preciso agir… — Antes dela completar sua frase, os estilhaços de vidros que vinha da janela me acertaram e acertam a Madri também. Me joguei no chão e Madri suplicou para que eu fugisse, mas não deu tempo nem mesmo de cruzar a porta. Estarei em uma pilha de músculos, até que bonito, mas ele segurava uma arma e estava com uma foto na mão. Uma foto minha! A forma como nossos olhares se cruzaram foi estranho, meu corpo se arrepiou, senti uma sensação de culpa sobre mim e não queria que ninguém ali se machucasse por minha causa. Se é a mim que ele quer, é a mim que ele terá. Levantei ajeitando o cabelo atrás da orelha, enquanto via outras pessoas mascaradas rendendo as freiras, as pondo de joelhos enquanto mantinham armas mirando em suas cabeças. — Só irei perguntar mais uma vez! Quem é Luiza Hansel? — Seus olhos miravam os meus, quase sem fôlego eu o encarei de volta. — Sou eu! Não faça mal a nenhuma delas, se me quer, eu irei com você. — Disse com um nó preso na garganta, não sei de onde tirei forças, mas falei. Caminhando para fora da igreja, com duas pessoas caminhando uma de cada lado meu, o homem de quase dois metros e movido por músculos caminhava rápido e calado. Estava sem nenhuma emoção no momento, na verdade eu estava muito triste e… eu só queria saber o porquê de esconderem segredos de mim, que pelo tom de voz da conversa, era algo muito importante. (...) Kalil Eu estava fazendo uma das coisas que menos gostava, não gostava de mexer com o pessoal da fé. Mas não estava fazendo nada demais e, além disso, era meu trabalho. A noviça se manteve em silêncio todo o caminho, sem choro e sem tagarelar, o que confesso que me assustou. — Tá tudo bem? — Perguntei olhando ela pelo retrovisor. — Sim! — Sua resposta foi fria assim como seu olhar direcionado a mim. Meu pai estava no mesmo hotel que eu, por algum motivo ele não me disse o porquê de tanto interesse nela, nem a mesma parecia raciocinar as coisas muito bem. Chegamos no hotel e meu pai já estava nos esperando em seu quarto. Will Ferrari Sem alardes meu filho chegou com a garota, seu rosto muito parecido com o da sua mãe e se não tivesse acontecido tantas coisas, poderia jurar que ambas seriam a mesma pessoa. — Luiza Hansel? — Seus olhos negros era idênticos ao da sua mãe. Senti o nervosismo tomar conta de mim, como se eu estivesse vivendo novamente alguma cena do passado. — Não sei se já te disseram, mas você é idêntica a ela e… O silêncio se fez presente e Kalil também. — Meu filho, mais uma vez fez um trabalho impecável, agora preciso que se retire e nos deixe a sós. — Kalil se retirou e a noviça se manteve de pé, me olhando como quem estivesse me desafiando, ela é o retrato vivo de Margô. Sinto que terei boas noites de prazer com ela ao meu lado, ela é silenciosa do jeito que eu gosto. Espero que não seja traíra igual sua mãe ou terá o mesmo destino trágico que o seu.Luiza Will Ferrari! Então era esse o nome do homem que estava à minha procura? O peruano quarto mal tinha espaços para locomoção, não havia luz e o cheiro estava terrível. Eu queria dormir e acordar disso tudo, mas já não há mais voltas, as freiras não fizeram nada para impedir. Nunca me disseram nada sobre quem era minha mãe,e agora eu terei que descobrir isso sozinha. Eu já não tinha mais nada que me lembrasse dela, agora eu só tinha que lutar pela minha, mas ainda precisava saber como. A porta de ferro estava rangendo e em seguida a porta em que eu estava por dentro também foi aberta. — Tá tudo bem aí? — O mesmo homem que me trouxe perguntava enquanto me via caída no chão, no meio dos insetos e da sujeira em que estava o local. Respondi balançando a cabeça e apoiando as mãos nos joelhos para levantar, mas tive meu corpo arremessado contra a porta de metal por um chute em minha barriga, o que me fez gemer de dor e cuspir sangue. — Você até que aguenta muita coisa! Mas me conta
Luiza Acordei em uma sala cheia de luzes, mas não era um hospital ou algo do tipo e aquilo me deixou aflita, eu já não estava entendendo nada e nem mesmo o porquê do tal Ferrari me querer! — Vejo que acordou consciente! — A voz rouca se fez presente e quando olhei para o lado, ele estava lá, encostado na porta com os braços cruzados. Então eu vi que não havia mais ninguém ali dentro além de mim, era um quarto pequeno e todo branco, com duas luzes no teto e era isso que fazia o lugar ficar tão claro, mas era tão pequeno como um quarto de solteiro. — Eu não entendo… por que a senhora mentiu para mim todos esses anos? Como ela foi capaz? — Me perguntava lembrando da Madri e de todas as outras freiras. — Luiza seu nome, não é? — Assenti quando ele perguntou, mas ainda sem forças para levantar. Seus passos estavam ficando cada vez mais próximos, até que ele sentou ao meu lado e me olhou nos olhos, tirando meu cabelo do rosto e colocando atrás da orelha. — Me perdoe por isso. Eu não sab
Kalil Ligação Ativa"Fui à sua casa e você não estava lá. A gente combinou de irmos à inauguração da boate da Lua, esqueceu? Qual é, Kalil. Vão tá cheio de mulher gostosa." Don era o famoso pau de mel, não sei o que ele tinha, mas as mulheres acabam ele um cara charmoso, eu acho! "Daqui a trinta minutos eu estou aí na sua casa. Precisei resolver alguns problemas hoje, mas agora estou livre.""Perfeito então. Chamei a Maya e ela vai com a gente também, ela terminou o namoro e essa é a sua chance. Vai fundo!""Vai se foder, Don. Maya é muito jovem, virgem e inexperiente. Não vou lhe dar o desprazer de transar comigo." Don era insistente, eu precisava conversar com meu pai o quanto antes sobre Luíza, mas hoje eu já não o acabaria mais em casa e então vou cair na noite com Don. Tentar esquecer um pouco sobre as imagens de Luíza nua, mesmo que toda machucada. “Tá aí ainda? Vou desligar, quando estiver saindo me avisa!”Ligação InativaMeus pensamentos estavam em Luíza. Ela ainda estava
Will FerrariAs coisas estavam indo muito bem, como não era de costume as coisas sempre saírem tão bem assim, porque sempre acontecia um imprevisto. Eu precisava saber onde ela estava, Kallil levou a garota sem me avisar sobre nada, estava a um passo de cometer alguma loucura. Então, liguei para ele, mesmo que já se passasse das duas da manhã. Ligação Ativa“Onde ela está?” Pergunto assim que ele me atende. “Você chega aqui, interrompe meus planos e tira ela daqui sem ao menos me dar uma satisfação? Que merda você tem na cabeça?”“Eu quem a busquei, eu quem a tirei de lá e o senhor ainda acha que tem algum direito sobre ela? Qual é, Will. Você me deu uma missão sem nem mesmo me dizer a verdade, sempre jogamos limpo, mas não quando o assunto é trazer uma freira até aqui e…”“E o quê? Não tem o direito de intervir em nada, Kalil. Eu lhe dei as informações necessárias. Lhe disse que a mãe dela acabou com a minha vida. Tem fotos dela, inclusive da garota também e sabe bem que ela não é f
Luiza Acordei um pouco atordoada. Estava em cima de uma cama dura, em uma sala não tão pequena, com uma poltrona ao meu lado e mais dois perto de uma mesinha de centro. Passei a mão sobre a minha barriga e percebi que não foi um sonho, eu estava realmente muito machucada. Não estava nua, estava com uma roupa de hospital, mas da que cobrirá tudo, tava mais para um pijama. Olhei para cima e vi o soro pingando enquanto meu braço estava ereto na cama. — Você dormiu pra caralho. — A voz grave atravessou a porta de metal e entrou, sendo ninguém menos que Kalil. Fiquei alguns minutos com a cabeça para cima enquanto ele mexia em algumas gavetas, quando o vi se aproximar virei o rosto para a parede e a encarei. — Por que fugiu ontem? Tem noção do perigo que você correu? — Ele sentou na poltrona ao meu lado e me entregou uma foto. — Acho que iria querer isso de volta. — Eu nunca a perdi. Como conseguiu? Você… — Meus olhos se encheram de lágrimas e já imaginando o que eu estava pensando ele
Luiza O lugar era totalmente diferente do que eu já havia pensado que fosse. As luzes piscavam em várias cores, deixando o lugar com um clima de bêbado. Kallil foi recebido por mulheres que lhe passavam a mão por todo seu corpo, beijava seu pescoço e até lhe pegavam em suas partes íntimas. Para ele, isso era normal. — E aí, gata, vai uma bebida? Eu peço alho leve, se você quiser, é claro. — Don já estava com um copo na mão, mas não me trouxe nada. — Posso experimentar o que você está bebendo? — Ele me entregou o copo e sorriu. — Vai com calma, isso aí é forte. Mas, se quiser, pode ficar à vontade pra encher a cara. Eu cuido de você, sem segundas intenções. — Então, não vejo motivos para não aproveitar. — Don me estendeu a mão e me levou até a pista de dança, ele era bonito, cavalheiro e tinha um cheiro muito gostoso. — Eu não sei dançar, Don. Não me faça passar vergonha, por favor. — Ele apenas sorriu e continuou segurando a minha mão. — Só me segue, a gente se solta juntos. Eu
Kalil As escadas que davam até o meu quarto, eram iluminadas por luzes vermelhas e azuis, deixando o celular sempre muito agradável. — Kalil, isso não é área restrita não? — Luíza era inocente em muitas coisas, ela não fazia ideia do que estava prestes a ver. — Relaxa, aqui os vips somos nós dois. — Prendi seu corpo contra a parede e passei o nariz em seu pescoço, deixando nossos lábios muito próximos. Luiza fechou os olhos e eu a beijei sem pensar duas vezes. Ela não facilitava as coisas entre a gente, embora tivesse medo, ela se arriscava. Mas ela bebeu e não era acostumada a isso, portanto já estava digamos bêbada. Soltei seus lábios e segurei sua mão. Se essa mulher soubesse o quanto me enlouquece. — Kalil, eu posso te pedir uma coisa? É só uma mesmo. — Sua voz estava chorosa, ela afrouxou sua mão da minha e deixou que a mesma se soltasse. Me virei pra ela erguendo a sobrancelha e esperando que ela dissesse o que queria, mas ao invés disso, ela me abraçou e começou a chorar,
Kalil Seu silêncio era torturador. Luiza estava olhando a vista pela janela havia alguns minutos, mas ainda permanecia calada sobre o que eu lhe falei. Decidi tentar mais uma vez, mas antes que eu pudesse perguntar alguma coisa, ela virou para mim sorrindo e aquilo sim era novidade. — Eu aceito dizer o que você quiser, contanto que cumpra suas palavras depois disso. E não ria desse jeito, não pense que irei me deitar com você, será apenas uma troca! — Ela levava palavras a sério demais. Tínhamos quase tudo certo, ou estávamos ainda perto do quase. — Mas, preciso saber quando eu terei que falar isso, porque tenho que me preparar. Mentir nunca foi meu forte. — Poderíamos fazer isso agora mesmo se você quiser. — Ela me olhou e seus olhos quase saltaram para fora, não sei se de surpresa com medo. — Isso só depende de você. — Se só depende de mim, vamos amanhã então. Não vejo a hora de poder ser livre novamente… — Seu suspiro não foi de alívio, e aquilo me causou um certo desconfor